sexta-feira, 28 de maio de 2021

SACRIFICED - BEYOND THE GATES (EP) - (2021)

 


SACRIFICED - BEYOND THE GATES (EP) (2021)
Independente

Três anos após o excelente "Enranged", o quinteto SACRIFICED retorna com um EP que vem para manter o bom nome do grupo em evidência. Bom nome esse que foi conquistado devido ao incansável trabalho da banda e, obviamente, pela qualidade acima da média da banda mineira. Apesar de todos os percalços e dificuldades impostas pela pandemia que estamos vivendo, o grupo se mostra ativo e nos entrega em BEYOND THE GATES, seis faixas, sendo uma delas um regravação, onde apresenta aquilo que estamos acostumados a ouvir quando o nome do quinteto está associado.

Kell Reis (vocal), Diego Oliveira (guitarra e vocal), Sérgio Barbieri (guitarra), Gabriel Fernando (baixo) e Tiago Vitek (bateria) apresentam uma sonoridade bastante peculiar, mesclando elementos de Thrash Metal, Heavy Metal Tradicional,Power Metal e  Progressive Metal. Em um primeiro momento, pode parecer uma salada, mas o quinteto sabe explorar muito bem cada vertente moldando seu próprio estilo. É preciso dizer que a produção, mixagem e masterização do EP ficaram sob a responsabilidade do guitarrista Diego. A vocalista Kell Reis merece um destaque, uma vez que usa sua voz com muita sabedoria, sem exageros, cantando de forma simples e com técnica mais apurada quando necessário. O trabalho dos guitarristas Diego e Sérgio também precisa ser citado, pois tem uma pegada bastante atual, sem perder a veia metal tradicional inserida dentro da gama de referências do grupo.

"Silence is the Omen" abre o EP com um peso absurdo (em se tratando da sonoridade do grupo). Com uma pegada moderna, lembrando em alguns momentos o Arch Enemy, a faixa é um belo exemplo do que foi citado no parágrafo anterior. Há diversos elementos "espalhados" pela faixa, mostrando a versatilidade do grupo. Enquanto Kell deixa à mostra sua capacidade vocal, passeando com desenvoltura entre a voz limpa e em outros momentos mais rasgada, a cozinha composta por Gabriel e Tiago sentam a mão sem piedade. E por falar em peso, a fixa seguinte, "Vertigo" também carrega essa mesma atmosfera, mas com uma levada mais cadenciada, que, lá pela metade da faixa, ganha uma quebradeira digna de nota. "Say My Name", lançada anteriormente em um lyric vídeo, vem na sequência para manter o peso e agressividade em alta. E cabe um pequeno comentário aqui: a banda ficou mais pesada ao ouvirmos "Enranged", seu trabalho anterior. 

"Contemplating Black" traz um clima mais denso em alguns momentos, como o próprio título entrega. E pelas palavras do guitarrista Diego e do baixista Gabriel, não tinha como ser diferente, uma vez que o início do trabalho se deu antes da pandemia, mas precisou ser adaptado durante ela para sua conclusão. E isso acabou por influenciar o EP. Isso fica ainda mais explícito em "Those Things That Make Me Bleed", uma faixa arrastada, pesada, introspectiva e intensa. No encerramento, "Streets of Fear" uma regravação dos tempos em que a banda se chamava Sacriffice. Mais acelerada, a faixa é um daqueles "metalzão" pra quebrar tudo em show e mostrar a face mais metal tradicional do quinteto. Claro que agora, com uma pegada bem mais atual.

BEYOND THE GATES é um trabalho cercado de uma atmosfera pesada e intensa. Volto a repetir, aqui o SACRIFICED está mais pesado do que nunca, mostrando uma variação muito interessante dentro das composições. Ponto mais que positivo para o grupo que não se limita ao lugar comum buscando inovar mantendo sua identidade. Mais uma vez, um ótimo trabalho.

Sergiomar Menezes







UNLEASH THE ARCHERS - ABYSS (2020)

 



UNLEASH THE ARCHERS - ABYSS (2020)
Napalm Records

O quarteto canadense UNLEASH THE ARCHERS volta á carga menos de um ano após seu EP de covers (Explorers, 2019). Em seu quinto full length, ABYSS, a banda aposta em um trabalho conceitual, composto por 10 faixas e que segue os passos do trabalho anterior ao EP, intitulado Apex, de 2017. Com uma sonoridade que alia o power metal mais acelerado ao estilo que consagrou nomes como Iron Maiden e Judas Priest, o grupo mostra desenvoltura e personalidade, algo bastante raro nos dias atuais. E um dos diferenciais é a vocalista Brittney Slayes, que foge daquelas características líricas e eruditas exageradas que muitas vezes acompanham as vocalistas deste segmento. Uma voz suave, mas ao mesmo tempo firme e imposta com precisão, fazem dela um dos destaques do trabalho.

A já citada Brittney ganha a companhia de Scott Buchanan, baterista e que formou a banda, ao lado da vocalista em 2007, além dos guitarristas Grant Truesdell e Andrew Kingsley. Contando mais uma vez com a produção do lendário Jacob Hansen, do Hansen Studios na Dinamarca, o trabalho deixa explícita a técnica e versatilidade do quarteto ao incorporar sintetizadores em determinados momentos, principalmente nas baladas. Considerado pela própria banda como seu mais forte e intenso trabalhos desde seu início, o álbum mostra que os 13 anos de carreira foram bem assimilados pelo grupo, que soube trabalhar detalhes peculiares em sua sonoridade, sendo um tanto quanto difícil encaixá-los em algum estilo definido.

ABYSS é um trabalho bastante regular, mas podemos citar alguns destaques durante sua audição. "Waking Dream" tem uma bonita melodia, suave e ganha um maior brilho com a interpretação de Brittney. a faixa título é um power metal vigoroso, com um belo trabalho de guitarras e que resgata, de certa forma, os bons tempos do metal melódico do início dos anos 2000. Ainda que seja mais forte e pesada. Assim como "Through Stars", mas esta, por sua vez, é mais cadenciada e apresenta traços mais atuais em sua linha de composição. "Legacy" é outro bom momento, mas possui um acento mais comercial, principalmente em seu refrão, enquanto "Soulbond" traz uma levada mais acelerada e conta com vocais guturais em determinadas passagens, que criam uma atmosfera mais densa e pesada da mesma forma que "The Wind That Shapes the Land", que apesar dessas características, é bem próxima do metal tradicional.  

Sem precisar provar nada à ninguém, mas ao mesmo tempo, mostrando que tem personalidade e identidade, o UNLEASH THE ARCHERS revela, através de ABYSS, um grupo maduro, consistente e bastante inteligente, ao não deixar se levar por modismos ou qualquer coisa do gênero. Num mundo onde copiar os outros virou rotina, isso faz toda a diferença!

Sergiomar Menezes




segunda-feira, 24 de maio de 2021

HOLOCAUSTO WAR METAL - BATISMO DE FOGO (2021)

 


Fale a verdade. Quantas bandas podem bater no peito e dizer que criaram um estilo musical? E, ainda mais, dizer que esse estilo se tornou uma referência? Dá pra contar nos dedos não é mesmo? E uma dessas bandas é a brasileira HOLOCAUSTO que surgiu para a cena metal mundial juntamente com a efervescente cena mineira nos anos 80. Rebatizada agora como HOLOCAUSTO WAR METAL, incorporando ao seu nome o estilo criado por ela própria, a banda lança BATISMO DE FOGO, um trabalho forte, intenso e que resgata de forma consistente toda aquela atmosfera que só quem tem conhecimento de causa consegue criar. Lançado pelo Warcore Records, selo pertencente à própria banda, o trabalho é mais uma aula de brutalidade liderada pelo experiente Valério Exterminator, uma das mais icônicas figuras do metal nacional.

Além de Valério (guitarra e vocal), o trio é composto por Rafão The Trigger (baixo e vocal) e Manfredo War Tank (bateria e vocal). Batismo de fogo traz 05 faixas inéditas e mais três faixas que fizeram parte da demo "War General", lançada em 2020 e que contaram com a participação do baterista Luiz Tolledo, da banda Eternal Fall. Mas as três composições receberam novas versões, sendo que em uma delas o trio contou com os vocais de Fernando Campos, da banda Scalped. Outro convidado é o vocalista/guitarrista da Offensor, Giovanni Amorim, também conhecido por Reco, entre os amigos da cena mineira dos anos 80. Todo esse pacote faz do álbum um trabalho voltado aos fãs do estilo do grupo, qual seja, uma música agressiva, brutal, ríspida e sem nenhum tipo de contato com a melodia...

"Batismo de Fogo" é uma introdução que conta com a participação do supracitado Giovanni. A faixa é um "convite" aos soldados para unirem-se à guerra que virá pela frente, o que não tarda visto que a próxima música que temos é "Guerra", uma pedrada que não deixa nada no lugar. Impossível não lembrarmos do início da banda, seja pela sonoridade, seja pela postura, ou ainda, pela produção adotada pelo grupo que de forma bastante direta nos leva ao início de carreira do grupo. Mas, veja bem: não quero dizer aqui que a produção está datada, mas sim, que consegue resgatar uma aura bastante próxima daquilo que ouvíamos lá atrás. Dona de riffs sujos e ríspidos, a faixa é, sem dúvidas, o grande destaque do trabalho, seja pelos vocais, seja pela brutalidade apresentada. "ISIS" é uma das faixas que estavam na demo de 2020. Contando com os vocais de Fernando Campos, a faixa é um belo exemplo de como soar relevante em dias atuais. Com um início que nos remete ao doom metal, a faixa ganha uma atmosfera animal, descambando pra porradaria sem deixar pedra sobre pedra. 

"Ex-Combatente" mostra uma face que aproxima o War Metal do Hardcore, que a bem da verdade, é uma das principais influências do grupo. Mas quando falo em hardcore, falo daquele raiz, violento e dotado de velocidade, como manda a cartilha do Punk/HC. "Arames Farpados" apresenta uma levada de bateria mais intensa, por vezes até meio tribal, mas mantém intacta a personalidade do grupo. Até mesmo porque os vocais, que são revezados entre os três integrantes, garantem toda a "obscuridade" á sonoridade da banda. Já "Sniper Alvo na Mira", traz esse revezamento nos vocais. Também pertencente a demo "War General", a faixa ganha aqui uma dose extra de agressividade se comparada a sua versão anterior. Sem espaço para modernidades ou quaisquer outro tipo de influência externa, a composição também é um dos destaques do trabalho, que é bastante homogêneo.

Um soco na boca do estômago. Não há definição melhor para "Simo Haya", uma pancada sem dó nem piedade nos ouvidos dos menos preparados. O que impressiona na sonoridade do Holocausto War Metal é  a capacidade do grupo em criar faixas que mesmo mantendo uma pegada semelhante, conseguem soar completamente diferentes entre si. Ponto mais que positivo para o trio. Última faixa presente na demo, "Crianças Soldado" traz novamente o revezamento dos vocais e uma levada mais próxima do Thrash Metal, principalmente pelos riffs em determinadas passagens. "Cobras Fumantes" fecha o álbum de forma pesada, densa e voltada para um lado mais cadenciado, mostrando a face mais "versátil" da banda.

BATISMO DE FOGO não vem apenas para abrir as comemorações de 35 anos do grupo. O trabalho, dono de uma regularidade bem acima da média, vem para colocar o HOLOCAUSTO WAR METAL no seu devido lugar, qual seja, o de um dos mais importantes grupos do metal mineiro e nacional. Posto esse que sempre pertenceu ao grupo, diga-se de passagem...

Sergiomar Menezes








segunda-feira, 17 de maio de 2021

PAUL STANLEY - UMA VIDA SEM MÁSCARAS

 


Stanley Bert Einsen. Um nome que, talvez, passe despercebido para muitos. Mas se falarmos PAUL STANLEY? Alguma dúvida? Obviamente que todo ser humano que habita esse planeta sabe que estamos falando do maior frontman da história do Rock. STARCHILD, a icônica figura à frente do KISS, tem sua autobiografia lançada por aqui através da Editora Belas Letras, que vem trazendo aos brasileiros importantes trabalhos nessa área. UMA VIDA SEM MÁSCARAS é um título mais do que apropriado para o livro, uma vez que nosso herói conta detalhes de sua vida, desde a infância até os dias atuais, mostrando, muitas vezes, que por trás do "filho da estrela", existe um ser humano com defeitos (muitos), mas determinado a chegar ao topo, apesar de todas as dificuldades impostas pela vida e, porque não dizer, por ele mesmo.

O livro é dividido em seis partes que se subdividem em capítulos. Narrado de forma bastante sincera, o texto expõe de forma simples e objetiva tudo o que de mais importante aconteceu na vida de Paul. Muitos comentam que o livro é dono de uma autoindulgência, mas eu não percebi dessa forma. Como narrar os fatos que aconteceram na sua vida, seus problemas internos, vitórias e derrotas sem expressar o seu sentimento? Mas Paul consegue expressar tudo de forma direta, sem enrolações ou fantasias, o que acaba por, de certa forma, desmistificar um pouco da aura "invencível" que o rodeia.

Uma infância difícil, que apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela família, sofreu também o impacto de uma deformidade física que acabou influenciando diretamente a forma de condução da sua vida. Stanley não tem vergonha de expôr o quanto isso o incomodava. O relacionamento interno com sua família, com colegas de escola, o primeiro contato com o Rock n' Roll, a vontade de tocar, de ser "alguém". As primeiras bandas, os relacionamentos... um início conturbado e, para muitos, o suficiente para desistir. Mas não para PAUL STANLEY.

Repassando a carreira, temos o encontro com Gene Simmons, os primeiros momentos com o Wicked Lester, A procura por um baterista e um guitarrista para a formação da maior banda de todos os tempos (ou no conceito dele, a banda que eles queriam ver ao vivo), os primeiros álbuns, a presença marcante  definitiva de Bill Aucoin, a consagração com ALIVE!, a fama, glória e suas consequências. O início dos problemas internos na banda, o que para muitos, assim como eu, revela uma certa decepção (mas isso é algo bem pessoal), e tudo mais que envolveu a consagração do KISS nos anos 70.

Mas como nem tudo foram flores nessa trajetória, a troca de integrantes, a necessidade de buscar algo inovador para reinventar-se, aliados aos problemas pessoais com as quais Paul teve que lidar, mostram que por trás daquela maquiagem, existia uma pessoa cheia de conflitos internos e externos mas que, ao subir no palco, deixava tudo para trás e entregava ao público aquilo que aquela famosa voz anunciava antes da banda entregar no palco: A BANDA MAIS QUENTE DO MUNDO!


O livro e muito ais do que a vida de Stanley no KISS. Como já citado, os problemas familiares, no casamento, na relação com os outros integrantes (em todas as fases) são expostos de forma forte, sem concessões. Se houve uma "modificada" pela visão dele, nunca saberemos. Eu prefiro acreditar no que está escrito, pois a essa altura, não há nenhuma necessidade disso, não é mesmo?

Sem querer dar spoilers, mas alguns momentos da biografia acabam ganhando maior destaque, como o momento em que Stanley, trabalhando como taxista deixa um grupo de pessoas no Madison Square Garden em um show do Elvis Presley e diz "Um dia, estarei aqui e as pessoas tomarão um táxi para me ver". Quatro anos depois, Lá estava o Starchild tocando para uma multidão de pessoas... Impossível também não se emocionar com a despedida a Bill Aucoin, que segundo o próprio Paul, transformou o kiss naquilo que ele se tornou. Mostra o ser humano sensível, principalmente depois de tudo que aconteceu nessa relação empresário/banda.

UMA VIDA SEM MÁSCARAS é um livro que deve ser lido não apenas pelos fãs da banda, mas por todo aquele que tem interesse em saber sobre a vida de um Rock Star. PAUL STANLEY revela seu lado humano, passível de erros, problemas, mas incansável na busca de melhorar, de alcançar seus objetivos. Muitos dizem que alguns heróis não usam máscara. O meu tem uma estrela no olho...

Sergiomar Menezes




quinta-feira, 13 de maio de 2021

SLAYER - REPENTLESS (GRAPHIC NOVEL)

 


“Estamos contando a história que sempre contamos sobre a sociedade e sobre como os seres humanos tratam uns aos outros.” Foi dessa forma que Tom Araya, vocalista e baixista da máquina de moer ossos chamada SLAYER, definiu o que podemos ver em REPENTLESS, a Graphic Novel lançada aqui no Brasil pela Estética Torta Editora e que passa para o papel de forma grandiosa a trilogia de clipes lançados no último e derradeiro trabalho do grupo, também intitulado Repentless. Uma edição luxuosa, com capa dura, acabamento especial, com detalhes em verniz na capa e impressa em papel couchê de alta gramatura.

A edição lançada no Brasil compila em um único volume as três edições em quadrinhos lançadas em 2017 e, como citado anteriormente, vem baseada na brutal trilogia de clipes lançados pela banda para promover seu último trabalho de estúdio. A violência retratada nas músicas (a saber, Repentless, You Against You e Pride in Prejudice) ganhou "vida" pelas idéias de Jon Schnepp (roteiro) e pelas mãos de Guiu Vilanova (arte). 

Além da história dividida em três partes, o trabalho traz também as capas das edições originais dividindo cada parte, além de uma galeria com muitas ilustrações extras de alta qualidade, com imagens da banda na Comic-Con, nos bastidores dos clipes já citados, etc. 

Um trabalho muito bem elaborado, com acabamento de altíssima qualidade. E também um retrato de toda a agressividade, violência e brutalidade da nossa sociedade atual. Assim como a música do SLAYER

 Sergiomar Menezes








quarta-feira, 12 de maio de 2021

MY DYING BRIDE - THE GHOST OF ORION (2020)



Com a segurança de quem se dedica ao Doom Metal há mais de 30 anos, os britânicos e pioneiros do MY DYING BRIDE entregaram no início de 2020 o seu décimo quarto álbum de estúdio, THE GHOST OF ORION.  O novo disco é marcado por ser o primeiro pela Nuclear Blast, no Brasil ele saiu pela competente Shinigami Records — “Feel The Misery” lançado em 2015 findou a parceria de longa data entre a banda e a poderosa Peaceville Records. Nesse ínterim foi lançada a terceira parte da coletânea “Meisterwerk” e o box set “A Harvest Of Dread”.

Maduro e coeso, embora pouco ousado em relação a seus pares Paradise Lost e Anathema, o My Dying Bride pouco experimentou ao longo de sua carreira, sendo “34.788%… Complete”, lançado em 1998 o trabalho que mais foge a sua própria essência, o que de forma alguma o torna ruim. Os anteriores e sucessores ora são tomados por definitivos no cenário que eles próprios ajudaram a criar, no caso o Death/Doom Metal; ora como trabalhos de transição e soma, quando Gothic Metal passa a ter mais espaço e acentuação na sonoridade dos mesmos. De todo modo, qualidade jamais faltou à banda.

Produzido por Mark Mynett (Damnation's Hammer, Godthrymm, Rotting Christ) e embalado numa arte lindíssima de Eliran Kantor (Incantation, Fleshgod Apocalypse, Testament, Helloween), o disco possui 08 faixas que compartilham de pouco mais de 56 minutos e nelas ouvimos todas as características tão marcantes que forjaram e bem definem a personalidade musical do MDB — as letras enigmáticas e poéticas de Aaron Stainthorpe, os riffs, melodias e harmonias de guitarra sempre elegantes e sentimentais, a base rítmica bem composta e desenvolvida, variada quando assim o humor da composição dita, e claro, as linhas de violino. Sobre a produção, ela é nitida, cristalina e volumosa — sobra a estrutura do disco, é válido afirmar que “The Ghost Of Orion” é sofisticado e melancólico como todo bom trabalho da banda, ele é bem menos complexo que seu antecessor, ainda melodioso e denso, mas sem tantos contrastes como tinha o supracitado “Feel The Misery”.

Sobre as composições e destaques: “Your Broken Shore”, “To Outlive The Gods” e “Tired Of Tears” formam a trinca de abertura de um trabalho que se dilata a medida em que o ouvimos e apreciamos, e sim, todos os elementos e texturas tão bem explorados pela banda estão nelas. Os demais temas se guardam a apresentar vestígios umas das outras, sem perder o folego de qualidade, mas mantendo a postura rígida e o tom severo do album. Algumas vezes amargo como em “The Long Black Land” e “The Old Earth” e noutras mais sereno e divagante — poético-musical, como exposto em “The Solace” (abrilhantada por linhas tristes e imersivas de guitarra e pela bela voz de Lindy-Fay Hellada, da banda norueguesa de Folk, Wardruna) e no derradeiro tema, a instrumental, “Your Woven Shore”.

Um álbum digno de figurar entre os grandes registros dos britânicos, que envelhecem bem e com consciência de sua importância no cenário Doom e Heavy Metal na totalidade. My Dying Bride é sinônimo de música feita tendo as emoções como ingrediente principal, na ciência do sentir e na arte como um bem imortal, “The Ghost Of Orion” é mais um primoroso capítulo acrescido à discografia da banda que, não satisfeita, ainda lançou mais uma meia página em novembro, o ep “Macabre Cabaret”. Longa vida aos mercadores da miséria.

Fábio Miloch