sexta-feira, 8 de março de 2024

REBEL ROCK RESEARCH - THIN LIZZY



Phil Lynott formou o Thin Lizzy em Dublin, Irlanda, em 1969, com seu amigo de infância, o baterista Brian Downey, e o guitarrista Eric Bell. O Thin Lizzy precisou de uma longa trajetória até alcançar o status de grande banda de rock. A maior parte de todo o sucesso alcançado se deve ao talento e genialidade do baixista, vocalista e líder Phil Lynott. Filho de uma irlandesa com um marinheiro sul-americano (havia muitos rumores de que o pai fosse brasileiro, porém não é), Lynott nos presenteou com sua carreira (relativamente curta), uma marca inquestionável de qualidade, seja em seu instrumento (e que baixista era Phil, hein?!), nas interpretações vocais e principalmente em suas composições. Infelizmente, por complicações após anos de abuso de drogas e álcool, Lynott faleceu com apenas 36 anos, no dia 4 de janeiro de 1986, recentemente completos 38 anos.

Para este que vos escreve é ainda mais especial e emocionante falar sobre Thin Lizzy, pois nasci justamente neste ano em que dois dos meus baixistas/artistas favoritos morreram, primeiro Phil em janeiro, conforme mencionado e mais tarde, em setembro, Cliff Burton.

A música e nós, fãs, sentem muita falta desses dois gênios.

E para contemplar essa toda essa genialidade, o REBEL ROCK RESEARCH vai dissecar a discografia da banda (apenas estúdio) de modo que seja uma justa homenagem a um dos titãs do Hard Rock setentista, uma vez que não foram reconhecidos quando houve chances.

Assim, terei a difícil missão – para não dizer quase impossível – de fazer a lista do “pior” ao “melhor” desta discografia. É até um pecado colocar a palavra “pior” dentro da discografia de uma banda que não tem um álbum que seja, sequer, mediano a ponto de classificarmos como “pior” e neste caso classifico como álbuns que menos “escuto” e que de maneira alguma são ruins ou que não tenham músicas boas, que fique bem claro.

Dito tudo isto, sem mais delongas bora para as audições da MAIOR E MELHOR BANDA DA IRLANDA DE TODOS OS TEMPOS!

Fernando Aguiar

*** AVISO: Preparem para ler bastante (hehe)!


Renegade (1981)


Por último, temos o penúltimo registro da banda. Renegade não traz a mesma qualidade das músicas grandiosas como, por exemplo, nos lançamentos dos discos da segunda metade dos anos 70, porém há ótimos momentos que ainda remetem ao bom e velho Lizzy. O disco começa com um som quase “heavy metal”. Estamos falando de “Angel of Death” (será que o Slayer curtiu esse nome? Hehe), que teve participação na composição de Darren Wharton, que havia entrado na banda em 1980, porém só foi efetivado neste registro. A faixa-título vem em seguida com uma boa levada, porém sem a mesma pegada que a anterior. Em seguida, “The Pressure Will Blow” segue a mesma linha do “hardão” apresentado nas anteriores e começa com aquele trabalho, já conhecido, de guitarras gêmeas que nos remete ao Lizzy dos anos 70 novamente. Scott Gorham e Snowy White fizeram um ótimo trabalho nela. “Leave This Town” tem uma boa pegada suingada, e “Hollywood (Down on Your Luck)” é maior destaque do disco onde podemos ver elementos da NWOBHM, que vinha em uma grande crescente na época e poderia até se tornado um dos clássicos do estilo, o que não aconteceu. Outro destaque é “Fats”, com seu instrumental suingado e cheio de balanço, além da performance “malandra” de Phil. “It’s Getting Dangerous” encerra com aquele andamento típico de Thin Lizzy onde a bateria, guitarras e baixo puxam o ritmo parecendo uma unidade, acompanhados pela maravilhosa performance e interpretação de Lynott, assim encerrando o álbum.


Chinatown (1980)


Após a saída de Gary Moore, Snowy White (ex-Pink Floyd) se juntou a banda para gravar Chinatown. Além disso, o tecladista Darren Wharton, também entrou extraoficialmente na banda, que foi transformado então em um quinteto. Snowy era um guitarrista com uma pegada um pouco mais bluesy, que não tinha a mesma pegada pesada ao estilo Lizzy de ser, se assim podemos dizer. Mesmo Chinatown sendo um tanto inferior a seus predecessores, concebido com uma produção um tanto quanto mais “magra” e com um certo descontentamento de Phil Lynott, que havia lançado, no mesmo ano, o disco Solo in Soho, é um disco com diversos momentos divertidos. Outro ponto a destacar na época do lançamento do disco é vício em drogas pesadas de Phil, assim como o de Scott Gorham. Ainda assim, Chinatown é recheado de momentos tipicamente Lizzy, como as belas dobras de guitarra em “We Will Be Strong”, música maravilhosa que abre o disco. Já o lado mais pesado da banda aparece na boa faixa-título, nas excelentes “Killer on the Loose” e “Genocide (The Killing of the Buffalo)”. “Having a Good Time” é uma divertida canção com uma letra um tanto quanto despretensiosa e “malandra”, na qual Phil inclusive introduz os guitarristas pelo nome antes dos solos. Em “Sweetheart” podemos ver o lado mais “pop” de Phil, uma música muito agradável de se ouvir, além da bela balada “Didn’t I” que traz aquele Phil mais “melancólico e romântico” ao mesmo tempo. E para fechar o play, temos aquele típico hard suingado em “Hey You” e “Sugar Blues”, esta que nos traz uma letra que é mais uma clara referência (infelizmente) aos vícios de Lynott, dessa vez a heroína.


Shades of a Blue Orphanage (1972)


Aqui, o trio Phil, Bell e Downey ampliou um pouco mais a gama de experimentações de seu álbum de estreia, mesclando diversos ritmos, como o funk, o blues, o folk irlandês e o hard rock. Shades of a Blue Orphanage abre com uma longa introdução de Downey em “The Rise and Dear Demise of the Funky Nomadic Tribes”, que por si só já valeria a compra do disco. O riff de baixo e guitarra, acaba apresentando uma deliciosa música calcada no funk, além da voz de Lynott, característica ao logo da carreira (como veremos nos discos a seguir), que surpreende pela malemolência e suingue de uma ótima música, que ao final tem um solo de bateria espetacular em seus minutos finais. A diferente e até um pouco “estranha” introdução de “Buffalo Gal” reflete-se no riff inicial, que tem as notas e solos de Bell como principal destaque desta música que nos brinda com uma boa balada. “I Don’t Want to Forget How to Jive” é faixa mais curta do álbum, com pouco menos de 2 minutos e que foi muito inspirada em algum rockabilly dos anos 50/60 de Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e cia. Em “Sarah” temos uma das mais belas músicas do disco, e até da banda, por ter uma referência um pouco mais relacionada a música clássica onde o piano de Clodagh Simmons, o violão de Bell em conjunto com a magistral interpretação vocal de Phil soam em perfeita harmonia, mostrando que desde cedo já era habilidoso tanto nos vocais, como baixista e compositor. “Brought Down”, inicia com o violão de Bell, outra importante composição de Phil que foi inspirada claramente pelo folclore irlandês, com destaque para o solo de Bell, onde o riff da guitarra duela com o baixo, começando aqui os indícios do que o Thin Lizzy faria anos depois. A pesadona “Baby Face”, mais uma música mostrando o que poderia se tornar o Thin Lizzy anos depois com aquele hard setentista e com o baixo de Phil batendo na cara do ouvinte, enquanto “Chatting Today” retorna aos violões com um ritmo mais folk. “Call the Police” é outro grande hard, onde o destaque, mais uma vez vai para o riff marcado entre baixo e guitarra, com muito suingue acompanhando a parte vocal. O disco encerra com a bela faixa-título, são sete minutos de um blues sublime, tendo a participação destacada do órgão de Clodagh Simmons, alternando as notas simples de um dedilhado de guitarra que acompanha a interpretação melancólica e até chorosa de Phil, mostrando seu poder como interprete e cantor. É a partir daqui, em Shades of a Blue Orphanage, que o Thin Lizzy começou mostrar que poderia e iria se tornar um gigante entre os grandes do rock.


Thin Lizzy (1971)


A estreia do Thin Lizzy é um tanto quanto “difícil” de explicar (talvez por isso eu goste tanto dele a ponto não ser o “último lugar” na minha lista de preferência). A banda trouxe uma mistura de sons, ideias e estilos em um álbum bastante experimental, a começar pela abertura, com “The Friend Ranger at Clonfart Castle”, na qual psicodelia do The Doors e cia impera através de um poema entoado por Phil, fazendo o ouvinte viajar logo de cara, e aqui é onde vemos o estilo inconfundível de cantar de Phil pela primeira vez. “Honesty is no Excuse” inicia com uma bela levada de violão de Bell, acompanhado pelo órgão (participação de Ivor Raymonde), nos leva de volta aos anos 60, em uma balada maravilhosa, já “Diddy Levine” é uma bela demonstração da influência folk sobre a banda. Nela que aparece pela primeira vez o riff marcado entre baixo e guitarra que estaria presente em muitas da banda anos mais tarde. “Ray-Gun” tem uma pegada funk maravilhosa, levado pelo wah-wah de Bell, com Phil bebendo e muito, da fonte de Jimi Hendrix em sua melodia vocal, assim como em “Look What the Wind Blew In”, que tem um ritmo bem envolvente feio pelo trio. “Eire” traz Phil demonstrando seus dotes vocais, acompanhado pelo lento ritmo da guitarra, baixo e bateria em mais um belo blues. “Return of the Farmer’s Son” (alguma alusão a “Highway Star” do Deep Purple aqui? Que foi lançada um ano depois), tem uma ótima levada de baixo e guitarra enquanto Phil derrama emoção na letra da canção, além do primeiro solo de destaque feito por Bell. A malemolência e “malandragem” inicial da curta “Clifton Grange Hotel” é bem interessante, a música em si parece uma espécie de rock anos 50/60 com psicodelia, com destaque para as guitarras sobrepostas de Bell. Em “Saga of the Ageing Orphan”, volta ao folk com uma triste canção e com um bonito arranjo de violões. “Remembering – Part 1” fecha o primeiro álbum em uma faixa bem trabalhada, na qual o wah-wah de Bell se destaca entre os momentos delicados e agitados que se alternam constantemente com o passar dos seis minutos de duração, onde o solo de Bell é outro grande destaque, além do cavalgante baixo de Phil, entre seus gritos ensandecidos e guitarras sobrepostas, encerrando o álbum em grande estilo.


Thunder and Lightning (1983)


O décimo segundo e (infelizmente) último lançamento de estúdio do Thin Lizzy conseguiu demonstrar um gás renovado, sendo o mais pesado da banda e com algumas músicas com um lado mais heavy metal, e muito disso foi devido à entrada do talentoso guitarrista John Sykes no lugar de Snowy White, uma jovem promessa proveniente de uma das melhores bandas reveladas pela NWOBHM, o Tygers of Pan Tang. Darren Wharton também se faz presente com mais personalidade, algo bem claro desde a introdução ao teclado para a faixa-título, que abre o álbum, logo acompanhada do ataque selvagem às guitarras de Sykes e Gorham, de uma maneira que o Lizzy não fazia tão bem desde Black Rose. Apesar de ter sido produzido por Chris Tsangarides, o mesmo que cuidou de Renegade, dessa vez o álbum soa mais agressivo, perigoso como a banda sempre deveria ser. Mesmo sendo um disco menos variado que outros destaques dos anos 70, o investimento no lado mais direto foi muito bem vindo, pois gerou diversas ótimas faixas, como “This Is the One”, “Heart Attack”, e, mais especialmente, a excelente “Cold Sweat” (anos mais tarde regravada pelo Megadeth), movida a riffs de guitarra, colocando o Thin Lizzy para concorrer com os grupos que despontaram durante o ápice da NWOBHM. Outra boa contribuição de Darren Wharton é “The Sun Goes Down”, permeada por texturas geradas por seus teclados, e muito provavelmente a mais atípica canção do álbum. “The Holy War” traz um bom desempenho dos guitarristas e a marca registrada de Sykes, enquanto “Bad Habits” lembra o Thin Lizzy setentista, criador de músicas que injetavam uma forte dose de melodia através de sua dupla de guitarristas. Outra boa faixa é “Baby Please Don’t Go”, ajudando a tornar Thunder and Lightning ainda mais empolgante.


Vagabonds of the Western World (1973)


Aqui é onde o som do Thin Lizzy realmente começa a tomar forma adquirindo sua própria personalidade, sem mesclar tantos os estilos. A guitarra de Bell ganha mais espaço e o lado folk é praticamente abandonado de vez, assim privilegiando um som mais característico do rock setentista, com mais peso. Podemos ver isso logo na música de abertura, a dançante “Mama Nature Said”, na qual o slide de Bell dá um espetáculo à parte, ao lado do órgão do convidado Jan Schelhaas, também presente na embaladíssima “The Hero And The Madman” onde é apresentado um Hard Rock para ouvir durante a estrada, viajando sem destino. Seguimos com “Slow Blues”, que faz jus ao título e mantém a qualidade do play, sendo uma das melhores músicas da banda, na qual a guitarra, acompanhando a melodia vocal entre as batidas fortes de bateria, em um ritmo quase marcial, transforma-se em uma suingada canção com o andar da carruagem. Em seguida temos “The Rocker”, primeiro clássico da banda, com destaque total para Bell trazendo riffs agressivos e solos maravilhosos. Um Hardão forte e com os vocais bem trabalhados e uma interpretação genial de Lynott. A faixa-título é um Hardão forte e com os vocais bem trabalhados e uma interpretação genial de Lynott, além de um riff grudento de baixo e guitarra, que parece ter saído de algum álbum do Black Sabbath. “Little Girl in Bloom” é o momento calmo do play, assemelhando-se à “Shades of a Blue Orphanage” ou “Saga of the Ageing Orphan” em determinados momentos, apesar da inovação com os vocais sobrepostos de Lynott cantando o refrão. O baixo entra demolindo em “Gonna Creep Up on You”, mais uma funkeada faixa criada por Lynott e cia, na qual Bell gasta o wah-wah com um riff pegajoso e dançante. “A Song for While I’m Away”, com um interessante arranjo de cordas, mantém a tradição de encerrar os álbuns do Thin Lizzy sempre com uma canção marcante, dessa vez simples, mas emotiva, quase como uma valsa, levada pelo baixo e violão e por uma interpretação única de Lynott.

Aqui cabe um parágrafo de dicado àquela que virou quase que uma marca da banda, hoje a clássica “Whiskey in the Jar”, que acabou ficando de fora do lançamento original, mas que apareceu no relançamento do álbum em 1991, uma música popular irlandesa, mas que o Thin Lizzy a tratou de “possuí-la”, onde teve um relativo sucesso com o single quando foi lançada em 1972 e que anos mais tarde foi regravada e também “possuída” pelo Metallica no Garage Inc, onde a banda toca ela nos shows até hoje como forma de homenagem a uma das maiores influências e heróis da banda. Essa versão do Metallica, muitos também consideram como definitiva e até melhor que a original. Bem, para este que vos escreve, ambas têm o mesmo peso de gosto e adoração.


Nightlife (1974)


1974 marca o começo de uma nova era para a banda, a começar pela saída de Eric Bell, que foi substituído logo por uma dupla (e isso mostra um pouco da ambição que Phil tinha em mente para o futuro da banda), que seriam Scott Gorham e Brian Robertson. Nascia assim uma das principais duplas de guitarra, ao lado de K. K. Downing/Glenn Tipton (Judas Priest) e Andy Powell/Ted Turner (Wishbone Ash), eternizando momentos sagrados para o rock através das famosas guitarras gêmeas. E é a partir de Nightlife que o bicho pega, pois este é um grande álbum (é o início real da fase de ouro da banda), misturando elementos da soul music, do funk e algumas pitadas de hard rock, sendo em geral um disco com muita sensualidade, contando com a participação de backing vocals femininos que contribuem bastante para isso, assim como arranjos especiais para cordas, feitos por Jerry Horrowitz, e pelos teclados de Jean Roussell. O suingue de “She Knows” abre o disco, e nela é possível identificar uma pequena diferença em se tratando das guitarras, com cada músico fazendo seu breve solo. A faixa-título é um blues bem dinâmico e composto, mantendo o suingue da faixa de abertura, e trazendo novamente as cordas para as canções do grupo. “It’s Only Money” já é mais hard, com o riff marcado das guitarras e baixo mostrando o lado pesado que o Thin Lizzy tanto procurava. Logo após temos uma das melhores canções do grupo (se não a melhor), a emocionante e romântica “Still in Love With You”, com Phil dando mais um show de interpretação vocal, dividido com Frankie Miller, e com a participação mais que especial de Gary Moore fazendo o magistral solo de guitarra, como esperado de um dos maiores guitarristas da história do rock, fazendo com que encerre este relato com lágrimas nos olhos, que música meus amigos. “Frankie Carroll” é outra pérola, com Phil cantando acompanhado apenas por um bonito arranjo de cordas e piano. Já em “Showdown”, na qual o baixão de Phil, acompanhado pela levada de Downey e do wah-wah da guitarra, constrói mais uma sensual canção para aquela noite de sábado, destacando os vocais femininos. A vinheta instrumental “Banshee” é uma bela amostra do que as guitarras gêmeas eram capazes de fazer, em uma canção simples, porém comovente ao mesmo tempo, enquanto “Philomena” retorna ao som mais cadenciado, com o baixo de Phil sendo a atração, dividindo o riff principal junto das guitarras gêmeas. A clássica “Sha La La” é o momento no qual as guitarras gêmeas se fazem mais presentes, com uma levada sensacional do baixo acompanhando o riff de tirar o fôlego, além da ótima levada de bateria (mais uma). Os solos rasgados de Gorham e Robertson são a cereja do bolo dessa excelente faixa. O encerramento fica por conta de “Dear Heart”, outra música mais amena e comovente, levada pelo órgão de Rousell e pelas cordas. Outro destaque do disco é a linda capa do álbum, uma obra de Jim Fitzpatrick, com uma pantera negra observando um entardecer, sendo essa pantera uma representação de Phil.


Fighting (1975)


Se Nightlife foi o começo de uma nova era, é em Fighting que o som do Thin Lizzy toma a forma mais conhecida e amada pelos fãs, onde Phil, Gorham, Robertson e Downey definem o estilo que então consagraria a banda como a mais importante do rock irlandês e uma das maiores no cenário mundial naquele momento. Cada música é uma pequena obra-prima do hard setentista, a começar pela clássica e cover de Bob Seger “Rosalie”, com seu riff grudento, tendo a participação especial de Roger Chapman (do grupo Family) nos backing vocals. “For Those Who Love to Live” tem um ótimo trabalho das guitarras gêmeas e amplia o horizonte de canções suingadas, mas com o peso que não aparecia nos álbuns anteriores, destacando também as vocalizações de Lynott. A banda resgata “Suicide”, que já era era apresentada nos shows quando ainda eram um trio, e que aqui recebeu o devido tratamento para torná-la um dos grandes clássicos da banda, onde as guitarras de Gorham e Robertson fazem a cadência perfeita para o baixo e para a voz de Phil, acompanhados pelo sempre monstruoso Brian Downey (que baterista!), com a ponte central, onde todos executam um riff marcado, sendo um dos principais momentos do álbum, copiado “descaradamente no bom sentido” por bandas como Iron Maiden, Def Leppard, Tygers of Pan Tang, entre outros da NWOBHM. “Wild One” é uma balada que entra para dar aquela calmaria de meio de disco e possui momentos marcantes das guitarras gêmeas, principalmente no maravilhoso solo. “Fighting My Way Back”, com suas variações, seu riff principal e as belas melodias de guitarra se tornou mais um clássico da banda. Já “King’s Vengeance” tem um riff inspirado em Led Zeppelin e embora seja uma sonoridade que soa diferente do “habitual” se tratando de Thin Lizzy, é uma música muito agradável. “Spirit Slips Away” possui uns timbres que fazem dela uma viajante canção, na qual as variações no botão de volume na guitarra de Robertson criam uma atmosfera inédita para os irlandeses e mais uma vez a interpretação e letra de Phil se destacam de maneira triste, que músico! O tecladista do Faces, Ian McLagan, participa em “Silver Dollar”, a qual é uma representação fiel do som objetivado por Lynott para a banda, ou seja, uma mescla de suingue, peso e partes de guitarra bem trabalhadas, assim como “Freedom Song”, outra boa amostra do que era o som feito pelo Thin Lizzy a partir de Fighting, com as guitarras gêmeas duelando com o baixo. O álbum se encerra com “Ballad of a Hard Man”, que de balada só tem o nome, já que as guitarras de Gorham e Robertson despejam um Hardão fenomenal, comandado por uma cozinha impecável, empregando o suingue de Nightlife com muito peso, sendo esse o diferencial nos álbuns do grupo a partir de então. É impossível não destacar o belo solo com wah-wah feito por Robertson. Certamente, muito da influência que o Thin Lizzy deixou para a posteridade vem dos petardos impressos nos sulcos de Fighting (e os discos posteriores), que saiu nos Estados Unidos com uma capa diferente da versão europeia, tornando-se mais um item de coleção para os fãs.


Bad Reputation (1977)


Foi uma batalha árdua ter que deixar Bad Reputation fora do pódio, mas do quinto colocado (Fighting) em diante, as diferenças são praticamente zero até a primeira posição...que tarefa difícil, de verdade!
Bem, vamos ao que interessa. Como a capa do disco denota, o errático Brian Robertson se fez ausente na maior parte das sessões de gravação e por este motivo acabou ficando foda da foto final, que acabou culminando na capa do disco, contudo, o trabalho foi extremamente bem preenchido por Scott Gorham, algo nítido desde as belas melodias executadas na guitarra em “Soldier of Fortune” até suas sensíveis, mas certeiras intervenções na derradeira “Dear Lord”. A faixa-título, além de apresentar uma letra que se encaixa perfeitamente à condição do Lizzy na época, é perfeito exemplo da união única de peso e groove que a banda praticava com tanta maestria na segunda metade dos anos 70, sem falar nas belíssimas viradas de bateria executadas por Brian Downey. “Southbound” e “Dancing in the Moonlight” trazem uma sensibilidade pop invejável; a primeira através de agradáveis melodias executadas na guitarra, “conversando” com o vocal de Phil, enquanto a segunda (Uma das melhores da banda) apresenta um irresistível convite ao balanço, inclusive trazendo como complemento o estalar de dedos e a presença de um bem vindo saxofone. A criatividade do grupo não para por aí, pois “Killer Without a Cause” possui riffs de heavy metal (mais uma que certamente influenciou diversas bandas) e bases executadas ao violão em paralelo e o uso do voice box, cortesia de Robertson. “Downtown Sundown” acalma os ânimos, mas “That Woman’s Gonna Break Your Heart” recoloca os níveis de adrenalina no alto, com seu marcante riff principal, que serve de perfeita ponte para as linhas vocais de Phil. Brian Robertson acabaria deixando o Thin Lizzy definitivamente após a turnê para Bad Reputation, sendo substituído por um velho conhecido, mas ainda deixaria sua marca em Live and Dangerous (1978), álbum duplo ao vivo compilando faixas apresentadas sobre os palcos durante 1977, mas este é assunto para outro momento.


Johnny the Fox (1976)


E para abrir o pódio, ninguém menos que Johnny the Fox. Pelo visto não foi suficiente ter lançado O ÁLBUM em 1976, o Thin Lizzy lançou logo dois! Visto que a banda foi forçada a abortar a turnê de Jailbreak na metade após Phil Lynott ter sido diagnosticado com hepatite, resolveram retornar aos trabalhos antes do planejado a sequência de Jailbreak, o clássico (mais um) Johnny the Fox. Este é um álbum que une com propriedade o típico peso do hard rock a um groove irresistível, no qual só o Thin Lizzy conseguia fazer. A obsessão de Phil com os Estados Unidos em suas letras continua em Johnny the Fox, presente em músicas como “Fool’s Gold” e “Massacre”, esta última, aliás, prova absoluta da influência exercida pelo Thin Lizzy nas bandas da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), com maravilhosos riffs e a condução digna do talento de Brian Downey. Música esta, que viria a ser regravada pelo Iron Maiden muitos anos depois. A execução de riffs unindo baixo e guitarras como apenas um instrumento permeia a maravilhosa “Johnny”, com Scott Gorham e Brian Robertson despejando técnica e feeling nos solos. Já em “Rocky”, traz a história de um presunçoso rock star (seria Robertson??) através de uma música pesada e rica nas dobras de guitarra que se tornaram característica marcante do Lizzy. Brian Robertson também é o co-escritor de “Borderline”, uma magnifica balada sobre um homem ter sido deixado por uma mulher, porém sem soar brega (esta que também veio a ser tocada pelo Metallica em seu último show acústico beneficente, coisa mais linda ver James entoando as notas de Phil com emoção, tirando lágrimas deste que vos escreve). Chegamos ao principal hit do disco, a curta “Don’t Believe a Word”, que possui um riff simples, porém hipnótico e único, denotando influências blues carregadas por Phil e que acabou se tornando mais um clássico da banda. “Fool’s Gold” traz a história da fuga em massa de irlandeses para os Estados Unidos em função da fome atravessada durante o século XIX. Aquela malandragem típica de Phil encontra sua maior manifestação em “Johnny the Fox Meets Jimmy the Weed” (outro clássico absoluto), apresentando, sob um instrumental cheio de balanço e swing. O lado mais melódico do Lizzy retorna em “Old Flame” e “Sweet Marie”, mas a finalização do disco em “Boogie Woogie Dance” traz um som cheio de groove e peso, na qual Phil e Downey constroem uma sólida base para o show de Gorham e Robertson. Johnny the Fox é daqueles discos que não se escuta pela metade, NUNCA.


Black Rose: A Rock Legend (1979)



Como se não bastasse a dificuldade de escolher a sequência dos discos no geral, este 3 piorou ainda mais a situação, vocês não têm noção do quão difícil foi ter que deixar Black Rose em segundo. Bem, após a saída definitiva de Brian Robertson, finalmente Gary Moore registrou devidamente sua presença em um disco do Thin Lizzy. Variado, o disco apresenta desde canções bem roqueiras e rápidas, como “Toughest Street in Town” e “Get Out of Here”, até momentos de uma delicadeza ímpar, elevada ao máximo em “Sarah”, música escrita para a recém-nascida filha de Phil Lynot. No meio disso tudo, ainda havia espaço para as percussivas e grooveadas “Do Anyting You Want To” e “S&M”, além das sempre bem vindas características pop do Lizzy, que podemos ver na magnifica “Waiting For a Alibi”, que é conduzida pelas guitarras marcantes de Gorham e Moore, despejando licks e solos que trazem uma dinâmica diferenciada à música. “With Love” traz misturas de guitarra e violão de uma maneira bem agradável e ainda trazem a presença do amigo Jimmy Bain (Rainbow, Dio) no baixo. Mesmo com nível lá das músicas nas alturas, o maior destaque do álbum é sua épica faixa-título, um belo tributo as canções tradicionais irlandesas, atribuindo um suave toque celta ao hard rock do Thin Lizzy, fora o destaque para o talento absurdo de Gary para construir solos de alto nível. É um tanto quanto triste que, no track list, logo após “Sarah”, homenagem à sua filha, Phil admita, através da letra de “Got to Give It Up”, que precisava largar os vícios que estavam consumindo sua vida (e que acabaria consumindo literalmente sua vida anos depois). Infelizmente, Phil ainda lutaria muito contra esses demônios, que acabariam afetando negativamente sua vida e a música produzida pela banda no futuro próximo.


Jailbreak (1976)



E a medalha de ouro vai para Jailbreak. Mais entrosados do que nunca, a banda passou a compor uma música melhor que a outra, atingindo o ápice em Jailbreak. O álbum começa com a “porrada” e excepcional faixa-título, com um grudento refrão e com aquela típica levada que só Thin Lizzy sabe fazer e seguindo o ritmo, as guitarras são um espetáculo à parte em “Angel from the Coast”, uma música rápida, na qual o baixo galopante de Phil dá as caras, e claro, dê-lhe guitarras gêmeas. “Running Back”, possui a participação de um saxofonista e de outros músicos de estúdio, em uma canção mais amena em comparação às duas iniciais, porém sem perder o brilho. “Romeo and the Lonely Girl” é mais um som típico de Thin Lizzy, com o baixo tomando as rédeas e as guitarras suingadas sendo os maiores destaques. “Warriors” vem com mais um destaque de baixo galopante de Phil e com outro riff grudento das guitarras gêmeas, além do vocal recheado de efeitos. Em seguida vem o maior clássico da banda “The Boys are Back in Town”, que aliás, já nasceu clássico. O riff simples, a melodia grudenta, a interpretação fenomenal de Lynott, as guitarras dominando e o refrão de fácil assimilação, daqueles que se sai cantando após a primeira audição. E foi com esta música que o Thin Lizzy ganhou o mundo de vez. “Fight or Fall” diminui o ritmo, com um lindo arranjo das guitarras e com Lynott se consagrando de vez como um dos principais baixistas e compositores de sua geração (e pós também). Se você não se pegar dançando em “Cowboy Song” é porque, com toda certeza, você tem sérios problemas auditivos (para não dizer outra coisa), já que o ritmo da música por si só embala as pernas e os braços do ouvinte. “Emerald” encerra O ÁLBUM perfeito, com seu riff pesadíssimo, que se tornou rapidamente mais um clássico da banda com seu hipnotizante hard setentista, que leva o ouvinte ao êxtase no sensacional duelo de guitarras durante o solo que conclui a música. Fantástica e absolutamente perfeita!


Pois bem meus amigos, chegamos ao fim desta maravilhosa e estonteante aventura que foi dissecar a discografia de uma das melhores e mais importantes bandas da história, ao mesmo tempo esquecida por muitos. Mas estamos aqui para lembra-los de que o Thin Lizzy, mesmo não existindo mais, estará sempre vivo em nossos corações com sua obra mais que perfeita.

Obrigado Philip Parris Lynott por nos brindar com sua eterna poesia e obra!
E para fechar, quem não gosta de Thin Lizzy, gente boa não é. E tenho dito!




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