quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ANDRALLS - LIVE AGAINST (2024)

 

ANDRALLS
LIVE AGAINST
Marquee Records - Nacional

Lançado em 2003, “Force Against Mind” é um marco na carreira da banda paulistana “Andralls”, e nada melhor que comemorar os 20 anos de seu lançamento tocando o álbum na íntegra. O show aconteceu na Red Star Studio, em fevereiro de 2023. Alex Coelho (vocal e guitarra), Andre Mellado (baixo) e Alexandre “Xandão” Brito (bateria) estavam com sangue nos olhos — A fúria do material antigo, com algumas mais recentes criaram um clima propício para o caos.

Logo de cara, o estilo “fasthrash” pega fogo na dobradinha “We Are the Only Ones” e “Two Sides”. Ambas são uma sequência de tirar o fôlego por seu instrumental agressivo, sem tempo para o fã pegar fôlego. Interessante como o trio soa bastante coeso neste ao vivo, e o mais legal é que a mixagem foi bem fiel ao que aconteceu naquela noite, não transformando o som em algo plastificado ou tirando a fúria característica do Andralls, o ouvinte se sente como estivesse realmente no meio “bate-cabeça”! O tracklist contém 15 faixas, com um pouco menos de 60 minutos de duração, fazendo com que o ouvinte tenha uma boa absorção de toda a celebração.

Antes de começar as comemorações, “Unexpected/Fear Is My Ally”, uma aula ministrada por Alex Coelho, gritos ensandecidos e riffs cortantes sendo despejados para a alegria de todos de todos ali presentes. “Beyond the Chaos”, abre a parte especial do material. A música é aquela típica faixa que deixa qualquer fã de música pesada feliz, sua levada rápida numa boa ode ao thrash alemão dos anos 80. “Force Against Mind” é um trabalho brutal, com punch bem forte, então é de se esperar que ao vivo o material soasse mais “porrada”, e de fato é o que temos aqui. É impossível não “bangear” na arrasa quarteirão “Thrash Blood Mine”, que tem uma levada insana da bateria de Xandão. “Andralls On Fire part II” é uma verdadeira montanha-russa, com sua violência e cadência sendo o convite para o mosh pit, culminando no sempre maravilhoso refrão: "Andralls - Burning Tower, Andralls - Flames Devour".

A adrenalina segue em alta com as pedradas “Desire to Glority” e “Cocaine”, as linhas graves de Andre Mellado seguram muito bem a falta de uma segunda guitarra, mantendo tudo muito pesado. “The Shades of the Darkness” tem sua levada um pouco mais quebrada, um riff “groovado”, mais próximo de bandas como Machine Head ou até mesmo o Sepultura (fase “Chaos AD”), sendo assim, um dos maiores destaque de “Live Against”. Poucas bandas tem um poderio e inquietude tão forte no palco como o Andralls, e quem já assistiu alguma apresentação do grupo sabe do que estou falando. É absurdo como o álbum transpira energia em suas faixas. Bem, quando uma banda resolve tocar um clássico de sua discografia é entrar com o jogo ganho, mas são poucos que conseguem golear. O material tocado ao vivo ganhou mais vida, o Andralls soube elevar a precisão e violência das músicas fazendo um show correto, sem firulas, poucas palavras e muito “fasthrash” na cabeça de todos. “So Many Gods”, “Back from Nowhere”, “Enemy Within” e, a obrigatória e clássica “Andralls On Fire” fecham o disco do jeito que começou, pesadíssimo e agressivo.

“Live Against” é a constatação de uma banda que nasceu para incendiar o palco. Imperdível!!!

William Ribas




BLAZE BAYLEY - CIRCLE OF STONE (2024)

 


BLAZE BAYLEY
CIRCLE OF STONE
Blaze Bayley Recordings - Importado

BLAZE BAYLEY
CIRCLE OF STONE (2024)
BLAZE BAYLEY RECORDINGS – IMPORTADO

Goste ou não de Blaze Bayley é inegável que sua carreira solo alcançou um razoável número de fãs em sua fase pós-Iron Maiden, carreira esta que já alcança quase 25 anos de duração. “Circle of Stone” é o 11º trabalho da carreira solo do cantor, incluindo-se aí, os 3 primeiros trabalhos sob o nome “Blaze”.
Blaze adaptou-se perfeitamente aos integrantes da banda de Power Metal Absolva cuja parceria já dura mais de 8 anos e renderam os últimos 5 discos de sua carreira. Parceria esta que começou com a trilogia “Infinite Entanglement” e o ótimo “War Within Me” (2021).

Invariavelmente quando lembramos da carreira solo de Blaze, a primeira coisa que nos vem à cabeça é o fabuloso trabalho “Silicon Messiah” (2000), trabalho altamente indicado a qualquer ser vivo com bons ouvidos e que sejam adeptos ao Heavy Metal. A única pisada na bola aconteceu com o fraquinho “The King of Metal” (2012) que além da péssima qualidade de gravação, traz composições que nem parecem ser de Blaze, com exceção obviamente, da pesadíssima faixa título.

Musicalmente falando o novo disco traz aquele Heavy/Power Metal sem a mesma pegada ultra pesada dos anos 2000, mas repleto de melodia e boas composições. As rápidas “Mind Reader”, “Tears in Rain”, “The Year Beyond This Year” e “Ghost in the Bottle” abrem o trabalho mostrando um Blaze cheio de energia do jeito que os fãs gostam. Há também faixas mais cadenciadas como a belíssima “Rage” e “A Day of Reckoning”; porém o destaque maior vai para a lindíssima “The Broken Man” que irá remeter o fã aos já citados anos 2000, com seu ar épico de faixas como “The Hunger” ou “Stare at the Sun” por exemplo. Só ela já vale a audição.

A pisada na bola fica para a faixa título que traz como participação especial o vocalista do Wolf, Niklas Stålvind, que não me desceu bem (veja o clipe abaixo e tire suas conclusões).

A faixa de encerramento “Until We Meet Again” é um lindo dueto de Blaze com a cantora galesa Tammy-Rae Bois, que acompanhados do violino de outra parceira de longa data, Anne Bakker, acaba nos parecendo um trieto tamanha a conexão entre todos. Lindíssima faixa!

Tive a oportunidade de ver algumas vezes ao vivo essa formação e confesso que não me inspirou tanto assim, mas felizmente, em estúdio, a banda está na ponta dos cascos, e a mim, particularmente, prefiro desta forma. Quem é fã continuará sendo; quem não é, continuará não sendo. Blaze superou sérios problemas de saúde durante sua vida e segue firme e forte fazendo o que mais ama e sabe fazer: Metal! Muito Metal! Quando sai o próximo???


Mauro Antunes





sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

REBEL ROCK RESEARCH - CELTIC FROST

 



O Celtic Frost é mais do que uma banda de Metal. É uma instituição do estilo, que nunca fugindo das suas raízes do underground, influenciou centenas de bandas e arrebatou um sem-número de fãs mundo afora. Com um início basicamente baseado no que se convencionou rotular de “Black/Death Metal”, o Celtic Frost seguiu sua carreira até o final dos anos 80, retornando em 2006, experimentando, se recriando e inovando, e diga-se de passagem, nem sempre acertando... Vamos ao meu “do pior ao melhor”, baseado na minha admiração pela banda suíça, que vem desde a minha adolescência (e faz tempo!)...

José Henrique Godoy


COLD LAKE (1988)



O Frost tem algumas unanimidades, e uma delas é de que "Cold Lake" é o seu pior álbum. E esse consenso geral, não é de graça. Tom Warrior parece ter caído no conto do mainstream, trocou toda a banda, mudou temática e visual. Apesar do visual Glam Metal, o som se aproxima muito mais de um Heavy Metal do que do “Hair” Metal. Mas o grande problema ao meu ver, além é claro, de uma “mudança drástica” (ou traição, como quiser) é que, se por um lado as músicas não são de todo ruins ou fracas, por outro lado não poderia ter o nome Celtic Frost na capa. O resultado foi um dos maiores (não lembro de outro maior) fiascos da história do metal mundial! O Frost não agregou novos fãs e espantou os antigos.

INTO THE PANDEMONIUM (1987)




Lembro do lançamento deste álbum claramente. Em 1987 eu já era muito fã do “Kéltik” (aprendi a pronúncia correta muito tempo depois), e “Into The Pandemonium” seria o lançamento seguinte ao mais que clássico “To Mega Therion”. Junte-se ao que foi teito em “Therion”, o título “Into The Pandemonium”, e a expectativa dos fãs, o que era esperado era que os suíços viessem cuspindo labaredas de puro Metal Extremo. Muita calma neste momento, pois não foi bem assim... O riff de abertura de “Mexican Radio” (cover de uma banda “pós-punk” chamada Wall Of Voodoo) vem pesadíssimo, “Inner Sanctum” outro destaque pesadíssimo, bem Celtic Frost. Por outro lado, pela primeira vez Tom Warrior e asseclas começam os experimentalismos como em “Tristesses de la Lune” uma peça gótica, onde a cantora suíça Manü Moan recita um poema em francês. Se esta faixa parece estranha aos ouvidos metálicos numa primeira audição, o que falar da faixa “One in Their Pride”, totalmente eletrônica (poderia tocar dentro de carros cheios de neons luminosos). Confesso que quando consegui minha cópia em fita K7 não pude deixar de ficar decepcionado, apesar de ter gostado da maioria das faixas de “Into The Pandemonium”. Muitos reclamaram e odiaram, mas não sabiam que o próximo seria “Cold Lake”...


MONOTHEIST (2006)



Depois de 16 longos anos de hiato, Tom Warrior e Martin Ain se reconciliaram e lançaram “Monotheíst”. Um trabalho muito denso, pesadíssimo, e com o lirismo muito baseado nos escritos de Aleister Crowley. Para muitos, o álbum que salvou o legado do Celtic Frost. Nele temos faixas pesadas e rápidas, lembrando o início da banda e ao mesmo tempo algumas passagens mais góticas. Nada que os suíços não tenham feito antes, porém dessa vez com uma aura sombria e lúgubre nunca vista/ouvida antes na discografia da banda. Um trabalho único até então, mas repetido várias vezes após o seu lançamento, por diversas outras bandas e artistas de Black e Death Metal, porém sem o mesmo brilhantismo, inclusive espelhado pelo próprio Tom Gabriel, anos mais tarde, na sua banda Triptykon.


VANITY/NEMESIS (1990)



Este álbum creio que divida muito as opiniões, pois ele vem logo a seguir da derrocada do “Cold Lake”. Mas eu o coloco no pódio do Celtic Frost. Tom Gabriel Warrior ainda seguiu se achando bonitão e o cabelo ainda estava gritando no Spray, porém a sonoridade era outra. Aqui o que temos é um Thrash/Heavy Metal de muita qualidade, porém no formato das composições “WArrior/AIn”. “Heart Beneath” e “Wine In My Hand” são a abertura e dão o tom de todo o trabalho, enquanto “Wings of Solitude”, mais cadenciada, vem com vocais femininos e atmosfera gótica. “Island Earth”, mais uma bela peça Thrash Metal enquanto “Phalic Tantrum” é aquele arrasa quarteirão que o Celtic Frost costuma apresentar nos seus melhores momentos. Enfim, não dê ouvidos a quem fala mal de “Vanity/Nemesis”: escute você mesmo, e descubra um excelente álbum de Metal muito pouco comentado!


MORBID TALES (1984)



Selvagem, bruto, rápido, ameaçador... e clássico! O que falar de “Morbid Tales” que junto a “Black Metal" do Venom e o “Bathory”, primeiro álbum da banda do sueco Quorthon, forma a trindade profana, as pedras fundamentais e pilares sólidos e maiores influências para o que se convencionou chamar de “Metal Negro/Metal da Morte”? Tom Warrior e Martin Ain tiveram como parceiro Stephen Priestly, que já havia tocando com ambos no Hellhammer. Porém, reza a lenda, que Ain e Warrior tiveram que conversar com o pai de Stephen, para que ele autorizasse que o jovem filho (à época com 16 anos) pudesse viajar até Berlim para gravar o álbum. O resultando foi a evolução lógica do trabalho antes executado pelo Hellhammer, mantendo a raiva e a fúria, porém um pouco mais trabalhado. Riffs secos, solos de guitarra no estilo “qualquer nota", mas que se encaixam totalmente na proposta da banda, fora os vocais infernais e marcantes que eternizaram clássicos como “Procreation of The Wicked”, “Morbid Tales” , “Visions Of Mortality" e “ Into The Crypts of Rays”.


TO MEGA THERION (1985)



Se o pior álbum do Frost é uma unanimidade, o melhor creio que também seja outro “senso comum”, afinal de contas “To Mega Therion" não é nada menos do que uma obra prima! Gravado entre 14 e 28 de setembro de 1985, bastaram apenas duas semanas para o registro desta peça única, dentro do universo do Metal. Martin Ain havia brigado com Tom Warrior e deixou a banda, mas suas composições ficaram e foram utilizadas e creditadas a ele. A gravação do baixo ficou por conta de Dominic Steiner, e os tambores por conta do excelente Reed St. Mark que fazia sua estréia no Frost. A produção é grandiosa, orquestral e majestosamente sombria e ficou a cargo de Horst Müller e Tom Warrior. Não existem destaques, este é aquele trabalho que você tem que deixar rodar do início ao fim e aproveitar cada segundo, prestando atenção a cada detalhe. “Cyrcle of the Tyrants”, “The Usurper”, “Jewel Throne”, “Fainted Eyes”, "Dawn Of Megiddo”... E para completar a arte gráfica, uma obra chamada "Satan I", criada pelo gênio H.R. Giger, que é simplesmente uma das artes mais hereges de todos os tempos, e que até hoje choca os mais puritanos e os nem tão puritanos também. Enfim, aqui é o trabalho definitivo de Tom Warrior, e se você quer conhecer o trabalho fantástico deste baluarte suíço do Metal, comece por aqui, sem sustos. “The days have come, When the steel will rule...UH!”



















quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

MICK MARS - THE OTHER SIDE OF MARS (2024)

 


MICK MARS
THE OTHER SIDE OF MARS
1313LLC/ MRI - Importado


Existem pessoas que, só por estarem vivas após diversos problemas de saúde desde a tenra idade, já são vencedores. Imagine então, um personagem que convive com um grave doença degenerativa desde os 19 anos de idade, se torna músico, e consegue o sucesso tardiamente, quase quando já pensava em desistir da carreira, por conta da necessidade de ter que sustentar a sua família e no meio musical não estava sendo possível. Pense então que esta pessoa atinge o estrelato junto a uma das bandas mais famosas do mundo nos anos 80, e mesmo assim, é o músico mais discreto da tal banda, e sendo discreto, ao mesmo tempo é o motor que faz toda a engrenagem funcionar. E por conta de não ser tão “pirotécnico” como os demais integrantes da tal banda, não é reconhecido por isso? Pois bem, é chegada a hora da “vingança”, e estamos falando de ninguém menos que o Sr. Mick Mars, o guitarrista legendário do Motley Crüe (ele nunca será ex-Crüe na minha modesta opinião), e seu primeiro álbum solo: “ ”.

Mick Mars é um dos guitarristas mais subestimados do Hard Rock oitentista. Enquanto muitos à época só batiam palmas para guitarristas virtuosos, Robert Alan Deal (seu verdadeiro nome) criava riffs marcantes e solos criativos e que ajudaram e muito a elevar o Mötley Crüe, a um patamar acima dos demais grupos da época. Em 2022 Mick resolveu se retirar dos palcos, deixando seu lugar para John 5, e logo depois as coisas não ficaram muito bem entre ele e seus antigos companheiros, sempre envolvendo quantias astronômicas do “vil metal” que não lhe foram passadas corretamente, segundo ele.

Embora este álbum esteja sendo produzido há alguns anos, a “raiva” contida no trabalho, parece um recado à sua antiga banda após os desentendimentos do final de 2022/2023. Que grande trabalho do Sr. Mars!!! Acompanhado do vocalista Jacob Lunton (ex- Adler /Lynam), o baterista do Korn, Ray Luzier e o tecladista Paul Taylor (Winger), o que temos aqui é um apanhado de músicas pesadas, densas, cheia de brilho e muito bem produzidas. Alguma referência ou similaridade com o Crüe? Aqui e acolá, se procurar bem... O inicio com “Loyal to the Lie”, uma voadora com os dois pés na porta, um riff de tirar fôlego. “Broken on The Inside” poderia estar no álbum “Motley Crüe” de 1994. Inclusive se comentou na época que o grande John Corabi gravaria o álbum, mas por motivos de agenda, não foi possível. De qualquer forma Jacob Lunton faz um excepcional trabalho vocal.

“Alone” uma balada pesada, com destaque para o piano de Taylor, simplesmente linda. “Killing Breed” surge assombrosa, pesadíssima e melancólica. Cheia de climas, ela pede que você volte o cd e a escute novamente. “Memories” é a próxima, mais uma vez Paul Taylor brilha ao piano introduzindo a música mais introspectiva do álbum. E como canta esse tal Jacob! “Right Side Of The Wrong” é um Hard Rock pesado com grande refrão, foi lançada anteriormente como single.

“Ready To Roll” se apresenta mais “sabbathica”, mais uma vez com um timbre de guitarra de fazer arrepios todos os pêlos do corpo, enquanto “Undone” é cheia de climas e nuances, sem perder o peso. “Ain't Going Back” (título sintomático, não? – recado para o Patrão Sixx?) cheia de peso, me lembrou até o finado Fight , de Rob Halford . “LA Noir” é a instrumental que fecha o disco, me parecendo uma bela homenagem de Mars ao seu grande ídolo, o saudoso gênio Jeff Beck!

Finalizando, este álbum estará certamente certamente na minha lista de melhores do ano, Nikki Sixx ao ouvir este trabalho deverá pensar: “porque deixei aquele velho FDP ir embora?”. É inacreditável você ver a figura frágil de Mars e conectar ao que ele conseguiu fazer neste trabalho. Mick Mars, você venceu!!!!

José Henrique Godoy




SADUS - THE SHADOW INSIDE (2024)

 


SADUS
THE SHADOW INSIDE
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Após um longo hiato de 17 anos, finalmente o tão aguardado sexto álbum do Sadus, banda Californiana de Technical Thrash Metal, chega para deleite daqueles que amam, o que, para este que vos escreve é, o melhor e mais apaixonante subgênero do heavy metal.

The Shadow Inside começa com uma trinca matadora, "First Blood", "Scorched and Burnt" e "It's the Sickness" mostrando a que veio. A primeira com uma intro em uma levada mais cadenciada, que pouco antes dos 2 minutos, começa a enchorrada de riffs matadores e ai porradaria começa e não da descanso para seu pescoço (uma constante até o fim do disco). Já "Scorched and Burnt" é um pouco mais cadênciada, porém carregada de ódio e agressividade. Em "It's the Sickness" é meio que uma junção das duas primeiras e com um adendo de uma levada até mais death metal aqui.

“Ride the Knife” é uma faixa um pouco mais equilibrada e calma no que diz respeito a selvageria, já esta fica em um meio termo em questão de energia. Em “Anarchy” o riff inicial é nervoso e intrincado, faixa esta que é um dos grandes destaques do disco. As faixas “The Devil in Me” e “Pain” são as que destoam um pouco do conjunto da obra e são as que menos têm destaque, são boas, porém não empolgam como as primeiras.

As coisas voltam ao normal em “No Peace”, onde o riff principal é tão cortante quanto uma motosserra (hehe). Já em “New Beginnings” temos uma música curta instrumental, e sendo bem honesto? Não faria falta alguma se esta fosse deixada de fora do álbum.

Terminamos com a faixa título "The Shadow Inside", que retoma um pouco mais da agressividade do início e tem como base um ótimo riff. E mesmo que este não seja um álbum conceitual propriamente dito, outro grande destaque, além da parte instrumental, são as letras que lidam com as decisões da vida, além da importância de assumir a responsabilidade por suas ações e atitudes.
“The Shadow Inside” possui boa produção e uma arte de capa muito bonita. Vale a pena a audição, você não se arrependerá.

Só espero que o Sadus não fique novamente 17 anos para lançar algo, pois a banda ainda tem muita lenha para queimar e um sucessor de The Shadow Inside seria muito bem vindo.

Fernando Aguiar




ACE FREHLEY - 10000 VOLTS (2024)

 


ACE FREHLEY
10000 VOLTS
MNRK Music - Importado

ACE FREHLEY – 10.000 Volts

Quando você é “Sócio Torcedor” de um artista ou banda, quando um músico específico faz parte da sua vida desde quase quando você se conhece como gente, quando você praticamente considera esse artista ou banda como se fosse da sua família, ao contrário do que possa parecer, se torna muito mais difícil comentar ou escrever sobre um novo trabalho lançado por ele, pelo simples fato de que você tem que ser racional, puxar o freio de mão e não deixar o entusiasmo “falar” por você.

Então vamos lá, já tirei a camiseta com a estampa de carona com habitante mais notório do Planeta Jendell e vamos falar sobre o seu novo trabalho. Estamos falando de Ace Frehley, o verdadeiro e único “Homem do Espaço possível” e o seu novíssimo lançamento “10.000 Volts”. Nos últimos meses, Ace tem aparecido bastante nos sites especializados dando pontaços de faca na banda que o fez famoso e nos antigos colegas, principalmente em Paul Stanley. Chegou a declarar que “10.000 Volts” faria o Kiss “passar vergonha”. Não chegou a tanto, mas este é o melhor trabalho solo de Ace desde “Trouble Walkin” do já distante ano de 1989.

A abertura é com a faixa título, “10.000 Volts” um rockão de primeira bem no padrão que Frehley sabe fazer, sua atmosfera se aproxima bastante da mais que clássica “Shock Me”, composta e cantada por ele no álbum “Love Gun” do Kiss em 1977. Ótima abertura! Destaque também para a bateria de Anton Fig, grande amigo de Ace e “substituto/escondido” do Peter Criss nos álbuns do Kiss, "Dinasty” e “Unmasked”. Anton também gravou o álbum de 1978 de Ace e o primeiro álbum do Frehley's Comet em 1987. É um senhor batera.

"Walkin on a Moon” tem uma boa levada setentista, com um ótimo solo com a cara do Ace, porém é uma música que passa batida, enquanto a próxima, “Cosmic Heart” é pesada e cadenciada, e você pode imaginar ela nos discos do Kiss dos anos 1970, com Gene Simmons fazendo o vocal principal. Mais uma vez, Ace brilha no seu solo, e aqui temos nos backing vocals a noiva de Ace, Lara Cove. “Cherry Machine” é uma das melhores músicas do álbum, com um ótimo riff Hard Rock, e o vocal despojado de Ace dá o tom festeiro nesta faixa. Se Ace Frehley não é um exímio vocalista, longe disso, ele não compromete e mais, dá a cara Rock n' Roll que as canções cantadas por ele precisam ter. Mais um ponto para Mestre Spaceman.

“Back into My Arms Again” é a faixa “requentada” do trabalho e explico o porquê: ela é uma semi-balada com uma ótima levada, porém não é novidade para os fãs mais “die-hard” que já conhecem esta música desde quando, lá no início dos anos noventa, surgiu uma versão “bootleg” do álbum “Trouble Walkin” de 1989, com umas faixas demos e gravações de ensaio de Ace e banda. Uma destas faixas é “Back into My Arms Again”. De qualquer forma é uma ótima faixa e aqui, sem querer parecer repetido, mais um ótimo solo padrão Ace de qualidade, aquele solo que você canta! O solo na realidade é uma “música dentro da música”. Apenas os guitar heroes tem esse dom, e Mr. Frehley é um deles.

“Fightin For Life” é outro destaque, pesada e mais rápida, com uma ótima letra, é aquela que vai ficar na cabeça ao final da audição. Quase na mesma levada, porém não tão brilhante, temos “Blinded”, um rock que poderia estar também em um disco do Kiss dos anos 70 e com uma letra criticando duramente a Inteligência Artificial. Vindo na via contrária “Constantly Cute” tem uma levada que flerta com o pop, se não chega a comprometer o trabalho, também não acrescenta muita coisa.

O nível volta a subir com a bluesy e autobiográfica “Life of A Stranger”. Esta faixa me lembrou bastante “Into The Night”, faixa do primeiro álbum do Frehley s Comet”. “Up in The Sky” é mais uma faixa de destaque, suingada, com ótimo riff, refrão grudento, e é mais uma que vai ficar no registro mental após o final da audição. Fechando o álbum, como geralmente Frehley costuma fazer, uma faixa instrumental para mostrar ao mundo (como se ainda precisasse) o grande guitarrista e compositor que é Ace Frehley.

Enfim, mais um bom trabalho de, que parece ter feito este trabalho para ele e para os fãs, pois se por um lado não temos nenhuma surpresa, quem curte o “Homem do Espaço” não vai se decepcionar. E como sempre se diz: “To Space With Ace!”

José Henrique Godoy













DORSAL ATLÂNTICA - SESC SANTO ANDRÉ - 17/02/2024 - SÃO PAULO/SP

 


DORSAL ATLÂNTICA
SESC SANTO ANDRÉ- SÃO PAULO/SP
17/02/2024

Texto, foto e vídeo: William Ribas

Uma noite com show da Dorsal Atlântica, é um dia diferente. A importância da banda na construção do estilo, lançamentos históricos, a figura do seu líder Carlos Lopes, tudo que envolva o nome do grupo carioca carrega consigo uma aura mágica. Conheço a banda desde os anos 90, por muitas vezes assisti clipes no antigo Fúria MTV, participei dos últimos crowdfundings envolvendo os novos projetos, mas seria o meu primeiro show da banda.

O horário do SESC é quase que britânico, se o show está marcado para tal horário, é nesse horário que a banda subirá ao palco, então às 19h, Carlos Lopes caminhou tranquilamente para perto de seu amplificador, e ali deu para sacar que não seria um show comum. Comunicativo, o guitarrista e vocalista começou a conversar com o público enquanto se ajeitava e para a surpresa de todos cantou um trecho de Tim Maia para logo em seguida começar as primeiras notas de “Imperium”.

De início a postura da banda que além de Carlos, é completada por Bráulio Drumond (bateria) e Alexandre Castellan (baixo) trouxe bastante peso e atitude, não importando a fase. O trio batia cabeça e transmitia energia ao público. Logo de início ficou claro que teríamos um set diversificado com as recentes “Belo Monte” e “Meu Filho Me Vingará” ganhando bastante receptividade e aplausos de todos os presentes. Além disso, numa das suas primeiras palavras, Lopes deixou claro que tentaria agradar os três tipos de fãs da Dorsal: as viúvas que pedem o material dos anos 80, os que conheceram através da MTV e os que estão auxiliando nas campanhas dos últimos anos - “Tortura” e “Vitória” mostraram a qualidade do Bráulio. O cara toca bateria sem dó nem piedade, esmurrando o seu kit, trazendo bastante punch para as músicas ao vivo.

O show segue um misto de stand up com bastante conversas entre o vocalista e público, causos espirituais e brincadeiras, inclusive deixando os momentos bastante intimistas, mostrando como a energia boa e leve faz com que todos fiquem hipnotizados em cada fala. Antes de trazer uma das queridinhas dos anos 90, Carlos explica o motivo de usar uma guitarra baiana: “Como posso mostrar que sou mais brasileiro? Cara***, fud**… Já sei, guitarra baiana! Irrito metade do movimento metal e o outro fica sem me entender”.

“Straight” trouxe os agudos do baixo de Alexandre e as notas gordas da guitarra. Lopes gritou como se não houvesse amanhã, batendo cabeça. É impressionante como o homem de cabelo branco é incansável, seja se ajoelhando no chão nos solos ou indo de uma ponta a outra do palco. É impressionante como o Headbanger continua vivo mesmo depois de tantos anos. Mais uma vez, o convencional foi deixado de lado, um fã sobe ao palco para relatar sobre a doença de sua filha, que é extremamente fã da banda e veio ao show somente para que Carlos Lopes gravasse uma mensagem de apoio para a menina. Momento emocionante que ainda teve o vocalista dedicando a clássica “Armaggedon” para seu irmão Cláudio Lopes (ex-membro da Dorsal) falecido há poucos meses.

Se encaminhando para o fim, era a hora dos amantes dos anos dourados tanto desejarem, e confesso que toda a destruição de músicas como “Metal Desunido” e “Guerrilha” foram o fechamento perfeito de uma noite inesquecível. Antes do adeus, Carlos Lopes teve uma última declaração: “As capitais dos grandes centros no início nunca ligaram para a Dorsal Atlântica, foram o nordeste, interior e aqui o ABC Paulista que apoiaram a banda nos primeiros anos, eu serei sempre grato ao ABC!” Uma noite única, acredito que poucos artistas conseguem fazer um show tão impactante, seja na música, com peso e carisma, seja nas palavras tão sinceras.

Ah, se o show começou com Tim Maia, ao sair, Sandra Rosa Madalena de Sidney Magal (risos).

Carlos Lopes e sua Dorsal Atlântica são lendárias — Daquelas bandas que você ama ou odeia, e posso dizer, se odiar, você está no lado errado.

Que show meus amigos, QUE SHOW!

William Ribas





sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

TRIUMPH OF DEATH - RESSURECTION OF THE FLESH - LIVE 2023

 


TRIUMPH OF DEATH 
RESSURECTION OF THE FLESH - LIVE 2023
Shinigami Records - Nacional

O indíviduo responsável pelo conteúdo presente neste lançamento não precisa de apresentações para todos aqueles que apreciam o metal extremo. Mas de qualquer forma, vamos lá: Tom Gabriel “Warrior” Fischer, mentor dos imortais Hellhammer/Celtic Frost, raiz de todo mal metálico, senhor das profundezas geladas, criador de riffs de gelar até a alma de qualquer pequeno adorador do “lá de baixo”, influência de toda e qualquer banda que seguiu o “lado negro da força” (antes de fazer seus integrantes se borrarem de medo ao ouvirem o som que a eles lhe foi mostrado), o verdadeiro mestre que fez o alvorecer dos corações sombrios...

Feita a devida “apresentação”, vamos dar uma pequena introdução sobre do que se trata o Triumph Of Death. A banda formada por Warrior em 2018, vem desde lá se apresentando ao redor do planeta (passou pelo Brasil inclusive, em 2023) espalhando a obra do Hellhammer/Celtic Frost. Por não ter mais neste plano o seu antigo parceiro, o baixista Martin Ain, infelizmente desencarnado em 2017, Warrior não adotou o nome Hellhammer, optando batizar o projeto com o nome de uma das músicas da antiga banda.

No que tange ao “Ressurrections of The Flesh” propriamente dito, o que ouvimos aqui são hinos primordiais do extremo metal, como nunca ouvimos antes. A qualidade sonora alcançada pela produção é simplesmente extraordinária! Quem conhece a sonoridade das gravações originais, toscas, brutas e agressivas, deve pensar: “Ferraram com a beleza primitiva do Hellhammer...”. Engano meus amigos, está tudo lá, porém que com muito mais fulgência.

Vocais cavernosos, riffs de rasgar a alma, bateria na cara e baixo altamente pulsante. Fica aqui também a observação que os acompanhantes do mestre Warrior, Andre Mathieu (guitarra), Jamie Lee Cussigh (baixo) e Tim Wey (bateria), fazem um trabalho soberbo, mantendo fielmente o que foi escrito há 40 anos e ao mesmo tempo dando uma nova vitalidade aos clássicos. Sem destaques para o track list, “Massacra”, “Agressor” , “Visions Of Mortality”, enfim TODAS as faixas. Adoradores e seguidores desta Instituição, Patrono Supremo do Metal Extremo Mundial Tom Gabriel “ Warrior” Fischer: eu os convoco a adquirir este trabalho, simplesmente fantástico. Costumamos não dar notas aqui no Rebel Rock, mas aqui me autorizo a dar: É NOTA DEZ!!!! “Only Death Is Real, UH!!!

José Henrique Godoy




REBEL ROCK RESEARCH - DIMMU BORGIR

 



Quem viveu a cena Heavy Metal nos anos 90 sabe como o Dimmu Borgir foi relevante naquela década e na seguinte. Convenhamos, essa relevância perdeu um pouco o sentido nos dias de hoje, já que de 2011 pra cá, apenas 1 novo álbum lançado em 2018; o que é muito pouco para uma banda renomada e com fãs tão assíduos como o Dimmu Borgir. Precursores do Symphonic Black Metal, podemos dizer que a banda criou um novo estilo, hoje em dia tão praticado por muitas e muitas bandas por todo o planeta. Tive a oportunidade de vê-los ao vivo no Credicard Hall, em São Paulo, em 2004, com a banda no auge, e sem exageros foi um dos grandes espetáculos que assisti na vida, transformando um show de Metal Extremo quase que em uma peça teatral.

Com a brusca mudança do lineup ocorrida no final dos anos 2000, a banda parece ter sentido o baque e desde então, fixou-se como um trio: Shagrath (vocal, baixo e teclados), Silenoz (guitarra) e Galder (guitarra). Músicos contratados para gravar baixo, teclados e bateria nas apresentações ao vivo chegam a colocar um pulga atrás da orelha dos fãs já que chegamos a nos perguntar se a banda voltará aos seus melhores dias em algum momento. Só o tempo dirá!

Recentemente, disponibilizaram o EP “Inspiratio Profanus” que nada mais é do que a reunião em só lançamento de todas as covers feitas até hoje, sejam elas originalmente lançadas originalmente no Japão, lançamentos especiais ou então nos EP’s. São dez os trabalhos de estúdio da banda, isso contando duas vezes o lançamento de “Stormblåst” no qual detalharemos abaixo.

O REBEL ROCK RESEARCH traz aqui a discografia da banda do início sem grandes pretensões, passando por seu auge e depois a (ligeira) queda. Será que eles ainda tem lenha pra queimar?


For All Tid (1994)


“For All Tid” é um grande trabalho de estreia mas peca na produção tosca e crua algo que a própria banda admite, e não é de hoje. Duas das faixas deste trabalho apareceram regravadas no EP “Godless Savage Garden” (1998) com uma qualidade sonora inacreditável que as vezes podemos até duvidar que tratam-se das mesma faixas. Gostaria de entender o porquê da banda não regravar integralmente este trabalho assim como o fez com “Stormblåst”. Outro ponto a destacar são as letras em norueguês o que diferencia ainda mais seus primórdios em relação à outras bandas da cena que se espalhavam pelo planeta naquele momento. Destaque para “Under Korpens Vinger”, e “Glittertind”. Se você é iniciante na banda é melhor deixa-lo por último. Se fosse regravado, faria um grande estrago na cena. Que venha...


Eonian (2018)


O mais recente trabalho completo do Dimmu, “Eonian” viu a luz do dia quase 8 anos após o lançamento de seu antecessor e obviamente veio gerado por muita expectativa, afinal o que a banda poderia oferecer de tão novo e complexo após um hiato deste tamanho? Talvez por gerar este tipo de sentimento nos fãs, “Eonian” foi até certo ponto decepcionante. Muito dizem que a banda transformou-se em um Nightwish com vocal gutural e apesar do aparente exagero, a falta de peso deixou no ar esse tipo de especulação. Mas há sim bons momentos como “Ætheric”, “Lightbringer”, “I Am Sovereign” e o lindo epílogo instrumental “Rite of Passage” que soa quase como uma canção de ninar com ares demoníacos. Como singles, a boa “Interdimensional Summit” e a fraquíssima “Council of Wolves and Snakes” deram de forma antecipada o tom de que os fãs das antigas poderiam torcer o nariz. Não é ruim, mas poderia e deveria ser melhor! Próximo...


Abrahadabra (2010)


Antes de sair, “Abrahadabra” já veio com aquela desconfiança padrão já que o line up se dissolveu após “In Sorte Diaboli”, e o trio formado por Shagrath, Silenoz e Galder tomaram conta de tudo. O tecladista Mustis que foi um integrantes a deixar a banda fez muita falta neste disco. “Gateways” foi o principal single, “Dimmu Borgir” (a música) é sem dúvidas a melhor. Recentemente a banda lançou o single “Perfect Strangers” que é como não podia deixar de ser, é cover do Deep Purple, faixa esta que saiu como bônus da edição japonesa do álbum. Outro cover, “Dead Men Don’t Rape” (G.G.F.H.) é daqueles dispensáveis. O álbum foi lançado fisicamente em diversos formatos com faixas bônus diferentes para cada uma delas. No geral sobrou melodia, orquestrações, ótimas letras mas faltou peso, potência, velocidade e maldade. Disco que não irá mudar a sua vida mas é bom!


Stormblåst (1996)


Assim como o trabalho inaugural de 1994, “Stormblåst” é totalmente cantado em norueguês o que por si só já torna a assimilação do trabalho um tanto mais difícil. Mas quem se importa se ao apertar o play já nos deparamos com uma das mais maravilhosas intros da história da música em “Alt Lys er Svunnet Hen” que supostamente já havia sido, em partes, criada pela banda britânica de Hard Rock, Magnum. Mas não é só isso! A faixa título também é especial com aquele ar meio psicodélico na parte final instrumental. O ar mais diabólico fica por conta de “Da den Kristne Satte Livet Til” (Quando o cristão perdeu sua vida) sendo esta a mais rápida de todas. Ah, e tem a instrumental “Sorgens Kammer” que de acordo com declarações posteriores da banda, teve sua melodia vinda de um jogo de vídeo game através do então tecladista Stian Aarstad. Atualmente este álbum está dificílimo de achar em mídia física e nos serviços de streaming segue ausente. Que pena!


Stormblåst MMV (2005)


“Death Cult Armageddon” lançado dois anos antes foi um estouro. A banda estava na ponta dos cascos e assim, mais do que repente, os remanescentes da formação original, Shagrath e Silenoz, anunciaram que regravariam na íntegra o segundo disco da banda sem envolver os demais integrantes no projeto. A explicação para tal, foi a tentativa de reaver o espírito e a aura daquele momento e por não terem vivido o momento inicial, optaram por deixá-los (Galder e ICS Vortex) de fora; Hellhammer e Mustis ficaram apenas como músicos de apoio. Se isso não tivesse acontecido, o resultado final poderia ter sido melhor? Infelizmente nunca saberemos, mas fato é que a produção ficou, diferentemente de outrora, muito boa. Mas apesar de ser uma regravação há sensíveis mudanças em algumas faixas: “Alt Lys er Svunnet Hen” perdeu um pouco (ou muito!) do seu charme com a nova intro, já que a original foi removida possivelmente devido a direitos autorais, mas ainda assim agrada. “Sorgens Kammer” foi substiuída por “Sorgens Kammer – Del II” que se transformou no principal hit deste trabalho, e ainda há uma faixa adicional inédita, a insana “Avmakstlave”. Há quem prefira o original, há quem prefira a regravação (que é o meu caso), mas fato é que parecem discos diferentes e pode sim haver espaço para ambos em seu coração. Que bom!


Spiritual Black Dimensions (1999)


“Spiritual...” trouxe uma mudança que viria a ser muito marcante nos álbuns seguintes: a presença de ICS Vortex (aqui ainda apenas como apoio) com seu famoso vocal limpo tão característico e tão querido pelos fãs. Aqui ele aparece em 4 faixas, impossível de não notar. Também trouxe outra estreia, o tecladista Mustis que citamos anteriormente, como uma das principais veias criativas do período mais dourado do Dimmu. Tem a ótima “Dreamside Dominions”, a sombria “The Promised Future Aeons” e a maligna “The Insight and the Catharsis” que faz com que seja impossível não vibrar com as vozes limpas de ICS Vortex nos segundos finais da música. Versões mais recentes trouxeram a faixa bônus “Masses for the New Messiah” que não dá pra entender o porquê de não ter sido lançada inicialmente. Se não atingiu o brilhantismo do lançamento anterior, abriu portas e escancarou a trilha para o Dimmu chegar ao estrelato na década seguinte.


In Sorte Diaboli (2007)


Não consigo entender muito bem porque tanta gente torce o nariz para esse excelente trabalho. A abertura com “The Serpentine Offering” é clássica e tem um clipe muito bem produzido mostrando que o Dimmu ainda era prestigiado dentro da Nuclear Blast. Outro clássico é “The Sacrilegious Scorn” onde ICS Vortex arrepia o ouvinte cantando o verso “My word and world holds ground and is real! / Your world is like floods of poisoned water / A language spoken with spit from different tongues”. Os vocais limpos de Vortex aparecem pouco neste disco, talvez já dando pistas de que internamente, o clima não era dos melhores. Em “The Sinister Awakening”, Mustis é o destaque mais uma vez com seu piano formador de caráter. Um pecado foi o lançamento em versões diferentes na Europa, USA e Japão cada um com faixas bônus diferentes que levou colecionadores (me incluo nessa) ao desespero. Se não tem o brilhantismo dos álbuns que estão em nosso pódio, é uma obra indispensável aos fãs. Excelente!


Death Cult Armageddon (2003)


O Dimmu Borgir estava no seu mais absoluto auge. O line up inaugurado no trabalho anterior parecia perfeito, nada era capaz de abala-los. “Death Cult...” é de uma criatividade, magnificência e pompa que a imensa maioria das bandas virtuosas de Prog Metal não são capazes de atingir. O maior hit da carreira do Dimmu Borgir, “Progenies of the Great Apocalypse” é uma composição de Mustis que consegue ser super pesada e ao mesmo tempo, atingir pessoas não tão afeitas ao estilo. É a “Fear of the Dark” do Dimmu Borgir. Outro ponto a destacar são duas faixas cantadas em norueguês (“Vredesbyrd” e “Allehelgens død i Helveds rike”). Os arranjos orquestrais estão mais presentes ainda em faixas como “Blood Hunger Doctine” e “Eradication Instincts Defined”. “Heavenly Perverse” conta com a participação do icônico Abbath (ex Immortal) fechando o tracklist regular cheio de melodia que até parece uma faixa do Immortal. Se não chega a ser tão pesado quando seu antecessor, é o disco mais grandioso em termos de arranjos e composições intrincadas cheias de variações. Esses adjetivos podem soar um tanto quanto audaciosos demais mas ouvir o disco na íntegra é uma experiência única e a cada nova audição, algo novo pode ser descoberto. Soberbo!


Puritanical Euphoric Misanthropia (2001)


Possivelmente o mais famoso disco do Dimmu Borgir, aquele que os levou ao estrelato chega ao nosso 2º lugar. Sei que esse o preferido de muita gente, mas regras são regras e precisamos escolher uma ordem de preferência. “Puritanical...” escancarou ao mundo o Symphonic Metal que tanto falamos de forma brutal e maligna. O disco também inova ao iniciar e terminar seu tracklist básico com faixas instrumentais e com arranjos orquestrais. “Kings of the Carnival Creation” foi eleita por Silenoz não a muito tempo como a melhor composição da carreira do Dimmu e não ousarei discordar. Outro dos grandes hits é “Puritania” com seu flerte discarado ao Nu Metal, mostrando que a banda sabia sim, experimentar outras viagens musicais. “Blessings Upon the Throne of Tyranny” e a quase Thrash Metal “The Maelstrom Mephisto” também merecem uma audição mais apurada do ouvinte iniciante. E como não destacar o fabuloso cover de “Burn in Hell” do Twisted Sister e adivinhem só quem é o destaque com sua voz limpa? Nem preciso dizer né? Recentemente, o trabalho foi relançado nos formatos físico e digital em versão remixada e remasterizada o que comprova que a própria banda, considera este, seu trabalho mais influente. Obrigatório!


Enthrone Darkness Triumphant (1997)


Quando enfim o Dimmu Borgir resolveu saltar as fronteiras da Noruega e buscar o mundo, o trajeto inicial escolhido não poderia ter sido melhor. A chegada à Nuclear Blast, a convivência com gente profissional e do ramo para dar-lhes a base para grandes composições eram a peça que faltava para que o mundo os conhecesse. Com uma formação que ainda não era aquela que os levara ao estrelato anos após, “Enthrone...” é uma obra tão irretocável que não há absolutamente nenhum ponto a se questionar. Cantado em inglês, as letras são, creio eu, as mais malvadas escritas por Silenoz, Shagrath e cia. “Mourning Palace” e “In Death's Embrace” são clássicas absolutas e “Spellbound (By the Devil)” é a minha composição mais marcante, aquela que me fez eu me apaixonar pela banda. “The Night Masquerade”, “Entrance”, “Master of Disharmony” e as mais cadenciadas “Prudence's Fall” e “A Succubus in Rapture” são a prova de que quando os caras são bons, clima interno bom, gente profissional por perto, não tem o que dar errado. Não bastasse essas pérolas musicais, as sessões de gravação ainda geraram o fantástico EP “Godless Savage Garden” lançado no ano seguinte apenas com sobras de estúdio de “Enthrone...” além de algumas faixas ao vivo. Uma obra prima para a eternidade!


OUTROS:

O EP “Devil’s Path” (1996) começou a moldar o Dimmu dos álbuns seguintes ainda sem aquela produção caprichada. Também vale lembrar os ótimos DVDs “World Misanthropy” (2002) e “The Invaluable Darkness” (2008) e “Forces of the Nothern Light” (2017) são perfeitos para dar a dimensão da poderio e tamanho que o Dimmu Borgir alcançou. Como bônus do álbum “Stormblåst MMV”, há também um mini DVD de 5 faixas, item também obrigatório aos fãs.



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

HEAVY WATER - DREAMS OF YESTERDAY (2024)

 

HEAVY WATER
DREAMS OF YESTERDAY
Shinigami Records/Silver Lining Music - Nacional

“Dreams of Yesterday" é o segundo trabalho lançado pelo legendário vocalista Biff Byford, do não menos legendário Saxon, junto ao seu filho Seb Byford. Mas já alerto que o Heavy Water em nada lembra a banda que fez papai Byford famoso. O som aqui é, na maior parte das vezes, baseado no Hard Rock setentista, com peso, groove, cadência e classe que encontramos em muitas bandas da época citada, porém também com variações que nos relembram bandas dos anos 90 como Alice In Chains e até alguma menção ao Punk Rock.

Biff Byford aqui divide os vocais com Seb, enquanto assume também o baixo. Seb toma conta de todas as guitarras e a consistência e entrosamento entre os dois é nítida em cada faixa, o que faz “Dreams Of Yesterday” soar mais sólido que o primeiro trabalho, lançado em 2021. É bom ressaltar que ambos os álbuns foram compostos, gravados e produzidos durante a sombria época da pandemia do Covid-19, o que torna o álbum ainda mais emocional e pessoal.

Como comentei, o álbum passa por variações nos temas nele contidos. A abertura com a zepelliniana faixa-título, a ótima Hard Rocker “Don´t Take it for Granted”, a lindíssima balada “Never Love Again”, e a animada canção punk “Another Day”. Esta variante está muito bem arranjada e de forma alguma parece um trabalho feito apenas para preencher tempo ou uma colcha de retalhos mal acabada, e sim, um trabalho coeso, onde os envolvidos demonstram todo o seu background musical. Quem acompanham pai e filho da família Byford no projeto são o baterista Tom Witts e o tecladista Callum WItts.

Enfim um trabalho muito bom e interessante, que no decorrer de 39 minutos entregam uma ótima audição para quem curte rock pesado, sem se prender muito a um único estilo. Já disponível no mercado nacional pela Shinigami.

José Henrique Godoy




NOTÖRIOUS - MARCHING ON (2024)

 



NOTÖRIOUS
MARCHING ON
Pride and Joy Music - Importado

Notörious é uma banda norueguesa formada em 2018, e a sua sonoridade é aquele Hard-Metal /Sleaze Rock com muita influência de bandas como o W.A.S.P., Pretty Boy Floyd e Mötley Crüe fase “Shout At The Devil” (inclusive as “tremas” na letra “Ö” entregam a inspiração). “Marching On" é o seu segundo álbum, e é uma sequência bem lógica do seu primeiro trabalho, lançado em 2020 chamado “Glamorized”. Vindo das terras onde o gênero musical mais conhecido é o Black Metal, e onde por lá seus conterrâneos adoradores do cramulhão forjaram o “True Norwegian Black Metal”, nada mais justo para o quarteto da cidade de Bergen colocaram o rótulo no seu som de “ True Norwegian Glam Metal”.

“Marching On" é um pacote sonoro formado por excelentes e marcantes linhas de baixo por Andy Sweet, bateria estrondosa e marcante, bem naquela escola “TommyLeeana” de Freddy Kixx, riffs e solos inspiradíssimos do guitarrista Nikki Dicato, todos construindo uma teia sonora para Chris Höudini soltar sua forte e versátil voz. A produção do trabalho é espetacular, dando brilho aos quatro integrantes do Notörious.

Faixas de destaque? Sim, vamos à elas: “Manimal” (não é cover da banda de Blackie Lawless), que abre o trabalho logo após a “Intro” (com “excerpts de músicas do primeiro álbum, “Glamourized”) dá o tom de todo o trabalho, pesada e marcante. “Ain´t no Stoppin”, com participação de Mark Boals (ex-Malmsteen) nos vocais, “All Night”, mais melódica e relembrando grandes clássicos do que se convencionou chamar de “FM Metal” nos anos 80, enquanto “Remember You” se aproxima mais do Poison, nos trazendo a memória músicas como “Fallen Angel” e “Ride The Wind” e a praticamente Heavy Metal “Venom”.

Enfim, um lançamento que beira a quase perfeição para os aficionados do gênero. Vale muito a pena conhecer se você se enquadra como fã do estilo ou das bandas citadas aqui.

José Henrique Godoy





quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

BESOMORA - DELUSIONAL MONSTER (EP - 2023)

 


BESOMORA
DELUSIONAL MONSTER
Independente - Importado

A mistura entre a brutalidade e melodias cativantes, ou alegres, não é mais novidade na vida de qualquer headbanger. Diversas são as bandas que optam pelo dois caminhos em seu som. O grupo Besomora, oriundo da Austrália, pisou fundo no quesito agressividade, mas soube adicionar uma dose cavalar de “modernidade”.

Confesso que o disco me pegou pela sua diversidade. As influências de Children of Bodom, Death, Jinjer e Insomnium trazem ao grupo um verdadeiro leque nas composições, que carregam uma carga destrutiva, ao mesmo tempo que o instrumental é progressivo, cheios de quebradeira e partes acústicas. “Delusional Monster” abre com “Vagabond”, uma típica faixa de abertura, com os dois pés no peito do ouvinte, agressiva, com riffs cortantes, mas, o diferencial começa surgir adiante. “No Remorse” e “Mass Starvation”, ambas as músicas, te entregam sutileza em meio ao caos, te arranca a cabeça com brutais urros ao mesmo tempo que a gangorra do instrumental de surpreende, pois, nunca o próximo passo é previsto.

“Beyond Atrocity” é cadenciada, com linhas melódicas, riffs mais largados, e que de certa forma me trouxe lembranças da banda Crypta, muito possível por conta dos vocais de Vlad Martynov. O vocalista das multi vozes nunca deixa o álbum cair na monotonia. Aliás, o trabalho lírico é tão eloquente quanto do instrumental.

“Suffocate Me” envolve o ouvinte em questão de segundos. Dramática, rápida e com ótimos solos que carregam em si tons mais clássicos dos anos 80. O nome “The End Of…” entrega que estamos no final de um trabalho primoroso - a faixa é um jeito de enfiar sentimentos sem qualquer palavra vociferada.

“Delusional Monster”, é o primeiro trabalho desses australianos. Um EP, com apenas 6 músicas, 20 minutos de duração, que, ao final, terá dois sentimentos: 1 - Repeat, 2 - Quando teremos um disco completo?

Se pudesse apostar minhas fichas numa banda que pode chegar longe, Besomora, é o nome!


William Ribas




RUTHLESS - THE FALLEN (2024)


RUTHLESS
THE FALLEN
Shinigami Records - Nacional

Fundado no início dos anos 80, o Ruthless passou por muitos problemas, mudanças de formação e hiato na carreira. O novo álbum é apenas o 4º disco de estúdio, ou seja, temos um grupo com quatro décadas, mas ainda iniciante em estúdio.

“The Fallen” é exatamente uma página amarelada de um livro que já foi por muitas vezes revistado, sem novidades, mas que vale impressionantemente a pena ser vivido. O trabalho é curto, de fácil absorção, 10 faixas, 40 minutos, e um heavy metal inocente, calcado nas guitarras cavalgadas, riffs forjados no aço e solos gêmeos, nada não menos que apaixonante para quem respira os anos dourados do estilo.

A faixa-título se inicia com um ótimo riff, com uma aura de Saxon e Judas Priest em seu clima, refrão alto e solo inspirado. As seguintes “Dark Passenger” e “Betrayal”, sãs rápidas e ambas transitam entre Exciter e Exumer. Algo bastante interessante no som do Ruthless são as diversas escolas englobadas em seu DNA, é da Bay Area para patada alemã e jogando na sua fuça bons momentos de puro da NWOBHM.

As palhetadas certeiras de Glen Paul são os carros chefes de “No Mercy” e “Dead Fall”, o guitarrista pega em cheio, inclusive, “Fallen” por inteiro é bem direcionado para o instrumento. A dramaticidade de Sammy DeJohn ganha um capítulo a parte em “End Times”. O timbre do vocalista por muitas vezes se assemelha a Biff Byfford (Saxon), Já a música, é cheia de densidade, não muito pesada, mas sombria e cativante, diria uma boa mistura de Black Sabbath e Saxon. Sim, novamente os ingleses.

Do meio para o final é alegria de quem ama refrãos grudentos - a chiclete “Soldiers Of Steel”, é de imediato ouvir e cantarolar, valendo destacar seu andamento acelerado, com momentos de Manowar no decorrer da faixa. “Order Of The Dragon” e “Live To Die” foram excelentes escolhas para encerramento, mantêm a atmosfera alta, pesada e as batidas fortes de Bob Guitrau no seu kit, onde o baterista aparentemente o “esmurrou” como se não houvesse amanhã faz o ouvinte sacudir a cabeça sem fim.

O Ruthless aparentemente resolveu recuperar todo o tempo perdido. Nos últimos 10 anos, foram 3 álbuns de estúdio. “The Fallen”, é o bom e velho heavy metal escrito por quem esteve no início de tudo.


William Ribas