ORPHANED LAND - UNSUNG PROPHETS & DEAD MESSIAHS (2018)
Shinigami Records/Nuclear Blast Records
Banda
na atividade desde 1991, passou por várias alterações na sua formação desde que
iniciou sob o nome de Resurrection (até 1992), mas sempre manteve o foco máximo
da inspiração nas criações para os álbuns. Originada em Tel Aviv (Israel), a
banda discorre suas melodias inspirada pela cultura religiosa do Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo. Claro que essa inspiração, algumas vezes, também se
dá ao direito de criticar atitudes originadas dessas religiões. Mas o que é
inegável é a percepção de todo desse clima mediterrâneo na sonoridade da banda.
Muito peso, velocidade, pegada, mas com um semblante de oriente médio nas
melodias. Certamente esses elementos não estão juntos pela primeira vez em uma
banda, mas cabe dizer que Orphaned Land encontrou o caminho de tornar a mescla
desses elementos, originais na sonoridade das suas músicas.
Assim
veio a este mundo o Unsung Prophets & Dead Messiahs (2018). Não é somente
mais um Full-length da banda, o disco é
um manancial cultural de onde vertem os mais impressionantes versos fraseados
sobre vida e morte, amor e ódio, o possível e o impossível, a relação de amor e
ódio entre o permitido e o proibido. Unsung Prophets procede o All is One
(2014), que em seu lançamento trouxe igual euforia para o cenário metal. All is
One trouxe uma música que falava sobre a mundialmente conhecida, trégua entre
os inimigos na noite de Natal, durante a primeira guerra mundial em 1914. Tudo
isso para introduzir a grandeza da bolachinha que antecedeu ao Unsung Prophets.
E qual não foi a certeza em perceber que o disco de 2018 trouxe uma igual (ou
superior) qualidade, emoção e entrosamento da banda. Além disso, Unsung
Prophets & Dead Messiahs também conta com um line up de convidados
impressionante. Um total de 45 convidados entre vocal convidados, Backing
vocalistas e coro (para edição dupla). E muito alinhado com o estilo musical da
banda, Orphaned Land não deixa passar batida oportunidade de tecer algumas
críticas, em suas músicas, sobre alguns costumes ou a ortodoxia das tradições
locais, onde a banda surge. Feita essa apresentação, agora é hora de comentar
sobre o disco e suas características.
Unsung
Prophets & Dead Messiahs (2018) vem ao nosso encontro cheio de informação,
cheio de cultura e algumas denúncias, como falado anteriormente. Mas não vem só
com esses elementos. Também apresenta uma banda completamente coesa, vibrante e
sons construídos com melodias inacreditáveis. Ainda que categorizada como uma
banda de Doom/Death por alguns veículos, o disco de 2018 também apresenta
algumas canções com uma riqueza Folk impressionante. Falaremos adiante.
O
disco abre com “The Cave”, um compendio complexo cursivo sobre a os
questionamentos que rondam o credo religioso. E não só do credo religioso de
Abraão, se a mente estiver aberta para interpretação, são questionamentos e
anseios que podem ser aplicados em qualquer crença religiosa. Palavras da
sabedoria, humanismo e humanidade, orquestrados sob uma linda melodia que te
transporta ao oriente médio. Sonoridade que te faz sentir o grão de areia na
pele, o cheiro da carne de carneiro ao molho de canela, é quase um bólido que
te transporta ao deserto. O disco todo segue esse clima de uma grande
experiencia de imersão cultural. E se eu tivesse o poder de indicar algumas
obras sonoras, ao prêmio de Nobel da paz, certamente Unsung Prophets & Dead
Messiahs estaria no topo dessa lista.
“The Cave” recebe o ouvinte com um pouco
mais de 8 minutos que passam rápidos demais. A segunda faixa, bem mais curta e
com tempo dentro do normal, mergulha o ouvinte no cerne do que a banda sabe
fazer. Rápida e cadenciada, “We Do Not Resist” o vocal de Korbi Farhi deixa
clara a razão de a banda estar listada entre os gêneros Doom e Death
Metal. A terceira faixa traz o primeiro
ponto alto do disco. Chamada de “In Propaganda”, narra muito o estilo de vida
dos que se deixam levar pela palavra. Nem sempre isso é um sinal ruim, mas
muitas vezes “a palavra” (seja religiosa, da mídia, da sociedade, dos
influentes, etc.) conduz o ouvindo por um caminho de cegueira intuitiva. A
letra da música traz esse alerta embalada, mais uma vez, por uma melodia
construída com muito requinte cultural.
Yedidi
cantada na língua original dos integrantes da banda, toca mais uma vez no lado
espiritual da existência. O que, sem dúvida, é uma das características mais
marcantes de Israel:
“Then,
upon an orphaned land have I not chased after you?
("Então,
em uma terra órfã, eu não te persegui?)
Seir,
and Mount Paran, and Sinai, and Sin - my witnesses “
(Seir,
e Mount Paran, e Sinai, e pecado - minhas testemunhas")
“Chains
Fall to Gravity” desacelera um pouco o ritmo e quase busca referencias em Opeth
para se conduzir na execução. Pontuada com alguns elementos do metal
progressivo inclusive, é uma música que enriquece a audição do disco. Aqui
aparece o primeiro convidado especial, que talvez explique um pouco da presença
do progressivo no som. Ninguém mais, ninguém menos que Steve Hackett
(ex-Genesis). Falando em convidados, o próximo som do disco retrata outro
grande ponto alto do disco. “Like Orpheus” estonteante conta com a participação
de Hansi Kursh (Blind Guardian, Demons & Wizards) como vocal convidado. É
impressionante como a atmosfera da música se transforma nos contrapontos do
vocal metal do Hansi e em momentos que toda magia da ancestralidade dos mouros
se faz presente, através do vocal do Kobi Farhi. Se buscares pelo clipe, aviso
que talvez possa te encontrar nessas melodias. Conta um pouco sobre a vida
dupla de um headbanger. Pessoal “normal” durante o dia, banger a noite. O pano
de fundo do som, é essa duplicidade vivida, porém para metaleiros nascidos sob
uma cultura enraizada em tradições muito mais antigas. Outra personalidade que
aparece, também, é o Tomas Lindberg (AT THE GATES). Ele faz uma participação no
som “Only the Dead Have Seen The End of War”, que é pontual e cirúrgica.
O
fato, senhoras e senhores, é que Unsung Prophets & Dead Messiahs é um
grande apanhado cultural regional, de um local que emana toda uma aura de
mistério religioso (ou pela busca da legitimidade santa ou pelos conflitos
violentos dessa busca) e vale cada segundo da audição. Espero que esse texto de
faça pensar em ouvir o disco. Falo sem medo de errar:
-
Esse é daqueles discos que agrada, inclusive, quem não curte metal!
Uillian Vargas