sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ACE FREHLEY - ORIGINS - VOL.2


ACE FREHLEY. Não é novidade pra ninguém que para este que vos escreve, o guitarrista é sim um dos responsáveis pelo Kiss ter se tornado o que se tornou. Obviamente, Ace não é o mais técnico e virtuoso homem das seis cordas que já passou pela banda. Mas o feeling, a atitude o o espírito do Rock n' Roll sempre falaram mais alto quando o único e verdadeiro Spaceman empunhava a guitarra da banda mais quente do mundo. Dito isso, chegou o momento de analisarmos a segunda parte das homenagens prestadas pelo guitarrista à seus ídolos na música. ORIGINS VOL. 2 vem quatro anos após o primeiro volume e da mesma forma, mostra um Ace Frehley solto, até mesmo despojado em alguns momentos. E o melhor de tudo, comprova aquilo que todos que conhecem seu trabalho já sabiam: Tudo aquilo que sempre ouvimos na sua guitarra vem da mesma escola, qual seja, o rock clássico!!

Recheado de convidados (assim como no Vol.1), o álbum traz 11 faixas e mais um bônus track. Mais encorpado que a primeira parte, o trabalho traz as participações de Bruce Kullick (ex-Kiss), Lita Ford, John 5 (Rob Zombie, Marilyn Manson, David Lee Roth) e Robin Zander (Cheap Trick), o que só vem a abrilhantar ainda mais o resultado final. A capa, or sua vez, também merece um capítulo `aparte. Se no Vol. 1, ela trazia Nova Iorque ao fundo, com as guitarras suspensas durante o dia, dessa vez temos a mesma Nova Iorque, só que agora à noite, tendo todos os trajes espe(a)ciais que Ace vestiu durante sua trajetória no Kiss. E ainda, temos uma espécie de "ace-sinal" refletindo, como se estivéssemos chamando o Spaceman para nos ajudar a resgatar a essência doverdadeiro Rock n' Roll. Simplesmente genial!

"Good Times, Bad Times" do Led Zeppelin, abre o álbum com uma interpretação inspirada de Ace nos vocais, e mostra quanto também o quanto Jimmy Page influenciou sua forma de tocar. Sem inventar nada de diferente, a faixa seguiu a mesma linha da original, mantendo aquele groove característico. "Never in my Life", do Mountain, traz outra boa performance de Ace nos vocais. E apesar dos excessos durante sua carreira, a voz do guitarrista permanece com seu timbre, ainda que com o passar do tempo, tenha ocorrido aquele desgaste natural. Um solo fiel ao original, mas com a pegada típica do Ás do Espaço, surge durante a execução. "Space Truckin'" do Deep Purple, que também foi lançada como single e vídeo, antecede um dos momentos mais divertidos e rockers do álbum: "I'm Down" dos Beatles (também regravada pelo Aerosmith) ficou com uma roupagem mais "cheia", com as guitarras de John 5 ditando o ritmo, num clima festivo e com a "marca" Ace Frehley no solo. Sem dúvidas, um dos pontos altos do CD.

E os Rolling Stones surgem aqui numa inspirada versão de "Jumpin' Jack Flash", que traz os vocais de Lita Ford. Mais encorpada, a faixa mantém a pegada rock n' roll da original, mas incorpora uma dose um pouco maior de peso, além da atmosfera Hard proporcionada pela voz de Lita. Já "Politician", originalmente gravada pelo Cream, traz novamente a participação de John 5. E o interessante aqui é que tanto John quanto Ace fizeram o solo, ou seja, dobraram o mesmo, o que segundo o próprio Frehley já havia sido feito pelo trio inglês na versão original, onde Eric Clapton havia gravado o mesmo solo duas vezes, sobrepondo um sobre o outro. "Lola", faixa do Kinks, é outro bom momento, que antecede "30 Days in the Hole", do Humble Pie, traz os vocais de Robin Zander. Tudo porque Ace se achou incapaz de cantar próximo do Stevie Marriot fazia na versão original. O resultado disso? Um dos melhores momentos de todo o trabalho!

O mestre maior da aguitarra, Jimi Hendrix foi lembrado com "Manic Depression" que conta com a participação mais do que especial de Bruce Kullick. Não é preciso dizer que o resultado ficou sensacional, afinal , estamos falando daquele que foi o melhor "substituto" de Ace no Kiss, não é mesmo. Nada melhor do que dois excepcionais guitarristas para homenagear o maior de todos! Pra encerrar temos "Kicks" de Paul Revere and the Raiders e "We Gotta Get Out of This Place" do The Animals. Mas o verdadeiro final vem com a faixa bônus:: "She", originalmente gravada pelo... Ah vocês sabem!

ORIGINS VOL. 2 é levemente superior à primeira parte, ainda que nesta última, tenha acontecido a fantástica participação de Paul Stanley. Muito mais do que apenas prestar uma homenagem à seus ídolos, ACE FREHLEY continua mostrando que ainda é um verdadeiro rocker, no melhor sentido da palavra. Agora, nos resta esperar pelo próximo álbum de inéditas que, segundo o próprio guitarrista já está em fase final de gravação.

Sergiomar Menezes









 





quarta-feira, 16 de setembro de 2020

BRAZIL ROCK CITY... THE BRAZILIAN TRIBUTE TO KISS (2020)

 


Seja você fã do KISS ou não, uma coisa é inegável: poucas bandas tem a importância que esses quatro mascarados (ou não) possuem na história do rock. Desde sua fase inicial, passando por todos os modismos que a banda acabou abraçando durante toda a sua vitoriosa carreira, todo fã de rock gosta, pelo menos de uma música do grupo. E, falo com propriedade, pois ao conversar com muitos artistas do metal nacional, cheguei a conclusão de que se não fosse a vinda do grupo ao Brasil em 83, a cena do rock/metal brasileira não seria a mesma. Talvez viesse a ocorrer de forma diversa, mas não teria o mesmo impacto. E se Stanley, Simmons, Frehley e Criss iniciaram tudo isso (sem desmerecer todos os outros músicos que já pintaram a cara ou não que passaram pela banda) têm toda essa importância, nada mais justo que um tributo brasileiro para reverenciar esse gigante do rock mundial. E, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que BRAZIL ROCK CITY... THE BRAZILIAN TRIBUTE TO KISS é o melhor trabalho nesse formato já realizado em todos os tempos. 

O selo Armadillo Records (subsidiário da Secret Service Records) virou referência quando o assunto é trabalho nesse formato. Black Sabbath, Motorhead, AC/DC, Deep Purple... A lista vai crescer ainda mais, pois já existem novos trabalhos sendo anunciados. Com uma ótima qualidade, tanto de produção como na arte gráfica, o álbum duplo merece todo elogio a ele direcionado, tamanho o cuidado e empenho em colocar no mercado algo tão completo como este tributo. São 21 faixas distribuídas por todas as fases da banda e traz grupos dos mais variados estilos, o que acaba comprovando ainda mais a importância e relevância do grupo. Mas vamos ao que interessa!

"Heaven's on Fire", clássico de "Animalize" (1984), ganhou uma versão totalmente thrash metal executada pela banda Valvera. E o mais legal é que apesar da faixa vir numa linha diferente daquela que se tornou histórica, a música não perdeu sua essência. Ou seja, começamos muito bem! "Lick it Up" do álbum homônimo (1983), ficou a cargo do Motorbastards, que deu à faixa um ar totalmente Motorhead. Bom, não era de se esperar outra coisa, não é mesmo? Já "Psycho Circus", faixa também homônima do, amado por uns e odiado por outros, álbum de "retorno" da banda (1998), foi executada pelo grupo Ossos Cruzados. Mais rápida que a original, a composição também ganhou um dose extra de peso. A banda Soul Factor ficou com a responsabilidade de trazer "Strutter" faixa de abertura do primeiro álbum do grupo, "Kiss" (1974) e apresentou um Heavy/Thrash de responsa, que ficou um pouco aquém pela produção destoar um pouco das demais faixas. Mas a garra dedicada pela banda compensou esse pequeno "defeito". Já "Tough Love", faixa de um dos álbuns mais pesados do Kiss, o excelente "Revenge" (1992) ganhou uma versão completamente pessoal da banda Zenite, pois o que temos aqui é um Thrash/Death que deixará o nosso querido "Demon" orgulhoso, afinal, parece que a missão foi cumprida com sucesso! 

"God of Thunder", outro momento memorável, presente no álbum "Destroyer" (1976) surge numa versão totalmente arrasa quarteirão, num Thrash Metal forte e direto. O que não é nenhuma novidade, uma vez que estamos falando da clássica banda gaúcha Leviaethan, capitaneada pelo mestre do metal gaúcho Flávio Soares. E mais uma vez "Revenge" aparece, dessa com vez "Unholy", numa versão pesada, rápida e bem diferente da original, cortesia do grupo Chaos Synopsis. E o clássico dos clássicos ganhou uma versão um pouco mais suja e crua mas com um clima totalmente rock n' roll, como a música pede. Estou falando de "Rock n' Roll All Night", hino máximo presente em "Dressed to Kill"  (1975), executado com uma pegada despojada e enérgica pelo grupo Bella Utopia. O thrash/death do Drowned dá as caras distribuindo peso e porrada em "Stole Your Love", faixa de "Love Gun" (1977). Como em grande parte do trabalho, os mineiros imprimiram sua personalidade na faixa sem que a mesma ficasse descaracterizada. E isso faz toda a diferença! Seguindo no mesmo álbum, os gaúchos do Carniça trazem uma versão pesada, brutal e agressiva de "Love Gun". Soa até engraçado os vocais guturais no refrão da faixa... Entendedores, entenderão (risos). Por falar em peso, é exatamente isso que o Sextrash apresenta em "Exciter", presente no já citado "Lick it Up". E aqui cabe mais uma constatação: mais de 90% dos músicos do metal extremo mineiro com quem conversei disseram que o Kiss mudou suas vidas. E o grupo só vem a confirmar essa afirmação!

Quem não conhece o vocalista Mário Pastore? Sem dúvida um dos melhores e mais versáteis artistas do metal brasileiro não é mesmo? "I Love it Loud", faixa do excepcional "Creatures of the Night"  (1982) corrobora isso com exatidão. Se estamos acostumados com a voz de Pastore brilhando dentro do metal tradicional, aqui ele canta de forma mais rasgada, acompanhado da Pastore Band. E o grupo Rhasalon traz "Crazy Nites", numa versão mais simples, mas que ganha intensidade no refrão. O problema é que, na minha opinião, isso acabou tirando um pouco do brilho da faixa, uma vez que essa parte parece ter perdido um pouco da característica. Mas o solo acaba compensando de forma certeira. E o Black Metal se faz presente com o Patria. Para minha surpresa, a banda apresenta uma versão de "Detroit Rock City" presente em "Destroyer", fiel à original, até o momento do solo. Ah, que versão foda pra caralho! Personalidade e brutalidade acima de tudo! "Fits Like a Glove", de "Lick it Up" vem com a Ancesttral  numa pegada Rock/Thrash cheia de energia e com aquele clima "totalmente Kiss". Desconfio que isso seja coisa do vocalista//guitarrista Alexandre Grunheidt. Mas só desconfio...

O álbum "Hotter Than Hell" (1974) se faz presente com "Watchin' You", executada pela banda Chemical Disaster. Mantendo a linha da versão original, o grupo incorporou um pouco mais de peso, além do vocal já característico. A balada "Forever" de "Hot in the Shade" (1989) surge pela banda Ignispace, numa versão que, num primeiro momento, pode causar certo desconforto por alguns "barulhinhos" que aparecem no início da faixa. Mas nada que venha a atrapalhar a bela interpretação do grupo, principalmente da vocalista Larissa Zambon. "Hotter Than Hell" volta à tona com "Firehouse" numa bela versão hard n' heavy do grupo Attrachta. Engana-se quem pensa que o Punk/HC não estaria presente. A banda Tumulto, uma das mais importantes do estilo no Brasil, se faz presente com uma versão de "War Machine", um dos tantos clássicos presentes em "Creatures of the Night". Pesada e com um pé no Thrash, a faixa tem uma pegada mais crua, mas nem por isso deixa de soar vigorosa! Já o Thrash Metal do Hicsos surge numa versão suja e pesada de "Deuce". Mas a produção acaba fazendo com que  afaixa perca um pouco da sua intensidade. E o encerramento vem com um dos mais lendários nomes do Thrash Metal brasileiro, o Taurus. "World Without Heroes", faixa de "Music From The Elder" (1981) ganhou peso e uma levada cadenciada e densa, dando uma nova cara à composição.

Não há dúvidas de que estamos diante do maior e melhor tributo ao KISS já lançado em todos os tempos. Obviamente que, como fã, a gente sempre vai achar que faltaram faixas, que outras bandas poderiam participar mas, se fosse dessa maneira, o trabalho seria triplo, quadrúplo, etc... Seja você fã do grupo ou não, BRAZIL ROCK CITY... THE BRAZILIAN TRIBUTE TO KISS é uma ótima forma de adentrar o universo da banda mais quente do mundo!

Sergiomar Menezes





terça-feira, 15 de setembro de 2020

AS THE PALACES BURN - ALL THE EVIL (EP) (2020)

 


Muitas bandas, após lançarem seus trabalhos de estréia, acabam criando muitas expectativas sobre seu futuro e, principalmente, sobre sua música. No entanto, muitas vezes, tais perspectivas acabam não se confirmando, seja por mudanças de direcionamento, seja pela falta de profissionalismo em administrar sua carreira, ou seja por motivos diversos. Mas também, tantas outras conseguem, não apenas confirmar essas expectativas, como também despertam no ouvinte a sensação de que, apesar da excelente qualidade apresentada, a busca pela excelência não precisa parar. E, felizmente, esse é o caso da banda AS THE PALACES BURN. Seu mais recente trabalho, o EP ALL THE EVIL, vem, não apenas para confirmar aquilo que a banda apresentou em End'evour, seu primeiro álbum lançado em 2019, mas para mostrar que quarteto possui uma musicalidade muito acima da média e que sabe exatamente como e onde quer chegar.

Alyson Garcia (vocal), Diego Bittencourt (guitarra e vocal), André Schneider (baixo) e Gilson Naspolini (bateria) apresentam em ALL THE EVIL, duas faixas inéditas e mais cover. E se no álbum de estréia foi o momento de homenagear o Rei Diamante, dessa vez a turma de Jon Oliva foi a escolhida, num justo e merecido reconhecimento a importância do Savatage. Produzido pela própria banda no Estúdio IMGN em Criciúma/SC, o EP foi mixado e masterizado por Adair Daufembach (Hibria, Project 46, Angra, Semblant, entre outros) e teve a arte de capa assinada pelo renomado Marcelo Vasco (Slayer, Kreator, entre outros). Segundo Diego Bittencourt "...pensamos em contar nas letras os acontecimentos que antecederam o álbum de estréia e que foram muito bem retratadas na arte de capa. Em termos instrumentais, foi possível estabelecer a sonoridade característica da banda que, nos próximos registros, estará ainda mais evidente". 

"All the Evil" faixa que dá nome ao EP é a primeira e mostra que a banda conseguiu, neste curto espaço de tempo, agregar uma pegada um pouco mais pesada a sua sonoridade. Diego imprime uma dose extra de agressividade nos riffs, enquanto a cozinha formada por André e Gilson mostra um entrosamento perfeito. Aliás, é necessário dizer: Gilson é um puta de um baterista! O cara consegue aliar peso, técnica e versatilidade como poucos ao sentar a mão sem piedade em seu kit. Somado a isso, Alyson conseguiu impôr uma maior naturalidade à sua voz, navegando com muita facilidade entre o agressivo e o melódico, moldando ainda mais sua personalidade. Há influência de metal tradicional, thrash, até mesmo pequenas passagens death metal (ainda que mínimas), o que colocadas lado a lado, moldam a identidade da banda. "Nothing Lasts Forever" apresenta uma estrutura semelhante, mas carrega um pouco mais de peso, onde mais uma vez, Gilson ganha destaque. A sonoridade moderna do quarteto ganha um espaço mais vigoroso, no entanto, em alguns momentos, alguns ritmos brasileiros (mais próximos do que o Angra fazia) aparecem criando uma atmosfera ainda mais interessante. Pra encerrar, "Hall of the Mountain King", um tributo ao Savatage, numa versão honesta e com uma interpretação inspirada de Alyson.

ALL THE EVIL, mesmo sendo um EP, mostra que pouco mais de um ano após o álbum de estréia, o AS THE PALACES BURN não parou no tempo, arregaçou as mangas (apesar da pandemia) e nos entregou um trabalho que peca apenas por conter três faixas. Mas coo escrito lá no começo do texto, a banda nos deixou numa expectativa de que virá algo ainda mais poderoso em um trabalho vindouro. Nos resta apreciar o que temos e aguardar ansiosos pelo que vem pela frente. Com foco na música e sabendo como conduzir sua carreira, o ATPB tem tudo para figurar  entre os grandes do metal nacional.

Sergiomar Menezes 






quinta-feira, 3 de setembro de 2020

KREATOR - LONDON APOCALYPTICON - LIVE AT THE ROUNDHOUSE (2020)

 


O que dizer de um álbum ao vivo do KREATOR? Quem já teve a oportunidade e o privilégio de assistir o quarteto alemão em cima do palco sabe muito bem o que esperar: Peso, agressividade, técnica e muita, mas muita fúria e violência! Próximo de completar 40 anos de carreira, o grupo liderado por Mille Petrozza decidiu que era o momento de encerrar este ciclo de sua trajetória com um petardo ao vivo. LONDON APOCALYPTICON - LIVE AT THE ROUDHOUSE, gravado em 2018 na lendária casa londrina, chega ao Brasil através da parceria Shinigami Records/Nuclear Blast e comprova que o grupo, quando se fala em shows, continua como um dos maiores do estilo!

O já citado Mille (vocal e guitarra), Sami Yli-Sirniö (guitarra), Christian "Spessy" Giesler (baixo) e Jürgen "Ventor" Reil (bateria) não deixaram pedra sobre pedra ao proporcionarem ao público londrino 17 faixas executadas com perfeição (ok, todos sabemos como funcionam a maioria dos discos ao vivo hoje em dia) e que escancaram que poucas bandas conseguem se sentir tão à vontade no palco como eles. Além disso, todos sabemos que nos últimos anos o KREATOR vem dado um espaço maior à melodia em sua música, mas nem por isso deixa de imprimir peso, brutalidade e muita disposição, apesar de longo tempo de carreira. O resultado é um show que, nas palavras do próprio Mille "é o melhor lançamento ao vivo do Kreator em todos os tempos!". Não sei se consigo concordar com tal afirmação, mas que é um puta de um álbum ao vivo de Thrash Metal, ah... Isso é!

Impossível ficar indiferente à tantos clássicos absolutos do estilo como "People of the Lie", uma das faixas que nunca podem faltar em um show do grupo e que parece ficar melhor com o passar do tempo, "Phobia", que tem uma letra cada dia mais atual, "Flag of Hate", um hino, assim como a emblemática "Pleasure to Kill", que transporta o ouvinte para a época em que o Thrash Metal era feito com muito mais sangue nos olhos. Ao lado delas, músicas que ganharam esse mesmo status apesar do "pouco tempo" de vida, como por exemplo "Enemy of God" e "Violent Revolution", faixas que trouxeram o Kreator novamente para um momento mais voltado às suas características. E o que dizer de  "Phantom Antichrist", "Gods of Violence", uma das melhores faixas gravadas pela banda nos últimos tempos, "fallen Brother", "Satan is Real" e "Hail to the Hordes"? Simplesmente uma destruição total!

Apesar da afirmação de Mille, eu particularmente, não sei dizer se LONDON APOCALYPTICON - LIVE AT THE ROUNDHOUSE é o melhor registro ao vivo do KREATOR. Mas confesso que a cada nova adição me aproximo mais dessa opinião. Obviamente que faltam muitos clássicos, o que torna essa escolha mais difícil. Mas, no final das contas, estamos diante de um álbum ao vivo de excelente qualidade de uma das mais importantes bandas de todos os tempos! 

Sergiomar Menezes







HARD:ON - BAD HABITS NEVER DIE (2019)

 


Se no primeiro trabalho, auto intitulado, em 2016, o grupo HARD:ON já deu mostras que vinha para ficar, em BAD HABITS NEVER DIE, lançado pela Shinigami Records, ele só retificou aquilo que todos os fãs de Hard Rock já sabiam: trata-se de uma grande banda do estilo. Poucas bandas conseguiram alinhar de forma tão eficiente a sonoridade dos anos 80 com uma pegada mais atual. Também, esperar o quê de uma banda onde o vocalista traz influências do metal/industrial, o guitarrista tem a veia Hard Rock explícita, o baixista agrega uma linha mais Thrash Metal e o baterista carrega a classe e elegância de Jazz? Mas nada disso seria suficiente se a música feita pelo grupo não fosse empolgante e criativa. E é exatamente isso que ouvimos neste novo trabalho.

Chris Hoff (vocal, teclados), Alex Hoff (guitarra, baixo, teclados, percussão e backing vocals), Ricardo Bolão (baixo e backing vocals) e Daniel Gohn (bateria, percussão e backing vocals) produziram o álbum ao lado do produtor José "heavy" Luís Carrato (SP Metal, Ratos de Porão, A Chave do Sol, Camisa de Vênus). E a  sonoridade apresentada mostra bem que o objetivo da banda foi mais uma vez alcançado com louvor, ou seja, mesclar o som do Hard/Heavy dos anos 80 com uma linha moderna e atual. Enquanto a parte instrumental foi gravada no Rock Studio, em São Paulo, as vozes foram registradas no Cubic Sun Studios, em Berlim, na Alemanha. E ao ouvirmos o trabalho, percebemos que as influências de Ratt, Mötley Crüe, Kiss, Gotthard, Def Leppard e, porque não, Iron Maiden, continuam lá, mas deixando a personalidade da banda fluir por si só.

A faixa título abre o play de forma pesada, com os riffs de Alex inspirados na dupla Warren DeMartini/Robin Crosby, mostrando que a melhor fase do estilo inspira a s seis cordas do grupo de forma contundente. Ainda, podemos afirmar que a cozinha garante uma base sólida e densa, deixando Chris livre para explorar seu timbre que é bem próprio para a sonoridade do quarteto. "Catwalk" tem uma abordagem mais atual, mas traz aqueles backing vocals típicos, lembrando uma das características do Gotthard. A diferença é que a guitarra do Hard:On soa mais pesada, cortesia do background Hard/Heavy de Alex. Outro momento "pesado" é "Dr. She", onde Ricardo e Daniel capricham no peso, comprovando que a versatilidade dos músicos é um dos fatores preponderantes para a qualidade técnica e criativa da música da banda. E tome Hard 80's em "Touchdown", com a participação dos guitarristas HP Elliot e Jorge Rossi, é um momento de nostalgia sem perder a veia atual. E vale dizer: essa é uma das tantas virtudes apresentadas pelo grupo, uma vez que consegue mesclar bem essas duas nuances.

"Sunset Drive" traz uma atmosfera mais melódica, abrindo espaço para um solo inspirado de Alex. Essa faixa também conta com a participação de HP Elliot, e além de mais melódica, tem momentos mais voltados aos riffs Hard/Heav, pendendo mais para esse último. Enquanto isso, "Open Your Eyes" apresenta uma atmosfera mais "rocker", até mesmo mais festiva, aproximando-se do Kiss dos anos 80, enquanto que "Kings of the Pit" mantém a mesma característica, mas de uma maneira diversa, pois as guitarras têm algo de Def Leppard. O peso volta a dar as caras em "Two to Tango", onde mais uma vez, a dupla Ricardo e Daniel ganham protagonismo. Mas isso não impede que as seis cordas guiem a faixa para a voz de Chris demonstrar sua versatilidade. O encerramento vem com "Life", uma bela balada, o que não pode faltar em um disco de Hard Rock que se preze.

BAD HABITS NEVER DIE é o segundo trabalho do HARD:ON e vem para comprovar e reafirmar que o grupo está entre os grandes nomes do cenário nacional. Guitarras inspiradas, belas melodias, vocais muito bem trabalhados e uma base sólida fazem deste álbum um registro a a ser ouvido por todo fã de Hard Rock! ROCK ON WITH HARD:ON!

Sergiomar Menezes




terça-feira, 1 de setembro de 2020

CHAOSFEAR - BE THE LIGHT IN DARK DAYS (2020)

 


Enquanto muitos ainda insistem em reclamar do cenário nacional, outros arregaçam as mangas e vão à luta! E um dos grandes exemplos disso é a banda paulista CHAOSFEAR. Praticando um Thrash Metal atual, mas não esquecendo de suas raízes, o quarteto conseguiu mesclar toda a fúria de sua música a alguns momentos que guardam uma proximidade com o Death Metal. Mas não pense que isso modificou aquela pegada característica do grupo, pois as guitarras "Bay Area" continuam presentes! E a prova viva desta afirmação é BE THE LIGHT IN DARK DAYS, novo álbum da banda, recentemente lançado.

Fernando Boccomino (vocal e guitarra), Eduardo Boccomino (guitarra), Marco Nunes (baixo) e Fábio Moysés (bateria) entraram em estúdio dispostos a superarem aquilo que haviam feito no EP Legacy of Chaos (2012).  Produzido pelo baixista Marco, que também mixou o álbum ao lado de seus companheiros de banda, o trabalho foi masterizado por Paulo Anhaia. E, é preciso que seja destacado: a sonoridade ficou brutal e ao mesmo tempo cristalina, uma vez que é possível ouvir todos os instrumentos com total nitidez. E está tudo no lugar, desde aqueles riffs típicos do thrash, àquelas palhetadas abafadas, o vocal que mostra uma ótima variação em diversos momentos do trabalho e uma cozinha entrosada e afiada. Pronto! Estamos diante de um dos grandes lançamentos nacionais de 2020.

"Be the Light in Dark Days", a faixa título abre o trabalho com um refrão bastante diferente, com uma atmosfera mais moderna. O peso que as guitarras dos irmãos Boccomino imprimem é brutal e ganha a companhia de uma dupla (Marco e Fábio) que sentam a mão sem piedade deixando tudo num alto nível de agressividade. O interessante é que o baterista, em conversa com este que vos escreve, disse que sua escola é o Hard Rock! O que comprova que um músico de verdade não deve impôr limites aos seus conhecimentos. "A New Life Ahead" vem na sequência e mostra uma pegada mais cadenciada, mas bastante pesada, alterando momentos mais intensos, principalmente na hora do refrão, onde mais uma vez a produção soube valorizar a execução de todos os instrumentos. Fernando canta de forma direta, sem muitas invenções, mesmo que em algumas passagens seu vocal apareça de forma mais limpa. Em seguida, os primeiros segundos de "Cold" criam a impressão que estamos ouvindo um single esquecido do Soundgarden lá do período grunge da história. Mas dura pouco, pois logo as guitarras surgem criando uma parede de riffs que impressionam. Com certeza, a faixa mais "diferente", mas nem por isso menor, do trabalho.

"From the Past" é outro momento digno de nota, pois mostra que o Thrash do grupo procura se atualizar ao incorporar elementos mais atuais, mas nada de passagens pula pula, ou barulhinhos de samplers. Os elementos aos quais me refiro remetem à produção, que deixou a timbragem das guitarras próximas desse tipo de sonoridade. "Mindshut" é aquele Thrash típico, próprio pro mosh, onde, muito provavelemente, as chances de sair vivo são remotas, tamanha a violência dos riffs que emanam das guitarras. Na minha opinião, o maior destaque do trabalho, ao lado de "The Hand That Wrecks the World", outra pedrada. O interessante aqui é que em alguns momentos, essa faixa me lembrou os momentos mais antigos e agressivos do Soilwork! O encerramento (sim, o álbum possui apenas 07 faixas) vem com "The Alliance", que feca o trabalho num alto nível de brutalidade, comprovando que a experiência dos músicos envolvidos só poderia resultar num CD recheado de grandes músicas!

BE THE LIGHT IN DARK DAYS retoma a carreira de um dos grandes nomes do Thrash Metal brasileiro. O que a gente espera é que o CHAOSFEAR não demore mais tanto tempo para lançar um trabalho! Stay Thrash!

Sergiomar Menezes





GRAVE DIGGER - FIELDS OF BLOOD (2020)

 


Poucas bandas possuem uma discografia tão vasta quanto o GRAVE DIGGER. Talvez seja coincidência, mas outras bandas que também possuem essa característica são o Running Wild e o Rage. Coincidentemente (ou não), ambas são alemãs. Mas isso não vem ao caso. O que importa aqui é dizer que FIELDS OF BLOOD, 20° álbum dos quarteto alemão, lançado pela Napalm Records, é mais uma grande mostra da qualidade e relevância do grupo dentro do Heavy Metal. E por mais que muitos tem a ousadia de dizer que a banda muitas vezes se repete, a verdade que eles criaram seu próprio estilo, seja pelos vocais bastante peculiares de Chris Boltendahl, seja pelas incursões épicas que muitas vezes aparecem de forma contundente em diversos momentos.

Além do vocalista, completam o grupo o guitarrista Axel Ritt, o baixista Jens Becker e o baterista Marcus Kniep. Juntos, eles conseguiram manter a tradição de criar faixas marcantes, seguidas de refrãos épicos e muita paixão por aquilo que fazem. Não à toa, como dito anteriormente, o grupo já rompeu a casa das duas dezenas de álbuns de estúdio, algo que só vem a comprovar tal afirmação. FIELDS OF BLOOD também marca os 40 anos de carreira dessa verdadeira lenda do metal mundial. Num primeiro momento, o álbum nos remete à Tunes of War (1996), Knights of the Cross (1998) e  Excalibur (1999), mas existem elementos de todas as fases da banda. Com uma ótima produção e uma capa belíssima, o álbum agradará não apenas os fãs, mas também os amantes daquele Heavy Metal germânico clássico.

"The Clansman's Journey" é uma introdução guiada por uma gaita de fole e nos prepara para "All For the Kingdom", uma faixa pesada, rápida e com todas as características que sempre permearam a carreira do Grave Digger. Baixo e bateria marcantes, mostrando um ótimo entrosamento entre Jens Becker e Marcus Kniep, o que de explicita que a escolha deste último foi acertada. Boltendahl continua com seu timbre rasgado, mas já podemos perceber uma certa variação em sua voz, o que acaba deixando tudo mais pesado e intenso. Na sequência, "Lions of the Sea", faixa que ganhou videoclipe, traz aqueles vocais clássicos aliados a backing muito bem encaixados, criando uma atmosfera épica e criativa no refrão. Axel Ritt capricha num solo técnico e versátil, pois a melodia presente aqui casou perfeitamente com a estrutura dos arranjos da faixa. Já "Freedom" é uma faixa totalmente Heavy metal, com uma pegada bem tradicional, onde mais uma vez, Becker e Kniep se destacam, garantindo peso e sustentação para os riffs elaborados de Axel. Carregada de peso e com uma dose extra de feeling, "The Heart of Scotland" traz uma levada mais cadenciada, o que faz com que Boltendahl mostre que a passagem do tempo pouco afetou sua voz.

Com a participação da vocalista Noora Louhimo (Battle Beast), "Thousand Tears" é um dos destaques, uma vez que se mostra uma faixa intensa e com um clima de balada épica, num contraste de vozes muito interessante. O Heavy metal tipicamente Grave Digger volta a dar as caras em "Union of the Crown", com destaque para Axel, que imprime sua marca nestes seus mais de 10 anos empunhando as seis cordas do grupo alemão. Outro grande momento é "My Final Fight", com aqueles riffs cavalgados, bem próximos do metal tradicional. Aliás, quando falamos em metal tradicional, é necessário diferenciar do britânico do alemão, uma vez que este último sempre soou mais cru, mesmo que em muitas vezes, também soe épico. "Gathering of the Clans" apresento momentos pesados, mas em seu refrão traz a identidade do grupo, algo construído ao longo desses 40 anos de carreira. Por outro lado, "Barbarian" carrega uma linha mais voltada pro Hard/Heavy, algo também bastante explorado pela banda durante sua existência. 

A faixa título, com seus mais de 10 minutos, inicia com a tradicional gaita de fole, e vai ganhando um ar épico e dramático durante sua execução. Com variações durante vários momentos, "Fields of Blood" é uma espécie de sintetização de tudo que o Grave Digger foi, é e sempre será para os fãs de Heavy Metal: uma banda com personalidade e que sabe como fazer sua música. O vocalista mostra uma versatilidade interessante, pois as passagens mais "limpas" de sua voz chegam até mesmo a surpreender, pois isso não é algo usual. O encerramento vem com "Requiem for the Fallen", uma faixa instrumental que traz uma bela e suave melodia.

FIELDS OF BLOOD é um álbum forte, intenso e verdadeiro. Com uma discografia extensa e bastante uniforme (obviamente que existe uma exceção... risos), o GRAVE DIGGER mostra sua relevância para os dias atuais, fazendo sua música de foram constante. Que essa chama e paixão pelo HEAVY METAL não acabe tão cedo!