quinta-feira, 25 de abril de 2024

SUFFOCATION - HYMNS FROM THE APOCRYPHA (2023)

 


SUFFOCATION
HYMNS FROM APOCRYPHA
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

É puramente insano se sentar para ouvir o mais novo trabalho de estúdio do lendário Suffocation. A brutalidade e o peso descomunal que a banda despejou aqui é algo fora de série, não existe um único momento para o ouvinte respirar, é cacetada atrás de cacetada, é matador. O trabalho veio cheio de expectativa, pois seria a primeiro álbum de estúdio de Ricky Myers, que entrou no lugar do cativante Frank Mullen, que comandou o microfone do grupo por 20 anos, sendo o único membro oficial que ainda constava na formação. Uma responsa e tanta para Myers, que urrou como se sua vida dependesse disso em “Hymns From The Apocrypha”.

Como Ricky está na banda desde 2019, o entrosamento que encontramos e ouvimos nas 9 faixas, é resultado dos anos excursionando ao lado de Charlie Errigo (guitarra), Derek Boyer (baixo) e Eric Morotti (bateria). Acredito que estar na estrada foi fundamental para banda soar tão coesa em estúdio. As músicas carregam entre si uma mistura entre aquela rispidez dos primeiros trabalhos, com uma boa dose do que essa nova geração vem fazendo — o groove, o pé no freio para novamente acelerar com tudo, e tudo na brutalidade característica do Suffocation.

A faixa-título abre de maneira esperada, o alinhamento perfeito entre a técnica, velocidade e as lindas “paradinhas” inesperadas. A genialidade do instrumental beira o absurdo — as linhas progressivas, cheias de notas quebradas, reviravoltas inesperadas e blast beats mostram que “só fazer barulho” não completaria o que é essa máquina de destroçar pescoços. Obviamente que aniquilação sonora chama atenção, pegue trinca “Perpetual Deception”, “Dim Veil Of Obscurity” e “Immortal Execration”, são aulas grátis de como sangrar os tímpanos de seres sensíveis. Tudo graças ao peso de várias toneladas que estão nos riffs de Charlie Errigo.

Não vale destacar essa ou aquela música, o trabalho é coeso e carrega dentro de si uma força motriz para vindouros clássicos do grupo. É um desfile ímpar do melhor que o Death Metal pode oferecer. Quem é fã sabe o que esperar, quem não é, mas gosta de Death Metal, vale conferir. Não existem segredos, não existe nenhuma surpresa, Ricky Myers é o cara certo para o Suffocation. Aliás, após a audição de “Hymns From The Apocrypha”, ele nasceu para comandar os vocais dessa banda.

Bem-vindos a era, Ricky Myers!

William Ribas




terça-feira, 23 de abril de 2024

THE VINTAGE CARAVAN - THE MONUMENTS TOUR (2023)

 



THE VINTAGE CARAVAN
THE MONUMENTS TOUR
Shinigami Records/ Napalm Records - Nacional

O Vintage Caravan é um power-trio que vem da Islândia e pratica/revive os melhores dias do Hard Rock setentista. A sua discografia conta com quatro álbuns de estúdio e esse novo lançamento é um trabalho ao vivo gravado durante a turnê do seu último lançamento, “Monuments” de 2021.

Caso você não esteja habituado ou desconhece o som do Vintage Caravan, podemos descrevê-los como uma fusão das bandas mais agressivas e pesadas do Hard Rock setentista, com uma pegada “bluesy/funky” em alguns momentos (se alguém lembrou do Deep Purple MK3, sim, lembrou correto), algumas passagens mais psicodélicas e até progressivas.

Se você é familiarizado, é apreciador ou fã dessa linha de som, não tem a mínima possibilidade de você não curtir músicas como “Whisppers”, “Cristalyzed” e “Forgotten”. Momentos mais lentos e lisérgicos como em “Innerverse”, se por um lado tiram o pé do acelerador, diminuindo o frenético ritmo inicial, por outro lado, mostram  o quão talentosos e melódicos podem soar os islandeses.

Outro ponto alto é a produção, onde deixa todos os instrumentos com som cristalino, dando a impressão ao ouvinte de que você está no show do The Vintage Caravan. Tudo é extremamente perfeito e você pode ouvir cada nota perfeitamente, de qualquer um dos instrumentos.

Enfim, um ótimo trabalho que nos brinda o The Vintage Caravan, seu primeiro álbum ao vivo. Quem teve oportunidade de assisti-los na tour brasileira do ano passado sabe o quão valioso é este trio. O lançamento nacional é por parte da Shinigami Records.

José Henrique Godoy









TYGERS OF PAN TANG - LIVE BLOOD (2024)

 


TYGERS OF PAN TANG
LIVE BLOOD
Mighty Music - Importado


O baluarte da New Wave Of British Heavy Metal, Tygers of Pan Tang, está de volta, agora com o lançamento de “Live Blood”, o seu novo álbum ao vivo, gravado durante a turnê de 2023, que deu suporte ao ótimo “Bloodlines” lançado no mesmo ano. Este novo “Live” do Tygers busca dar uma geral em praticamente toda a discografia da banda.

Gravado no The Patriot, tradicional casa de shows na cidade de Newport, País de Gales, durante o verão europeu de 2023, a gravação e produção deste álbum soa cristalina, de tal forma que, se você não for um conhecedor da discografia do Tygers, fica muito difícil distinguir quais são as músicas antigas e as mais recentes. Isso se dá também pela vibração e entrosamento dos músicos do Tygers, liderados pelo guitarrista Rob Weir, único membro original da banda. Além de Rob, a formação atual conta com Jackopo Meile como vocalista, Francesco Marras na guitarra, Huw Howlding no baixo, Craig Ellis na bateria.

Esta formação atual faz justiça a todos os clássicos: “Euthanasia”, “Slaves To Freedom”, “Suzie Smiled”, “Gangland”, “Hellbound”, “Do It Good” e “Paris by Air”. Todos eles lado a lado com composições mais recentes como “Destiny”, “Blood Red Skies” e “Only The Brave”, que fizeram os álbuns mais recentes do Tygers a ser, inclusive, comparados com clássicos como “Spellbound” e “Wild Cat”.

A química da formação junto ao esmerado trabalho de produção, sem falar da bela capa, fazem este lançamento ao vivo ser um item obrigatório para os fãs do Tygers, ou para quem ainda não conhece o trabalho dos britânicos, sendo um excelente ponto de partida para ter um contato inicial com o prolífico trabalho da banda.

José Henrique Godoy










JEFF SCOTT SOTO / JELUSICK / SINISTRA - 19/04/2024 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS


JEFF SCOTT SOTO / JELUSICK / SINISTRA
19/04/2024
BAR OPINIÃO
PORTO ALEGRE/RS
Produção: Ablaze Produtora

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Carolina Capelleti Peres


O evento com JEFF SCOTT SOTO , JELUSICK e SINISTRA no Bar Opinião na sexta-feira passada pode ser definido como uma excelente noite de Hard/Heavy Metal para uma reduzida platéia. Os motivos para tal fato realmente podem ser muitos: o horário de inicio às 18 horas em um dia que muitas pessoas ainda estão saindo de seus trabalhos, o período do mês onde as pessoas não tem aquela grana sobrando (apesar do preço justo dos ingressos), ou outros menos votados. O que realmente podemos definir é que é lamentável um show desses para um público de 200 pessoas.

Às 18h15, as luzes se apagam e podemos ouvir a introdução e a seguir o Sinistra adentra o palco. Para quem ainda não sabe, o Sinistra é um super grupo formado pelo vocalista Nando Fernandes (Cavalo à Vapor/Hangar e outros), o guitar hero brasileiro Edu Ardanuy (Dr. Sin, Anjos da Noite), o baixista Luis Mariutti (Angra, Shaman, Henceforth) e o baterista Rafael Rosa(ex-Andre Matos). A primeira música, a pesada “Mente Vazia” já ganhou os poucos mas entusiasmados presentes. Quem estava lá conhecia e realmente era fã do Sinistra e a retribuição foi em alto nível por conta da banda.

O som estava alto, pesado e incrivelmente limpo, podendo ser completamente audível todos os instrumentos. Edu Ardanuy não precisa de apresentações, riffs e solos perfeitos, Luis Mariutti mais contido e sem se afastar do fundo do palco durante toda a apresentação garante a gestão dos graves, e junto ao baterista Rafael Rosa nos apresentam um peso descomunal. Nando Fernandes, na minha opinião de fã, o melhor vocalista de Heavy Metal do Brasil e vou além: Nâo deve nada aos vocalistas internacionais, sua postura no palco e timbres vocais nos lembram muito o mestre imortal Ronnie James Dio. Músicas como “Viver”, “Santa Inquisição” (esta é puro Black Sabbath fase Dio) ficam ainda melhores ao vivo. Nando Fernandes manda um recado antes da fantástica “Umbral”: “meninos e meninas, sejam bonzinhos, senão vocês irão para o Umbral!!!!”... Puro Heavy Metal!!

Mais próximo ao final, em uma pausa entre músicas, um “desavisado” grita “toca a saideira!!!”... para a reprovação de todos os presentes. Ao ouvir isso, Nando Fernandes pergunta ao “super bonitão querendo aparecer”: “Você cara? É sério?/Você é músico?”. Perante a negativa do “c*gão, Nando com muita classe pergunta se o restante gostaria que o Sinistra continuasse, e a resposta foi obviamente positiva. Fico pensando o que faz um sujeito sair de casa para ter uma atitude dessas. Falta de educação, respeito e noção. Em tempo: diante da “ enquadrada” do Nando, ele negou ser músico, mas é baixista de uma banda no underground Porto Alegrense. Omitirei nomes para não dar publicidade para o individuo. O Sinistra finaliza com “ O Amanhã”, e aos gritos de “mais uma” Nando agradece e explica que os horários tem que ser respeitados. O Sinistra sai do palco após uma apresentação de 45 minutos, sobre aplausos e os músicos ovacionados, para desespero do “loser frustrado” que pediu pela saideira.



Após um intervalo de 20 minutos, sobe ao palco a banda a banda liderada pela mais grata revelação vocal do Rock/Metal dos últimos anos, Dino Jelusick, a banda que carrega seu sobre nome, Jelusick. Acompanhado por Ivan Keller (guitarra), Luka Brodaric (baixo) e Mario Lepoglavec (bateria) o quarteto croata toma de assalto o palco do Opinião e despeja a excelente “Reign Of Vultures”, faixa de abertura do ótimo álbum de estréia ”Follow The Blind” lançado em 2023. Com um público ligeiramente melhor do que no Sinistra, porém definitivo, os croatas desfilaram perfeitamente a classe das suas composições. Interessante verificar que, se no álbum, a sonoridade hard/heavy da banda é envolta numa timbragem mais moderna e porque não dizer até meio prog, ao vivo elas soam muito mais Hard Rock.

Muito dessa pegada mais Rock, se deve a performance dos músicos: O baixista Luka é simplesmente insano, não pára um minuto e agita o tempo todo. A sua performance é um misto de Rob Trujillo e Steve Harris, sem errar nenhuma nota. O guitarrista Keller é o perfeito guitar hero, tocando tudo o que pode e mais um pouco, o batera Mario é um monstro no seu instrumento. O vocalista Dino é realmente tudo que se tem falado dele. Um ótimo frontman, com um vocal excelente, e vez que outra ainda ataca nos teclados, com a mesma maestria.

Ao longo de 50 minutos, um uma performance contagiante, o Jelusick tocou as músicas contidas no seu excelente álbum de estréia, como “Acid Rain”, “Healer” e “All I Want”, finalizando com “Fly High Again”. Esperamos por uma nova visita do Jelusick num futuro próximo, pois nos deixaram uma excelente impressão e com vontade de assisti-los novamente.



Passava um pouco das 21 horas, quando entra no palco a atração principal da noite, o “quase brasileiro” Jeff Scott Soto. Brincadeiras a parte, Jeff já é figurinha carimbada do público brasileiro, devido as suas inúmeras passagens e turnês desde a sua primeira aparição por aqui, lá no distante ano de 2002 (já são mais de 50 shows em solo brasileiro, seja como artista solo, seja como integrante de banda). A banda de Jeff é formada por renomados e conhecidos músicos brasileiros, que o acompanham há mais de 15 anos, à saber: Leo Mancini (guitarra), BJ (vocais de apoio, teclado e guitarras), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominatto (bateria).

A abertura é com a incendiária “Now Your Ships Are Burned”, música do primeiro disco do sueco Yngwie J. Malmsteen e que apresentou Jeff ao mundo. Na sequência “Livin The Life”, da banda fictícia Steel Dragon, trilha sonoro do filme Rock Star, gravada com Jeff no vocal, e logo a seguir “ Warrior” de Axel Rudi Pell. Na primeira fala de Jeff com a platéia, ele saúda Porto Alegre, diz que o Brasil é a sua segunda casa e emenda “Eyes Of Love” do álbum solo “Prism” de 2002.

Jeff estava ligeiramente menos performático do que o de costume e a causa foi uma lesão no seu joelho ocorrida aqui no Brasil alguns dias antes, porém nada afetou a simpatia, carisma e uma visível sensação de se divertir o tempo todo enquanto está no palco. Fã incondicional da nossa tradicional “Caipiroska”, ele comenta que o médico dele “prescreveu” que tomasse apenas duas no palco, por conta dos remédios que estava tomando para a sua lesão. Após “Stone Cold Crazy”, cover do Queen, ele seguiu as orientações médicas e entornou um copo ao coro dos presentes “ vira, vira, vira”...e virou mesmo.

Para os fãs de Malmsteen, mais duas pérolas do álbum “Marching Out “ foram tocadas em sequência:“I´m a Viking“ e “I`ll See The Light Tonight”. Em seguida, o anti-climax do show, ao meu ver: um pequeno Medley de músicas “piano/vocal” dos primeiros álbuns do Queen, como “The March Of Black Queen” e “ Nevermore”, onde Jeff Scott Soto, ficou sozinho no palco e cantou por cima das bases pré-gravadas originais do Queen. Não me entendam mal, sou apreciador da música do Queen, mas creio que este “intervalo” quebrou o clima do show que vinha num crescendo. A seguir mais Queen, porém com um dos seus maiores clássicos, “Love Of My Life”, onde Jeff convida Dino Jelusick para um dueto, e o mesmo o fez lá do segundo andar do Opinião.



Na sequência, um outro medley, só que dessa vez muito mais vibrante: Várias músicas da banda Talisman, onde Soto tem uma vasta discografia. “Coming Home”, “Misterious”, “Colour My Xtc”, entre tantas outras elevaram o clima às alturas, tendo em vista que alguns dos trabalhos mais celebrados de Soto estão na discografia do Talisman. Cover de “Frozen” (Madonna) e “Crazy” (Seal) gravados pelo Talisman também estiveram presentes neste Medley. “Stand Up And Shout”, clássico da fictícia “Steel Dragon”, também do filme Rock Star faz a platéia vibrar e a mais que clássica “I'll Be Waiting” vai ser a próxima, porém desta vez com convidados: “Dino Jelusick e Nando Fernandes voltam ao palco e junto a BJ e Soto dividem os vocais, com direito a Nando Fernandes, a pedido de Jeff cantar o refrão em português. Dino não quis cantar em ucraniano, em meio a risadas de todos.

Para finalizar, com todos ainda no palco, Jeff traz um cover/Medley de Disco Music, estilo que também Jeff é apreciador. “Play That Funky Music/Jungle Music/Shake Your Booty/Kung Fu Fighting/Another One Bites The Dust (e tome mais Queen)/Staying ALive”, dividiram o público, pois a galera menos radical (eu incluso) curtiu muito, enquanto os mais “trues”, de braços cruzados e torcendo o nariz, provavelmente preferiam que o medley de músicas de Yngwie Malmsteen. Show encerrado, a tradicional foto com o público e todos se retiram do palco.





O saldo final deste mini-festival é que o pequeno público presente foi privilegiado com três excelentes shows com três ótimas bandas, e os artistas mereciam muito mais público sem sombra de dúvidas. Enfim, felizes os que foram. Agradecimentos especiais para Ablaze Produtora pelo credenciamento e que Sinistra, Jelusick e JSS possam retornar mais vezes a Porto Alegre, para públicos maiores.

VLTIMAS - EPIC (2024)

 


VLTIMAS
EPIC 
Urubuz Records - Nacional

Jogando a palavra "Épico" no Google, achamos o seguinte significado: “Uma palavra que classifica uma ação heroica, que pode ser baseada em fatos apurados ou inventados — do latim "epicus". Épico é usado também para adjetivar um feito memorável, extraordinário, uma proeza, algo muito forte e intenso”. Agora indo atrás dos sinônimos da palavra temos: “Esplêndido, admirável, notável, fabuloso, heroico, imponente, magnífico, nobre, pujante, soberbo e sublime”.

Tudo o que foi descrito acima pode-se colocar na classificação de “Epic”, o segundo ato da banda VLTIMAS. O trabalho eleva o nível da banda, foge da mesmice que às vezes assola o lado extremo do metal. O grupo foi formado em 2015 por três gigantes, David Vincent (ex-Morbid Angel), Flo Mounier (Cryptosy) e Rune "Blasphemer" Eriksen (ex-Mayhen) e conseguiu um certo “burburinho” com “Something Wicked Marches In” (2019), mas, uma pandemia adiou os planos do power-trio. O novo álbum chega com algumas mudanças (musical e de formação), o grupo adicionou Ype TVS (Baixo), passando agora ser agora um quarteto. Na parte estrutural das músicas, a surpresa fica para uma banda mais densa, mais pesada e “menos agressiva”.

É como se tivéssemos a explosão do Black Metal, o peso do Death Metal e fossem adicionadas doses excessivas de Doom Metal, criando pilares indestrutíveis para um álbum rico em detalhes, que vão sendo descobertos a cada nova audição. A abertura “Volens Discordant”, uma breve intro que causa tensão e se encarrega de abrir as portas para entrada da faixa-título. “Epic” (a música) tem consigo um instrumental arrastado, partes mais fortes e jogadas e uma interpretação ímpar de David Vincent, que “deixa” claro que os urros dos tempos passados não terão vez aqui — Os vocais serão mais “limpos” e “decifráveis”, trazendo grandiosidade nas interpretações.

“Misere”, tem Flo Mounier, simplesmente destruindo seu kit de bateria — Bumbo duplo, viradas insanas e uma levada agressiva! A música em si, transita entre thrash/death metal. “Exercitus Irae” segue sua antecessora, elevando o nível e alegrando os fãs do primeiro álbum. Os riffs cortantes de Rune são um deleite, ao carregarem dentro de si “maldade”, uma certa volta à cena norueguesa do início dos anos 90. Uma curiosidade no disco sobre as 6 cordas da banda é que, em “Epic”, temos a participação de João Duarte, colocando um feeling à mais nos solos e fazendo uma dupla implacável com Ericksen. Essa adição poderosa ganha mais clareza em “Mephisto Manifesto”, faixa criada para ganhar novos adeptos por sua “simplicidade” — É impossível não querer gritar com David Vincent o refrão grudento e não querer ser um “guitar-hero” no solo curto, mas cheio de precisão e sentimento da música.

“Scorcher” volta a colocar velocidade ao trabalho, aliás, a variedade de estilo e andamentos do tracklist é o que chama mais atenção. É quase um trabalho “12 por 36”, entre a agressividade e a cadência, ambos não andam juntos, por poucas vezes se “esbarram” nos corredores de “Epic”, mas, é nítido que precisam um do outro para fazer funcionar de maneira que prendam atenção do ouvinte. Os três últimos atos de um trabalho que deve entrar para posteridade — “Invixtus”, “Nature's Fangs” e “Spoils Of War”, são como “chover no molhado”. Não há defeitos, seguem uma subida rasante, cheia de nuances e quebradeiras num Metal Extremo cheio de particularidades do VLTIMAS.

Os cinco anos de “Somethind Wicked Marches In” para “Epic”, mostra que o caos da humanidade trouxe a criação de um trabalho que carrega dentro de si a chama matriz chamada EVOLUÇÃO — Onde os 37 minutos de duração, é pouco para “o estrago” eterno.

O ano de 2024, dificilmente terá outro nome de destaque que não seja, “Epic”!!!

Obrigatórias a audição e aquisição.

William Ribas





sexta-feira, 19 de abril de 2024

ANGRA - CYCLES OF PAIN TOUR - 12/04/2024 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 


ANGRA
CYCLES OF PAIN TOUR
Abertura: Toffoli, Jeff Scott Soto
12/04/2024
Local: Bar Opinião - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora

Texto e Fotos: Henrique Lippert


Nem mesmo a garoa fina que caiu durante o dia desanimou os fãs que aguardavam a abertura dos portões em frente ao Bar Opinião. O Angra voltou à capital gaúcha no último dia 12 de abril para mais uma noite memorável, desta vez com o convidado especial Jeff Scott Soto.

Elevando a régua lá no alto, a Toffoli abriu a noite com muita qualidade. A banda que conta Luiz Toffoli (guitarra), Cássio Marcos (vocal), Douglas Máximo (baixo) e Pedro Tinello (bateria) trouxe um prog de respeito, evidenciando a técnica dos músicos. Tendo feito a abertura do Angra no ano passado, boa parte do público recordou as músicas do "Enigma Garden", e a surpresa veio com as novas composições do álbum que (segundo a banda) em breve será lançado. Entre uma música e outra, os músicos se apresentaram, reforçaram a importância do apoio aos artistas locais e se despediram, mas não antes da clássica foto da banda com o público.


Na sequência, o palco foi organizado com alguns bancos altos, entregando que Jeff Scott Soto e Leo Mancini entrariam em breve. Arriscando algumas palavras em português, o vocalista se mostrou muito à vontade ao entrar no palco com sua dupla e chamar o público pra si. "Livin' the Life" iniciou os trabalhos e, antes de emendar "Mysterious" do Talisman, o frontman expressou sua felicidade ao completar quatro décadas de rock'n roll. Jeff rasgou elogios ao Angra e continuou interagindo bastante com a plateia, embalando com "Alive" do Sons of Apollo.

Enaltecendo o colega Leo Mancini e os mais de 20 anos de parceria, "Eyes of Love" e "Comes Down Like Rain" serviram de ponte para um clássico que fez todos cantarem. "Leo me disse que vocês vão ficar loucos com essa, mas se não ficarem eu vou dar um soco nele!", brincou Jeff antes brindar a noite com "Carry on my Wayward Son", que fez os fãs cantarem alto até o final da música. Ainda com a energia lá em cima a dupla fez um cover de Crazy, do Seal, de dar inveja. "I'll be Waiting" encerrou em grande estilo esse bloco, mantendo o público interagindo e cantando. Ao deixar o palco para a banda principal, Soto falou que tocará na próxima semana (chegando a errar o dia ao confundir sexta com sábado), sendo ovacionado pelos gaúchos enquanto se retirava.


Após uma breve espera, o Angra finalmente subiu ao palco, com Fábio Lione (vocal), Marcelo Barbosa e Rafael Bittencourt (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria). De arrancada, "Nothing to Say" animou o público, que recebeu os artistas com gritos e animação. A clássica "Angels Cry" veio logo depois, mantendo a plateia cantando forte, dando sequência a "Newborn Me" "Lisbon".

Trazendo uma composição do álbum mais recente, o grupo traz "Vida Seca", cantada em partes pelo Rafael também. Do mesmo disco, "Dead Man on Display" veio logo após, dando sequência a música homônima ao álbum "Rebirth", onde o público interagiu e cantou com emoção. Não diferente, "Morningstar" do "Temple of Shadows" (2004)mostrou que também tem lugar especial no coração dos fãs. "Time" que começa lentamente e ganha velocidade também foi bem recebida.



Lione, sempre carismático e comunicativo, pergunta se o público está cansado, enquanto brinca ao dar tchau para alguém aleatório do público. Foi a vez de "Cycles of Pain" vir à tona, música do álbum mais recente e que a plateia cantou junto até o final. Esperamos um momento até que os bancos voltaram ao palco, enquanto Rafael se desculpava com os fãs por ter esquecido de trazer o violão. Acontece, não é mesmo? "Tudo resolvido, O Leo Macnini me emprestou o seu", disse Bittencourt logo após. Sendo um instrumento de 12 cordas, "Silent Call" foi improvisada na hora abrindo caminho pra dobradinha acústica. Homenageando brevemente André Matos, Rafael chama de volta ao palco Lione para cantar "Make Believe".

Em um crescendo constante, a banda inteira voltou para o último bloco da noite, trazendo a incrível "Ride into the Storm", sendo procedida pela "Silence and Distance", outra do Holy Land (1996). Logo depois de confessar ao público que gosta muito de baladas, o "Mago" Lione emplacou outra, e "Bleeding Heart" emocionou o Opinião. Com "Tides of Change - Part I e II", Soto voltou ao palco para somar sua voz à do Fábio, embalando com a "The Show Must Go On" em tributo ao "Queen".

Na reta final, o "bis" ficou por conta de "Carry On" e "Nova Era", que nunca decepcionam e fazem o público gastar toda energia restante. Impossível não falar da qualidade de todos que passaram pelo palco na noite, desde a banda de abertura até o encerramento. Angra está em um ótimo momento, com os músicos entrosados e presenteando todos com um setlist que passeia pela sua trajetória de sucessos. E que venham mais presentes como esse para os gaúchos, sempre ansiosos para recepcionar de braços abertos músicos incríveis e convidados especiais.



quarta-feira, 17 de abril de 2024

THEOCRACY - MOSAIC (2023)

 

THEOCRACY
MOSAIC
Shinigami Records Atomic Fire - Nacional

Há alguns anos, o Power Metal vem dando sinais de um retorno triunfal. Obviamente que tudo o que tinha que ser criado, já aconteceu, não acredito que dê para reinventar a roda, mas as boas bandas e músicas vão sobrevivendo e nascendo. O Theocracy está na cena por pouco mais de duas décadas, sua temática cristã ultrapassou barreiras e pré-conceitos. “Mosaic” chega ao mundo após sete anos de espera dos fãs, e, posso garantir, valeu a pena.

O álbum abre com a bombástica “Flicker”, sim, clichê de 10 entre 12 álbuns de metal melódico. Rápida, bumbo duplo, vocais e refrãos grudentos, a alegria dos fãs de Helloween, Gamma Ray e Stratovarius está garantida. “Anonymous” tem uma batida mais pesada, o riff mais sombrio, o pé larga do freio no refrão, mas nada que acelere tanto fazendo a ponte para maravilhosa faixa-título. Suas linhas melódicas, calmas e cativantes no início ganham adrenalina, mas sem perder a beleza, sendo assim uma das minhas favoritas do álbum.

Matt Smith (vocal), Jonathan Hinds (guitarra), Taylor Washington (guitarra), Jared Oldham (baixo) e Ernie Topran (bateria) estavam inspirados e souberam dosar muito o material entre a “alegria” e os momentos épicos cheios de coros que o estilo da banda pede com a complexidade e genialidade do Prog Metal. Sem soar enjoativo, muito pelo contrário, as 10 faixas são um quebra cabeça onde cada peça é fundamental para o fechamento apoteótico que o disco pede. Antes de irmos aos conformes, vale alguns destaques.

“The Sixth Great Extinction” é firme, com riffs marcantes e uma bateria cheia de quebradeira e alucinada. A balada “The Greatest Hope” traz consigo o modo clássico, suave e refrão para se cantar junto. Confesso que é impossível não “gastar” alguns bons repeat na música, ela traz paz, mesmo tendo um tema tão delicado como a perda. O Theocracy com seus bons anos de estrada, os quatros antecessores não precisam mais ser coadjuvantes, nem cópias, e a prova disso chega no final.

“Red Sea” é um resumo de tudo que encontramos em “Mosaic”, o peso, o Power Metal acelerado, as melodias, os refrãos, a complexidade e genialidade. Os seus vinte minutos podem assustar, mas é uma viagem gratificante de se fazer. Interessante que ela tem “gingado”, uma fórmula que envolve o ouvinte, ao mesmo ponto que entra numa velocidade que te faz pular de cabeça no redemoinho sonoro do grupo americano — A faixa é o encerramento inesperado, mas perfeito. O Theocracy não apenas colocou o seu melhor trabalho, mas, sim, um dos melhores discos de heavy melódico dos últimos anos.

Imperdível!

William Ribas




terça-feira, 16 de abril de 2024

ABORTED - VAULT OF HORRORS (2024)

 

ABORTED
VAULT OF HORRORS
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

A primeira coisa que me vem à cabeça quando vejo um novo álbum do Aborted é: “Nos anos 80 eles teriam aquele adesivo maneiro "Parental Advisory: Explict Content”. Toda capa é tão maravilhosamente abominável que os olhos brilham e os tímpanos já se retraem com medo do que está por vir.

Cada novo trabalho, a banda se supera, consegue ser mais brutal e sangrenta do que nos discos anteriores. Não sei se possa ter alguma aposta interna, ou, vontade de entrar no Guiness Book, não sabemos. O que sabemos é que agressividade jorra das 10 faixas de “Vault of Horrors” . O décimo segundo disco de estúdio do Aborted surpreende antes mesmo do início da audição, as músicas são baseadas em filmes de terror. Clássicos são clássicos, e o Aborted soube muito bem tirar o melhor de cada atmosfera da telona para musicalizar — “A Coisa”, “O Massacre da Serra Elétrica”, “O Retorno dos Mortos Vivos”, “Hellraiser”, “Halloween”, “O Enigma de Outro Mundo”, “A Mosca”, “O Príncipe das Sombras”, “A Morte do Demônio: A Ascensão” e “O Nevoeiro”, ganharam urros e instrumental frenéticos.

Outro fator que faz o trabalho ganhar pontos é que cada faixa conta com participação especial de um vocalista diferente, fazendo com que tudo soe ímpar, ficando longe de qualquer monotonia. A abertura, com “Dreadbringer”, tem o protagonismo do instrumental bruto e os vocais de Ben Duerr (Shadow of Intent) deixam o ouvinte assombrado. Na sequência a participação especial de Francesco Paoli, do Fleshgod Apocalypse na maravilhosa “Condemned to Rot” — O peso surpreende, a velocidade é mais que esperada, mas o toque atmosférico faz a faixa ter amplitude, ser muito mais que “barulho”.

“Btotherhood of Sleep” é mais “parada”, uma faixa para bater cabeça, inquieta que troca de andamentos a todo instante, conta com a participação de Johnny Ciardullo (Angelmaker). “Death Cult” não brinca em serviço, é um arregaço, não deixa pedra sobre pedra, novamente a banda vive numa montanha-russa, entre agressividade e a densidade, tornando facilmente uma das melhores do disco por sua dinâmica diversificada. A sequência levanta defunto, “Hellbound”, “Insect Politics” e “The Golgothan” provavelmente seja um dos melhores momentos da história do Death/Grind. São três faixas onde sãos poucas palavras que são audíveis, mas que a brutalidade é tão descomunal que você sai sorrindo. Sim, aquele sorriso sarcástico onde “aparece sangue por todos os lados e há celebração por tamanha carnificina”.

O Aborted acerta precisamente em “Vault of Horrors”, violento, mas que não deixa sequelas, muito pelo contrário. Os 40 minutos de audição passam num piscar de olhos, logo o fã se torna um sadomasoquista, apanhando e desejando por mais e mais de “Naturom Demonto” e “Malevolent Haze”, entre outras.

William Ribas




SAMAEL - PASSAGE - LIVE (2024)


SAMAEL
PASSAGE - LIVE
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Não apenas mais um “ao vivo”: uma verdadeira celebração à música pesada e sombria. Este é o espírito de “Passage – Live”, registro que comemora os 25 anos de “Passage”, uma das mais icônicas obras da igualmente icônica e soturna banda suíça Samael. Gravado na cidade de Cracóvia na Polônia, em um show com ingressos esgotados e ao final de sua festiva turnê europeia, a “Passage 25th Anniversary Tour”, o grupo entrega energeticamente sua agressividade e climática tenebrosa nesta bela apresentação em que, conforme previsto, executam integralmente o setlist do destacado álbum de 1996.

Considerada uma das bandas mais relevantes e influentes de um gênero que se traduz em uma mescla de estilos como o Black Metal Sinfônico, o Industrial e o Dark Gothic Metal, o Samael foi extremamente eficaz em “Passage – Live” ao presentear o público com a sua mais crua e transparente essência. Ainda assim, eles conseguem soar renovados em suas interpretações em relação ao disco homenageado. Certamente, "Passage” foi um divisor de águas na carreira do Samael que – sabiamente - abandonou o morno Black/Gothic Metal que faziam para incorporarem um viés mais industrial e atmosférico, tendências que os alçariam como um dos nomes mais importantes e lendários da cena. Sendo assim, é mais do que justificada sua escolha para conceber essa versão ao vivo.

Além disso, o disco também marca a história do Samael por ser o primeiro registro nesse modelo com a formação atual, composta pelo líder e membro fundador Vorph (vocais e guitarra), Xystras (bateria, teclados e sintetizadores), Thomas ‘Drop’ Betrisey (guitarras) e Ales Campanelli (baixo). A partir do primeiro play, é perceptível o quão entrosado o line-up está e quão poderosa e vívida é uma obra do calibre de “Passage”. Costumo dizer que um álbum ao vivo é um raio-x da alma de uma banda. Ali suas potencialidades, vicissitudes, peculiaridades e – em várias ocasiões – falhas são deflagradas de maneira mais orgânica que um álbum de estúdio. Sabemos que muitas bandas “enganam” em seus registros ao vivo, usando e abusando dos recursos de uma mesa de som ou de programas de computador para entregar o produto final “mais aceitável”, por assim dizer, porém, em minha incerta opinião, o Samael parece não ter utilizado desses subterfúgios. Até mesmo porque a banda calca seus sons em toda parafernália eletrônica e de programações que o Industrial pede e possibilita.

Contudo, a despeito dessa opção estilística, o Samael ao vivo não soa artificial. “Passage – Live” é visceral e emocionalmente profundo como uma viagem pela umbra e outros confins trevosos indicam ser. Vorph entrega suas entranhas em seus vocais rasgados e intensos, acompanhado pela sinfonia funesta e atmosférica dos instrumentais do grupo, que, indubitavelmente, possuem uma das sonoridades mais singulares no universo da música pesada. Não tem jeito: apenas Samael soa como Samael.

Aos familiarizados com o repertório do álbum, vale destacar algumas notáveis interpretações nesse célebre espetáculo. Após a abertura instrumental, “Rain” é arremedada com vigor e agressividade espantosa, efetuando uma estrondosa e vibrante aclamação do público, logo ao início. “Angel’s Decay” poderia servir como trilha sonora de um rito macabro, pela ambientação e versificação entoada por um voraz e inspirado Vorph. Aliás, após essa música, ele saúda o público presente e conclama, como um astuto anfitrião, o motivo de estarem ali: a celebração dos 25 anos de “Passage”. Na esteira de destaques desse live, “Jupiterian Vibe” incendeia o público presente, que sincopado aos tambores incidentais de Xystras, grita e canta com um impressionante entusiasmo. Energia em alta vibração que também é percebida em “The Ones Who Cames Before”, uma pérola instrumental de como seriam as trevas pela ótica musical de samples eletrônicos e de riffs velozes e intensos.

Impossível também não citar o hino “Moonskin”, em uma sólida e harmoniosa interpretação que incita a, talvez, maior ovação da audiência. Nessa linha, a densa e pesada “Born Under Saturn” oferta um dos melhores e mais memoráveis momentos do show. Não obstante, em sua totalidade – embora tenha citado apenas algumas das faixas do concerto – é nítida a qualidade e a identidade do Samael do início ao fim desse formidável e sombrio percurso.

Como mencionado ao início dessas palavras, “Passage – Live” é uma verdadeira celebração ao legado e à obra da lendária e soturna banda suíça. Imponentemente, o Samael entrega um vigoroso registro ao vivo de como conceder e honrar sua distinta arte e seus apreciadores.

Gregory Weiss Costa




HYPOCRISY - INTO THE ABYSS (2000/2023)

 

HYPOCRISY
INTO TEH ABYSS
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Olhando para a discografia do Hypocrisy, a primeira década é de trabalho e mais trabalho. Diversas demos, split e álbuns ao vivo. Na chegada dos anos 2000, temos o sétimo disco de estúdio da banda, “Into the Abyss”, pouco mais de 1 ano do lançamento de “Hypocrisy”, literalmente, a banda viveu para compor, gravar, cair na estrada, compor, gravar e cair na estrada novamente.

“Into the Abyss” é o mais cru da sequência dos últimos trabalhos, mas, não deixando de lado o modo experimental que vinha sendo o diferencial dos últimos anos. A banda deixou um pouco de lado aquele coisa mais climática e linhas acústicas. Aqui, parece que Peter Tägtgren e companhia tinham no radar o Black Metal norueguês como uma espécie de inspiração não declarada. Inclusive , os vocais de Tägtgren remetem bastante ao estilo no disco, deixando bastante de lado as linhas limpas e urros de outrora.

O lema: "Menos é Mais", traz consigo uma absorção mais rápida das músicas, são 42 minutos de barulho, de agressividade e muito peso, deixando claro que a intenção é fazer o fã bater cabeça do início ao fim. Não que eles não tenham olhado no retrovisor e ajustado uma coisa aqui, ali para movimentos mais leves, experimentais, ou, porque, não dizer, mainstream. Existe um peso bastante interessante ao redor do disco, não são músicas rápidas a todo vapor onde abrimos rodas. Sim, temos Legions Descend” e “Blinded” que agitam bastante, mas acabam não sendo uma regra no disco, muitas vezes o sentimento é balançar a cabeça e erguer o bom copo de cerveja para alto. Por exemplo em “Resurrected”, “Digital Prophecy”, “Unfold The Sorrow” e “Deathrow (No Regrets)”

Into the Abyss” é o fechamento de ouro para os primeiros 10 anos. É Peter Tägtgren, Mikael Hedlund e Lars Szöke sendo eles, não ficando parados em fórmulas, fazendo do jeito deles e mostrando que o peso e os instrumentos em chamas sempre estarão no Hypocrisy.

William Ribas




HYPOCRISY - HYPOCRISY (1999/2023)

 

HYPOCRISY
HYPOCRISY
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Auto intitular o álbum traz consigo um peso. Por muitas vezes definimos aquele projeto como definitivo no som da banda. No caso do Hypocrisy, possivelmente era necessário colocar o pé no acelerador e ter uma certa “distância” do seu trabalho anterior — “The Final Chapter”, é único e transborda fronteiras e horizontes. Era necessário marcar um novo início, e nada melhor que ter o nome da banda nesse novo capítulo. Peter Tägtgren, Mikael Hedlund e Lars Szöke contribuíram para o mundo pesado com mais um trabalho atemporal, sem época, não importa o dia, mês ou ano que você escute “Hypocrisy”, ele é matador.

É perceptível que cada movimento foi friamente calculado, o peso, as camadas de teclado dando amplitude em algumas faixas, a diversidade de cada música fazendo que nenhuma faixa deixe de surpreender o fã. Por muitas vezes, acho que algumas das composições foram feitas para mostrar que eles ainda eram fãs daquele metal mais caótico do death metal clássico dos anos 80 — Leia-se “Appcalyptic Hybrid”, ou, até mesmo a crossover “Time Warp — o caos!

A melodia mais cativante se faz presente em “Elastic Inverted Vision”, uma música “diferentona”, uma mistura de Paradise Lost com Kreator do “Endorama”, obviamente que não temos uma cópia, o Hypocrisy fez e faz tudo à sua maneira. Com tudo e muito mais, o auto-intitulado “Hypocrisy”, carrega a missão de ser o passo adiante na carreira do grupo, possivelmente é o trabalho mais diversificado, mas, não menos interessante.

Eu diria que é um bom início para se conhecer a entidade Hypocrisy, você enxerga o passado e a evolução.

William Ribas



HIPOCRISY - THE FINAL CHAPTER (1997/2023)

 

HYPOCRISY
THE FINAL CHAPTER
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Originalmente lançado em 1997, “The Final Chapter" é o trabalho que começa a consolidar o som característico do Hypocrisy dos próximos lançamentos. Muito do que ouvimos nos trabalhos posteriores teve sua “pedra fundamental” aqui. O quinto disco de estúdio transborda energia e uma boa dose de melancolia, momentos brutais se contrastam com andamentos arrastados de algumas faixas. Olhando para o passado, o trio Peter Tägtgren, Mikael Hedlund e Lars Szöke, não se encaixava na onda sueca que começava a surgir, muito menos em vertentes já existentes. O Hypocrisy do “Capitulo Final”, é peculiar e ímpar — Suas melodias não são alegres, carregam dor.

Os urros e o instrumental levam toneladas de sentimentos ao ouvinte, escolhendo a solidão como o melhor amigo na audição dos quase 55 minutos do álbum. Vejo como um trabalho que devemos ouvir na quietude, nas primeiras ou últimas horas do dia. Claro que a brutalidade se faz presente, faixas como em “Inseminated Adoption”, “Dominion” e “Last Vanguard”, mas, é em músicas climáticas como “Inquire Within”, “Lies” e a faixa-título que temos o brilhantismo do disco — Os seus “capítulos” te transportam para algo introspectivo, que merece toda sua atenção para absorver todos os sentimentos.

The Final Chapter” tem consigo um trabalho amplo nas linhas vocais de Peter, o “chefão”, grita, urra, mas também entrega momentos mais limpos, com melodias cativantes. O relançamento do álbum fará muito gente feliz, mas, o mais importante, poderá elevar “The Final Chapter”, como um dos clássicos dos anos 90.

Imperdível!

William Ribas




THE HELLACOPTERS - GRANDE ROCK REVISITED (2024)

 

THE HELLACOPTERS
GRANDE ROCK REVISITED
Shinigami Records / Nuclear Blast - Nacional


O The Hellacopters é o grande monumento do Rock n Roll Sueco. A banda capitaneada por Nick Andersson é uma usina de classic rock, sleaze rock, garage rock, hard rock e Rock n' Roll, que começou a ganhar o mundo em 1999, com o lançamento de um de seus álbuns mais cultuados, e muito bem batizado como “Grande Rock”.

No aniversário de 25 anos do álbum, o Hellacopters decidiu marcar a data com um (re)lançamento como forma de comemoração. O trabalho é composto do álbum original, que foi gravado como quarteto logo após a saída do guitarrista original Dregen, que foi para o Backyard Babies, e com a nova versão regravada e produzida com nada mais nada menos que o próprio Dregen que retornou ao Hellacopters em 2017, substituindo Robert Dahlqvist após a sua trágica morte.

“Grande Rock” é o álbum que fez a virada de chave na carreira do Hellacopters. O álbum “envelheceu” bem melhor que os seus antecessores, ainda que estes apresentem também qualidade. A gravação “revisitada” foi produzida não para vir substituir o que foi feito em 1999, mas sim para demonstrar como o álbum teria soado se Dregen tivesse participado dos trabalhos.

É interessantíssimo verificar as duas versões (1999/2024) de músicas como “Action De Grace” com sua pegada Stooges/Mc5, a paulada sleaze “Eletric Index Eel”, a Hard “The Devil Stole The Beat From The Lord” e “Paul Stanley”, uma homenagem dos suecos a uma de suas bandas favoritas e grande influência, o KISS.

O veredito final ao ouvir as duas versões é que o The Hellacopters é tão bom hoje em dia quanto era em 1999, e o lançamento nacional veio via Shinigami Records/ Nuclear Blast e já está disponível. Para fãs do grupo e do Rock n' Roll rápido, sujo e sem arestas.

José Henrique Godoy




quinta-feira, 11 de abril de 2024

JETHRO TULL - RÖKFLUTE TOUR - 10/04/24 - AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA - PORTO ALEGRE/RS



JETHRO TULL
RÖKFLUTE TOUR
10/04/2024
Auditório Araújo Vianna - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora

Texto e Fotos: José Henrique Godoy


Shows no Auditório Araújo Vianna sempre tem um aspecto nostálgico especial aos que são “jovens há mais tempo” como este que escreve aqui. Sejam pelas lembranças dos shows ocorridos lá em tempos passados, seja por estar localizado no bairro Bom Fim, local de aglomerações de todas as tribos rockeiras nas noites portoalegrenses. E não foi diferente na noite de 10 de Abril de 2024, com mais uma visita do Jethro Tull.

Ao chegar no “Araújo”, como é carinhosamente conhecido por aqui, já podia constatar pela quantidade de pessoas com cabelos e barbas brancas, que seria uma noite para os veteranos, e que boa parte deles provavelmente estiveram presentes no primeiro show do Tull na cidade, em Outubro de 1988. Em meio a um que outro que aparentava ter menos idade, a totalidade do bom público presente aparentava ser fã da banda de Ian Anderson há muito tempo. Mas o que vale ressaltar é que todos presentes foram agraciados com um ótimo show.

O telão da casa e o serviço de som vez que outra transmitia um “pedido especial" do Sr. Anderson: durante a apresentação, não seriam permitidas fotos e nem filmagens, para não atrapalhar as performances dos músicos, devido a “complexidade das músicas” do Jethro. Tanto que não tínhamos nenhum fotógrafo profissional cobrindo o evento. Num primeiro momento pode parecer uma atitude antipática, mas Ian Anderson é bem conhecido por suas atitudes excêntricas e como dizia minha saudosa mãe: “maluquete a gente não contraria”.

Por volta das 20h45, sobe ao palco o violinista gaúcho Luciano Reis, com a missão de aquecer o público e fez uma apresentação curta, porém muito agradável, onde sobre bases pré-gravadas executou a clássica ‘O Fortuna”, “Kashmir” (Led Zepellin), “Nothing Else Matters”(Metallica) e “Highway To Hell” (AC/DC). Em apenas 15 minutos o músico demonstrou ser muito carismático trazendo versões muito boas e criativas para estes clássicos. Aguardar para apresentações completas deste ótimo músico.

Contrariando a tradicional pontualidade britânica, as 21h20, após mais um aviso sobre a proibição de fotos e filmagens, o telão ao fundo do palco que exibia uma imagem marítima com o nome Jethro Tull em azul começa a se movimentar e a projeção de um braço segurando um flauta surge das “profundezas”, e para delírio da platéia, um a um os músicos adentram ao palco e iniciam o show com “Sunshine Day” o single do álbum de estréia da banda de 1968. Ao final desta, as primeiras palavras de Anderson com o público, dizendo que era um prazer estar de volta à Porto Alegre para celebrar sete décadas de Jethro Tull. Na sequência vieram “We Used To Know” e a clássica “Heavy Horses”.


A esta altura, todos que possam por ventura ter se incomodado com a proibição de fotos e filmagens já tinham entendido o porque da exigência. A banda formada por John O´Hara (teclados), David Goodier (baixo), Scott Hammond (bateria) e o recém agregado à formação, o guitarrista Jack Clark, executam todas as músicas com maestria nota a nota. O telão é um show a parte, onde são projetadas imagens totalmente conectadas e que interagem com as músicas que são executadas. Ian Anderson, hoje um senhor de 76 anos, se não tem mais a mobilidade de outrora (por óbvio) e o vocal não tenha mais a mesma potência, ainda entrega muito bem no palco, enquanto desfila toda a sua habilidade na flauta.

Bastante falante, Ian pareceu mais a vontade do que nas últimas vezes que visitou Porto Alegre, enquanto desfilava músicas na sequência: “Weathercock”, “Roots To Branches”, “Holly Herald” , “ Wolf Unchained” e “Mine Is The Mountain”, todas elas com projeções fantásticas no telão. Para finalizar a primeira parte, a clássica instrumental “Bourrée”, de J.S. Bach. Ao final desta, Anderson faz sua tradicional pose se equilibrando em uma perna só, enquanto ao fundo aparece a reprodução da sua imagem na capa do álbum “Living In The Past”.


Então temos um intervalo de 20 minutos, tal qual uma ópera. Há aqui que se louvar a atitude da platéia, que atendeu o pedido de não fotografar/filmar e só aplaudiu e gritou ao final das músicas. Público educado é outra coisa...   Enquanto aguardávamos o retorno do Tull, uma projeção do Ian Anderson nos encarava. Ao final do período de intervalo, na projeção, Ian puxa um binóculo (tal qual na capa ao álbum Stormwatch) apenas para nos relembrar (mais uma vez) sobre a exigência do “no fotos”... A banda retorna e enfileira “Farm On The Freeway”, a mais recente “Navigators” , “Warm Sporran” , “Mrs. Tibbets” e “Dark Ages” .

A saída para o tradicional “bis” e então o retorno com as mais clássicas do setlist: “Aqualung”, aqui numa versão diferente com John O´Hara executando o reconhecidíssimo riff nos seus teclados, e andamento mais cadenciado. Prefiro o arranjo original, mas aqui a variação soou bem, e o fechamento com a incendiária “Locomotive Breath”, essa com a “autorização” para as fotos liberada, e dai foi um festival de flashes, todos presentes tentando fazer suas melhores fotos para recordação de uma excelente apresentação do Jethro Tull.


Ian Anderson não dá sinais de aposentadoria, então fica aos fãs uma esperança de que esta não seja a última vez que assistiremos o Jethro Tull em terras brasileiras. Que venha (m) a (s) próxima(s) vez(es) . Agradecimentos especiais à Opinião Produtora pelo credenciamento.