terça-feira, 30 de janeiro de 2024

TONY BABALU - DE VOLTA AO QUARTO DE SOM (2024)


TONY BABALU
DE VOLTA AO QUARTO DE SOM
Independente - Nacional

Tony Babalu é um dos grandes “guitar heroes” brasileiros, sem dúvida alguma. Em 2024 ele está comemorando 50 anos de carreira. Isso é chão percorrido para caramba e não é para qualquer um. Tony não precisa de apresentações, mas em todo o caso, basta citar que em seu currículo tem a passagem pelo grande Made In Brazil, onde gravou um dos maiores clássicos, do Rock Brasileiro, o álbum “Paulicéia Desvairada”, considerado um dos pilares do rock setentista do Brasil.

De Volta Ao Quarto de Som” é um EP totalmente instrumental e a sequência lógica de “No Quarto De Som” lançado em 2021. Neste EP temos 5 temas, abrangendo todas as influências de Tony, onde ele desfila toda a classe adquirida na sua já longa estrada.

O trabalho abre com a rockeira “Crash”, riff grudento que ficará na cabeça por um bom tempo após a primeira audição. Em seguida a enigmática “Neblina” cheia de climas e nuances, em que Babalu nos apresenta temas calcados no jazz e fusion. “O Lenhador” é a terceira, totalmente firmada com os dois pés no Blues, escola que Tony também se demonstra um mestre.

“Entre Cristais”, com sua levada acústica, tem trabalho exuberante de violões e guitarras acústicas, aquele som para ouvir no carro na estrada. E a última, mais uma pérola: “Shai”, onde guitarras semi-acústicas nos entregam uma faixa cheia de climas, e lembra aquelas vinhetas que o Rei Eddie Van Halen tanto gostava de compor nos álbuns de sua banda.

Enfim, um álbum soberbo de uma lenda da guitarra brasileira, cujo o único “defeito” é ser curto, quando acaba você gostaria de que seguisse mais. Mas daí, volte e escute tudo novamente. Procure conhecer este excelente trabalho de Tony Babalu, indicado para fãs de guitarras e guitarristas e também para quem aprecia música de (alta) qualidade.

José Henrique Godoy




segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

LUCIFER - LUCIFER V (2024)

 

LUCIFER
LUCIFER V
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional


Sim, amigos, é notório: A música do diabo é a melhor música já feita. Se você está aqui no Rebel Rock, óbvio que concorda comigo, e essa minha afirmação não é nenhuma novidade para você. A novidade aqui é o novíssimo álbum do Lucifer, banda “preferida da casa”, como diria Fábio Massari nos áureos tempos da saudosa MTV. É o quinto álbum do quinteto, e tem o óbvio título de “Lucifer V”.

O que não é tão óbvio é que aqui temos simplesmente o melhor trabalho da banda até agora. O Lucifer é uma das mais prolíficas bandas dos últimos anos: são 10 anos de carreira e 5 álbuns, fora alguns singles, mas com este novo trabalho posso dizer que chegaram a um nível próximo a perfeição.

A sonoridade segue a mesma, Hard Rock/Heavy Rock baseada nos anos 70, mas com muita personalidade. A abertura com “Fallen Angel”, com um riff poderosíssimo nos faz lembrar o Judas Priest dos álbuns “Sin After Sin” ou “ Stained Glass”, enquanto “At The Mortuary” é a primeira citação ao Black Sabbath. Mais cadenciada e com riffs dos guitarristas Martin Nordin e Linus Björklund que fazem reverência total a Tony “God of All Riffs” Iommi” é uma das melhores músicas da discografia do Lucifer.

A rocker “Riding Reaper”, num clima mais hard rock segue o altíssimo nível, e a próxima é a balada soturna “ Slow Dance In A Crypt”. Melancólica e sombria, aqui temos um show de interpretação da vocalista Johanna Sadonis. “Maculate Heart” é a próxima que inicia com a batera vigorosa de Nicke Andersen, e tem uma levada rock n roll que nos remete a bandas dos anos 70 como Dust e Blue Oyster Cult. “A Coffin Has No Silver Lining” é outro “highlight” com um riff mais oitentista, lembrando as bandas de hard/heavy do período, porém, sem perder o ar “trevoso” do Lucifer.

“The Dead Don´t Speak “ traz mais um momento Sabbathico, com Nicki emulando viradas que fariam Bill Ward orgulhoso. "Strange Sister” retoma o Hard Rock, rápida e com aquele clima para entrar no setlists dos shows dos Lucifer e não sair nunca mais.

O álbum fecha com a Doom “Nothin Left to Lose But My Life”. Pesada e cheia de melancolia, parece nos dizer que é uma pena que a audição esta terminando... Que álbum temos aqui, senhoras e senhores! Pintou o primeiro álbum para a minha lista de melhores do ano: “Lucifer V”... Pode ser exagero de fã? Aposto que não, espere o lançamento nacional que virá pela Shinigami Records/Nuclear Blast e confira com seus próprios sentidos... O “anjo de luz” da Sra. Sadonis e asseclas não veio ao mundo para brincar...

José Henrique Godoy





sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

REVOLUTION SAINTS - AGAINST THE WINDS (2024)



REVOLUTION SAINTS
AGAINST THE WINDS
Frontiers Music Srl - Importado

O REVOLUTION SAINTS foi inicialmente concebido por Serafino Perugino, presidente e chefe da Frontiers Records. A banda liderada pelo vocalista/baterista do Journey, Deen Castronovo, inicia 2024 com um novo álbum, ‘Against the Winds’, pouco menos de um ano do excelente ‘Eagle Flight’.

Nos três primeiros álbuns do REVOLUTION SAINTS, ‘Revolution Saints’, ‘Light In The Dark’ e ‘Rise’, Deen foi acompanhado pelo baixista/vocalista Jack Blades (Night Ranger) e pelo guitarrista Doug Aldrich (ex-Whitesnake, DIO). Produzidos por Alessandro Del Vecchio, esses três álbuns trouxeram de volta o estilo clássico daquele rock melódico que emocionou e encantou legiões de fãs nos anos 80 e 90 e que ainda hoje encanta, como este de vos escreve!

Vocais inspiradores, melodias altíssimas e refrões que grudam na mente por dias é o que você vai encontrar nestes três primeiros álbuns. Embora Castronovo já fosse (e é) respeitado como baterista, aqueles que notavam seus vocais de fundo e testemunhavam suas performances vocais durante os shows do Journey, logo reconheceram sua excepcional habilidade como cantor. Acompanhado pelo baixista Jeff Pilson (conhecido por seu trabalho com o Foreigner e ex-Dokken) e pelo majestoso guitarrista Joel Hoekstra (do Whitesnake e ex-Night Ranger), a banda presenteia os fãs daquele AOR majestoso, com um álbum cativante, bem produzido, com ótimas composições e claro, melódico.

‘Against the Winds’, produzido e composto principalmente por Alessandro Del Vecchio (que também contribui nos teclados e backing vocal's), oferece o que realmente esperamos de uma banda AOR: vocais cativantes, melodias encantadoras, ganchos que permanecerão em sua mente por dias, arranjos e solos de guitarra lindos. Com este álbum, o REVOLUTION SAINTS exibe um elevado senso de coesão, energia e emoção. Eles solidificam seu status como gigantes no gênero, e este álbum reafirma inquestionavelmente o auge da banda.

Destaques em ‘Against the Winds’? Eu diria que todas se destacam (rsrs), uma vez que todas as faixas se encaixam entre si e quando o álbum acaba o seguinte pensamento vem à mente: Mas já acabou?
Realmente, este álbum não possui músicas que destoam uma das outras de tão bom que é.
E por fim, o que posso dizer é: apertem o play, deixe rolar e saboreei o que há de melhor do AOR nos últimos anos, feche os olhos e volte aos anos 80.

Fernando Aguiar






CHILDREN OF BODOM - A CHAPTER CALLED CHILDREN OF BODOM (2024)

 


CHILDREN OF BODOM
A CHAPTER CALLED CHILDREN OF BODOM
THE FINAL SHOW IN HELSINKI ICE HALL 2019
Wikimetal - Nacional

Uma das bandas que ajudaram a virar o cenário do Heavy metal de cabeça pra baixo, fez, infelizmente, seu último show em 2019. E, por mais que eventuais reuniões possam vir a acontecer ou que a mesma decida prosseguir com outro nome, o fato é que a alma da banda nunca mais estará presente: Alexi Laiho, guitarrista/vocalista, falecido em dezembro de 2020. Uma das mentes mais brilhantes de sua geração, além de excelente instrumentista, Laiho era diferenciado também nas composições, o que se torna totalmente perceptível ao ouvirmos a discografia dessa sensacional banda. Porém, a Wikimetal lança no Brasil A CHAPTER CHILDREN OF BODOM: THE FINAL SHOW IN HELSINKI ICE HALL 2019, registro da última apresentação do grupo. E ao ouvir o álbum, bate a tristeza de saber que nunca mais veremos essa máquina de metal ao vivo...

A formação final do grupo antes sua separação consistia em Alexi Laiho (líder guitarra, vocal principal), Jaska Raatikainen (bateria), Henkka Seppälä (baixo), Janne Wirman (teclado) e Daniel Freyberg (guitarra base). Mesma formação que gravou o último e derradeiro álbum de estúdio da banda, "Hexed", lançado em também em 2019, ano do show em questão. Uma atmosfera intensa, um público que estava na mesma vibe e adrenalina da banda e um verdadeiro "the best of" do grupo formam a receita para um álbum repleto de energia. Não é preciso destacar a performance de Laiho, tanto pelos vocais bem característicos, quanto pela classe e categoria nas seis cordas, mesmo que navegando pelas linhas do metal extremo. E mais uma vez, uma capa icônica, maravilhosa pra encerrar de vez a carreira do Children of Bodom.

Mas antes de falarmos de set em si, cabe lembrar que o Children of Bodom foi formado em 1998 e lançou um total de dez álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo, dois EP's, duas coletâneas e um DVD em sua carreira histórica. Com um catálogo de mais de duas décadas, o grupo se transformou em peça fundamental do gênero para a cena do metal no início dos anos 2000, criando uma música rápida e pesada com a adição de teclados que tornaram seu som totalmente distinto. Sua origem do nome foi derivada dos assassinatos de Lake Bodom em 1960, algo também recorrente em muitas de suas letras.

Quanto ao show, temos um set que revisita toda a carreira do grupo, com apenas duas faixas de "Hexed". A saber: "Under the Grass Clover" e "Platitudes and Barren Words". Ainda que este último trabalho tenha resgatado os áureos tempos do grupo, as faixas escolhidas representaram muito bem o momento pelo qual o quinteto passava. Lembro que certa vez, na revista Roadie crew, alguém chamos o grupo de "Stratovarius do Diabo", uma definição que casou perfeitamente com o que o grupo fez musicalmente depois dos dois primeiros trabalhos. Num set muito bem escolhido (confesso que esperava pelo menos um cover, afinal, a banda era expert em fazer isso), temos músicas que viraram clássicos do estilo, e outras nem tanto, mas nem por isso, deixam de ter importância na vitoriosa carreira de 25 anos da banda. "Follow the Reaper" (que faixa maravilhosa!), "Angels Don't Kill" (uma pérola nos moldes de Immortal Sin do Fight), "Everytime I Die", "Bodom Beach Terror" (que faixa, meus amigos!), a pancadaria de "Deadnight Warrior", "Lake Bodom" e "Downfall" estão muito bem acompanhadas de "Hate Crew Deathroll", "Shovel Knockout", "Blooddrunk", "I Worship Chaos", "Needled 24/7", além de outros petardos do grupo.

Um álbum que encerra de forma brilhante a carreira de uma banda que ousou ser diferente em um cenário que não admitia muitas mudanças. Um guitarrista/compositor que não tinha limites em suas ideias. Um grupo que além de técnico, entregava paixão e sentimento em suas apresentações. A CHAPTER CALLED CHILDREN OF BODOM é um trabalho obrigatório aos fãs da banda. Indispensável!

Sergiomar Menezes






REBEL ROCK ENTREVISTA - AS THE PALACES BURN

 




A banda catarinense As The Palaces Burn vem desde 2019 construindo uma sonoridade única e repleta de personalidade dentro da cena do Heavy Metal no país. Após seu debut “End’evour”, o quarteto - formado por Alyson Garcia (vocais), Diego Bittencourt (guitarra), André Schneider (baixo) e Gilson Naspolini (bateria) - lançou em 2023 o arrebatador “Drowning Into Shadows”, sendo merecidamente destacado pela imprensa especializada como um dos melhores álbuns do ano – inclusive por este que vos escreve, conforme apontei na seleção de fim de ano da Rebel Rock. Notavelmente com uma identidade sonora e estética mais incisiva, o disco que contou com a produção do lendário Adair Daufembach, além de ter sido mixado no próprio Daufembach Studios em Los Angeles, é uma obra a qual concentra uma mescla de estilos que despontam do Heavy Tradicional, passam pelo Thrash e até flertam com o Nu Metal, criando um som poderoso e original. Ainda que nomes como In Flames, Nevermore e Soilwork sejam rememorados na audição, não tem outra maneira de definir: As The Palaces Burn soa mesmo como As The Palaces Burn! Aproveitando o momento no qual a banda colhe os frutos do excelente lançamento, a Rebel Rock teve a oportunidade de bater um papo com o vocalista Alyson Garcia e Diego Bittencourt sobre temas como o último álbum, momento da carreira, futuro e como eles enxergam o cenário atual do heavy metal no Brasil.

Gregory Weiss Costa

Rebel Rock: Inicialmente, antes de falarmos de “Drowning Into Shadows”, queria saber da origem do grupo, de como surgiu à ideia para formar a banda e por onde tudo começou?

Diego Bittencourt: Todos nós já tínhamos uma caminhada longa em outras bandas. O Alyson vinha do Enforcer, eu estava na Symbolica e passávamos por um momento de ressignificação, de buscar outra sonoridade e não fazer disso apenas mais projeto, e sim, fazer uma banda para enfim acontecer. Tanto que nos primeiros singles da banda, eu não os via com a identidade que enfim queria, pois mesmo que fossem músicas minhas, elas foram pensadas com o propósito de um possível segundo disco do Symbolica e, como esse não ocorreu, eu usei-as para o As The Palaces Burns. Depois, quando saiu o “Ende’vour,” eu percebi que por ali tudo começou a trazer mais o que eu estava pensando como projeto de banda há um tempo.

Alyson Garcia: É exatamente isso! Tanto que quando o Diego me chamou - somos amigos de muitos anos - foi justamente o que ele disse: “agora é uma banda para fazer acontecer”. E isso começou assim mesmo: sentíamos que acertamos o passo, estávamos fazendo bons shows, vendo a galera cantando nossas músicas, mas, infelizmente, fomos interrompidos nessa caminhada por ser a época da pandemia.

Rebel Rock: Como aconteceu o processo de composição e construção do “Drowning Into Shadows”?

Diego Bittencourt: Em termos de composição, o álbum trouxe muitas coisas pessoais que eu vivi, que até mesmo percebi na sociedade. O álbum tem essa visão das emoções mais pesadas que o ser humano traz, coisas como depressão ou ansiedade, por exemplo. Eu poderia te falar, faixa a faixa, das minhas experiências as quais me fizeram compor. Talvez músicas como Into Emotions ou Obbey sejam mais claras. Outras, como Lord Underrated – apesar do que muitos pensam, não tem nada a ver com Deus – pois, talvez, essa questão da religiosidade esteja mais evidente em sons como For The Weak. Músicas como As Deep As A River é uma história de vida que virou música, possivelmente uma das mais importantes que fiz. Agora, há faixas como The Hive em que me inspirei em um livro de um autor brasileiro, Pedro Bandeira, chamado “Na Colmeia do Inferno”, em que o personagem precisa ir morar em uma fazenda e lá ele sofre praticamente o “inferno” nas mãos da avó, uma tirana, e a partir daí, precisa sobreviver nessa nova vida.


Rebel Rock: Sobre o trabalho de produção musical, a banda contou com o lendário Adair Daufembach; como isso influenciou na concretização de “Drowning Into Shadows”?

Diego Bittencourt: Eu conheço e já trabalhei com o Adair há bastante tempo. Logo, ele me conhece e eu conheço o modo de pensar dele - tirando o fato de que ele é uma caixa absurda de ideias excepcionais! Só para teres uma ideia, antes de começar esse trabalho com a gente, ele estava encerrando um trampo com o Megadeth. Nesse sentido, quando apresentei as composições, já havia uma sintonia na maneira de como as coisas seriam feitas. Inclusive, para quem não sabe, o Adair é um grande guitarrista, o que para mim foi incrível, pois ele trazia ideias que se somavam às minhas e faziam total sentido com o que queríamos como resultado final. Outro ponto importante é que o nosso baterista, o Gilson, além se der um dos melhores bateristas que conhecemos, é também um grande produtor musical - tem o estúdio dele e trabalha nisso há anos. Poder contar com ele ao lado da produção só contribuiu para que o álbum chegasse a esses bons resultados e na qualidade a qual justifica o porquê estamos recebendo este bom retorno.

Rebel Rock: Abertamente, vocês declaram que as influências da banda contam com nomes como Iron Maiden, Slayer, Nevermore e vão até lendas como o Rush, tudo em uma grande mescla. A própria “Some of Them Died”, tributo que encerra o álbum, homenageia os gigantes “Dio”, “Van Halen”, “Pantera”, “Depeche Mode” entre outros, e é uma bela prova das inspirações do grupo. Ainda assim, é perceptível uma originalidade bem distinta no som do As The Palaces Burn. Como vocês definem seu estilo? Seria enquadrado no que está sendo designado de “metal moderno”?

Diego Bittencourt: Esse rótulo é relativo. Bandas em que buscamos inspiração nessa linhagem, como o Fear Factory, surgiu em 1989. O Nevermore é de 1994. O Korn, que é uma banda de 1993, foi uma das minhas inspirações de sonoridade de guitarra para “Drowning Into Shadows” - pois queria aquele timbre do último álbum deles [Requiem de 2002]. O que talvez tenha mudado é a estrutura de se fazer música no que se entende como “moderno”, quebrando aquele modelo de bandas como o Iron ou o Judas, que são tipicamente lembradas como verso, refrão, solo, verso, refrão! E tudo bem, porque cada banda deve soar como quiser. Eu não digo que fazemos metal moderno, mas acredito que fazemos um som que está sim alinhado a tendências de mercado - ainda que estejamos longe de estar no mainstream do mercado. O que eu posso dizer, no entanto, sobre nossa identidade, é que não somos, individualmente, uma banda em que cada membro começou agora. Eu mesmo tenho 20 anos de estrada, já consigo ter uma noção do que é o meu som e o que são as minhas influências – e posso dizer isso também pelos outros membros. Logo, o As The Palaces Burn já nasceu com um som mais amadurecido, por assim dizer. Se eu fosse querer fazer o som como eu pensava antigamente, eu teria feito guitarras como as do Malmsteen, porque queria tocar exatamente como ele (risos)! Porém, hoje, com o tempo, com mais idade, tenho uma visão bem mais distinta do que é fazer um som com mais identidade e com mais originalidade.

Rebel Rock: Sobre “Drowning Into Shadows”: o álbum tem recebido elogios e a atenção da maior parte da imprensa especializada, sendo regularmente lembrado como um dos melhores álbuns do ano – ainda mais que em 2023, bandas icônicas como Angra, Torture Squad, Nervosa e Crypta também lançaram seus trabalhos. Ainda assim, vocês, mesmo com a caminhada recente, por assim dizer, estão ao lado desses nomes, apresentando um dos grandes e melhores lançamentos de 2023. Como foi receber e perceber tudo isso?

Alyson Garcia: Quando nos preparamos para registrar o novo álbum, queríamos de fato colocar a banda entre os destaques do cenário. O feedback das mídias especializadas tem sido muito positivo. Isso enfatiza que estamos trilhando as etapas certas para uma consolidação. Atualmente, a banda possui uma gravadora italiana, a Rockshots records, que lançou e distribuiu o disco para a Ásia, América do Norte e Europa. Com isso, também estamos com o trabalho circulando lá fora, o qual já vem rendendo boas críticas. Este álbum não foi feito do dia para a noite. Pensamos em cada um dos detalhes, desde o lançamento dos singles, à produção dos vídeos clipes, ao cuidado com as redes sociais. Verdadeiramente, estamos buscando imprimir qualidade em tudo.

Rebel Rock: Uma curiosidade: qual é a origem do nome da banda As The Palaces Burn?

Diego Bittencourt: Não tem nada a ver com o nome da música do Lamb of God (risos). O nome veio mesmo por causa do cenário de polarização política o qual o Brasil estava vivendo recentemente. Eu via amigos brigando e dividindo-se em opiniões extremadas em virtude do clima antagônico que acontecia no país, e isso coincidiu justamente na época em que a banda surgiu. Nós, particularmente, não nos preocupamos em momento algum de expor nossos lados partidários ou políticos; a banda não trata disso. Entretanto, eu pensei mediante a tanta confusão que se via: “deixem os palácios queimarem”, eu só quero fazer minha música!

Rebel Rock: A banda é composta por um time de peso. Como eu disse anteriormente a vocês, respeito máximo a quem fez cover de “Hall of The Mountain King” do Savatage e “Abigail” do King Diamond, o que só mostra o calibre do grupo. No entanto, eu preciso destacar que o As The Palaces Burn conta com um dos nomes mais destacáveis da bateria brasileira, Gilson Naspolini, o qual além da exímia técnica ficou bem conhecido do público brasileiro pelas participações nas lives do Aquiles Priester, na icônica TV Maldita. Como é ter um nome como ele no grupo?

Alyson Garcia: É bem como se imagina. Trata-se de um ser humano e baterista extraordinário. Além da técnica absurda, como dissemos, ele também é produtor e tem uma visão por cima de tudo que se faz e se precisa em uma música. As ideias dele são sempre mais do que assertivas, não só para a bateria – que como disse, trata-se um monstro! – mas também se encaixam perfeitamente para os processos de composição e gravação. Ele conhece como poucos as etapas de como se fazer e construir um trabalho de excelência.

Rebel Rock: Para finalizar, como a banda enxerga o atual cenário do heavy metal brasileiro e pensa no próprio futuro diante disso?

Diego Bittencourt: Como eu te disse, nós temos noção que o nosso som não é mainstream e que já entramos nessa sabendo das dificuldades típicas de ser uma banda de heavy metal no Brasil. Ainda assim, eu sei que o que estamos propondo flerta com as tendências que estão surgindo e que é possível dialogar com as novas gerações. Todavia, o que eu percebo é que a cena não está se renovando. Notamos que o cenário do metal atual - e percebemos isso quando vamos a um show - parece estar mais voltado para públicos com a média etária por volta dos 40 anos. Apesar do acesso hoje ser mais fácil, ele não chega a novas gerações. E quando eu me refiro a isso, sequer penso em nomes consagrados como Edu Falaschi ou Sepultura, mas bandas de extrema qualidade e de portes menores, como o Hibria, por exemplo, que despontou anos atrás para o mundo como uma das melhores bandas brasileiras – e que mesmo que continuem sendo uma das grandes forças que temos no metal nacional - infelizmente, apesar disso, ainda toca basicamente para o mesmo público de seu começo. É claro que as bandas estão com cada vez mais qualidade, mais produção, mas certamente algo precisa ser feito para renovar o espaço e as gerações.

Alyson Garcia: Vemos um futuro ainda mais promissor após o lançamento de "Drowning into Shadows". Seguiremos divulgando o recente álbum através das apresentações e imprimindo qualidade em tudo que fizermos. Diante de um cenário rico de muitas bandas e de artistas com qualidade acima da média, tenho certeza que nosso trabalho será reconhecido.



quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

MIKE TRAMP - MAND AF EN TID (2024)

 

MIKE TRAMP
MAND AF EN TID
Target Records/SPV - Importado

Se eu falar o nome Michael Trempenau, provavelmente ninguém saberá de quem eu estou falando. Mas se eu falar que este é o nome de batismo do cidadão mudialmente conhecido como Mike Tramp, as coisas ficam bem mais claras, ao menos para os fãs do Hard Rock oitentista. Tramp liderou o White Lion, banda que fez bastante sucesso, inclusive no Brasil, na segunda metade da década de 80, muito pelos riffs e solos do companheiro de Tramp, o virtuosíssimo e saudoso guitarrista Vito Bratta (não, Bratta não desencarnou e felizmente segue entre nós, mas infelizmente, após o final do White Lion em 1992, abandonou o mundo da música e nunca mais se ouviu falar dele).

O outrora “gatão das gurias” nos anos 80, hoje Mike Tramp é um senhor respeitável de 63 anos, e não apenas seus cabelos estão diferentes (parafraseando o antigo comercial de shampoos), mas também a sua sonoridade da carreira solo em nada lembra o antigo grupo que lhe deu fama. Desde o primeiro álbum solo, “Capricorn” (1997), Mike parece querer se desvincular do som do White Lion, trocando riffs poderosos e solos “Van-Halescos”, por pouca distorção e guitarras acústicas. E dando sequência ao penúltimo álbum “For Første Gang” (2022), Mike lançará no dia 15 de março “ Mand Af En Tid”, seu segundo álbum na carreira cantado totalmente na sua língua natal, o dinamarquês.

“Mand Af En Tid” é uma apanhado de 10 músicas, todas elas composições quase acústicas, mais baseadas no piano e guitarras semi acústicas, que segundo Tramp, falam de variados temas vividos por ele, e por isso cantadas em dinamarquês, para que estas canções possam estabelecer uma conexão com as pessoas de Copenhagem , onde ele nasceu e viveu e que possam ter dividido as mesmas experiências.
Musicalmente falando, o álbum pode até agradar bastante em algumas ocasiões: Você pode colocar o álbum para rodar enquanto estuda, executa tarefas domésticas sem prestar muito a atenção, se você está trabalhando sob stress e pressão e precisa de uma trilha para que você possa se acalmar, em um encontro romântico com a pessoa que você almeja dividir momentos íntimos, ou até se você sofre de insônia, ou ainda se você é daqueles fãs ávidos que quer ter todos os itens do White Lion ou de Mike.

De qualquer forma, destaco aqui a última música do álbum: “Ham Vi Vil Være” ("Aquele que queremos ser”), lançada como single e que presta uma homenagem a um dos maiores gênios da história do esporte e maior boxeador de todos os tempos: Muhamad Ali. Se você procura algo parecido com o White Lion, esqueça, aqui você vai apenas encontrar a mesma bela voz de Mike Tramp.

José Henrique Godoy




MINISTRY - HOPIUMFORTHEMASSES (2024)

 

MINISTRY
HOPIUMFORTHEMASSES
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Al Jourgensen continua sua saga de ódio e repúdio ao que o mundo se tornou, dessa vez com HOPUIMFORTHEMASSES, o décimo sexto álbum de estúdio do MINISTRY, que sai por aqui no dia 1º de março pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast. Sem fazer nenhum tipo de concessão, praticando a sonoridade que sempre quis (seja no próprio grupo ou em seus inúmeros projetos), um álbum da banda não se resume apenas à guitarras pesadas, vocais urgentes e desesperados e uma pegada industrial, que por vezes flerta com o Hardcore, outras tantas com o Heavy Metal, mas também as mensagens que vão desde o inconformismo com as guerras, com o governo norte americano (seja ele qual for, porque todos nós sabemos, são todos iguais), com a miséria e a fome do mundo, além é claro, com o nível de imbecilidade que a raça humana atingiu de uns tempos pra cá. Sejam bem vindos ao mundo insano de Jourgensen!

Jourgensen conta com a companhia de Monte Pittman e Cesar Soto nos guitarras, Paul D'amour no baixo, Roy Mayorga na bateria e John Bechdel nos teclados. Uma banda afiaada e alinhada com a proposta musical do Ministry. Isso fica nítido nas nove faixas que compõem o trabalho, repletas de sonoridades, por vezes minimalistas, mas voltadas a fúria do Industrial metal, estilo que o próprio grupo foi um dos ajudaram a sedimentar. O álbum também contou com a participação de uma série de colaboradores especiais, incluindo Eugene Hutz do Gogol Bordello, o colaborador de longa data e companheiro do Lard, Jello Biafra e o líder do Corrosion of Conformity, Pepper Keenan. HOPIUMFORTHEMASSES estará disponível em três variantes de vinil (apenas importados), CD em caixa acrílica (lançamento nacional pela Shinigami Records/Nuclear Blast) e plataformas digitais/streaming. As variantes de vinil incluem: verde com respingos amarelos (disponível em lojas em todo lugar); azul com respingos rosa (exclusivo da Nuclear Blast); vermelho com respingos brancos (exclusivo da banda/turnê).

Falando sobre as músicas, o álbum já abre com a paulada "B.D.E. (Big Dick ENergy)", que fala sobre a misoginia e sobre a violência contra as mulheres, com guitarras extremamente pesadas, e uma atmosfera tão intensa que ganhou um videoclipe com a mesma pegada. Jourgensen sabe como poucos usar sua criatividade a seu favor, criando linhas que prendem o ouvinte sem que seja preciso cair na repetição. O mesmo que acontece em "Godamn White Trash", outra crítica contundente aos rumos que nossa sociedade vem tomando. Riffs thrash e uma levada insana que culmina em um refrão de mesma intensidade fazem dessa faixa um dos destaques do trabalho. Aquele Ministry de início da carreira (?!) aparece de forma tímida em "Just Stop Oil", outro grande momento. 

Ainda podemos citar "Aryan Embarassment", arrastada e com um clima "quase" Slayer (fase Seasons in the Abyss"), dotada de um peso absurdo, o thash/hardcore de "TV Song", um crossover entre dois mundos com aquele jeito Ministry de ser, "New Religion", outro momento de muito peso, e "Cult of Suffering", que começa de uma forma suave, de uma forma que poderia tocar nas Rádios Rock tranquilamente. Isso se tivéssemos Rádios Rock no Brasil...

HOPIUMFORTHEMASSES é mais um trabalho intenso e forte do MINISTRY. Al Jourgensen usa sua capacidade criativa de forma brilhante, trilhando um caminho que já o colocou como um dos grandes nomes do estilo. Peso, insanidade e criatividade. Parece pouco, mas escute esse álbum que você entenderá o que estou falando!

Sergiomar Menezes




APOCALYPTICA - TEATRO DO BOURBON COUNTRY - 16/01/24 - PORTO ALEGRE/RS

 


APOCALYPTICA
Abertura: Atomic Elephant
16/01/2024
Teatro do Bourbon Country
Porto Alegre/RS
Produção: Abstratti Produtora

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Uillian Vargas

Então aqui começamos a jornada de shows de 2024, com a visita dos finlandeses do Apocalyptica em solo porto alegrense. Foi uma noite memorável para os fãs da banda, mas acredito que também para os músicos, não apenas pelo ótimo publico que encheu as galerias do Teatro Bourbon Country, mas também por todos os transtornos causados pela inacreditável e jamais vista tempestade que caiu sobre Porto Alegre e região metropolitana, durante o show.

Para iniciar, temos que destacar que o Teatro Bourbon Country foi a melhor escolha para este espetáculo, tendo em vista a acústica e acomodações. O típico local onde onde você estiver, assistirá bem e com conforto. A heterogeneidade da plateia também foi um aspecto muito interessante e muito agradável de se ver: Ao mesmo tempo que você cruzava com “metalheads” com camisetas pretas de variadas bandas, você também encontrava senhoras e senhores de mais idade, claramente ávidos por escutar e assistir música clássica.

A abertura da noite ficou por conta do trio gaúcho de música instrumental Atomic Elephant. Liderada pelo guitarrista Renato Osório, a banda apresenta um som com muito virtuosismo, que mescla muito bem rock, metal, jazz e rock progressivo. Uma pena que até o meio do seu set, a sala ainda não tinha um publico em bom número, coisa que só ocorreu ao final da apresentação dos gaúchos. 





Após um intervalo de 30 minutos, as luzes se apagam e é a hora do Apocalyptica tomar conta do palco.
Exatamente às 21h, o trio de violoncelistas Pertu KIvilaakso, Eicca Toppinen e Paavo Lötjönen adentram o palco e iniciam com “Ashes Of The Modern World”, do seu último trabalho de estúdio “Cell-o”. A turnê promove tanto este álbum, como também os 30 anos de estrada do grupo.

Em seguida, a mais que clássica “For WHom The Bells Tolls” do Metallica. Para quem não sabe, o primeiro álbum dos finlandeses é todo composto por covers do Metallica, o que ajudou na popularidade do Apocalyptica entre o público Heavy Metal. Além dos 3 músicos principais, vamos destacar o excelente baterista substituto Mikko, que substitui nesta tour o titular Mikko Siren.



Na quarta música, após o inicio instrumental, o vocalista mexicano Erick Canales, da banda Alisson, entra no palco e assume o microfone para cantar “I'm Not Jesus” e “Not Strong Enough”. Erick foi chamado para a tour sul-americana, e realmente entrega um ótimo trabalho no palco, principalmente se levarmos em consideração que ele está cantando músicas que foram gravadas pelo Apocalyptica com outros vocalistas.

Durante toda a apresentação os músicos demonstraram grande simpatia e interação com a plateia, como no momento em que Paavo convocou a todos para deixarem seus assentos e virem para a frente do palco, para a execução de “Refuse/Resist” do Sepultura, e diga-se de passagem, foi prontamente atendido.

Após uma bela versão de “Nothing Else Matters”(sim, não esqueçam, eles são fãs do Metallica), começaram os problemas técnicos, causados pelo caos que se abatia sobre Porto Alegre. Alguns minutos antes havia recebido via WhatsApp, uma mensagem da minha esposa falando que “O mundo estava caindo”. Achei que era um exagero de quem tem medo de tempestades, porém a luz do teatro caiu totalmente, sobrando apenas as luzes de segurança. Pensei, “opa, a coisa é séria!”. Eicca brinca com o público, dizendo que a energia de todos tinha sido muito grande e por isso abalou a energia elétrica...

10 minutos de luzes de segurança apenas, e sem nenhuma eletricidade para continuar o espetáculo, os músicos ficaram brincando no palco tocando “marcha nupcial” e outras canções de domínio popular. Nesse momento, mais um ponto a favor para a acústica do teatro, que permitiu que os músicos do Apocalyptica interagissem com a plateia, sempre com muito carisma e simpatia. Deu até tempo de uma espectadora “desavisada” e “ sem graça”, debochar da situação, gritando “Bem vindos ao Brasil!”. Sim, como se estes problemas climáticos fossem exclusividade do nosso país. Bola fora/piada sem graça! Perdeu um ótimo momento para seguir na sua obscuridade...

Os problemas com a energia seguiram, num irritante "cai a energia/volta a energia", mas em nenhum momento sequer , o Apocalyptica perdeu a paciência e simpatia, e seguiu sua apresentação com muita classe, finalizando com “Seek And Destroy” (vocês sabem de quem) e com a obra prima clássica “Hall Of The Mountain King” do compositor Edvard Grieg.




Mais uma queda de eletricidade e Eicca, sem microfone, por óbvio, agradeceu o público e deixou o recado que deixou os fãs muito felizes: em 2024, novo álbum do Apocalyptica. Enfim, uma noite que ficará na memória dos fãs e do próprio grupo.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

REBEL ROCK RESEARCH - SAVATAGE



É impossível falar de Savatage e não embargar as palavras com um sentimento ressentido. A banda americana fundada pelos geniais irmãos Oliva – inicialmente chamada de Metropolis e depois de Avatar, muito antes de assumir o nome que os legaria para a história – trouxe um novo ângulo estético e interpretativo de se fazer heavy metal, especialmente em uma era em que o modelo era ditado pela New Wave of British Heavy Metal. Enquanto monstros como Judas Priest, Iron Maiden e Saxon conduziam a batuta, esses garotos da Florida resolveram mostrar ao mundo já em seu primeiro álbum, Sirens, de 1983, o porquê tinham qualidades, diferenciais e potencialidades de tornarem-se sim – com ênfase no advérbio afirmativo! – um dos maiores fenômenos da história do metal.

Talvez o exagero da última asserção pareça descabido a muitos curiosos que venham aventurar seus olhos leitores sobre essas palavras, ainda mais se o nome Savatage é apenas mais um bibelô a enfeitar a extensa galeria de relicários de bandas pesadas; porém, eu nego isso veemente. Desde o seu princípio, o grupo soube lidar com maestria como compor heavy metal com originalidade, mesclando gêneros como o progressivo, o speed, o thrash, o power e o sinfônico em uma unicidade tão própria que chega a assustar os incautos. Sem exceção, desconheço quem realmente tem conhecimento do potencial da banda sem, minimamente, ficar atônito, estarrecido e glorificado com o som que fazem. Endosso: a alquimia sonora do Savatage é digna de ser entendida como genialidade.

E sobre genialidade, é impossível não correlacionar o substantivo aos nomes de Jon e Criss Oliva, irmãos fundadores do grupo. Jon, vocalista, tecladista e multi-instrumentista, é um músico e compositor completo no sentido estrito da palavra. Sua voz, icônica no gênero, revela uma inteligência e bom gosto extremamente expressivos, uma das marcas mais características da banda californiana. Criss era o guitarrista virtuose para além do rótulo e do estereótipo do típico excessivo talento. Imprimia sua identidade nas seis cordas como poucos de sua era. Uma referência, um guitar hero exímio, tornou-se uma lenda absoluta a todos que entendem do instrumento. Admirado pelos maiores nomes da guitarra, desejado por outras lendas (Ozzy Osbourne era um dos que o queria em sua banda), cristalizou-se como um mito de sua arte. Pensando nisso, trago à tona uma reflexão existencial: quando será que a história e o destino irão consagrar consanguineamente dois talentos desse calibre novamente?

Os irmãos em conjunto ao baixista Johnny Lee Middleton e o baterista Steve “Doc” Wacholz começaram a história do Savatage e gravaram obras que se fundem à própria história do heavy metal. Trabalhos como Sirens (1983), Power of The Night (1985), Hall of The Mountain King (1987), Gutter Ballet (1989) ou Edge of Thorns (1993) exemplificam a grandeza estética e estilística do grupo. Nesse sentido, acredita-se que a ascensão do grupo - cujo ápice nunca aconteceu – seria gradativa senão fosse o acidente de trânsito que ceifou a vida do estrelar guitarrista Criss Oliva, em 1992, tragédia que debilitou a essência do grupo e avassalou a alma do líder e irmão, Jon Oliva.

Desde então, o Savatage lutou e relutou muito para seguir em pé. Jon Oliva quis abandonar o grupo, degradou-se em uma profunda depressão, abrindo espaço, inclusive, para outro grande vocalista assumir seu posto (sob sua bênção, diga-se de passagem), o talentoso Zach Stevens, que também gravou álbuns clássicos, além de renomados guitarristas como Alex Skolnick e Al Pitreli enfrentarem com excelência a difícil missão de estar no posto que um dia foi de Criss Oliva. Entre inúmeras reformulações de elenco, de estilo e até mesmo de essência, o Savatage destinou à história da música pesada obras que devem ser saboreadas com requinte. Ranquear sua discografia do pior ao melhor é uma missão árdua, tendo em vista que o grupo produziu um conjunto coeso de sua arte de forma sempre bem produzida.

Ainda assim, nesse induto, o REBEL ROCK RESEARCH irá debruçar-se no doravante desafio, não apenas como uma singela análise discográfica do grupo, mas como uma necessária homenagem a um dos gigantes que a história do heavy metal não teve a chance de elevar da maneira a qual mereciam.

Gregory Weiss Costa


FIGHT FOR THE ROCK (1986)


Em último lugar, o terceiro registro da banda. Após os extraordinários lançamentos iniciais, Sirens (1983) e Power of The Night (1985), a expectativa em alta foi frustrada em um álbum um tanto confuso, um disco em que as músicas não pareciam conversar entre si. Se a primeira faixa, homônima do título do álbum, traz um heavy/hard empolgante para começar a audição, a segunda, “Out on The Streets”, traz uma balada um tanto monótona, enquanto a terceira, “Crying for Love”, tenta ser um “power love metal” emotivo que não faz jus ao nome. Temos baladas acústicas como “Day after Day”, experimentos como “The Edge of Midnight” ou a comercial “Wishing Well”, tudo misturado em uma salada de um Savatage que parecia não saber o que queria. Aliás, anos depois desse delirante e febril álbum, a própria banda admite não gostar do que fizeram, furando a fila discográfica adiante. Ainda bem que após esse desencontro, o grupo mostraria a seguir sua obra-prima máxima. Contudo, isso é assunto para logo mais.

POETS AND MADMEN (2001)


Último registro da banda e peça que marca o retorno de Jon Oliva aos vocais principais, Poets and Madmen apresenta-se como um álbum conceitual, progressivo e de tônica bem pesada e agressiva, mais um reflexo oriundo da genialidade e sensibilidade de seu supracitado “maestro”. Instrumentalmente e liricamente, constitui-se como um risco apontar alguma falha – o que acabei de fazer anteriormente em Fight For The Rock. A história de três adolescentes que invadem um casarão abandonado o qual antes era um manicômio, e lá encontram um velho louco que desenrola a trama do disco, é uma narrativa admirável e de enredo muito bem construído. Faixas como “There In The Silence” arrepiam com o peso das guitarras de Chris Caffery, assim como “Comissar” coloca o ouvinte em um clima de filme de terror, da mesma forma que “Morphine Child” fazem sua audição questionar quanto vale o ingresso daquela ópera rock; pontos esses que dignificam Poets and Madmen como um trabalho merecedor de aplausos em pé. Entretanto, consigo imaginar as indagações de muitos de vocês os quais devem estar lendo essas palavras: “se o álbum é tão bom, por que está em penúltima posição?”. Então, vos respondo: o disco parece mais uma obra solo do Jon Oliva, a qual poderia estar registrada – e possivelmente quase assim ocorreu – na sua carreira autônoma Jon Oliva’s Pain e aqui, acima de tudo, estou analisando a discografia do Savatage. Mesmo que o disco seja sensacional, ele pouco lembra ou assemelha-se ao conjunto da obra do grupo que é o cerne deste texto.

DEAD WINTER DEAD (1995)


Neste momento histórico, a banda (leia-se: Jon Oliva) ainda fragmentada pela perda de Criss Oliva, trouxe um bom álbum conceitual vertendo mais uma vez a um estilo que passou a ser marca do grupo, o opera rock, contando a história de um garoto sérvio e de uma garota mulçumana vivendo os dramas e as tragédias durante a guerra da Bósnia, drástico incidente que acometia esse país e o mundo na época. O disco contou com a dupla de excelentes guitarristas Chris Caffery e Al Pitrelli, e ainda que um abalado Jon Oliva tenha passado o bastão dos vocais ao promissor Zach Stevens, coube a ele a batuta e composição da obra. Apesar de sua voz protagonizarem faixas como “I am” e “Doesn’t Matter Anyway”, o bastião do Savatage concentrou-se mesmo nas teclas e trilhas de Dead Winter Dead. É preciso frisar que o trabalho exprime muitos pontos positivos e qualidades distintas, tanto que a balada épica e instrumental “Christmas Eve (Sarajevo 12/24)” foi uma das músicas mais tocadas na época e é, até hoje, uma das mais reconhecidas da história da banda. Sem dúvidas uma pérola concebida pela genialidade de Jon Oliva, assim como outros grandes momentos como “Not What You See” e “This is The Time” que valem cada minuto auditivo do álbum, porém, diante ao contexto da fenomenal discografia do Savatage, ocupa um lugar menos destacável neste ranking.

HANDFUL OF RAIN (1994)


Lançado após o celebrado Edge of Thorns, Handul of Rain é um incrível e espantoso registro de uma banda ainda em clima de luto e dor pela perda de Criss Oliva. Contando com o extraordinário Alex Skolnick (do Testament) na árdua missão de assumir a guitarra do falecido amigo, o álbum é um petardo incendiário de peso e puro heavy metal – talvez um dos mais pesados da banda – ao mesmo tempo em que é condensado a trilhas de extrema emotividade. Descarregando todo o poder de fogo já na primeira faixa, o petardo “Taunting Cobras”, o disco também pontua o vocalista Zach Stevens em um dos seus trabalhos mais inspirados e performáticos, tendo momentos como “Chance” servindo de uma boa prova da evolução de seu talento. Além disso, conforme se imaginava, a sonoridade do disco recebe a influência direta da musicalidade de Alex Skolnick. Trilhas como “Stare Into The Sun” e “Watching You Fall” revelam o apreço jazzístico do músico, da mesma forma que nomes como “Nothing’s Going On” colocam a experiência thrash do guitarrista na mesa. Evidentemente, a mão de Jon Oliva está presente nas imponentes “Castles Burning” e “Visions”, trazendo seus teclados e suas trilhas emotivas já consagradas. E falando em emoção, temos a sentimental “Alone You Breathe”, homenagem ao Criss Oliva, uma música que segue uma essência de nomes como Queen (uma das grandes inspirações do Savatage) e que, certamente, incitam as lágrimas de muitos ouvintes. É um grande trabalho, porém, quando observado por cima, apresenta-se um tanto linear à audição, possivelmente, pelo momento trágico vivido pelo grupo o qual certamente não possibilitou muito espaço a arroubos magnânimos de inspiração.


STREETS: A ROCK OPERA (1991)


Nessa fase, a banda abertamente declarava-se inspirada pelo fenomenal Queen. Logo, o Savatage apresenta em Streets: a Rock Opera sua nova vertente estilística: a opera metal. A nova faceta do grupo encena uma peça abandonada pelo compositor Paul O’Neill para a Broadway, e que foi resgatada pelo guitarrista Criss Oliva. A história do fictício protagonista D.T. Jesus, um pretenso rock star que vive no caminho inglório em busca de ascensão, vendendo entorpecentes nas ruas de Nova York até chegar ao estrelato, e depois, perder tudo pelas tentações clássicas da temática – drogas, sexo, dinheiro – inspirou a banda a se arriscar em um novo caminho estético que quebrava o paradigma do heavy metal que já os consagrava. O álbum é uma tela que serve para apresentar as novas tintas e cores do grupo, especialmente do extraordinário Criss Oliva, o qual desfila sua nova paleta de possibilidades sonoras. Deste disco, surge um dos hinos da banda “Jesus Saves”, assim como a icônica “Tonight He Grins Again”, faixa que eu considero como a gênese da mutação que a banda assumiu para seu legado mais sinfônico e conceitual. Evidentemente, sons como “Strange Reality” e “Sammy and Tex” ainda conservam o lado speed/heavy do grupo, mas, incontestavelmente, o Savatage jamais seria o mesmo após Streets: a Rock Opera. Mais uma vez, destaque merecido ao abissal Jon Oliva, que aqui, além de vocalista, torna-se um ator e intérprete da trama.

THE WAKE OF MAGELLAN (1997)


Se a metamorfose sonora do grupo, que emergiu de um concebido heavy metal tradicional, transformou-se em uma nova e indefectível identidade, The Wake of Magellan é o perfeito resultado dessa transfiguração. O álbum assume-se grandiosamente de acordo com sua proposta: uma ópera de heavy metal, com peso, melodias e progressividade na medida precisa e equilíbrio perfeito. Com o line-up em uma incontestável harmonia – foi o primeiro a manter os mesmos integrantes do disco anterior desde Hall of Mountain King – o trabalho conceitual carrega o ouvinte, faixa a faixa, na odisseia cinematográfica de um velho marinheiro que decide morrer sozinho em seu navio no mar. É impressionante que a sonoridade da obra parece “navegar” na audição e na emoção de quem se aventura a dar um play e apreciar, do início ao fim, The Wake of Magellan. Com o vocalista Zach Stevens em alta performance, a dupla de guitarristas Chris Caffery e Al Pitrelli destilando o melhor de suas técnicas e sonoridades, e, evidentemente, a inspiração e instrumentalização de Jon Oliva nos teclados, temos em mãos um dos registros mais excepcionais do grupo, intuindo a impressão que os rumos conturbados do Savatage finalmente iriam se assentar. Pérolas como a impactante “Black Jack Guillotine”, baladas como “Anymore”, a épica instrumental “The Storm” e a heavy e prog faixa homônima ao título do álbum, fazem The Wake of Magellan uma obra-prima, não só do Savatage, mas da própria história do estilo.

SIRENS (1983)


Aqui a magistral caminhada da banda tem início. Aos primeiros acordes executados por Criss Oliva na primeira faixa, homônima ao título da obra, percebe-se a genialidade de um grupo que inaugurava uma nova maneira de se fazer heavy metal. Apesar de estarem vivendo a explosão da New Wave of British Heavy Metal, modelo que conduzia às bandas do globo ao paradigma traçado por nomes como Iron Maiden ou Judas Priest, o Savatage imprimia sua própria maneira e identidade em seu disco de estreia. Músicas como a já citada “Sirens”, a audaciosa “Holocaust”, a fenomenal “Rage” e a cadenciada “On The Run” são pepitas sagradas do que esses jovens americanos de Tampa, Flórida, podiam e sabiam fazer quando o assunto era música pesada. Evidentemente, os destaques recaem aos irmãos, pois Jon Oliva consegue cantar de forma visceral e profunda, da mesma forma que cada nota vinda da guitarra de Criss Oliva expunha ao mundo que um dos melhores do instrumento ali havia surgido. Uma obra-prima, uma estreia devastadora desta banda que se destacou já ao início de sua história em uma indelével chegada.

POWER OF THE NIGHT (1985)


Após a fenomenal estreia, o Savatage calibra ainda mais o seu poder de fogo. Power of The Night, um dos retratos mais pesados da banda, é uma ode ao power/speed metal, um desfile de petardos verazes e arrebatadores de um grupo em ascensão meteórica no cenário. A faixa título tornou-se um clássico instantâneo, mas nomes como a cadenciada “Unusual”, a veloz “Necrophilia”, a thrash “Washed Out” e a hard e grudenta “Hard for Love” imprimem digitais extraordinárias na gama estética e de possibilidades sonoras da trupe californiana. Preciso repetir mais uma vez que a guitarra e os solos de Criss Oliva atingem níveis impressionantes e virtuosos, outra aula magna do instrumento da escola do Heavy Metal? Uma evidente evolução do trabalho anterior, a obra dispensa mais comentários: temos aqui o Savatage fazendo o que apenas o Savatage sabe fazer.

GUTTER BALLET (1989)


Se Power of The Night apresentou a evolução da banda em termos de peso e voracidade, Gutter Ballet avança casas no jogo da melodia e progressividade do grupo. Ainda que a música de abertura, “Of Rage and War” siga a cartilha magistralmente confeccionada no álbum anterior – o que inclusive a coloca como mais um dos hinos no repertório dos caras – a faixa posterior cujo nome é o mesmo do álbum, esgueira-se na fusão perfeita entre o melódico e o peso, alçando mais um patamar inimaginável que apenas o Savatage poderia arriscar-se a escalar. O disco é outro índice da veia conceitual e operística de Jon Oliva, que pensou no álbum após assistir ao musical “O Fantasma da Ópera” na Broadway. Aliás, extraordinariamente, a exceção das guitarras compostas pelo irmão, Jon concebeu criativamente todos os instrumentos do álbum, dos teclados à bateria. Gutter Ballet é uma mescla estilística extremamente bem delineada da sonoridade do grupo, em que cada faixa contempla outra. Momentos como a rápida “She’s In Love” podem remontar o âmago heavy da banda, porém logo o ouvinte é surpreendido e devastado pela extraordinária “Hounds” – a favorita deste que vos escreve – ou é embalado e empolgado por “Mentally Yours”, faixas as quais conjuram peso, progressividade e melodia em uma alquimia apenas concebida pelo singular e ímpar do Savatage.

EDGE OF THORNS (1993)


Edge of Thorns talvez não seja o disco de instrumentais mais exímios ou de trilhas mais mirabolantes da carreira do Savatage, mas certamente, sem nenhuma sombra de dúvidas, é a obra que conseguiu fenomenalmente erguer um pilar e colocar o grupo em seu auge de importância e relevância. Uma obra-prima sagrada na história do heavy metal, no sentido estrito dos predicativos, considerado com o melhor por legiões de apreciadores. Apesar de Jon Oliva não ser creditado por razões contratuais, é clara a sua genialidade na obra. Os teclados inconfundíveis da faixa título demarcam incondicionalmente um dos sons mais vitais da banda, assim como as guitarras transcendentais de Criss Oliva em faixas como “He Carves His Stone”, “Conversation Piece” e “Follow me”. Aqui também temos a estreia Zach Stevens nos vocais, imprimindo sua presença essencial na alma da banda. Esta obra indiscutivelmente é uma das mais importantes da história do grupo e do heavy metal, a porta de entrada mais reluzente para o universo do Savatage para vindouras gerações, as quais se emocionam com os hinos compostos neste trabalho, mas também é uma crucial bússola a qual norteia os fãs vitalícios, que eternamente lembrar-se-ão do disco como o registro consternado e épico da despedida injusta e precoce do inesquecível Criss Oliva.

HALL OF THE MOUNTAIN KING (1987)


Se você chegou até esta parte deste texto, já entendeu e absorveu que o Savatage configura-se como uma das bandas cujas características e habilidades exacerbam níveis impressionantes e ímpares de musicalidade, sonoridade e estilos, os quais os constituem como um dos grupos mais extraordinários da história do heavy metal. Apesar de serem injustiçados pela mesma história e por inúmeros fatores – vários talvez inexplicáveis neste plano – que não os colocaram em um merecido patamar maior no panteão dos grandes nomes, eles, ainda assim, produziram uma obra-prima, um épico que se encarna como um norte atemporal para o heavy metal como um todo. Estamos falando de Hall of The Mountain King, registro magistral e apoteótico do que os irmãos Oliva e companhia talharam. Um álbum poderoso que demarca o fim da era mais metal do grupo e o início de sua fase mais operística, uma literal marca transitória, pois aqui, em seu quarto registro, surge sua identidade mais progressiva e conceitual, além da preocupação clássica, vista em “Prelude to Madness”, por exemplo. No entanto, do começo ao fim, o disco é irretocável, trazendo trilhas absolutas como “24 hours ago”, “Legions” ou a poderosa “Strange Wings”. Isso, claro, sem a impossibilidade de se esquecer da menção ao maior hino da banda e que leva o nome do álbum, “Hall of The Mountain King”, baseada na lenda norueguesa exposta na peça de Edvard Grieg, que narra a cena em que o herói Peer Gynt entra na gruta do rei da montanha, onde encontra criaturas místicas e enfrenta desafios, comprovando a genialidade composicional desta grande banda. Sem mais nada a dizer, esta obra vale a eterna gratidão ao Savatage, um tesouro que nem a própria gruta do Rei da Montanha possuía, para todas as gerações e apreciadores desta arte, a qual este grupo foi uma peça única da própria mitologia do metal.