Fotos: Rogério Del Vecchio
Rebel Rock - Primeiramente, gostaria de
agradecer a disponibilidade para essa entrevista e, já dando início aos
trabalhos (risos)... PREDATORY vem 12 anos após o último trabalho do Scars (
Devilgod Alliance de 2008). Como foi esse período para a banda?
Alex Zeraib - Obrigado mais uma vez
pelo espaço e apoio. O período do último hiato do SCARS foi o de uma lembrança
prazerosa e remota da banda que eu tive e que eu nunca contemplava seu retorno.
Uma vez lançado o Devigod Alliance, fiz o que havia prometido a mim mesmo e aos
músicos participantes do projeto, sendo o João Gobo (bateria) um deles: lançar
o álbum por um selo local de peso, o que se deu graças ao interminável esforço
e parceria do Silvio da Voice Music, não fazer turnê e nem shows do disco e por
fim fechar as portas até uma próxima e muito improvável reunião futura. Em
dezembro de 2017 eu decidi disponibilizar todo o material do SCARS online em
todas plataformas disponíveis, a mérito de eternizar a banda e seus registros
nesta era digital e acessível que vivemos. Uma coisa levou a outra e aqui
estamos conversando sobre o novo SCARS e seu último lançamento, Predatory. Como
a vida dá voltas, certo? A única certeza que temos do futuro é que ele é
incerto e cheio de surpresas, algumas boas, outra ruins. Essa surpresa foi
muito boa boa para mim e a todos envolvidos.
RR - O CD traz consigo uma produção primorosa e
ao mesmo tempo, suja e pesada, evidenciando ainda mais essas características da
banda. O quanto a produção de Wagner Meirinho ( Warrel Dane, Torture Squad) foi
determinante para que o trabalho atingisse esse nível de qualidade e excelência?
Alex - O Wagner tem um talento único e é um
excelente produtor musical, especialmente de metal. Ele é muito metódico,
seguro de si e aberto à participação da banda em todo o processo da gravação.
Essa abertura possibilitou que chegássemos a um resultado muito próximo do que
havíamos envisionado para o álbum, com idéias sendo geradas por diversas mentes
brilhantes e dedicadas ao projeto. A parte cristalina e de precisão métrica se
devem totalmente ao Wagner e sua equipe. A parte dos timbres e sonoridade do
álbum é um crédito da banda, que não se deu por satisfeita até realmente chegar
a um resultado que agradasse a todos os envolvidos. O Wagner foi muito
receptivo e altruísta em sua figura de autoridade da produção e registro da
obra, possibilitando a divisão de méritos e responsabilidades igualmente entre
todos. Adoramos trabalhar com ele e sua equipe e queremos repetir a dose muito
em breve.
RR - Obviamente que uma ótima produção não seria
o suficiente para transformar Predatory em um grande álbum. Mas, ao escutarmos
o CD percebemos uma raiva e agressividade presentes de forma natural, o que são
também, características do Scars. Como se deu o trabalho de composição das
faixas? E existe alguma ligação entre elas, do ponto de vista conceitual?
Alex - Predatory foi composto em mais ou menos dois
anos no meu home estúdio, onde eu despejava idéias no PC, compartilhando todas
com o Régis, que organizava as faixas individualmente para chegarmos a algo
digno das composições do SCARS. Uma vez satisfeitos com a faixa e sua
sequência, o Régis entrava com o tema para cada faixa, tal como seu título,
assim dando à faixa alma e vida, não somente uma sequência de riffs e
dinâmicas. As faixa não estão interligadas tematicamente entre si mas possuem
referências de fontes comuns de inspiração. Eu participo na criação e
composição das letras do SCARS desde o primeiro CD em 1994, mas é o Régis que
estabelece a direção e essência das letras e temas de cada música. Sou um
grande fã desse seu talento, ele é o melhor que conheço nisso - sem igual. E
hoje mostramos que nossa parceria segue forte e conseguimos criar um álbum
completamente online, a distância, porém devido ao objetivo comum que tínhamos,
chagamos ao final juntos também e celebramos muito o resultado.
RR - A faixa título abre o álbum com um
rifferama totalmente thrash, enquanto o vocal nervoso, raivoso e agressivo de
Régis mostra que ele é o único vocalista possível para a banda. Além disso,
essa composição mostra como é a sonoridade do Scars. Ela foi escolhida de forma
proposital para ser a abertura do CD?
Alex - "Ele é o único vocalista possível para a
banda" - perfeito. Eu iria além, o Régis é o SCARS. Seu carisma, energia e
talento são o que definem a banda e inspira a todos ao nosso redor desde sua
fundação em 1991. Quando ele saiu da banda em 2007, ele levou parte da
identidade do SCARS consigo. Assim, felizmente, trazendo tudo o que havia
levado, e muito mais, de volta para a banda em seu registro de retorno
Armageddon, que gravamos em setembro de 2018 (14 anos após seu último registro
de estúdio com a banda). Alí ele mostrou que a criatura estava dormente, mas
não deixando de evoluir. Com seu registro de vocal na faixa que abre o álbum,
Régis confirmou que estava em sua melhor forma desde a fundação da banda e não
somente fez sua parte com primor, como também " assustou" a todos nós da banda. Ele realmente só soltou
a voz e mostrou o que tinha preparado para o álbum no primeiro dia das
gravações de voz - ficamos realmente impressionados com a potência e timbre que
o vocal dele havia alcançado. Ele é um talento nato. Uma alma a serviço do
metal. E sim, a faixa foi escolhida estrategicamente para abrir o álbum:
rápida, técnica e com um refrão simples e direto.
RR - “Ancient Power” é um dos tantos destaques
do álbum. Com uma pegada na linha “Blacklist” (Exodus) e “Inner Self”
(Sepultura), ela tem tudo para se tornar um daqueles momentos onde o público
vai interagir da forma mais “violenta” possível durante o show (risos). E,
fiquei sabendo “por aí” que essa faixa por muito pouco não entrou no tracklist
do álbum... Explique melhor essa história...
Alex - Esta foi uma das primeiras faixas a ser
composta dentre as mais de vinte que fizemos para o álbum, de onde extraímos
onze. E sim, ela foi a última a ser " aceita" no rol em questão, e
ainda assim quase ficou de fora. Somos muito detalhistas (leia, chatos) e
auto-críticos (leia, nunca satisfeitos) com a música que fazemos e mostramos
para o mundo. Queremos entregar o nosso melhor, a nossa visão em seus menores,
nunca menos importantes, detalhes. Queremos fazer o ouvinte voltar a faixa para
revisitar alguns poucos segundos que só ocorrem uma vez em certo ponto. Não
queremos reinventar a roda nem tentar criar um novo subgênero do metal - somos
thrash-metal em sua essência, mas nos permitimos ir além de nosso território,
contanto que julguemos o material nada menos que excelente. "Ancient
Power" teve tempo para maturar, e quase não atingiu sua plenitude a tempo de
entrar para o Predatory. Quando eu vi que ela ia ficar de fora, assumi a tarefa
de repaginá-la para assim atingir um nível satisfatório unânime. Isso é uma
certeza do SCARS, somente disponibilizamos material novo se cada um dos
integrantes involvidos está totalmente satisfeito com o resultado. Vamos
disponibilizar em breve as demos da pré-produção de Predatory e todos vão poder
conferir como ela era antes e tirar suas próprias conclusões.
RR - As guitarras em Predatory, como em todo
grande disco de thrash metal, são o grande destaque e mostraram um ótimo
entrosamento entre Alex e Thiago. Quais as influências principais de ambos na
hora de compor? Existe algo de fora do metal que agrega na hora de criar algum
riff?
Alex - Essa é uma parte que me toca sensivelmente,
obrigado (rsrs) e sim, na hora de compor, as idéias vêm de lugares muito
inesperados. O Thiago possui uma gama muito maior de influências e as incorpora
com maestria quando executando seus solos no álbum. Eu gravei somente um dueto
de solos em Predatory, na faixa Sad Darkness of the Soul, inspirado na Orion,
do Metallica. A bases foram todas compostas e gravadas por mim, assim que não
houve participação do Thiago na composição e pré-produção do álbum. Não
obstante, ele assumiu e cumpriu sua parte de compor e gravar todos os solos do
álbum com toda sua competência, que já conhecíamos - e também foi muito além,
trazendo elementos e passagens que nunca existiriam se não fosse por seu
talento, dedicação e vasta experiência individual. Sua participação no álbum
foi essencial para o sucesso e repercussão que ele vem obtendo desde seu
lançamento em agosto de 2020. Ele assumiu a missão de fazer um belo e eterno
registro, com muita autoridade e excelência em sua arte. Seremos eternamente
gratos ao Thiago por isso tudo. Ele é um artista único, muito à frente dos
tempos de hoje.
RR - Recentemente o guitarrista Thiago deixou a
banda e em seu lugar entrou Ricardo Lima (Tosco, Chemical Desaster, entre
outras), um músico experiente. Porque Thiago saiu e como se deu a escolha do
Ricardo?
Alex - O Thiago é um músico/artista realmente
atarefado, com diversas frentes acontecendo e sua carreira ao mesmo tempo.
Apesar de todo seu esforço e dedicação, nós não conseguiríamos ter uma
prioridade em sua agenda como esperamos de cada membo do SCARS. Cada membro é
livre para ter seus projetos paralelos o quanto quiserem, que é o caso do
Mitché e do Ricardo. Com isso, conversamos com o Thiago e decidimos juntos que
era hora de encontrarmos um novo membro que se adequasse melhor ao perfil da
banda. A escolha do Ricardo veio naturalmente. O Régis já me havia apresentado
o Tosco e me pediu para prestar atenção nele tempos antes. Eu me identifiquei
muito com seu estilo, não somete nos solos, mas principalmente na execução das
bases, onde percebi que ele primava pela precisão e tinha uma mão direita firme
e sólida, com nítida influência de thrash. Entramos em contato com ele e
apresentamos uma proposta, que ele aceitou com vigor e se empenhou muito, desde
esse primeiro contato, a fazer seu melhor para recolocar a posição do
guitarrista solo de volta a banda. Sua dedicação surtiu resultados rápidos e em
poucas semanas já estávamos ensaiando 9 faixas, que ele assumiu no peito e
apresentou com muita autoridade. O Ricardo foi muito além do que esperávamos
desde o primeiro dia. Hoje ele parece que sempre foi parte do SCARS, em tão
pouco tempo. Todo o crédito e mérito são dele, estamos muito felizes em tê-lo
conosco.
RR - Falando um pouco do passado, a banda
completa agora em 2021, 30 anos de carreira. Como foi, lá o início da década de
90, a criação da banda e os primeiros anos de carreira?
Alex - O SCARS foi formado em 1991 pelo Régis, na
Moóca, São Paulo. Eu entrei na banda em 93, poucos meses antes de gravar o
primeiro CD. Quando cheguei, encontrei uma banda muito bem estruturada e já com
uma certa experiência nos palcos, assim, com um certo número de fãs e possuindo
uma certa popularidade. Após o lançamento do primeiro CD em janeiro de 1994,
caimos na estrada e fizemos shows por todo o país pelos próximos 4 anos. Era
uma época mais orgânica, menos virtual, então a banda era muito ativa nos
palcos em uma cena brasileira muito rica. A banda teve algumas mudanças na
formação durante tal período, mas, uma vez que já possuia uma personalidade
muito forte e estabelida no thrash-metal, tais mudanças não a abalaram. O SCARS
mostra hoje a mesma personalidade daquela época, e tentamos sempre honrar nossa
história e passado.
RR - “The Nether Hell” (2005) é um álbum (EP)
que se tornou clássico ao longo dos anos. Seja pela belo trabalho gráfico, seja
pelo conceito das letras, seja pela qualidade da músicas. Como abanda vê, hoje
em dia, a repercussão do trabalho e qual sua importância para a sedimentação da
carreira do grupo?
Alex - O The Nether Hell teve toda sua temática tecida sobre as faixas depois que elas já estavam compostas e já estávamos em estúdio gravando-as. Eu havia lido "O Inferno de Dante" poucos anos antes, e me deliciei com toda a atmosfera e detalhe com o qual Dante Alighieri escreveu essa obra-prima. Fomos fiéis às passagens nas músicas que citam a obra e trouxemos uma arte gráfica rica, toda com as gravuras de Gustave Dorè. Esse "pequeno álbum" teve um impacto mundial totalmente inesperado por nós que repercute até hoje, possuindo uma legião muito fiel de ouvintes e divulgadores. Acho que esse ficou para história mesmo e nos orgulhamos muito disso. Esse registro foi muito importante para pocisionar o SCARS entre as grandes bandas do Brasil e seus grandes álbuns, porém com somente seis faixas - e assim mesmo fez mais barulho que muitos "full-lengths", até mesmo o Devilgod Alliance. Em comparação ao Predatory, ainda é muito cedo para dizer. Só o tempo e sua maturidade confirmarão isso.
RR - Já “Devilgod Alliance” trouxe uma banda
reformulada, e também apresentou uma sonoridade mais ríspida que flertava, por
vezes, com o death metal. O que esse trabalho representa para o Scars?
Alex - Esse é um ótimo trabalho, com muita qualidade
na gravação e peso nas composições. E sim, há muita influência de outros estilos
fora do thrash nele, porém breves e não predominantes. Metade desse álbum foi
composto durante a turnê do The Nether Hell, a outra metade por mim após a desmembração
da banda. O que fez mais falta nesse registro é o vocal e a arte de finalização
de estúdio do Régis, que fizeram muita falta durante o processo de gravação e
escolha dos temas e letras para o cd. Todas as letras do Devilgod são minhas e
tiverem sua execução em estúdio por um grande amigo meu, o André Guilger, que
recebeu tudo pronto e não teve muito tempo de criar grandes linhas de voz e
arranjos, mas fez um excelente trabalho não obstante. Eu e o João Gobo temos
uma afeição especial por ele, talvez por estarmos nele. O Marcelo Mitché adora
esse álbum, talvez mais que eu, e insiste para que toquemos pelo menos duas
faixas dele no setlist atual - o que será feito eventualmente. Eu tenho emoções
controversas sobre ele: de realização e missão cumprida, mas ao mesmo tempo ele
representa também uma época de término e interrupção na minha carreira musical.
RR - Sei que o momento atual está bastante
complicado, até mesmo para previsões acerca do que possa acontecer, mas, quais
são os planos da banda para o futuro? Um novo trabalho pode aparecer?
Alex - Apesar deste momento difícil e limitado que
vivemos agora, estamos muito ativos. Lançamos o Predatory em agosto de 2020, em
pleno isolamento. Desde então temos lançados um vídeo clipe para cada faixa do
álbum, somando 07 até agora, e deixando três que também terão seus vídeo
clipes. Tratamos e trabalhamos cada faixa como um disco inteiro. Fizemos três
grandes "lives" até agora e participamos de diversos festivais
online. Nossas plataformas digitais estão repletas com todo nosso material e
elas têm uma visitação massiva e constante. Bom, isso e muito mais até agora.
Sobre o futuro? Sim, podemos fazer planos, sem dúvida. E os executaremos de
acordo que a realidade se apresente. Celebraremos os 30 anos da banda neste ano
com diversos lançamentos digitais em todas as plataformas. Já estamos
trabalhando em novo material e temos quatro faixas finalizadas, contando no
processo com o Ricardo desde o começo dos riffs, o que representa uma adição
rica e muito importante, pois ele é uma fonte inesgotável de riffs, um cara
realmente prolixo e criativo. o Régis já está trabalhando na temática e
títulos/letras, dando muito cedo uma boa essência para ele. Posso dizer, sem
hesitar, que o próximo álbum existirá e será nosso melhor trabalho. Não o
lançaremos logo após a reabertura do mundo pois ainda queremos levar o "Predatory
on Tour" para a estrada, para o palco. Mas não tardaremos muito em dar
sequência a nossa discografia. Temos ainda muito para oferecer e o melhor ainda
está por vir.
RR - Gostaria mais uma vez de agradecer pela
entrevista e deixar este espaço final aberto para a banda.
Alex -
Muito obrigado pelo espaço e por seu suporte, Rebel Rock! Somos imensamente
gratos por nossa parceria. A todos que acompanham o SCARS, muito obrigado por
esses 30 anos, especialmente pelos últimos 02 anos, onde talvez fizemos muito mais
do que nos anos anteriores - e tudo isso graças a vocês! Sem nossos fãs não há
SCARS. Nós tocamos por e para eles! Amamos todos vocês, muito obrigado por
tudo!
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ResponderExcluirMuito amor cumplicidade talento dom, perfeitos naquilo que se propõe tamanho é nosso delírio risos balangueados ...som forte progressivo...faz nos felizes insanos com juízo perfeito..amo vc Scars com a msm proporção .sejamos felizes🔥🤘🌹🖤🖤🖤🖤🌺🎵💀
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