segunda-feira, 2 de outubro de 2023

TARJA - LIVING THE DREAM TOUR - 22/09/2023 - PORTO ALEGRE/RS

 


TARJA
LIVING THE DREAM TOUR
Abertura: Santo Graal
22/09/2023
Bar Opinião - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora/Top Link

Texto: Gregory Weiss Costa
Fotos: Uillian Vargas

Em uma semana cujas fortes chuvas castigaram o Rio Grande do Sul, em plena noite de sexta-feira, 22 de setembro, o mau tempo, talvez, simbolicamente, cedeu, e o clima preparou-se para receber outra tempestade, dessa vez, dentro do Bar Opinião em Porto Alegre. Tarja Turunen, o maior nome e fenômeno do metal sinfônico - talvez, a maior e mais importante voz feminina do próprio heavy metal! - pisava na capital gaúcha para apresentar um show histórico de sua turnê comemorativa de 15 anos de estrada e, tal como o análogo fenômeno da natureza, também avassalou corações, emoções e ânimos ao passar por aqui.

A turnê “Living The Dream” coroa a carreira solo e bem-sucedida da musa com seus maiores hits desde sua saída do lendário Nightwish. Aliás, sem a mínima necessidade de ainda enfatizarmos a sempre e intrínseca relação da vocalista e do seu ex-grupo, a data em questão comprovou o que sempre se soube da finlandesa: Tarja é lendária, uma artista e estrela icônica, e, conforme esperado, mostrou para uma casa lotada por que merece indiscutivelmente os predicativos as quais ostenta.

Em uma noite dedicada a celebrar o metal melódico e a maior musa do estilo, o Bar Opinião abriu suas portas um pouco antes das 21 horas para receber o público que literalmente esgotou os ingressos do evento. Não muito tempo depois, a banda Santo Graal teve a honra de abrir os trabalhos. O sexteto paulista de symphonic metal fez uma ode ao estilo com refinada excelência, sendo uma escolha coerente e extremamente bem-vinda para aquecer os fãs de Tarja Turunen. Formada por Natália Fay (vocais), Paulo Francioli (guitarra), Rafaela Martini (bateria), Carol Lynn (teclados), Rebeca Montanha (violoncelo) e Carlão Menezes (baixo), o grupo apresentou-se em altíssimo nível, destilando com propriedade o gênero o qual se propõem a fazer. Com quase duas décadas de caminhada, apresentaram hits do seu repertório como a energética “Whisper of Soul”, o petardo “Troubled Heart” e a emotiva “Dark Roses”. Após realizarem um show com entrega e performance sensacionais - muito além de apenas cumprirem tabela como “só mais um ato abertura qualquer”, rótulo desnecessário que tantas bandas, infelizmente, ainda recebem no meio - eles foram aplaudidos e aclamados com notável entusiasmo, indicativos que o Santo Graal cumpriu nobremente sua missão e ganhou vários novos fãs gaúchos.




Pontualmente às 23 horas - momento exato conforme marcado para o início do espetáculo – as luzes diminuíram e a expectativa eufórica da noite ascendeu em seu auge. Adentra ao palco a banda da musa, composta por Alex Scholpp (guitarra), Julian Barret (guitarra), Pit Barret (baixo), Alex Menichini (bateria) e Guillermo de Medio (teclados), ao som do acordeon de tango incidental de “Eye of Storm” - single que pertence exclusivamente ao “Best of” da cantora – seguidos por ela própria: Tarja Turunen, a dama do metal sinfônico que, apenas com um aceno e um sorriso, pôs o lugar abaixo, ainda que a música tenha um ritmo progressivo mais lento. A audiência extasiada recebeu da estrela finlandesa um “boa noite” e “um estou muito feliz” expressos em excelente pronúncia do vernáculo, contagiando, desde o início, o público com seu carisma fenomenal.

Na sequência, o ritmo swingado da guitarra de Alex Scholpp anuncia uma das músicas mais inusitadas de Tarja: “Demons In You”, som que fez o Opinião pular e cantar em uníssono. Em seguida, “Falling Awake”, do álbum “What Lies Beneath” e “Diva”, curiosa canção sobre a última viagem de um barco pirata, vinda do disco “The Shadow Self”, literalmente, energizaram a todos presentes. A excelente “Love to Hate” continuou o espetáculo para conduzir o show a um dos pontos mais emocionantes do concerto.


A banda larga seus instrumentos e abandona seus postos para deixar o cenário apenas para a protagonista da noite. Tarja senta-se ao teclado e começa um set acústico. Neste momento, com apenas voz, teclas e uma luz sobre seu semblante, percebemos o magnetismo sobrenatural que a finlandesa emana. Indescritível, única palavra que tenho para poupar-nos de tentativas de adjetivações ou descrições vãs. Os músicos de Lady Turunen voltam para encorpar uma das canções mais simbólicas de seu set: “Shadow Play”, do seu último disco, “In The Raw”. Aliás, aproveito o ensejo para destacar a banda da cantora. Trata-se de uma fina reunião de exímios instrumentistas, mestres que soberbamente desfilaram toda sonoridade complexa que o show pressupõe. Entregaram uma aula de heavy metal e dos estilos congêneres e complexos os quais Tarja sustenta em suas obras.

Após o repertório continuar com a pesada “Enough” e a com a balada “I Feel Immortal”, eis que acontece um dos momentos mais poderosos da noite. Tarja e banda começam a tocar “Nemo” – um dos maiores sucessos da história do Nightwish – a qual, sem exagero algum, foi uma espécie de expiação e catarse coletiva vivenciada por praticamente todos presentes. Lágrimas e manifestações emocionais espalhavam-se pelo Opinião, evidentemente, por tocar alguma lembrança ou sensação existencial própria para cada um que estava por lá. Afinal, tratava-se de uma rememoração do auge dos finlandeses, a condecoração de Tarja como deusa do gênero – uma saudosa era de ouro que nunca mais retornará. Quem viu, testemunhou um daqueles instantes épicos que apenas a música pode conferir aos verdadeiros amantes dessa arte.



Com a plateia ainda em transe, a diva não perde tempo e anuncia na sequência a música mais simbólica de sua carreira solo: “I Walk Alone”, do seu disco de estreia, “My Winter Storm”. Se “Nemo” já havia sido um turbilhão emocional, essa canção escoou o que restava de reservas emocionais de cada um. A casa bradava o refrão em uníssono, mesmo com Tarja sincopando a parte com silêncios estratégicos, enquanto seus olhos e sorriso brilhavam emocionados.

A marcha na caixa conduzida pelo baterista Alex Menichini introduziu a próxima música: “Victim of Ritual”, hit do excelente álbum “Colours In The Dark”. Mais uma vez, a finlandesa teve a audiência como coral de apoio, cantando energeticamente o marcante refrão. Depois disso, Tarja deixou o palco para sua última troca de figurino a qual precede o ato final do espetáculo. A banda – cuja excelência já foi destacada por aqui – retorna quebrando tudo para introduzir a cadenciada “Innocence” e, em seguida, a pesada “Die Alive” que injetou uma dose a mais de energia e vibração na plateia. Evidentemente, o melhor estava reservado para o final – especialmente para este que vos escreve, pois vinham pela frente minhas músicas favoritas do setlist.

O solo incidental da pesada “Dead Promises”, executada brilhantemente pelo guitarrista alemão, Alex Scholpp, derramou mais gasolina ao incêndio eufórico que já estava instaurado no Opinião. O instrumentista inclusive canta nessa música as partes gravadas originalmente pelo vocalista sueco Björn “Speed” Strid, provando, sem um fio de dúvidas, o porquê já é reconhecido como um dos pilares musicais da banda que acompanha Lady Turunen. Aproveito para manifestar que o guitarrista é um destaque à parte do show. Exímio músico e artista carismático, Alex tem todos os requisitos para despontar como um dos melhores no cenário em uma nova leva de virtuoses da guitarra. Não imagino quem, após assistir o cara, ainda poderia negar essa colocação.




O show encerra com a extraordinária “Untill My Last Breath”, literalmente, o último fôlego para um espetáculo de tamanha magnitude. Impressionante também é confirmar que, apesar dos seus já sabidos e inquestionáveis dotes vocais, Tarja canta seu ato de despedida com o mesmo nível e teor o qual apresentou desde o início. Trata-se mais do que uma perceptível e invejável técnica vocal – é explicitamente a cara e rara excelência da vocação aliada a um talento sobrenatural.

Visivelmente emocionada, a cantora encerra seu espetáculo ao lado da banda, agradecendo a presença de todos, sendo, evidentemente, ovacionada e aplaudida com ensurdecedora e merecida energia. Com olhos marejados, é perceptível a satisfação de Tarja ao receber tanto carinho, um reconhecimento único a sua carreira e tudo que ela representa como artista e inspiração. Suponho que ela jamais imaginaria, há 15 anos, quando começou sua caminhada solitária, que chegaria tão longe e seria uma das mais consagradas artistas da história do heavy metal. Após entregar um show irretocável, entendemos que o nome da sua turnê simboliza com perfeição o que ela vive hoje – um sonho, paradoxalmente, percebidos na realização máxima que uma artista como ela, a qual tanto entrega de si e de sua emoção, certamente merece.

Para finalizar, como se noite já não tivesse sido espetacular o bastante, o Opinião anunciou na data que a grande dama do metal sinfônico irá retornar à capital gaúcha e ao mesmo palco no vindouro ano de 2024, precisamente no dia 9 de março. Dessa vez, Tarja virá acompanhada do seu ex-colega de Nightwish, o lendário baixista Marko Hietala, um dos integrantes mais queridos que passou pelo grupo finlandês. De antemão, já é possível fazer um exercício de previsão e vislumbrar que o evento certamente irá exacerbar, mais uma vez, altas doses de emoção e euforia, sentimentos típicos que somente uma lenda como Tarja Turunen pode inspirar e evocar em seus fãs.












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