Autopsy – “Morbidity Triumphant” (2022) Peaceville Records
A representação mais essencial e fidedigna do que convencionou-se chamar de Death Metal é encontrado em toda sua inefável magnitude em "Morbidity Triumphant", mais novo trabalho dos americanos do Autopsy.
Remanescentes de um cenário povoado por panteões do estilo (não é exagero creditá-los como um dos precursores da vertente mais selvagem e visceral da coisa), esses digníssimos senhores trazem nesse mais recente álbum alguns momentos de puro deleite para apreciadores daquele Death Metal mais orgânico e direto, onde a brutalidade em todos os aspectos é a verdadeira força vital.
"Morbidity Triumphant" já chama a atenção pelo aspecto visual, ostentando uma belíssima e - ao mesmo tempo -, grotesca obra do grande artista Wes Benscoter em sua capa. Realmente, se essa não for a capa mais impactante do ano, certamente está entre as cinco mais. E a representação de todo esse cenário estarrecedor vem acompanhada de uma trilha sonora mais que perfeita.
O ambiente é banhado em sangue e demais fluídos orgânicos já com o início acachapante de "Stab the Brain". Composição rápida e direta, forjada no mais absoluto peso abissal, apresentando aquela tão característica estrutura utilizada pela banda, intercalando dinamismo com alguns pontuais trechos cadenciados em seu decorrer. Sem sombra de dúvida, é o primeiro destaque do disco.
O ritmo é mantido de forma coesa, como toda banda que possui forte identidade arraigada à sua arte. Poucos segundos de audição e já sabemos do que se trata, o que é um quadro raro, haja vista a avalanche de bandas que preenchem esse contexto musical atualmente. Não adianta inventar moda, como dizia meu saudoso avô. Os mestres serão sempre insuperáveis!
O peso e a densidade das composições certamente estão entre os mais eficientes da trajetória da banda. Os riffs dissecantes de Danny Coralles e Eric Cutler (guitarras) estão mais diretos do que nunca, soando altos, potentes e “na cara”. A produção é excelente, mas faz questão de deixar tudo bem simples, objetivo, mantendo a atmosfera o mais sepulcral possível, preservando assim as características do velho Autopsy transportadas para os tempos atuais.
A cozinha é outro ponto a ser salientado, mesmo porque o mestre de cerimônia, o arauto da desgraça, Chris Reifert (vocal e bateria), parece regurgitar as entranhas a cada verso proferido enquanto surra sua bateria como se sua vida dependesse daquilo (bem, e de fato depende mesmo). Suas linhas de voz estão literalmente assustadoras como nunca se viu. No baixo, temos Greg Wilkinson (Death Grave, Static Abyss, Leather Glove) estreando de maneira bastante competente, marcando as músicas em acordes de baixo maciços, gordos, perfazendo o substrato correto para o bom desenvolvimento das composições.
Já me estendi demais (é o que acontece quando discorremos sobre bandas do coração) e peço perdão por isso. A tarefa pra enumerar destaques é sofrida, afinal o álbum todo se completa com primazia, mas “The Voracious One” (com sua pegada quase Stoner), a mórbida “Flesh Strewn Temple” e sua estrutura arrastada aos melhores moldes das formações mais sórdidas do Doom e “Knife Slice, Axe Chop” (uma das mais aviltantes do disco. Uma paulada direto no epicentro do crânio!) são as que mais me chamaram a atenção num primeiro momento.
Por fim, “Morbidity Triumphant” é tudo aquilo que esperávamos e até um pouco mais: a consolidação do legado de uma das bandas mais influentes do estilo de todos os tempos. Como o próprio título bem especifica: é o triunfo da morbidez. Simples assim.
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