segunda-feira, 19 de abril de 2021

ENTREVISTA - SCARS

 



30 anos de luta em prol do underground. Uma vida levantando a bandeira do Thrash Metal. Escolha uma das alternativas para definir a carreira do SCARS, uma das melhores bandas nacionais do estilo! Tenho certeza que uma assertiva completa a outra. São tantas histórias que decidi trocar uma ideia com Alex Zeraib, guitarrista que está na banda desde 1993. Completam o time o carismático vocalista Régis F, o baixista Marcelo Mitché, o baterista João Gobo e o recém chegado Ricardo Lima, novo guitarrista, que substitui Thiago Oliveira. Aproveitando o lançamento do excelente PREDATORY (2020, lançado pela Brutal Records), leia o resultado da nossa conversa...



Entrevista: Sergiomar Menezes
Fotos: Rogério Del Vecchio

Rebel Rock - Primeiramente, gostaria de agradecer a disponibilidade para essa entrevista e, já dando início aos trabalhos (risos)... PREDATORY vem 12 anos após o último trabalho do Scars ( Devilgod Alliance de 2008). Como foi esse período para a banda?

Alex Zeraib - Obrigado mais uma vez pelo espaço e apoio. O período do último hiato do SCARS foi o de uma lembrança prazerosa e remota da banda que eu tive e que eu nunca contemplava seu retorno. Uma vez lançado o Devigod Alliance, fiz o que havia prometido a mim mesmo e aos músicos participantes do projeto, sendo o João Gobo (bateria) um deles: lançar o álbum por um selo local de peso, o que se deu graças ao interminável esforço e parceria do Silvio da Voice Music, não fazer turnê e nem shows do disco e por fim fechar as portas até uma próxima e muito improvável reunião futura. Em dezembro de 2017 eu decidi disponibilizar todo o material do SCARS online em todas plataformas disponíveis, a mérito de eternizar a banda e seus registros nesta era digital e acessível que vivemos. Uma coisa levou a outra e aqui estamos conversando sobre o novo SCARS e seu último lançamento, Predatory. Como a vida dá voltas, certo? A única certeza que temos do futuro é que ele é incerto e cheio de surpresas, algumas boas, outra ruins. Essa surpresa foi muito boa boa para mim e a todos envolvidos.

RR - O CD traz consigo uma produção primorosa e ao mesmo tempo, suja e pesada, evidenciando ainda mais essas características da banda. O quanto a produção de Wagner Meirinho ( Warrel Dane, Torture Squad) foi determinante para que o trabalho atingisse esse nível de qualidade  e excelência?

Alex - O Wagner tem um talento único e é um excelente produtor musical, especialmente de metal. Ele é muito metódico, seguro de si e aberto à participação da banda em todo o processo da gravação. Essa abertura possibilitou que chegássemos a um resultado muito próximo do que havíamos envisionado para o álbum, com idéias sendo geradas por diversas mentes brilhantes e dedicadas ao projeto. A parte cristalina e de precisão métrica se devem totalmente ao Wagner e sua equipe. A parte dos timbres e sonoridade do álbum é um crédito da banda, que não se deu por satisfeita até realmente chegar a um resultado que agradasse a todos os envolvidos. O Wagner foi muito receptivo e altruísta em sua figura de autoridade da produção e registro da obra, possibilitando a divisão de méritos e responsabilidades igualmente entre todos. Adoramos trabalhar com ele e sua equipe e queremos repetir a dose muito em breve.

RR - Obviamente que uma ótima produção não seria o suficiente para transformar Predatory em um grande álbum. Mas, ao escutarmos o CD percebemos uma raiva e agressividade presentes de forma natural, o que são também, características do Scars. Como se deu o trabalho de composição das faixas? E existe alguma ligação entre elas, do ponto de vista conceitual?

Alex - Predatory foi composto em mais ou menos dois anos no meu home estúdio, onde eu despejava idéias no PC, compartilhando todas com o Régis, que organizava as faixas individualmente para chegarmos a algo digno das composições do SCARS. Uma vez satisfeitos com a faixa e sua sequência, o Régis entrava com o tema para cada faixa, tal como seu título, assim dando à faixa alma e vida, não somente uma sequência de riffs e dinâmicas. As faixa não estão interligadas tematicamente entre si mas possuem referências de fontes comuns de inspiração. Eu participo na criação e composição das letras do SCARS desde o primeiro CD em 1994, mas é o Régis que estabelece a direção e essência das letras e temas de cada música. Sou um grande fã desse seu talento, ele é o melhor que conheço nisso - sem igual. E hoje mostramos que nossa parceria segue forte e conseguimos criar um álbum completamente online, a distância, porém devido ao objetivo comum que tínhamos, chagamos ao final juntos também e celebramos muito o resultado.

Alex Zeraib

RR - A faixa título abre o álbum com um rifferama totalmente thrash, enquanto o vocal nervoso, raivoso e agressivo de Régis mostra que ele é o único vocalista possível para a banda. Além disso, essa composição mostra como é a sonoridade do Scars. Ela foi escolhida de forma proposital para ser a abertura do CD?

Alex - "Ele é o único vocalista possível para a banda" - perfeito. Eu iria além, o Régis é o SCARS. Seu carisma, energia e talento são o que definem a banda e inspira a todos ao nosso redor desde sua fundação em 1991. Quando ele saiu da banda em 2007, ele levou parte da identidade do SCARS consigo. Assim, felizmente, trazendo tudo o que havia levado, e muito mais, de volta para a banda em seu registro de retorno Armageddon, que gravamos em setembro de 2018 (14 anos após seu último registro de estúdio com a banda). Alí ele mostrou que a criatura estava dormente, mas não deixando de evoluir. Com seu registro de vocal na faixa que abre o álbum, Régis confirmou que estava em sua melhor forma desde a fundação da banda e não somente fez sua parte com primor, como também " assustou"  a todos nós da banda. Ele realmente só soltou a voz e mostrou o que tinha preparado para o álbum no primeiro dia das gravações de voz - ficamos realmente impressionados com a potência e timbre que o vocal dele havia alcançado. Ele é um talento nato. Uma alma a serviço do metal. E sim, a faixa foi escolhida estrategicamente para abrir o álbum: rápida, técnica e com um refrão simples e direto.

RR - “Ancient Power” é um dos tantos destaques do álbum. Com uma pegada na linha “Blacklist” (Exodus) e “Inner Self” (Sepultura), ela tem tudo para se tornar um daqueles momentos onde o público vai interagir da forma mais “violenta” possível durante o show (risos). E, fiquei sabendo “por aí” que essa faixa por muito pouco não entrou no tracklist do álbum... Explique melhor essa história...

Alex - Esta foi uma das primeiras faixas a ser composta dentre as mais de vinte que fizemos para o álbum, de onde extraímos onze. E sim, ela foi a última a ser " aceita" no rol em questão, e ainda assim quase ficou de fora. Somos muito detalhistas (leia, chatos) e auto-críticos (leia, nunca satisfeitos) com a música que fazemos e mostramos para o mundo. Queremos entregar o nosso melhor, a nossa visão em seus menores, nunca menos importantes, detalhes. Queremos fazer o ouvinte voltar a faixa para revisitar alguns poucos segundos que só ocorrem uma vez em certo ponto. Não queremos reinventar a roda nem tentar criar um novo subgênero do metal - somos thrash-metal em sua essência, mas nos permitimos ir além de nosso território, contanto que julguemos o material nada menos que excelente. "Ancient Power" teve tempo para maturar, e quase não atingiu sua plenitude a tempo de entrar para o Predatory. Quando eu vi que ela ia ficar de fora, assumi a tarefa de repaginá-la para assim atingir um nível satisfatório unânime. Isso é uma certeza do SCARS, somente disponibilizamos material novo se cada um dos integrantes involvidos está totalmente satisfeito com o resultado. Vamos disponibilizar em breve as demos da pré-produção de Predatory e todos vão poder conferir como ela era antes e tirar suas próprias conclusões.

RR - As guitarras em Predatory, como em todo grande disco de thrash metal, são o grande destaque e mostraram um ótimo entrosamento entre Alex e Thiago. Quais as influências principais de ambos na hora de compor? Existe algo de fora do metal que agrega na hora de criar algum riff?

Alex - Essa é uma parte que me toca sensivelmente, obrigado (rsrs) e sim, na hora de compor, as idéias vêm de lugares muito inesperados. O Thiago possui uma gama muito maior de influências e as incorpora com maestria quando executando seus solos no álbum. Eu gravei somente um dueto de solos em Predatory, na faixa Sad Darkness of the Soul, inspirado na Orion, do Metallica. A bases foram todas compostas e gravadas por mim, assim que não houve participação do Thiago na composição e pré-produção do álbum. Não obstante, ele assumiu e cumpriu sua parte de compor e gravar todos os solos do álbum com toda sua competência, que já conhecíamos - e também foi muito além, trazendo elementos e passagens que nunca existiriam se não fosse por seu talento, dedicação e vasta experiência individual. Sua participação no álbum foi essencial para o sucesso e repercussão que ele vem obtendo desde seu lançamento em agosto de 2020. Ele assumiu a missão de fazer um belo e eterno registro, com muita autoridade e excelência em sua arte. Seremos eternamente gratos ao Thiago por isso tudo. Ele é um artista único, muito à frente dos tempos de hoje.


RR - Recentemente o guitarrista Thiago deixou a banda e em seu lugar entrou Ricardo Lima (Tosco, Chemical Desaster, entre outras), um músico experiente. Porque Thiago saiu e como se deu a escolha do Ricardo?

Alex - O Thiago é um músico/artista realmente atarefado, com diversas frentes acontecendo e sua carreira ao mesmo tempo. Apesar de todo seu esforço e dedicação, nós não conseguiríamos ter uma prioridade em sua agenda como esperamos de cada membo do SCARS. Cada membro é livre para ter seus projetos paralelos o quanto quiserem, que é o caso do Mitché e do Ricardo. Com isso, conversamos com o Thiago e decidimos juntos que era hora de encontrarmos um novo membro que se adequasse melhor ao perfil da banda. A escolha do Ricardo veio naturalmente. O Régis já me havia apresentado o Tosco e me pediu para prestar atenção nele tempos antes. Eu me identifiquei muito com seu estilo, não somete nos solos, mas principalmente na execução das bases, onde percebi que ele primava pela precisão e tinha uma mão direita firme e sólida, com nítida influência de thrash. Entramos em contato com ele e apresentamos uma proposta, que ele aceitou com vigor e se empenhou muito, desde esse primeiro contato, a fazer seu melhor para recolocar a posição do guitarrista solo de volta a banda. Sua dedicação surtiu resultados rápidos e em poucas semanas já estávamos ensaiando 9 faixas, que ele assumiu no peito e apresentou com muita autoridade. O Ricardo foi muito além do que esperávamos desde o primeiro dia. Hoje ele parece que sempre foi parte do SCARS, em tão pouco tempo. Todo o crédito e mérito são dele, estamos muito felizes em tê-lo conosco.

RR - Falando um pouco do passado, a banda completa agora em 2021, 30 anos de carreira. Como foi, lá o início da década de 90, a criação da banda e os primeiros anos de carreira?

Alex - O SCARS foi formado em 1991 pelo Régis, na Moóca, São Paulo. Eu entrei na banda em 93, poucos meses antes de gravar o primeiro CD. Quando cheguei, encontrei uma banda muito bem estruturada e já com uma certa experiência nos palcos, assim, com um certo número de fãs e possuindo uma certa popularidade. Após o lançamento do primeiro CD em janeiro de 1994, caimos na estrada e fizemos shows por todo o país pelos próximos 4 anos. Era uma época mais orgânica, menos virtual, então a banda era muito ativa nos palcos em uma cena brasileira muito rica. A banda teve algumas mudanças na formação durante tal período, mas, uma vez que já possuia uma personalidade muito forte e estabelida no thrash-metal, tais mudanças não a abalaram. O SCARS mostra hoje a mesma personalidade daquela época, e tentamos sempre honrar nossa história e passado.

RR - “The Nether Hell” (2005) é um álbum (EP) que se tornou clássico ao longo dos anos. Seja pela belo trabalho gráfico, seja pelo conceito das letras, seja pela qualidade da músicas. Como abanda vê, hoje em dia, a repercussão do trabalho e qual sua importância para a sedimentação da carreira do grupo?

Alex - O The Nether Hell teve toda sua temática tecida sobre as faixas depois que elas já estavam compostas e já estávamos em estúdio gravando-as. Eu havia lido "O Inferno de Dante" poucos anos antes, e me deliciei com toda a atmosfera e detalhe com o qual Dante Alighieri escreveu essa obra-prima. Fomos fiéis às passagens nas músicas que citam a obra e trouxemos uma arte gráfica rica, toda com as gravuras de Gustave Dorè. Esse "pequeno álbum" teve um impacto mundial totalmente inesperado por nós que repercute até hoje, possuindo uma legião muito fiel de ouvintes e divulgadores. Acho que esse ficou para história mesmo e nos orgulhamos muito disso. Esse registro foi muito importante para pocisionar o SCARS entre as grandes bandas do Brasil e seus grandes álbuns, porém com somente seis faixas - e assim mesmo fez mais barulho que muitos "full-lengths", até mesmo o Devilgod Alliance. Em comparação ao Predatory, ainda é muito cedo para dizer. Só o tempo e sua maturidade confirmarão isso.


RR - Já “Devilgod Alliance” trouxe uma banda reformulada, e também apresentou uma sonoridade mais ríspida que flertava, por vezes, com o death metal. O que esse trabalho representa para o Scars?

Alex - Esse é um ótimo trabalho, com muita qualidade na gravação e peso nas composições. E sim, há muita influência de outros estilos fora do thrash nele, porém breves e não predominantes. Metade desse álbum foi composto durante a turnê do The Nether Hell, a outra metade por mim após a desmembração da banda. O que fez mais falta nesse registro é o vocal e a arte de finalização de estúdio do Régis, que fizeram muita falta durante o processo de gravação e escolha dos temas e letras para o cd. Todas as letras do Devilgod são minhas e tiverem sua execução em estúdio por um grande amigo meu, o André Guilger, que recebeu tudo pronto e não teve muito tempo de criar grandes linhas de voz e arranjos, mas fez um excelente trabalho não obstante. Eu e o João Gobo temos uma afeição especial por ele, talvez por estarmos nele. O Marcelo Mitché adora esse álbum, talvez mais que eu, e insiste para que toquemos pelo menos duas faixas dele no setlist atual - o que será feito eventualmente. Eu tenho emoções controversas sobre ele: de realização e missão cumprida, mas ao mesmo tempo ele representa também uma época de término e interrupção na minha carreira musical.

RR - Sei que o momento atual está bastante complicado, até mesmo para previsões acerca do que possa acontecer, mas, quais são os planos da banda para o futuro? Um novo trabalho pode aparecer?

Alex - Apesar deste momento difícil e limitado que vivemos agora, estamos muito ativos. Lançamos o Predatory em agosto de 2020, em pleno isolamento. Desde então temos lançados um vídeo clipe para cada faixa do álbum, somando 07 até agora, e deixando três que também terão seus vídeo clipes. Tratamos e trabalhamos cada faixa como um disco inteiro. Fizemos três grandes "lives" até agora e participamos de diversos festivais online. Nossas plataformas digitais estão repletas com todo nosso material e elas têm uma visitação massiva e constante. Bom, isso e muito mais até agora. Sobre o futuro? Sim, podemos fazer planos, sem dúvida. E os executaremos de acordo que a realidade se apresente. Celebraremos os 30 anos da banda neste ano com diversos lançamentos digitais em todas as plataformas. Já estamos trabalhando em novo material e temos quatro faixas finalizadas, contando no processo com o Ricardo desde o começo dos riffs, o que representa uma adição rica e muito importante, pois ele é uma fonte inesgotável de riffs, um cara realmente prolixo e criativo. o Régis já está trabalhando na temática e títulos/letras, dando muito cedo uma boa essência para ele. Posso dizer, sem hesitar, que o próximo álbum existirá e será nosso melhor trabalho. Não o lançaremos logo após a reabertura do mundo pois ainda queremos levar o "Predatory on Tour" para a estrada, para o palco. Mas não tardaremos muito em dar sequência a nossa discografia. Temos ainda muito para oferecer e o melhor ainda está por vir.

RR - Gostaria mais uma vez de agradecer pela entrevista e deixar este espaço final aberto para a banda.

Alex - Muito obrigado pelo espaço e por seu suporte, Rebel Rock! Somos imensamente gratos por nossa parceria. A todos que acompanham o SCARS, muito obrigado por esses 30 anos, especialmente pelos últimos 02 anos, onde talvez fizemos muito mais do que nos anos anteriores - e tudo isso graças a vocês! Sem nossos fãs não há SCARS. Nós tocamos por e para eles! Amamos todos vocês, muito obrigado por tudo!

 


 

 

 

 

 

3 comentários:

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  2. Muito amor cumplicidade talento dom, perfeitos naquilo que se propõe tamanho é nosso delírio risos balangueados ...som forte progressivo...faz nos felizes insanos com juízo perfeito..amo vc Scars com a msm proporção .sejamos felizes🔥🤘🌹🖤🖤🖤🖤🌺🎵💀

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