O Brasil, não me canso de repetir, é um país estranho. Sem entrar no mérito da discussão política e me atendo apenas à questão musical, é perceptível que não temos uma noção exata da qualidade e capacidade criativa das bandas que temos nesse maltratado país. Enquanto procuramos grandes bandas lá fora, muitas vezes acabamos nos esquecendo de olhar para o próprio umbigo e deixamos de apreciar grupos que mostram muito mais qualidade que várias bandas gringas idolatradas por aqui. E, com a mais absoluta certeza, podemos encaixar o quarteto FACES OF DEATH nessa descrição. E ainda, a prova concreta e irrefutável dessa afirmação chama-se FROM HELL, lançado em 2018 pelo grupo paulista.
Praticando um Thrash metal vigoroso e influenciado pelo Sepultura (aquele que dava gosto em ouvir), o grupo é formado por Laurence Miranda (vocal e guitarra), Felipe Rodrigues (guitarra), Sylvio Miranda (baixo) e Sidney Ramos (bateria) e nos apresenta aqui 09 faixas repletas de ótimos riffs, pesados e sujos, mostrando que o Thrash Metal vai muito bem aqui pelas terras tupiniquins. O trabalho tem tanto destaque que figurou aqui, na lista de melhores do ano do blog, sem nem ter sido resenhado no ano passado. Mérito todo do grupo, que sabe como poucos encaixar suas influências sem perder sua personalidade agressiva e brutal. O álbum foi produzido pelo próprio grupo em parceria com Friggi Mad Beats, que também ficou responsável pela mixagem, enquanto que a masterização se deu no Absolute Master. A capa e arte gráfica ficaram sob a responsabilidade de Raphael Gavrio.
O álbum abre com "Priest From Hell", uma pedrada dona de riffs absurdamente brutais e sujos, que possui uma variação de andamento perfeita, mostrando a versatilidade do grupo, que apesar do Thrash Metal na veia, não se prende a nenhuma limitação pré-estabelecida. Chega até mesmo a ter momentos com certo groove, o que vem a corroborar o que foi escrito anteriormente. E "I Am the Face of Death", o clima soturno inicial dá lugar á um bate estaca violento, com uma pegada mais próxima, em alguns momentos, do death metal, mas sem exageros, pois a raíz thrash do grupo permanece intacta. Cabe destacar a ótima performance do guitarrista Felipe nessa faixa. Em seguida, "New World Order", entra com os dois pés na porta, numa brutalidade e agressividade extremas, carregadas de ódio e violência, como poucas vezes executadas no álbum, Não que o restante não possua essas características, pelo contrário. Mas aqui, elas assumen uma proporção gigantesca. "Fuck Human Gods" traz um pouco do groove de volta, mostrando a influência que o grupo fundado pelos irmãos Cavalera exerce na música da banda.
"Human Race", com guitarras nervosas, traz um ótimo trabalho da cozinha compsita por Sylvio Miranda e Sidney Ramos (baixo e bateria, respectivamente). A base pesada criada por ambos deixa tudo mais 'Fácial" para as guitarras de Laurence e Felipe. Assim com em "Brainwash", outro petardo, com pitadas de death metal contrabalanceadas pelo groove característico da personalidade da banda. Mas deixo claro que quando falo "groove" me refiro ao contexto em que ele se apresenta e se encaixa, ok? Dito isso, "Face the Enemy" se mostra outro grande momento do álbum, onde os vocais de Laurence acabam se destacando pela agressividade que o vocalista impõe ao longo da execução da faixa. A porrada " Anno Domini" antecede o encerramento, que se dá de forma grandiosa com a pedrada na orelha " King of Darkness", um thrah/death que deixará seu pescoço completamente destruído.
Como dito anteriormente, FROM HELL foi um dos melhores trabalhos lançados por uma banda nacional no ano passado. Mostrando uma banda competente, vigorosa e muito, mas muito pesada, o álbum escancara a qualidade das bandas brasileiras que, na maioria das vezes, acabamos deixando passar por aquele velho e ultrapassado complexo de viralatas que, infelizmente, ainda carregamos. Deixa essa besteira de lado e vá atrás do FACES OF DEATH. Uma banda que, se seguir nesse ritmo, lolo estampará capas de revistas da mídia especializada. E com todo o merecimento!
Sergiomar Menezes
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