domingo, 7 de abril de 2019

MINISTÉRIO DA DISCÓRDIA - ABISMOPORTAL (2018)




                Preciso ser sincero. Dá gosto de ouvir um grupo como o MINISTÉRIO DA DISCÓRDIA. Em primeiro lugar, porque o trio formado em 2007 soube incorporar suas influências à sua sonoridade de uma forma perfeita, unindo assim suas características próprias, criando uma personalidade e identidade únicas. Em segundo, porque a música feita pelo grupo é de uma qualidade absurda, daquelas que a gente ouve o CD e lamenta pelo fato de já ter acabado. Sim, é essa sensação que temos ao término da audição do pesado e intenso ABISMOPORTAL, segundo trabalho de estúdio da banda, uma junção dos mais recentes EPs do trio, lançado pela Shinigami Records no ano passado e que tem forte inspiração no Black Sabbath especialmente nos riffs do mestre Tony Iommi.

                             Maurício Sabbag (vocal/guitarra/violões/flauta transversal), Carlos Botelho (baixo) e Inácio Nehme (bateria) apresentam 11 faixas repletas de riffs inspirados, baixo e nateria marcados, tudo no melhor estilo anos 70, mas sem soar nenhum pouco datado, muito disso em virtude da ótima produção realiada pela banda juntamente com Rafael Zeferino e Rafael Gomes, sendo que a mixagem e a masterização ficaram sob a responsabilidade de Rafael Gomes. O resultado ficou muito bom, vez que a guitarra de Maurício soa extremamente pesada e ao mesmo tempo nítida, algo raro nesse sentido. A capa e arte gráfica foram trabalhos de Silvio Senna. O que temos no final da audição é um trabalho único, firme e extremamente forte. Como o Heavy Metal (ou stoner, chame da forma que melhor lhe convir) deve soar.

                            "O Portal" abre o álbum condensando em uma única faixa todas as características do grupo: peso, agressividade, acidez e muito Black Sabbath nas guitarras. E isso não é problema, vez que o grupo não se limita a copiar ou imitar o quarteto inglês e sim, agrega sua influência de forma latente, moldando sua sonoridade. Na sequência, "Mensageiros da Desgraça" é aquele "rockão", com a guitarra à frente, munido de peso e velocidade, fazendo com que aquela famosa"air guitar" surja ao longo de sua execução. Um baixo "gordo" à la Geezer Butler surge em "O Espelho", uma faixa bem consistente, onde além do ótimo trabalho realizado pelo baixista Carlos Botelho, temos também a mão pesada de Inácio Nehme, que não tem a mínima piedade de seu kit. A rifferama de "Motim Elétrico" vem pra corroborar a idéia de peso, sujeira e ao mesmo tempo nitidez dos instrumentos numa bela junção desses três elementos, o que vem a ser uma das particularidades do som do grupo. Em seguida, "Fuga nº II", cover dos Mutantes, ganhou uma interpretação bem pessoal do grupo, sem que a canção perdesse suas características, transformando-a assim, em um dos grandes momentos do álbum.

                             
                             Não sei dizer se seria uma influência do punk, mas "O Que teria Acontecido a Baby Jane" traz essa certa urgência em sua sonoridade, pois trata-s e uma composição rápida, direta e sem concessões. Na sequência "Abrace a Discórdia" traz novamente o peso da guitarra de Maurício em perfeita sintonia com a cozinha, numa coesão que destaca ainda mais o peso das músicas do grupo. E também cabe ressaltar o timbre rasgado do vocalista, que se encaixa com perfeição no perfil do trio. E tome Sabbath em "Abismo", uma das grandes faixas do trabalho, dona de um peso fenomenal e com um andamento bem cadenciado, cria um clima perfeito para o mergulho nos anos 70. "Supremo Concílio" traz aquela atmosfera "doom", sombria e soturna, de forma densa, saindo um pouco do lugar comemu, trazendo à tona um pouco da percepção criativa do trio. "Orquídea Negra" arrastada, antecipa o final com "Perdidos" outro exemplo de como se alinhar influência/personalidade sem soar forçado.

                    
                   ABISMOPORTAL é um trabalho consistente e intenso, que mostra que o MINISTÉRIO DA DISCÓRDIA tem muita personalidade e criatividade. Composições fortes, bem estruturadas e muita garra e energia fazem do grupo um daqueles que não devem ser apenas observados, mas sim, apreciados. 




                     Sergiomar Menezes

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