Após "Endorama", lançado em 1999 e que chegou ao ápice com o nível de experimentalismo perpetrado pelo grupo, o KREATOR "retornou" com tudo em "Violent Revolution", um álbum que deixava de lado aquele clima mais sombrio e gótico praticado pelo grupo no álbum anterior. De lá pra cá, o grupo vem mantendo uma boa regularidade, mantendo-se sempre no topo do thrash metal, estilo que ajudou a criar e consolidar. Assim, o que temos em GODS OF VIOLENCE (2017), lançado no Brasil, na parceria Shinigami Records/Nuclear Blast, pode ser apontado como um dos melhores trabalhos lançados pelos alemães, ao lado do já citado Violent Revolution. Pesado, brutal, mas ao mesmo tempo, cada vez mais acentuando sua veia melódica e externando sua influência de metal tradicional, o 14º álbum do grupo já pode, e deve, ser considerado um dos melhores lançamentos de 2017. E para deixar tudo ainda melhor, não bastasse a qualidade apresentada nas 11 faixas do CD, temos de bônus uma apresentação matadora do grupo no Wacken 2014, que consta no DVD aqui presente.
Miland "Mille" Petroza (vocal/guitarra), Sami Yli-Sirniö (guitarra), Christian "Speesy" Giesler (baixo) e Jürgen "Ventor" Reil (bateria) estão juntos desde 2001, provando que o entrosamento entre eles está cada vez mais afiado. Já tendo lançado cinco álbuns com este line-up, o KREATOR está, não apenas estabilizado, mas com uma das formações mais sólidas e potentes do thrash metal mundial. GODS OF VIOLENCE foi gravado, produzido e mixado por Jens Bogren, enquanto que a masterização ficou sob a responsabilidade de Tony Lindgren, tudo feito na Suécia. E não nada a se reclamar aqui. Tudo soa perfeito. Peso, timbragem, arranjos... E não poderia ser diferente, afinal estamos falando de uma das maiores bandas do mundo!
Como dito anteriormente, mesmo mantendo toda a brutalidade e agressividade que sempre (ou quase sempre) se fizeram presentes na carreira do grupo, temos aqui boas doses de melodia, o que vem sendo, também, uma constante nos mais recentes álbuns do grupo. Outro ponto bem interessante é que as influências de metal tradicional estão cada vez mais latentes. Isso tudo faz com que este álbum ganhe uma maior consistência, pois alia de forma correta todos esses elementos. Após Apocalypticon, uma breve introdução, Word War Now nos traz aquele Kreator brutal e pesado que estamos acostumados a ouvir, mas que traz consigo melodias que se encaixam perfeitamente na composição. Já Satan Is Real, apesar de possuir um andamento mais cadenciado, deixa isso ainda mais latente, mesmo que tenhamos presentes a violência dos riffs de Mille e Sami. Este último, aliás, se mostra mais uma vez, um excelente parceiro nas seis cordas para o bom e velho Petrozza. Em Totalitarian Terror temos aquele Kreator mais old school, como nos velhos tempos. Assim como na faixa título, que mesmo possuindo momentos mais introspectivos (em seu início), mostra um grupo bastante agressivo, ainda que as melodias se faça presentes. Riffs mais na "cara" é o que temos em Army of Storms, onde ventor mostra que ainda é um dos bateristas mais técnicos e brutais do estilo. E que continua sendo referência para muita gente por aí.
Hail To The Hordes possui características que nos remetem à época de Endorama. Mas calma, não por ter em sua estrutura elementos mais sombrios ou góticos, mas pelo andamento e pelas melodias que trazem esses traços em sua estrutura. Lion With Eagle Wings é, talvez, a faixa que melhor representa a aproximação do grupo como metal tradicional. Seja pelos riffs, solos, seja pela condução da cozinha (e aqui cabe uma menção à Christian "Speesy" Giesler, que se não é muito lembrado quando se fala do grupo, não compromete, muito pelo contrário. O baixista completa de forma eficiente a parceria com ventor, dando uma base sólida e pesada ao grupo). Fallen Brother também possui certa ligação com o lado mais tradicional, mas possui riffs tipicamente thrash. Além disso, a faixa possui um clip que faz homenagens á grandes nomes da música que já se foram. Emocionante, pra dizer o mínimo. Um raivoso Mille dá início à Side by Side, faixa rápida e bastante agressiva. O tracklist regular se encerra com Death Becomes My Light, outra faixa onde o metal tradicional aflora de forma mais incisiva. Não bastasse toda a grandiosidade das onze faixas regulares, temos ainda uma faixa não creditada no encarte. trata-se de Earth Under The Sword, uma composição que mantem as características presentes em todo o álbum.
Ainda, mesmo que o CD faça jus a cada centavo investido nele, temos um DVD com o show que o grupo fez no Wacken em 2014. Quem já teve a oportunidade de assistir à uma apresentação do quarteto sabe que a coisa aqui é mais do que profissional. Som, luz e uma pegada perfeitos, com destaque para a performance de palco do baixista Christian, que compensa toda a estaticidade do guitarrista Sami. Um único senão que fica para o DVD é essa mania que algumas banda têm, e se não me falha a memória, não é a primeira vez que o Kreator faz isso, é a de usar as imagens com um tom "granulado", que por vezes parece que a tela está suja. Não compromete mas, não precisava desse "efeito".
GODS OF VIOLENCE vem para reafirmar (mas sinceramente, não sei se isso é necessário) a posição do KREATOR como uma das maiores bandas de THRASH METAL mundial. Um álbum que vai entrar como destaque na discografia do grupo e que com toda a certeza, estará em várias listas de melhores do ano nos sites e revistas especializadas. podem anotar aí.
Sergiomar Menezes