sexta-feira, 30 de abril de 2021

ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL

 


O maior vocalista brasileiro de todos os tempos. Uma das maiores vozes do Heavy Metal mundial. Uma pessoa iluminada, que teve seus erros e acertos. É muito difícil definir ANDRE MATOS em pouca palavras. Mas Eliel Vieira e Luis Aizcorbe conseguiram em ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL, não apenas chegar nesta definição, como prestaram uma das mais belas homenagens que o saudoso vocalista recebeu após a sua trágica e inesperada morte. O livro, um trabalho de uma qualidade ímpar, lançado pela Editora Estática Torta, é um item obrigatório, não apenas para os fãs de Andre, mas para todo aquele que quer entender um pouco da história do Heavy Metal no Brasil. Uma leitura simples e fácil, recheada de fotos, links e curiosidades sobre a carreira da voz que marcou a vida de todo fã de metal no Brasil e no mundo.

O livro acompanha um pôster e um marcador de páginas que trazem a mesma foto da capa, que retrata de forma direta como era Andre Matos no palco: vibrante, emotivo e dono de uma entrega poucas vezes vista neste vasto e gigantesco mundo musical. E se a apresentação do livro já nos impressiona, o conteúdo não fica atrás pois retrata a vida do músico desde seu nascimento até o fatídico dia 08 de junho de 2019. Impossível não se emocionar com diversas passagens presentes no trabalho. E também, é preciso ressaltar, não se trata de uma biografia "chapa branca", pois mostra em diversos momentos que , apesar da genialidade, muitas vezes a personalidade de Andre era exposta de forma bastante incisiva. Ok, os gênios são assim, não é mesmo?

Com prefácio escrito por Tobias Sammet (Edguy, Avantasia), que dividiu o palco com Andre inúmeras vezes, o livro conta a história do vocalista desde sua infância passando por todos os momento que fizeram parte de sua carreira: primórdios do Viper, os dois álbuns gravados com a banda e sua saída, a formação do Angra, bem como todos os trabalhos lançados com o grupo culminando em sua conturbada saída do quinteto (juntamente com Luis Mariutti e Ricardo Confessori). Fala também sobre seu trabalho com Sascha Paeth no Virgo e demais participações especiais; a criação do Shaman e seu novo conceito, assim como os cds lançados. Também não poderia ficar de fora sua saída do grupo, o que gerou muitas especulações à época. E o livro, pelo menos para este que vos escreve, deixou bem claro um ponto muito, mas muito interessante com relação a saída de Andre, tanto do angra quanto do Shaman: a participação de uma figura bastante conhecida dentro de cenário do metal nacional. Obviamente que cada um poderá interpretar isso de uma forma diferente. Leiam e tirem suas próprias conclusões...

O livro aborda também tudo que envolveu a banda Andre Matos, que levou seu nome, mas que, segundo o próprio vocalista, era sim , uma banda, onde todos tinham voz. Há um capítulo para cada álbum, bem como para o Symfonia, a "mega" banda criada por Timmo Tolkki. O retorno do Viper também mereceu um olhar bem interessante, assim como a turnê comemorativa. Seguindo a ordem cronológica dos fato, temos a reunião do Shaman, o momento de sua morte e seu legado. 

Nos dois apêndices, temos as possibilitadas com relação a tão falada volta do Angra, que ganhou força principalmente depois da morte de Andre (?!) e "A Noite", um conto escrito e datilografado pelo próprio vocalista quanto este tinha apenas  anos de idade. Algo muito interessante e bastante especial, tendo em vista a idade na qual foi escrito, bem como é perceptível a capacidade criativa já naquele momento.

Talvez o único ponto que tenha ficado , se é que podemos dizer assim, faltando, foi a participação de Antônio Pirani, da Rock Brigade e empresário do Viper, Angra e que poderia dar sua versão dos fatos narrados no livro. Os próprios autores relatam que ele não quis participar, o que é um direito dele, apesar da insistência de ambos. Uma pena, já que Toninho foi um personagem fundamental na carreira do Andre...

ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL é um livro que vale cada centavo investido. Um trabalho de pesquisa, estudo e muita dedicação, conforme pode ser percebido já no primeiro contato que se tem com ele. Como escrito lá no começo, muitas fotos, matérias, links (através de QR codes) e informações que muitos ainda não tinham ou sabiam. Muito mais do que uma simples homenagem, o livro é um verdadeiro legado sobre a vida e a carreira do maior vocalista que esse país já viu e ouviu e que, dificilmente, verá surgir de novo. Parabéns aos autores e à ESTÉTICA TORTA pelo belíssimo trabalho.

Sergiomar Menezes





quinta-feira, 22 de abril de 2021

ENTREVISTA - THE TROOPS OF DOOM







Resgatar a sonoridade brutal e ríspida do death metal dos anos 80 com uma cara mais atual. Olhar para o passado sem esquecer do futuro. É assim que a THE TROOPS OF DOOM, banda formada por Jairo Guedz (ex- Sepultura, The Mist, Eminence) consegue passar sua musicalidade. Identidade, brutalidade e aquela pegada típica dos anos 80, misturadas à experiência dos músicos envolvidos (completam o time o vocalista/baixista Alex Kafer, o guitarrista Marcelo Vasco e o baterista Alex Oliveira), fazem de THE RISE OF HERESY um trabalho do mais alto nível! E não podia ser diferente, não é mesmo? Logo abaixo, Jairo expõe sobre a formação da banda, atual momento e projeta o futuro. 


Por: William Ribas

Fotos: Divulgação/ASE Press


Rebel Rock: A impressão que tive ao ouvir o Troops Of Doom foi a de que se tratava de um “dream team” que se dissolveu na década de 80 e que agora voltou às atividades. Como se deu a formação da banda?

Jairo Guedz: Na verdade, Alex Kafer e eu somos amigos desde os anos 80 e tentamos montar algum tipo de projeto juntos antes. O projeto inicial do The Troops Of Doom começou em 2015/2016, com Alex Kafer no baixo, Marcelo Vasco e eu nas guitarras e Stian Shagrath (Dimmu Borgir, Chrome Division) nos vocais. Porém, desde o início das conversas, Stian deixou claro que não poderia pegar a estrada em razão de seus outros trabalhos, que já eram muito requisitados. Achei melhor não fazer isso, já que desde aquele ano minha ideia era montar uma banda de verdade, com grandes parceiros e que todos pudessem se dedicar exclusivamente ao grupo. A intenção de ser uma banda/projeto de estúdio nunca me agradou, pois preciso da estrada para ser feliz. No ano passado, logo no início da pandemia, Alex me procurou para a gente tirar o projeto da gaveta e montar a banda. A vontade de fazer isso foi instantânea para mim e as ideias foram caindo no meu colo naturalmente e rapidamente. Chamamos Marcelo novamente e apresentei Alexandre Oliveira para eles - foi amor à primeira vista!


Rebel Rock: Seguir um direcionamento nostálgico foi algo que vocês já tinham em mente desde o primeiro instante?

Jairo Guedz: Sim, era a premissa da banda. Montar uma que teria como base de sustentação o estilo do death/thrash metal dos anos 80. Seria como se eu estivesse ainda no Sepultura naquele exato momento, entre 1987/88. Depois de um show que o Enterro (banda do Alex) fez abertura para o The Mist, minha ex-banda, ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de 2019, e subi no palco dos caras antes da minha apresentação com o The Mist, exatamente para fazer uma jam com eles, na qual tocamos 'Bestial Devastation', de minha autoria com o Sepultura, percebi que os vocais do Alex se encaixavam exatamente, e de forma muito harmoniosa, naquele estilo do 'Bestial', 'Morbid', etc. Alex tem um timbre vocal muito parecido com o Max lá dos anos 80, e isso tudo nos deu mais certeza de que era esse tipo de música que queríamos fazer.


Rebel Rock: Toda banda seja novata ou veterana, quando lança um trabalho acaba sentindo o tal friozinho na barriga. Como está sendo para vocês acompanhar essa repercussão tão positiva logo de imediato?

Jairo Guedz: A gente ficou super nervoso, e não me lembro de ficar tão nervoso antes em toda minha carreira como músico. Porém, à medida que foram chegando notícias, críticas e comentários nas redes sociais, a coisa ficou séria (risos). Mas, em contrapartida, também nos trouxe uma leveza muito grande e uma certeza de que estamos no caminho certo. Claro que o feedback tem sido muito bom para todos e nos dá forças para continuar, mas isso nos traz muita responsabilidade também. E é disso que precisamos: vontade de fazer e responsabilidade para fazer direito!


Rebel Rock: Muitos apontam e classificam “The Rise of Heresy” como sendo um álbum de Death Metal, mas ouvindo as músicas é possível perceber e identificar uma grande variedade de vertentes — do Thrash ao Black Metal com fortes referências de nomes como Kreator, Possessed, Celtic Frost e claro, Sepultura. Como foi o processo de composição do EP?

Jairo Guedz: Foi um processo como outro qualquer, porém, com um formato inédito para nós. A banda nunca se encontrou. Até hoje, um ano e um mês depois de ter sido formada, não nos encontramos. Não bastasse a pandemia, o Alex e o Marcelo moram em outros estados, bem longe de Belo Horizonte, onde moramos eu e o Alexandre Oliveira. A ideia foi colocar tudo que a gente tinha de riff e ritmos, harmonias, letras num grupo de whatsapp que serviria apenas para compor música. Depois de acertados os detalhes, a gente escrevia as letras junto com o Alex e fazíamos a métrica, os encaixes... A música foi tomando forma e cada um gravou em casa num estúdio digital e enviamos todo esse material para o Marcelo Vasco, que mixou tudo em casa. Depois de terminado, enviamos para o Øystein G. Brun (Borknagar), na Noruega (Crosound Studio), e ele finalizou com uma mix e uma master dentro dos moldes que a gente pediu: anos 80!


Rebel Rock: Falemos sobre as faixas. “Whispering Dead Words” começa como uma introdução densa que remete bastante às atmosferas dos filmes de terror antigos. Essa sensação cresce até culminar em uma seleção de riffs rápidos e letais. Uma música realmente brutal, mas que também apresenta alguns dedilhados de violão. Quão complicado é para o artista se desvencilhar de fórmulas e estruturas que já foram tão exploradas?

Jairo Guedz: Essa introdução do EP é uma orquestração feita sob medida para o The Troops Of Doom. Foi uma encomenda que fizemos ao Dave Deville, de Caxias do Sul/RS. Eu e Marcelo queríamos algo bem 'Hitchcockiano', suspense ao estilo dos filmes de sua época. Marcelo foi trazendo as primeiras ideias e eu coloquei alguns riffs ali... Alex e Alexandre deram palpites também, fizemos a métrica e Alex escreveu tudo nessa música – apesar de abrir o álbum, ela foi a última a ter um videoclipe nas redes. A gente não tem essa preocupação em sair fora ou fugir de um estilo tão explorado como o death/thrash metal dos anos 80. Acredito que por ser algo tão inerente aos anos 80, isso já significa que foi explorado até a 'última gota' e acabou evoluindo para outros estilos a partir dos anos 90 e 2000. No entanto, nossa finalidade nunca foi de criar algo novo, ou de trazer uma evolução daquele estilo para 2020, 20202... Não queremos descobrir o fogo, inventar a roda.  Nossa missão com o The Troops Of Doom é fazer exatamente o que foi feito naqueles anos e, principalmente, explorar mais o que poderia ter sido feito – no meus caso em particular, se eu estivesse no Sepultura após o Morbid Visions. É uma forma muito interessante de poder 'alterar' o passado sem mudar o futuro (risos).


Rebel Rock: Alguma ideia ou composição foi descartada justamente por não se enquadrar nessa lógica nostálgica. digamos que, por não possuir a fúria típica do death/black metal dos anos 80?

Jairo Guedz: Muita coisa pode sair de nossas cabeças e não estar 100% condizente com o nosso estilo, a nossa proposta. Isso acontece algumas vezes. Naturalmente, usamos alguma influência mais moderna (de forma não intencional) e logo que a gente escuta a gente sabe do que se trata, e substituímos o que for necessário. Mas como as minhas maiores influências, assim como as maiores do Alex e do Marcelo, principalmente, são pautadas nas mesmas bandas dos anos 80 que todos curtimos. Então, não é nenhum problema compor música na linha dos anos 80 como estamos fazendo agora. É natural!


Rebel Rock: As próximas; “The Between The Devil And Deep Blue Sea” e “The Confessional” são mais diretas, viscerais e sem muito rodeios. Sendo perfeitas para os shows, por entregarem aquela dinâmica e energia que pede por rodas violentas e “stage diving”. Na hora de compor vocês visualizavam essas faixas sendo tocadas ao vivo e a reação dos fãs durante as mesmas?

Jairo Guedz: Eu sempre visualizo isso quando estou compondo algo. Parece loucura, mas essa forma de compor visualizando lá na frente como vai soar ao vivo, num show, num festival, é de extrema importância. Claro que temos a licença poética de compor músicas que sustentem também um pouco do nosso ego interior, da nossa visão da música. Daí,  algumas músicas possuírem mais tempo de execução (ultrapassando limites do mercado de rádios, sem se preocupar tanto com o lado comercial daquilo) e outras sendo mais diretas e objetivas, pensando no show, na cadência e na energia que aquilo vai proporcionar.

 

Rebel Rock: A parte inédita do Ep se encerra com a faixa-título, que carrega em sua letra diversas referências aos dois primeiros trabalhos do Sepultura. As próximas duas faixas são justamente covers do supracitado, Sepultura: “Bestial Devastation” e “Troops of Doom”. A escolha destas composições foi natural ou era intenção fechar o trabalho com uma espécie de tributo à fase mais “inocente” do heavy metal brasileiro?

Jairo Guedz: Na verdade, nem chamamos de "cover" esses sons que regravamos do Sepultura, pelo fato de eu ser o autor dessas músicas (e coautor, juntamente com Max, Iggor e Paulo). Vejo apenas que estou regravando uma obra minha, em outro tempo ou formato. Desde o início, o The Troops Of Doom – o nome da banda já é uma homenagem e uma citação à minha obra mais conhecida junto ao Sepultura –, queríamos muito fazer isso. Citar o Sepultura da minha época como guitarrista, seja nas letras, na capa dos discos, nas parcerias, nas regravações, etc... Todos os nossos "easter-eggs" referentes ao Sepultura são uma homenagem àqueles tempos e, principalmente, um retorno às minhas raízes musicais. Além de regravar algumas músicas, pretendo tocar várias músicas de minha autoria com o Sepultura ao vivo, nos shows do The Troops Of Doom.



Rebel Rock: Há alguns meses saiu um novo single, a regravação da música “Morbid Visions”. A qualidade e respeito ao produto original é ímpar. São duas perguntas. Por que a escolha dessa música em específico? Como foi trabalhar numa música que é considerada um hino?

Jairo Guedz: A gente queria escolher alguma música que representasse o 'Morbid Visions' e não fosse a própria 'Troops of Doom'. Tínhamos algumas opções e acabamos por escolher a Morbid Visions para cumprir esse papel. Nossa ideia sempre foi de não alterar em nada essas músicas em relação aos originais. Queríamos apenas melhorar a sonoridade delas, trazer para o fã do Sepultura e do The Troops Of Doom a mesma energia e inocência daquela época, mas usando as ferramentas disponíveis hoje, com mais qualidade e mais peso. Claro, sem perder a atmosfera dos anos 80. Acho que conseguimos isso.


Rebel Rock: Pensando na cena mineira dos anos 80. Além do Sepultura, quais outras bandas ou músicas entrariam num “Garage Days” do Troops Of Doom?

Jairo Guedz: (risos) Boa, um 'Garage Days' seria uma excelente ideia! O único problema seria ter as licenças para isso – no caso do Sepultura eu tenho os direitos das músicas –, mas não é algo que eu descartaria não (risos). Acredito que todos da banda gostariam de regravar alguma música do Mutilator, do Sarcófago, do Witchhammer. Tem muita coisa boa daquela época!


Rebel Rock: “The Rise of Heresy” está saindo no mercado em diversos formatos físicos e também em várias plataformas de streaming. Vocês viveram a evolução e revolução da indústria musical — a transição do vinil para o CD, o surgimento do mp3 e com eles os downloads ilegais, assim como a comodidade oferecida pelos serviços digitais. Afinal, a tecnologia ajudou ou atrapalhou? Quais são as dificuldades que uma banda enfrenta para lançar seus álbuns atualmente?

Jairo Guedz: A tecnologia sempre vem para ajudar, mas sempre acaba atrapalhando por outro lado. Não é uma forma 100% positiva, algo que só traz o bem, melhorias, facilidades, etc. Infelizmente, o homem usa essa evolução tecnológica para o bem e para o mal também. O excesso de tecnologia faz perder o encanto de muitas coisas do passado, sem querer ser saudosista, mas isso representa um pensamento do The Troops Of Doom que vai nos acompanhar por muitos e muitos anos. Vamos querer sempre produzir o nosso material físico. Independentemente do quão moderno e tecnológico se torna o mercado da música "underground", sempre vamos lançar o nosso material fonográfico em vinil, fita k7, CD, etc. O mercado de música digital, streamings etc, veio nos ajudar muito por razões óbvias: distribuição e comercialização de nossas obras sem custo de transporte, de fabricação e estoque físico. Além disso, a praticidade e a velocidade que nossa música chegou a todos os mercados do planeta em algumas horas apenas, mas a necessidade do material físico é inerente ao mercado do metal e principalmente no death/thrash metal. Por isso, resolvemos nós mesmos comandar essas licenças mundiais de material físico da banda. Acredito que sempre haverá pessoas (fãs, amigos, músicos) que vão querer uma cópia física de um álbum de metal.


Rebel Rock: vocês têm a mentalidade voltada ao “old school”, mas o merchandising foi desenvolvido pensando tanto nos fãs mais “die hard” quanto nos mais modernos. assim sendo vocês oferecem toda uma variedade de produtos. do café ao revival do lp e k7, camisetas, etc. como a banda trabalha nos produtos que levam o seu nome?

Jairo Guedz: Essa responsabilidade recai muito sobre mim mesmo e sobre o Marcelo. E por razões óbvias: somos artistas gráficos, Marcelo Vasco muito mais que eu. Ele fez capas do Slayer, Soulfly, Testament, Machine Head, entre muitas outras. Por isso, temos uma preocupação e damos uma atenção muito grande aos nossos produtos de merchandising. Se não fosse tão caro fabricar isso no Brasil teríamos muito mais a oferecer aos nossos fãs e por preços mais acessíveis também. A ideia é espalhar "a palavra" dessa forma, entregando o melhor aos nossos fãs.



Rebel Rock: Ainda sobre o merchandising, hoje em dia tornou-se muito comum que as bandas vendam cervejas artesanais, cachaças, vinhos e outras variações de bebidas. O Troops Of Doom pensa em criar uma linha de tais produtos com seu nome, oferecendo um atrativo a mais aos fãs e quem sabe, conquistar outras categorias de consumidores?

Jairo Guedz: A gente já falou disso uma vez, quando queríamos muito o café com nosso nome. Na banda só temos o Marcelo e o Alexandre que bebem álcool, mas muito pouco. Marcelo é um estudioso e grande apreciador de vinhos, talvez a gente pense em lançar um vinho com nossa pegada. Algo que seja vintage, mas com um sabor de novo. Que traga uma experiência ímpar de revisitar o antigo sem ter sabor de coisa velha (risos). 


Rebel Rock: O clipe de “Whispering Dead Words” possui uma produção cinematográfica e junto a ela, um enredo impactante com diversas cenas fortes. Uma das que mais chama à atenção é o matricídio cometido por um padre e a tormenta que ele passa pós o ato. Gostaria que dissertassem um pouco sobre o clipe e a abordagem do mesmo?

Jairo Guedz: Eu escrevi o roteiro que conta, de forma resumida, a história de um padre com seu espírito em conflito por ter assassinado sua mãe extremamente autoritária e radicalmente religiosa. A história passa por ele enterrando o corpo já em decomposição no quintal de sua casa. o padre passa a ser atormentado pelo espírito obsessor da mãe, que sussurra palavras em seu ouvido durante dias, obrigando-o a correr os riscos de desenterrar seus restos mortais. Ao final do processo, a mãe morta faz com que o padre se arrependa de tudo que cometeu e se entregue ao seu destino, para não mais carregar culpa alguma. Foi um grande prazer trabalhar nesse processo contando com a ajuda do diretor (amigo e tatuador) Edu Nascimento (Vassouras/RJ) e da mãe dele, atriz que faz a mãe do padre; do amigo Wagner Moura (padre) e também toda a equipe que tornou possível essa produção – Sabrina, esposa do Edu Nascimento e maquiadora; os produtores e editores Gemakriok Filmes e Criatoriom Ideias/RJ.

 

Rebel Rock: Pensaram em adaptar todo esse enredo para um curta-metragem tendo sua música como trilha?

Jairo Guedz: Pensamos sim! Edu Nascimento tem ainda como projeto transformar esse clipe num curta e eu e o Marcelo nos colocamos à disposição dele para criar a trilha sonora, caso isso se realize.

 

Rebel Rock: A pandemia tornou inviáveis os shows e ao que tudo indica, o retorno dos mesmos, presencialmente e com grande fluxo de pessoas só do meio do ano em diante (sendo otimista) ou somente em 2022. Como está sendo para vocês ter um material excelente em mãos, ter procura dos fãs, mas ficarem de mãos atadas sem poder tocar ao vivo? Como adequar-se asse período tão distópico?

Jairo Guedz: Pois é, não é nada fácil isso, mas temos que nos reinventar, continuar a trabalhar todos os dias como se não houvesse pandemia. Pelo menos é o que estamos fazendo. Escrevendo nosso full álbum, com previsão para o início de 2022, e terminando um material que será lançado ainda no segundo semestre de 2021. Tudo isso, mais a criação de novos itens de merchandising, lives, entrevistas... Tudo serve para manter as bandas e o próprio mercado da música underground vivo. Por isso, a grande importância de meios de publicação como o Rebel Rock, entre inúmeros outros, manter a cena de música underground sempre em voga, à vista dos fãs e do público! Temos uma turnê já marcada para a Europa em novembro/dezembro de 2021, mas não sabemos ao certo se vai acontecer por causa dos prazos de vacinação e etc... Caso não seja possível em 2021, nossa agência passará para 2022.


Rebel Rock: Vocês estão trabalhando com uma data para o lançamento do full-lenght ou a indefinição por conta da pandemia e das vacinas acaba deixando tudo muito aberto para se colocar prazos?

Jairo Guedz: Estamos trabalhando com uma data provável sim. A ideia é lançar o full entre fevereiro e março de 2022. Mas, antes, no segundo semestre de 2021 a banda terá uma surpresa para os fãs.


Rebel Rock: Para finalizar, acredito que “The Rise of Heresy” tenha chegado até o Max e Iggor. Houve alguma espécie de “benção” dos irmãos Cavalera ao projeto?

Jairo Guedz: Claro! Eu fiz questão de pedir essa "benção" de todos eles (Paulo, Iggor e Max) ainda no início do processo de criação da banda. Depois, enviei o álbum pra todos. A "benção" foi dada e o feedback foi muito positivo.


Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista. O espaço final é seu.

Jairo Guedz: Gostaria de agradecer imensamente pela paciência e pedir desculpas pela demora em responder. Esse período está sendo muito corrido prá todos nós da banda. Gostaria de pedir a todos os leitores que sigam o The Troops Of Doom nas redes sociais da banda (instagram - @thetroopsofdoom) e se inscrevam no nosso canal do YouTube (youtube.com/thetroopsofdoom), pois teremos grande novidades. Obrigado a todos e nos vemos na estrada em breve. 




 

 

 


segunda-feira, 19 de abril de 2021

ENTREVISTA - SCARS

 



30 anos de luta em prol do underground. Uma vida levantando a bandeira do Thrash Metal. Escolha uma das alternativas para definir a carreira do SCARS, uma das melhores bandas nacionais do estilo! Tenho certeza que uma assertiva completa a outra. São tantas histórias que decidi trocar uma ideia com Alex Zeraib, guitarrista que está na banda desde 1993. Completam o time o carismático vocalista Régis F, o baixista Marcelo Mitché, o baterista João Gobo e o recém chegado Ricardo Lima, novo guitarrista, que substitui Thiago Oliveira. Aproveitando o lançamento do excelente PREDATORY (2020, lançado pela Brutal Records), leia o resultado da nossa conversa...



Entrevista: Sergiomar Menezes
Fotos: Rogério Del Vecchio

Rebel Rock - Primeiramente, gostaria de agradecer a disponibilidade para essa entrevista e, já dando início aos trabalhos (risos)... PREDATORY vem 12 anos após o último trabalho do Scars ( Devilgod Alliance de 2008). Como foi esse período para a banda?

Alex Zeraib - Obrigado mais uma vez pelo espaço e apoio. O período do último hiato do SCARS foi o de uma lembrança prazerosa e remota da banda que eu tive e que eu nunca contemplava seu retorno. Uma vez lançado o Devigod Alliance, fiz o que havia prometido a mim mesmo e aos músicos participantes do projeto, sendo o João Gobo (bateria) um deles: lançar o álbum por um selo local de peso, o que se deu graças ao interminável esforço e parceria do Silvio da Voice Music, não fazer turnê e nem shows do disco e por fim fechar as portas até uma próxima e muito improvável reunião futura. Em dezembro de 2017 eu decidi disponibilizar todo o material do SCARS online em todas plataformas disponíveis, a mérito de eternizar a banda e seus registros nesta era digital e acessível que vivemos. Uma coisa levou a outra e aqui estamos conversando sobre o novo SCARS e seu último lançamento, Predatory. Como a vida dá voltas, certo? A única certeza que temos do futuro é que ele é incerto e cheio de surpresas, algumas boas, outra ruins. Essa surpresa foi muito boa boa para mim e a todos envolvidos.

RR - O CD traz consigo uma produção primorosa e ao mesmo tempo, suja e pesada, evidenciando ainda mais essas características da banda. O quanto a produção de Wagner Meirinho ( Warrel Dane, Torture Squad) foi determinante para que o trabalho atingisse esse nível de qualidade  e excelência?

Alex - O Wagner tem um talento único e é um excelente produtor musical, especialmente de metal. Ele é muito metódico, seguro de si e aberto à participação da banda em todo o processo da gravação. Essa abertura possibilitou que chegássemos a um resultado muito próximo do que havíamos envisionado para o álbum, com idéias sendo geradas por diversas mentes brilhantes e dedicadas ao projeto. A parte cristalina e de precisão métrica se devem totalmente ao Wagner e sua equipe. A parte dos timbres e sonoridade do álbum é um crédito da banda, que não se deu por satisfeita até realmente chegar a um resultado que agradasse a todos os envolvidos. O Wagner foi muito receptivo e altruísta em sua figura de autoridade da produção e registro da obra, possibilitando a divisão de méritos e responsabilidades igualmente entre todos. Adoramos trabalhar com ele e sua equipe e queremos repetir a dose muito em breve.

RR - Obviamente que uma ótima produção não seria o suficiente para transformar Predatory em um grande álbum. Mas, ao escutarmos o CD percebemos uma raiva e agressividade presentes de forma natural, o que são também, características do Scars. Como se deu o trabalho de composição das faixas? E existe alguma ligação entre elas, do ponto de vista conceitual?

Alex - Predatory foi composto em mais ou menos dois anos no meu home estúdio, onde eu despejava idéias no PC, compartilhando todas com o Régis, que organizava as faixas individualmente para chegarmos a algo digno das composições do SCARS. Uma vez satisfeitos com a faixa e sua sequência, o Régis entrava com o tema para cada faixa, tal como seu título, assim dando à faixa alma e vida, não somente uma sequência de riffs e dinâmicas. As faixa não estão interligadas tematicamente entre si mas possuem referências de fontes comuns de inspiração. Eu participo na criação e composição das letras do SCARS desde o primeiro CD em 1994, mas é o Régis que estabelece a direção e essência das letras e temas de cada música. Sou um grande fã desse seu talento, ele é o melhor que conheço nisso - sem igual. E hoje mostramos que nossa parceria segue forte e conseguimos criar um álbum completamente online, a distância, porém devido ao objetivo comum que tínhamos, chagamos ao final juntos também e celebramos muito o resultado.

Alex Zeraib

RR - A faixa título abre o álbum com um rifferama totalmente thrash, enquanto o vocal nervoso, raivoso e agressivo de Régis mostra que ele é o único vocalista possível para a banda. Além disso, essa composição mostra como é a sonoridade do Scars. Ela foi escolhida de forma proposital para ser a abertura do CD?

Alex - "Ele é o único vocalista possível para a banda" - perfeito. Eu iria além, o Régis é o SCARS. Seu carisma, energia e talento são o que definem a banda e inspira a todos ao nosso redor desde sua fundação em 1991. Quando ele saiu da banda em 2007, ele levou parte da identidade do SCARS consigo. Assim, felizmente, trazendo tudo o que havia levado, e muito mais, de volta para a banda em seu registro de retorno Armageddon, que gravamos em setembro de 2018 (14 anos após seu último registro de estúdio com a banda). Alí ele mostrou que a criatura estava dormente, mas não deixando de evoluir. Com seu registro de vocal na faixa que abre o álbum, Régis confirmou que estava em sua melhor forma desde a fundação da banda e não somente fez sua parte com primor, como também " assustou"  a todos nós da banda. Ele realmente só soltou a voz e mostrou o que tinha preparado para o álbum no primeiro dia das gravações de voz - ficamos realmente impressionados com a potência e timbre que o vocal dele havia alcançado. Ele é um talento nato. Uma alma a serviço do metal. E sim, a faixa foi escolhida estrategicamente para abrir o álbum: rápida, técnica e com um refrão simples e direto.

RR - “Ancient Power” é um dos tantos destaques do álbum. Com uma pegada na linha “Blacklist” (Exodus) e “Inner Self” (Sepultura), ela tem tudo para se tornar um daqueles momentos onde o público vai interagir da forma mais “violenta” possível durante o show (risos). E, fiquei sabendo “por aí” que essa faixa por muito pouco não entrou no tracklist do álbum... Explique melhor essa história...

Alex - Esta foi uma das primeiras faixas a ser composta dentre as mais de vinte que fizemos para o álbum, de onde extraímos onze. E sim, ela foi a última a ser " aceita" no rol em questão, e ainda assim quase ficou de fora. Somos muito detalhistas (leia, chatos) e auto-críticos (leia, nunca satisfeitos) com a música que fazemos e mostramos para o mundo. Queremos entregar o nosso melhor, a nossa visão em seus menores, nunca menos importantes, detalhes. Queremos fazer o ouvinte voltar a faixa para revisitar alguns poucos segundos que só ocorrem uma vez em certo ponto. Não queremos reinventar a roda nem tentar criar um novo subgênero do metal - somos thrash-metal em sua essência, mas nos permitimos ir além de nosso território, contanto que julguemos o material nada menos que excelente. "Ancient Power" teve tempo para maturar, e quase não atingiu sua plenitude a tempo de entrar para o Predatory. Quando eu vi que ela ia ficar de fora, assumi a tarefa de repaginá-la para assim atingir um nível satisfatório unânime. Isso é uma certeza do SCARS, somente disponibilizamos material novo se cada um dos integrantes involvidos está totalmente satisfeito com o resultado. Vamos disponibilizar em breve as demos da pré-produção de Predatory e todos vão poder conferir como ela era antes e tirar suas próprias conclusões.

RR - As guitarras em Predatory, como em todo grande disco de thrash metal, são o grande destaque e mostraram um ótimo entrosamento entre Alex e Thiago. Quais as influências principais de ambos na hora de compor? Existe algo de fora do metal que agrega na hora de criar algum riff?

Alex - Essa é uma parte que me toca sensivelmente, obrigado (rsrs) e sim, na hora de compor, as idéias vêm de lugares muito inesperados. O Thiago possui uma gama muito maior de influências e as incorpora com maestria quando executando seus solos no álbum. Eu gravei somente um dueto de solos em Predatory, na faixa Sad Darkness of the Soul, inspirado na Orion, do Metallica. A bases foram todas compostas e gravadas por mim, assim que não houve participação do Thiago na composição e pré-produção do álbum. Não obstante, ele assumiu e cumpriu sua parte de compor e gravar todos os solos do álbum com toda sua competência, que já conhecíamos - e também foi muito além, trazendo elementos e passagens que nunca existiriam se não fosse por seu talento, dedicação e vasta experiência individual. Sua participação no álbum foi essencial para o sucesso e repercussão que ele vem obtendo desde seu lançamento em agosto de 2020. Ele assumiu a missão de fazer um belo e eterno registro, com muita autoridade e excelência em sua arte. Seremos eternamente gratos ao Thiago por isso tudo. Ele é um artista único, muito à frente dos tempos de hoje.


RR - Recentemente o guitarrista Thiago deixou a banda e em seu lugar entrou Ricardo Lima (Tosco, Chemical Desaster, entre outras), um músico experiente. Porque Thiago saiu e como se deu a escolha do Ricardo?

Alex - O Thiago é um músico/artista realmente atarefado, com diversas frentes acontecendo e sua carreira ao mesmo tempo. Apesar de todo seu esforço e dedicação, nós não conseguiríamos ter uma prioridade em sua agenda como esperamos de cada membo do SCARS. Cada membro é livre para ter seus projetos paralelos o quanto quiserem, que é o caso do Mitché e do Ricardo. Com isso, conversamos com o Thiago e decidimos juntos que era hora de encontrarmos um novo membro que se adequasse melhor ao perfil da banda. A escolha do Ricardo veio naturalmente. O Régis já me havia apresentado o Tosco e me pediu para prestar atenção nele tempos antes. Eu me identifiquei muito com seu estilo, não somete nos solos, mas principalmente na execução das bases, onde percebi que ele primava pela precisão e tinha uma mão direita firme e sólida, com nítida influência de thrash. Entramos em contato com ele e apresentamos uma proposta, que ele aceitou com vigor e se empenhou muito, desde esse primeiro contato, a fazer seu melhor para recolocar a posição do guitarrista solo de volta a banda. Sua dedicação surtiu resultados rápidos e em poucas semanas já estávamos ensaiando 9 faixas, que ele assumiu no peito e apresentou com muita autoridade. O Ricardo foi muito além do que esperávamos desde o primeiro dia. Hoje ele parece que sempre foi parte do SCARS, em tão pouco tempo. Todo o crédito e mérito são dele, estamos muito felizes em tê-lo conosco.

RR - Falando um pouco do passado, a banda completa agora em 2021, 30 anos de carreira. Como foi, lá o início da década de 90, a criação da banda e os primeiros anos de carreira?

Alex - O SCARS foi formado em 1991 pelo Régis, na Moóca, São Paulo. Eu entrei na banda em 93, poucos meses antes de gravar o primeiro CD. Quando cheguei, encontrei uma banda muito bem estruturada e já com uma certa experiência nos palcos, assim, com um certo número de fãs e possuindo uma certa popularidade. Após o lançamento do primeiro CD em janeiro de 1994, caimos na estrada e fizemos shows por todo o país pelos próximos 4 anos. Era uma época mais orgânica, menos virtual, então a banda era muito ativa nos palcos em uma cena brasileira muito rica. A banda teve algumas mudanças na formação durante tal período, mas, uma vez que já possuia uma personalidade muito forte e estabelida no thrash-metal, tais mudanças não a abalaram. O SCARS mostra hoje a mesma personalidade daquela época, e tentamos sempre honrar nossa história e passado.

RR - “The Nether Hell” (2005) é um álbum (EP) que se tornou clássico ao longo dos anos. Seja pela belo trabalho gráfico, seja pelo conceito das letras, seja pela qualidade da músicas. Como abanda vê, hoje em dia, a repercussão do trabalho e qual sua importância para a sedimentação da carreira do grupo?

Alex - O The Nether Hell teve toda sua temática tecida sobre as faixas depois que elas já estavam compostas e já estávamos em estúdio gravando-as. Eu havia lido "O Inferno de Dante" poucos anos antes, e me deliciei com toda a atmosfera e detalhe com o qual Dante Alighieri escreveu essa obra-prima. Fomos fiéis às passagens nas músicas que citam a obra e trouxemos uma arte gráfica rica, toda com as gravuras de Gustave Dorè. Esse "pequeno álbum" teve um impacto mundial totalmente inesperado por nós que repercute até hoje, possuindo uma legião muito fiel de ouvintes e divulgadores. Acho que esse ficou para história mesmo e nos orgulhamos muito disso. Esse registro foi muito importante para pocisionar o SCARS entre as grandes bandas do Brasil e seus grandes álbuns, porém com somente seis faixas - e assim mesmo fez mais barulho que muitos "full-lengths", até mesmo o Devilgod Alliance. Em comparação ao Predatory, ainda é muito cedo para dizer. Só o tempo e sua maturidade confirmarão isso.


RR - Já “Devilgod Alliance” trouxe uma banda reformulada, e também apresentou uma sonoridade mais ríspida que flertava, por vezes, com o death metal. O que esse trabalho representa para o Scars?

Alex - Esse é um ótimo trabalho, com muita qualidade na gravação e peso nas composições. E sim, há muita influência de outros estilos fora do thrash nele, porém breves e não predominantes. Metade desse álbum foi composto durante a turnê do The Nether Hell, a outra metade por mim após a desmembração da banda. O que fez mais falta nesse registro é o vocal e a arte de finalização de estúdio do Régis, que fizeram muita falta durante o processo de gravação e escolha dos temas e letras para o cd. Todas as letras do Devilgod são minhas e tiverem sua execução em estúdio por um grande amigo meu, o André Guilger, que recebeu tudo pronto e não teve muito tempo de criar grandes linhas de voz e arranjos, mas fez um excelente trabalho não obstante. Eu e o João Gobo temos uma afeição especial por ele, talvez por estarmos nele. O Marcelo Mitché adora esse álbum, talvez mais que eu, e insiste para que toquemos pelo menos duas faixas dele no setlist atual - o que será feito eventualmente. Eu tenho emoções controversas sobre ele: de realização e missão cumprida, mas ao mesmo tempo ele representa também uma época de término e interrupção na minha carreira musical.

RR - Sei que o momento atual está bastante complicado, até mesmo para previsões acerca do que possa acontecer, mas, quais são os planos da banda para o futuro? Um novo trabalho pode aparecer?

Alex - Apesar deste momento difícil e limitado que vivemos agora, estamos muito ativos. Lançamos o Predatory em agosto de 2020, em pleno isolamento. Desde então temos lançados um vídeo clipe para cada faixa do álbum, somando 07 até agora, e deixando três que também terão seus vídeo clipes. Tratamos e trabalhamos cada faixa como um disco inteiro. Fizemos três grandes "lives" até agora e participamos de diversos festivais online. Nossas plataformas digitais estão repletas com todo nosso material e elas têm uma visitação massiva e constante. Bom, isso e muito mais até agora. Sobre o futuro? Sim, podemos fazer planos, sem dúvida. E os executaremos de acordo que a realidade se apresente. Celebraremos os 30 anos da banda neste ano com diversos lançamentos digitais em todas as plataformas. Já estamos trabalhando em novo material e temos quatro faixas finalizadas, contando no processo com o Ricardo desde o começo dos riffs, o que representa uma adição rica e muito importante, pois ele é uma fonte inesgotável de riffs, um cara realmente prolixo e criativo. o Régis já está trabalhando na temática e títulos/letras, dando muito cedo uma boa essência para ele. Posso dizer, sem hesitar, que o próximo álbum existirá e será nosso melhor trabalho. Não o lançaremos logo após a reabertura do mundo pois ainda queremos levar o "Predatory on Tour" para a estrada, para o palco. Mas não tardaremos muito em dar sequência a nossa discografia. Temos ainda muito para oferecer e o melhor ainda está por vir.

RR - Gostaria mais uma vez de agradecer pela entrevista e deixar este espaço final aberto para a banda.

Alex - Muito obrigado pelo espaço e por seu suporte, Rebel Rock! Somos imensamente gratos por nossa parceria. A todos que acompanham o SCARS, muito obrigado por esses 30 anos, especialmente pelos últimos 02 anos, onde talvez fizemos muito mais do que nos anos anteriores - e tudo isso graças a vocês! Sem nossos fãs não há SCARS. Nós tocamos por e para eles! Amamos todos vocês, muito obrigado por tudo!