quarta-feira, 20 de agosto de 2025

PARADISE LOST - ASCENSION (2025)

 


PARADISE LOST
ASCENSION 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Três décadas após redefinirem o lado sombrio do metal, o Paradise Lost continua provando por que seu nome é sinônimo de melancolia majestosa. Formados em 1988, os britânicos nunca aceitaram permanecer estáticos: do doom-death inicial ao metal clássico e melódico de "Draconian Times" (1995), passando por flertes eletrônicos e experimentações ousadas, moldaram um legado que não apenas sobreviveu, mas influenciou gerações inteiras — sempre envolto em uma aura de escuridão que parece eterna.

Agora, em 2025, o quinteto Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh (guitarra e teclado), Aaron Aedy (guitarra), Steve Edmondson (baixo) e Jeff Singer (bateria) entrega seu 17º álbum de estúdio, “Ascension”, um trabalho que reafirma sua posição como referência absoluta no metal sombrio. Produzido pelo próprio Greg Mackintosh, o disco reúne dez faixas que transitam entre a escuridão arrastada do doom, riffs pesados de metal tradicional e melodias que só poderiam ter a assinatura do Paradise Lost — belas e cortantes.

A abertura com “Serpent on the Cross” já anuncia a diversidade do álbum: riffs densos que se transformam em pura fúria — e que performance de Nick Holmes aqui, hein? “Tyrant’s Serenade” mostra a força de uma banda que domina a arte de fazer do simples algo grandioso, com uma linha instrumental que remete ao Type O Negative. Inclusive, a forma de Holmes cantar funciona como uma espécie de tributo discreto a Peter Steele e à própria história do Paradise Lost. Se fecharmos os olhos e prestarmos atenção, encontramos resquícios do álbum Icon, numa música de tirar o fôlego e mergulhar nas sombras.

Enquanto isso, “Salvation” surge como mais uma miserável dose do que é o Paradise Lost em essência — densidade e melodia entrelaçados, reflexo direto de sua importância e de sua versatilidade única, como um hino à dor transformada em música.

Em “Silence Like the Grave”, o álbum abraça um ar melancólico em seus primeiros momentos para, surpreendentemente, nos conduzir a algo entre One Second e The Plague Within — um lado “acessível” inserido dentro do peso lamacento dos riffs, como se a escuridão abrisse um breve fecho de luz. Já “Lay a Wreath Upon the World” soa como uma prece em forma de música, crescendo até um clímax de dor e beleza — uma calmaria disfarçada antes da tempestade que se esconde logo atrás do horizonte.

Um detalhe curioso é que Ascension mantém sua força independentemente da forma como é ouvido. Do fim para o começo, em ordem invertida ou até mesmo no modo aleatório, cada faixa sustenta o mesmo impacto. Essa homogeneidade não torna o álbum previsível, mas sim coeso — como se cada música fosse um fragmento igualmente indispensável para sustentar o todo, pedaços de uma mesma noite sem fim.

Faixas como “Dilivium”, “Savage Days” e “Sirens” ampliam ainda mais essa noção, cada uma trazendo nuances distintas, mas sempre conectadas ao fio condutor da melancolia grandiosa da banda. Já “Deceivers” desponta como um dos pontos altos do álbum, somando tensão e dramaticidade — flertando tanto com o doom quanto com o gótico, com riffs pesados e marcantes que ecoam como lamentos distantes.

Nas letras, Holmes mergulha em reflexões existenciais: a eterna luta humana por ascender a um lugar melhor, os fantasmas da morte, os abismos mentais que nos assombram diariamente. O resultado é sombrio, mas paradoxalmente belo — a prova de que, para o Paradise Lost, a miséria ainda é a fonte mais fértil de inspiração.

O encerramento do tracklist regular vem com “The Precipice”, guiado por piano, que fecha o álbum de forma solene, quase litúrgica, como uma despedida inevitável — uma lentidão pesada e carregada de sentimento, como um último adeus diante do desconhecido.

Em “Ascension”, o grupo não apenas honra sua coroa como pioneiro do gótico e do doom, mas mostra que ainda há fogo em sua existência. Amargo e doce, pesado e contemplativo, o disco é a reafirmação de que o Paradise Lost só sabe ser ele mesmo: inconfundível e melancólico como a própria escuridão que o acompanha.

William Ribas




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