terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

ENTREVISTA - VÁLVERA


Impossível começar esse texto sem dizer que CYCLE OF DISASTER, terceiro trabalho de estúdio do quarteto VÁLVERA, é um dos melhores álbuns lançados em 2020! Thrash metal vigoroso, brutal, agressivo, pesado, mas ao mesmo tempo, muito bem executado, gravado e produzido. Não á toa, o álbum figurou em diversas listas de Melhores do Ano nos sites e revistas especializadas. Não apenas em razão disso, pois ouvir o que as bandas têm a dizer sempre é muito bem vindo, mas pra falar sobre a carreira do grupo e dissecar um pouco mais deste mais recente trabalho, o REBEL ROCK trocou uma idéia com Glauber Barreto, vocalista e guitarrista da banda. Completam o time o guitarrista Rodrigo Torres, o baixista Gabriel Prado e o baterista Leandro Peixoto.

Por Sergiomar Menezes

Rebel Rock – Primeiramente, gostaria de agradecer a disponibilidade da banda em conceder essa entrevista. Apesar da pandemia, sei que o tempo acaba se tornando escasso para muitos. Mas já dando início ao papo, como surgiu a idéia de formar a banda? E quais eram as influências do grupo nesse início das atividades

Glauber Barreto: Fala galera da Rebel Rock, agradeço pelo convite. É uma honra ter esse espaço pra falar do Válvera. A ideia de montar a banda surgiu em 2010, eu e o Rodrigo já éramos amigos, sempre que a gente se encontrava ficamos falando de guitarra. Certo dia combinamos de fazer um som, tocar uns covers e colocar os amps valvulados pra fazer barulho. Acontece que nunca saiu cover nenhum, começamos uma Jam de coisas autorais, no final estávamos gravando riffs num PC velho do Rodrigo. Em 2010 nossas influencias eram Metallica, Iron Maiden, Motorhead, Raimundos... E cara a gente ouvia tudo e queria ser tudo rs, a gente tentava trazer coisas desde Charlie Brown Jr e Pearl Jam até AC/CD e Accept por exemplo. Éramos moleques querendo tocar tudo que gostávamos em um só som, pra beber e curtir, cagando para as regras que os xiita do metal seguem. No início esse era nosso único foco, curtir. 

RR – Após a mudança para São Paulo, em 2013, dois anos depois sai “Cidade em Caos”, primeiro trabalho do grupo, cantado em português. Como foi o processo de composição e gravação do álbum? E cantar em português era a opção inicial, uma vez que, poucas bandas utilizam nossa língua, ainda mais dentro do Thrash Metal?

Glauber Barreto: A gente pensava que cantar em português seria maravilhoso, que a galera iria curtir uma banda fazendo metal na língua nativa. Talvez isso funcione para algumas bandas como Ratos de Porão e Project 46 por exemplo. Pra nós do Válvera não rolou tão bem. Tivemos muito preconceito, muita gente torcendo o nariz e fechando portas para nós, por cantar em Português. Nós tínhamos esse sonho de fazer o rolê todo BR mesmo, mas não da pra ficar socando ponta de faca, mudar foi necessário. A produção foi demorada, levamos alguns anos pra completar as 9 músicas, pois eu o Rodrigo que fizemos todas as composições e ainda éramos inexperientes, sofremos um pouco, mas sempre tivemos a vontade de se virar sozinhos, aprender, participar de tudo, até na  mixagem e masterização. Tem que ser fominha nessa profissão, porque se você não entra de cabeça e fica foda, quem vai te respeitar? E gravar o primeiro álbum dentro do Mr. Som, por Pompeu e Heros do Korzus foi algo inexplicável, os caras são lendas e nós éramos uns moleques do interior perdidos na cidade grande, tivemos que calejar rapidamente pra dar conta.

RR – Dois anos depois, em 2017, é lançado “Back to Hell”, cantado em inglês. Foi uma opção da banda ou a repercussão do trabalho anterior, dentro do próprio grupo, não foi totalmente satisfatória? Pergunto isso pois muitas vezes, mesmo que a banda apresente qualidades, o público, ou boa parte dele, mostra certo preconceito com letras em português...

Glauber Barreto: Não temos vergonha do “Cidade em Caos”, mas foi um álbum que não nos deu o fluxo esperado. Não éramos pesados demais pra tocar com a galera do Thrash e nem leve demais pra tocar com a galera do Rock, isso sem falar das letras em português. Ficamos de fora de vários festivais, perdemos muito mais tempo explicando o trabalho do que tocando e crescendo. Isso tudo tem que ser colocado na balança, porque a gente não largou família e emprego, não viajou mais de 500km e tudo mais pra ir brincar de banda na capital. A gente sempre quis crescer e figurar entre as bandas principais. Então foi meio que uma decisão de sobrevivência, ou mudamos ou morremos. Mudar para inglês e deixar o som mais pesado era inevitável para nós!

RR – E como foi a repercussão de “Back to Hell”, perante imprensa e público?

Glauber Barreto: A melhor possível, foi algo surreal. Começamos com o single “Demons Of War” que logo de cara foi considerado para muitos como um “Hino Do Metal Nacional”, lembro de ler essas coisas e ficava em êxtase. Ainda tivemos “The Traveller” e “Back To Hell” que tocaram em programações de rádio etc. Fizemos mais de 100 shows nessa turnê, fomos pra Europa, tocamos em 8 países. Cara, B.T.H. é pra nós da banda o nosso primeiro álbum de verdade, pois é ali que mostramos para que viemos, onde mostramos uma evolução enorme de álbum para outro.

RR – Esse álbum proporcionou à banda sua primeira tour na Europa, certo? Como foi essa experiência?

Glauber Barreto: Você consegue imaginar, o que é pra uma banda saída do remoto interior de SP chegar na Europa, por conta de seu próprio corre e trabalho? É uma das melhores sensações da vida, é inexplicável. Ficamos 22 dias na Europa, tocamos na Alemanha, França, Itália, Holanda, Polônia, Rep. Tcheca, Bélgica e Eslovênia.
E sabe, ir pra lá mudou muita nossa cabeça, abriu a mente, deixamos de ver um cenário nacional e começamos a analisar um cenário mundial. Então além de ter sido a realização de um sonho, também foi uma faculdade pra todos nós.


RR – Acredito que toda essa bagagem serviu de background para o mais recente  trabalho...

Glauber Barreto: Exatamente, foi isso que aconteceu. Nós evoluímos de acordo com o que nossa mente está trabalhando, essa vivencia deu vida ao trabalho novo. Em uma entrevista com nosso amigo e dono da Rádio Alemã, FCK FM, nós tivemos a ideia de fazer esse trabalho novo. Voltamos de lá com ainda mais “Sangue nos zóio”.

RR – Falando nele, “Cycle of Disaster” é um álbum maduro, pesado e brutal! Não á toa, figurou em várias listas de melhores de 2020, inclusive aqui no Rebel Rock e na minha lista de melhores do ano na revista Roadie Crew. Quando vocês gravaram o trabalham, já tiham a noção que haviam criado um disco desta expressão?

Glauber Barreto: Cara, esse álbum foi uma coisa louca. Foi a produção mais rápida que fizemos, desde concepção, temas, melodias, letras e tudo mais. A gente queria tanto mostrar pro mundo o que a gente estava sentindo e pensando depois da tour Europeia. Foi onde decidimos modernizar nosso som, começar a pisar em novos territórios, usar afinações mais baixas e tals. Eu não posso chegar e te falar que eu sabia que ele seria um álbum de tamanha magnitude assim, mas eu não posso negar que a gente sabia que ele era foda e melhor que o anterior! Sobre ficar entre os 10 melhores da Roadie Crew, Rebel Rock e de tantas outras listas brasileiras e estrangeiras é algo pra coroar de vez, temos muito orgulho desse trabalho e ele se tornou inegável no cenário, provando com nossa competência que o Válvera é uma das grandes bandas da nova safra!

RR- Como foi o processo de composição, gravação e produção do CD?

Glauber Barreto: O álbum “Cycle Of Disaster” foi gravado no Dual Noise Estúdio, mixado e masterizado por Rogerio Wecko, que é um monstro e nos ajudou bastante com as timbragens mais modernas. A gente queria mudar, usar afinações baixas e timbres de 2020 e muitos trabalhos vindo desse estúdio chamaram nossa atenção, exemplo disso os álbuns dos nossos amigos do Venomous e Laboratori. Então tendo em mente o que queríamos de sonoridade, juntamos com as idéias que adquirimos na estrada e na tour européia, foi questão de alguns meses compondo riffs e letras, pesquisando as histórias que usamos de tema e adaptando tudo pra música soar bem.  Quando entramos no estúdio, tudo já estava pronto pra gravar. De verdade foi o álbum mais gostoso de produzir, gravar e até tocar ao vivo!

RR – “Cycle of Disaster” possui letras sérias, críticas e bastante profundas. A banda tem a preocupação de unir o som pesado e agressivo à letras que tragam reflexão aos fãs?

Glauber Barreto: Eu acredito que nosso trabalho vai além de entretenimento, nós músicos, somos a voz de muita gente, nós representamos o grito de quem não é ouvido, nós manifestamos questões e reflexões. Todas as nossas músicas tem um tema, tem um significado e se você prestar atenção, mesmo falando algumas vezes de assuntos antigos a gente aborda coisas atuais, exemplo disso é a “Glow Of Death”. Contamos a história da contaminação por Césio 137 que aconteceu em Goiânia em 1987, mas deixamos ali a mensagem de que a falta de preparo das autoridades, misturado com a ignorância de um povo pode acarretar em novos desastres. Em uma roupagem diferente, mas seguindo o rabo do cometa está aí o Covid de exemplo. Precisamos ter cuidado todo o tempo pra não reviver momentos infelizes que a nossa história já ensinou. E isso serve para todas as outras músicas. E pra quem quer conhecer as letras e diz que não entende nada em inglês,  www.letras.com.br , tem todas as nossas letras com tradução. Vale a pena conferir!  

RR – Fale um pouco das faixas que você considera as mais importantes e com uma mensagem mais forte presentes no álbum.

Glauber Barreto: Com certeza cada um de nós tem uma visão diferente sobre cada música, essa é a maravilha da arte, ser compreendida de formas diferentes, mas pra mim as mensagens mais poderosas estão na música “Cycle Of Disaster”, onde falamos da manipulação da religião, da pedofilia e abusos sexuais que padres e pastores fazem, falamos da maquina de enriquecer usando o nome de Deus em cima de uma fé que eles dizem que deve ser inquestionável. Outra música é “All Systems Fall”, onde falamos sobre o sistema que vivemos, a engrenagem da manipulação e corrupção política, onde somos eternos peões de um jogo que jamais ganharemos, da falsa sensação de justiça e liberdade. “Born On A Dead Planet” fala sobre o desmatamento, a falta de respeito pelo nosso planeta, o consumo exagerado e destruição que vai nos causar uma provável extinção e a “Bringer Of Evil” que fala sobre a maldade que o ser humano leva com ele, os atos hediondos e cruéis que as pessoas fazem, da intolerância, do preconceito e do lado obscuro que habita dentro de muitos. Pra mim essas são as mensagens mais poderosas desse álbum.

RR - 2020, apesar da pandemia, foi um ano em que muitas bandas tiveram que aprender a se reinventar, seja na divulgação dos trabalhos, seja na interatividade com o fã. Como foi o ano que passou para o Válvera?

Glauber Barreto: Não da pra esperar a pandemia passar pra gente trabalhar, no mundo de hoje que a internet é uma ferramenta tão poderosa, seria ridículo dizer que não dá pra fazer algo. Esse foi o ano que a gente fez várias lives batendo papo, fizemos 2 shows em live também, participamos com vídeos em vários festivais não só pelo Brasil, mas no mundo todo. Fizemos novos contatos, demos entrevistas diversas, trabalhamos nossa loja virtual e vendemos muitas camisetas e CDs. Tentamos trazer o fã pra mais perto, fizemos materiais de faixa a faixa pra explicar as músicas, fizemos lyric videos, conseguimos uma gravadora americana (Brutal Records), vencemos o concurso New Rock Bands elaborado por Kiss Fm e Top Link (Paulo Baron) e participamos de coletâneas virtuais, até fazendo uma versão de “Heaven’s On Fire” do Kiss. Apesar de ser um ano terrível por conta da pandemia, temos que agradecer por estamos todos com saúde e ainda conseguido trabalhar muito bem nossa música e imagem. Vamos sair da pandemia maiores do que quando ela começou. 

RR – E o que esperar de 2021?

Glauber Barreto: Temos muitos planos! Eu e o Rodrigo fizemos alguns cursos de Marketing, Economia e também de música, vamos juntar com o resto da banda pra colocar todas as ideias alinhadas e em funcionamento. Assim que os shows voltarem a acontecer a gente caí na estrada e claro, esse ano começamos a gravar o novo álbum dos Varva!!! Vai rolar também uma coletânea inglesa onde vamos fazer uma versão valverizada de “Stayin’ Alive” do Bee Gees, imagina só que doidera vai ficar rs!

RR- Obrigado pela entrevista e deixo aqui o espaço para mandar um recado para os fãs!.

Glauber Barreto: Eu quem agradeço o espaço, poder falar do Válvera é um prazer imenso. Quero agradecer aos nossos fãs, eles sempre nos apóiam, sempre participam de tudo que a gente inventa e muitos deles se tornam amigos pessoais, acredite, o Válvera está virando uma família gigante rs. Continuem nos apoiando, continuem participando porque tudo é feito com muito amor e maldade pra vocês! Valeu demais!!!!

 


 


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

NERVOSA - PERPETUAL CHAOS (2021)

 


Rupturas são sempre traumáticas. Não importa o motivo, pois as partes envolvidas acabando sofrendo todas as agruras que uma separação, mesmo que amigável, causa. No entanto, após as feridas se tornarem apenas cicatrizes, muitas vezes o que vem pela frente pode ser algo muito benéfico. Basta saber como cada um vai encarar a situação. E no caso da NERVOSA, o resultado da separação envolvendo a banda, é o que se vê e ouve em PERPETUAL CHAOS, lançado no Brasil pela Shinigami Records. O trabalho é "apenas" o melhor álbum já lançado pela banda. Seja pela entrada das novas integrantes, seja elo sangue no olho da guitarrista e líder Prika Amaral, temos aqui um dos sérios candidatos a melhor álbum de 2021. E o ano mal começou! 

Ao lado da já citada Prika, as novas integrantes Diva Satanica (vocal - Bloodhunter), Mia Wallace (baixo, ex- Abbath) e Eleni Nota (bateria), mostraram que, muito mais do que simples substitutas, entraram para fazer história na banda. Os vocais de Diva Satanica se mostram bem mais encaixados na proposta do grupo que os da ex-vocalista Fernanda, uma vez que esta última estava indo para um lado bem mais death metal. Claro que a escola da qual Diva faz arte também é essa, mas seu timbre soa muito mais natural. Enquanto isso, Mia e Eleni mostram um entrosamento coeso e versátil, deixando uma maior liberdade para que Prika possa destilar seus riffs thrash/death com maior precisão e garra. O resultado disso tudo são 13 faixas que carregam consigo peso, agressividade e muita vontade de mostrar ao mundo que a NERVOSA está de volta. E não é demais reforçar, melhor do que nunca.

"Venomous", um petardo com riffs animais, abre o trabalho mostrando que o quarteto veio com aquele já citado "sanguenozóio". Diva imposta sua voz de forma precisa, num misto de guturais mais ríspidos e outros mais rasgados, o que não é nenhuma novidade, pois quem conhecia seu trabalho a frete da Bloodhunter já sabia o que esperar. O que chama atenção é a unidade apresentada. Mesmo sabendo que em estúdio "tudo pode acontecer", o quarteto mostra entrosamento e parece que sempre tocou junto! Na sequencia, "Guided by Evil", que já havia sido divulgada anteriormente, começa com um clima denso, pesado e sombrio, mas descamba para um thrash/death cheio de violência. O solo de Prika traz influência da escola do thrash alemão, uma vez que é levado pra um lado muito mais agressivo do que melódico. A velocidade e brutalidade ditam as regras de "People of the Abyss", faia que merece ser destacada a participação de Eleni Nota. Precisa e dona de técnica apurada, a baterista apresenta excelente desenvoltura. Já a faixa título é um dos destaques do álbum. Pesada, com uma levada mais cadenciada e com uma performance inspirada por parte de Diva, a composição mostra uma face mas suja e brutal da banda, sem qe para isso seja necessário abusar da velocidade. Obviamente que, durante a sua execução, partes mais velozes surgem acompanhadas de um solo de guitarra bem interessante. "Until the Very End" conta com a participação do guitarrista Guilherme Miranda (Entombed A.D./ex- Krow). Mais próxima do thrash tradicional, a faixa traz uma linha guiada pelas guitarras, o que não poderia ser diferente. 

O mestre do thrash alemão, Schmier Fink, é o convidado em "Genocidal Command", uma composição que poderia facilmente estar em um dos mais recentes trabalho do Destruction. Nunca é demais lembrar que a banda brasileira dividiu o palco com os alemães pela Europa. "Kings of Domination" é outro ótimo momento, pois foge do esquema "velocidade da luz" e prima pela condução diversificada durante sua execução. As guitarras, mais uma vez, merecem destaque, pois despejam peso e sujeira em nossos ouvidos de uma maneira absurda. Isso se torna curioso, pois mesmo que nos trabalhos anteriores Prika trouxesse sua criatividade, aqui ela parece ter se soltado mais, provando (como se precisasse) ser uma excelente criadora de riffs. Enquanto isso, "Time to Fight" resgata uma aura thrash/HC, num dos momentos mais cheios de energia e adrenalina do álbum. Imagino o estrago que isso vai fazer em um show do quarteto... "Godless Prisoner" é outo momento bem trabalhado, com passagens cadenciadas alternado com momentos mais rápidos e ríspidos, o que transforma sua execução em algo mais visceral, assim como "Blood Eagle", que mantém as mesmas características, diferenciado apenas pelas passagens mais lentas. Erik AK (Flotsam and Jetsam) é o convidado em "Rebel Soul", um momento que nos remete aos primórdios do thrash americano, principalmente pelos vocais de Erik, que conseguem transmitir uma atmosfera mais voltada à Bay Area. "Persued by Judgement" é outro soco seco na boca do estômago, enquanto o encerramento vem com "Under Ruins", densa, obscura e que fecha de forma brilhante esse "renascimento" do agora quarteto.

PERPETUAL CHAOS, quarto disco da NERVOSA não é apenas um álbum que vem para mostrar que  a banda conseguiu se reerguer e dar a volta por cima. Muito mais do que isso, o trabalho mostra que as novas integrantes acrescentaram, e muito, ao grupo. Sem dúvidas, um dos melhores álbuns do estilo lançados nesse ano. E, nunca é demais ressaltar, estamos apenas em fevereiro...

Sergiomar Menezes








quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

REBEL ROCK ENTREVISTA - AS THE PALACES BURN


REBEL ROCK ENTREVISTA


O Estado de Santa Catarina já deixou sua marca na lança do destino, do som pesado. Já é bem conhecido por ter nos entregado grandes nomes, que contribuíram e muito para o som pesado nacional, a exemplo da Frade Negro, Orquídea Negra, Flesh Grinder e muitos outros nomes. É também terra de grandes eventos musicais que vão desde festivais abertos até orquestra de bateria. 

Não é de estranhar nenhum pouco quando Criciúma, então, nos presenteia com mais um nome promissor para o metal nacional (e quem sabe internacional, em breve). Em 2018 ganha vida a As The Palaces Burn, formada por Alyson Garcia (vocal), Diego Bittencourt (guitarra), Gilson Naspolini (bateria) e André Schneider (baixo), e como o próprio nome da banda já entrega a influência a banda vem com a “faca nos dentes” para mostrar peso e atitude. Tivemos a oportunidade de trocar ideias com os integrantes e saber um pouco sobre a história da banda, as dificuldades e planos futuros. Sigam a banda nas redes e se informem sobre o material de divulgação e o CD. Além de peso e agressividade, a A.T.P.B. traz a marca do profissionalismo e cuidado com seu material, desde o primeiro instante. Dá gosto de ver!

Espero que se divirtam com esse bate papo.

Por Uillian Vargas

RR -Para aquecer a conversa, como aconteceu a reunião que deu origem a banda?

Diego: Na época eu já tinha em mente com quem queria trabalhar. Me encontrei com cada um deles, conversando sobre o plano e mostrando o som. Posteriormente fizemos uma reunião com todos juntos. Eu, Gilson e Alyson já tinham trabalhado juntos no passado, o André só eu conhecia até então.

RR - O Estado de Santa Catarina tem histórico por entregar nomes competentes para o metal nacional. Como a cena metal do estado está recebendo a sonoridade da A.T.P.B. (fãs e bandas)?

Alyson: Desde o primeiro single, The Devils Hand, tivemos uma boa aceitação, com o lançamento do álbum de estreia End´evour, nos lançamos em definitivo na cena e a reposta por parte do público, crítica especializada e bandas, foi ótima. Quando a ATPB foi criada a ordem era fazer a diferença e trabalhar duro para termos os devidos resultados que almejamos. Para nós é um privilégio estar em destaque no cenário brasileiro de metal que é tão rico.

RR - Sabemos que manter uma banda respirando não é uma tarefa fácil. Mas entre esse complexo sistema de sobrevivência, qual o elemento que mais dificulta a continuidade da banda?

Gilson: existe um paradoxo especialmente em bandas independentes, especialmente de heavy metal. Se todos vivêssemos da banda, estaríamos passando fome; o que torna fundamental que todos tenham outras fontes de renda. Porém, exatamente os compromissos alheios à banda, que mantém nossas vidas, são os que eventualmente atrapalham a agenda. Creio que o mais difícil seja conciliar isso, em qualquer projeto musical sem apelo comercial. Por isso valorizamos muito o tempo um do outro, somos sempre francos e objetivos nas conversas e mesmo nas divergências, tentamos não levar para o lado pessoal, pois existe um limite até onde cada um pode chegar. É importante entender isso para que a banda permaneça ativa e mais importante, com uma relação saudável entre os músicos. 

RR - Agora falando sobre conquistas, antes do mundo entrar em pausa, a banda andou excursionando em diversos shows. Tocou no Otacílio Fest, visitou o RS e arrancou excelentes impressões em resenhas. Como foi estar em palcos de peso?

André: Para nós foi ótimo, aliás, como sempre é estar no palco. Tocamos em um evento em que teve nada menos que Mike Portnoy como atração principal , no dia seguinte, tocamos em Caxias do Sul como uma das bandas de abertura para o Brujeria. Tocar no Otacílio foi sensacional, pois algumas coisas deram errado no palco (mais do que se imagina rs) e, por estarmos bem entrosados, conseguimos superar os contratempos e ao final do show, a resposta do público foi simplesmente ANIMAL!



RR - Aliás, ir para a estrada requer muito preparo. Mas atualmente, a banda continua ensaiando e se preparando, longe da estrada?

Diego: Estamos aguardando o momento certo para voltar aos ensaios. Nesse momento estamos canalizando forças para outras tarefas como, por exemplo, as novas composições, a gravação do clipe que foi feita, etc.

RR - E nesse momento tenso que vivemos, como a banda tem se conectado com os fãs e os consumidores do material da banda?

Gilson: É interessante lembrar que não temos assessoria externa até o momento desta entrevista, então como você pode imaginar, é uma luta diária nos mantermos ativos perante o público. Dividimos bem as tarefas. Atualmente eu faço a parte gráfica, digamos assim, e o Alyson cuida dos contatos com os meios de comunicação. E estamos todos sempre instigando uns aos outros com novas ideias. Seja um clipe novo, um documentário sobre alguma produção, até mesmo promoções como fizemos com a estreia do EP All The Evil. Entendemos a importância das mídias digitais e justamente por isso preferimos fazer tudo nós mesmos enquanto não achamos alguma assessoria que possa atender nossas expectativas e a do nosso público. 

RR - Percebemos a movimentação no lançamento do “All The Evil” (2020). Que além de um tributo ao Savatage, vem com duas músicas próprias que contextualizam o “End ́evour” (2019). Pode falar um pouco sobre esse conceito?

Diego: Essas duas outras músicas elencam fatos que ocorrem antes do End'evour, eventos esses que explicam a forma de como tudo se desencadeou para chegar ao ponto em que chegou.Alyson: Foi muito semelhante à escolha de ¨Abigail¨, procuramos escolher um clássico de metal dos anos 80 e que não tivesse muitas versões. Essa música assim como o tributo ao King Diamond tem um significado especial para mim, outro clássico que eu cantarolava quando mais jovem e hoje tenho o privilégio de dizer que fizemos uma grande homenagem.

RR - E como aconteceu a decisão de homenagear o Savatage?

Alyson: A responsabilidade foi enorme! Mas sabíamos que esse desafio poderia evidenciar as nossas virtudes. Queríamos uma versão mais pesada e moderna. Essa faixa evidencia os irmãos, Criss Oliva(guitarra) e os vocais do Jon Oliva.  Como de costume criamos uma guia inicial para analisar todo os pontos, isso facilita o processo de produção e gravação. Em se tratando das vozes, o meu objetivo era homenagear adicionando minha personalidade, imprimindo mais pegada e drives, porém mantendo o que era mais marcante nas linhas vocais. O resultado ficou muito satisfatório!

RR - Outra percepção é o quanto a banda investe profissionalmente na qualidade das produções. Primeiro na sonoridade e segundo no material que dá suporte. Exemplo da capa criado pelo Marcelo Vasco. Como foi trabalhar com o Marcelo?

Gilson: Quando o Diego trouxe a ideia de falar com o Vasco, foi unânime nossa aprovação. Os trabalhos dele dispensam comentários, a ponto de que demos total liberdade para que ele criasse a arte, baseado apenas na mensagem que queríamos passar com a temática das letras. O resultado não foi menos que sensacional, amamos essa capa e todo o material de merchandising que estamos fazendo a partir dela. 

RR - Quanto à banda precisou interferir na criação do conceito da arte do single?

André: O Marcelo Vasco nos retornou com a arte quase que na sua forma final. Foram algumas trocas de e-mail e logo chegamos ao resultado final. Lidar com um profissional do nível do Marcelo facilita as coisas.



RR - Sobre as novas tecnologias, como a banda interpreta o uso das plataformas (discord, twitch, etc.) e streamings de músicas?

Diego: Todo nosso material, seja em áudio ou vídeo, está disponível nas principais plataformas digitais (YouTube, Spotify, Deezer, etc). Acredito ser um meio mais fácil das pessoas conhecerem o trabalho da banda, ainda mais num momento de pandemia que estamos passando.

RR - Acham que elas ajudam ou acabam deixando os ouvintes mais “preguiçosos”?

Diego: Toda forma de divulgação de material ajuda com certeza. O fato é que esse material tem que ser bem preparado pra conseguir atenção suficiente de quem ainda não conhece o trabalho da banda.

RR -Ainda sobre o momento pandêmico. Se não for só um “momento”, como a banda tem pensado na continuidade da produção de material caso o isolamento continue?

Gilson: O que posso garantir é que se essa pandemia seguir por muito tempo, vamos continuar criando material, promoções e apresentações online. De resto, temos toda uma agenda programada para este ano e até mesmo 2022. Estamos bem focados e motivados, independente da situação pandêmica. 

RR - Aproveitando o gancho sobre pandemia e “lançar material”, como foi lançar um disco sem plateia na frente do palco?

André: foi uma sensação estranha, ruim sob esse aspecto. O ideal é lançar um trabalho e já sair fazendo shows para divulgar o material, com resenhas e reviews como complemento, porém em tempos de pandemia as coisas ficaram meio "do avesso", então estamos nos adaptando a isso investindo em mídias digitais e sites especializados para essa divulgação. 

RR - Encaminhando para o final dessa conversa, agora gostaria de fizesse um exercício complicado de pensar sobre o futuro. Como você imagina a As the Palaces Burns daqui 5 anos!

Alyson: Vejo que a ATPB estará com trabalhos de maior expressão, entre as referências no metal nacional e com notoriedade lá fora.

André: Desde a gravação do primeiro single, nós estabelecemos um modo de trabalhar que vem dando muito certo, pois otimizamos o tempo em estúdio e o resultado do trabalho tem suprido as nossas expectativas. Acredito que em 5 anos, mantendo essa forma de trabalhar e com o fim da pandemia, alcançaremos objetivos ainda maiores que é sermos reconhecidos dentro e fora do Brasil. Buscaremos isso.

Gilson: Desde quando iniciamos o projeto, nosso objetivo à longo prazo sempre foi alcançar o público fora do Brasil. Acredito que se em 5 anos (espero que menos) estivermos lá fora, ou no mínimo, encaminhando para tal, saberemos que estamos fazendo o trabalho direito.

Diego: Todos Creio que a banda estão sob trilhos diferenciados, especialmente durante essa pandemia. Fizemos mais, produzimos mais do que muitas outras bandas que resolveram estacionar o barco esperando ver o que daria. Por esse mero exemplo se consegue imaginar a determinação que temos em buscar por resultados. Não me espantaria de ver a banda excursionando no exterior com grandes nomes do metal nos próximos cinco anos.

RR - Bom, gostaria de agradecer a oportunidade dessa troca e desejar muito sucesso para As the Palaces Burn. Deixo espaço final para tuas considerações e recado aos nossos leitores. Sucesso!

Alyson: Uillian, nós agradecemos o apoio. Desejamos que veículos como o Rebel Rock se mantenham e continuem espalhando informação, contribuindo com a cena Rock/Metal! Aguardem o vídeo clipe de “All The Evil” que esta em produção, além do novo single que estamos registrando neste momento e promete ser um divisor de águas. E claro o novo álbum em 2021! Fiquem ligados, nós vamos com tudo! 


 

 

 


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

IRON MAIDEN - NIGHTS OF THE DEAD - LEGACY OF THE BEAST - LIVE IN MEXICO CITY

 


Falar de IRON MAIDEN não é fácil. Mas deveria ser, afinal estamos falando de uma das maiores, senão a maior, bandas de Heavy Metal de todos os tempos. E isso é inegável, até mesmo para aqueles que não gostam do sexteto inglês (sim, existem pessoas que não gostam do grupo). E, por incrível que possa parecer, de uns tempos para cá, até mesmo aqueles fãs mais "fiéis" parecem torcer o nariz para a Donzela, seja pelas últimos trabalhos de estúdio, seja pelos álbuns ao vivo lançados pela banda. Tudo isso volta a acontecer de forma consistente com NIGHTS OF THE DEAD - LEGACY OF THE BEAST - LIVE IN MEXICO CITY, álbum duplo ao vivo, gravado, como o próprio título entrega, na Cidade do México nos dias 27, 29 e 30 de setembro de 2019. Mais uma vez, aquelas já manjadas reclamações sobre o setlist (as quais, eu próprio me incluo), mas principalmente, sobre a produção e mixagem do trabalho. E, provavelmente, esse seja o principal ponto de discordância.

Não é novidade pra ninguém que Steve Harris gosta de ter tudo sobre seu controle. E, não fosse por isso, talvez o IRON MAIDEN não tivesse chegado onde chegou. Mas também é preciso concordar com quem reclama das produções do Stevão, vez que soam, na maioria das vezes, sem peso e muito abafadas. Acontece que aqui, ainda que não estejamos diante de algo limpo e cristalino, o álbum repassa SIM toda a energia das apresentações protagonizadas pela banda durante essa turnê. Quem teve a oportunidade de presenciar algum desses shows in loco, ou que tenha assistido o Rock in Rio pela TV, sabe do que estou falando. Ainda que existam certas restrições à faixas presentes e a outras que deveriam estar relacionadas, o CD duplo nos mostra que a banda ainda pode nos oferecer um show de Heav Metal grandioso, ainda que a idade tenha chegado de forma direta a esses senhores. Tony Newton produziu o trabalho que contou com a co-produção de Steve Harris (?!), tendo ficado o primeiro, responsável também pela mixagem e engenharia do trabalho.

Com relação ao setlist, fica difícil reclamar, uma vez que um show que começa com "Aces High" (magnífica como sempre), passa pela espetacular "Where Eagles Dare" (uma daquelas faixas que muitos fãs esperavam há muito tempo poder ver e ouvir ao vivo), "2 Minutes to Midnight", que apesar de "batida" ainda desperta aquele sentimento nostálgico em seus riffs, e vai até "The Clansman"? Essa última, é uma daquelas faixas que, mesmo abusando da fórmula parte lenta, refrão grudento pra cantar junto, consegue fazer até os seguranças do show erguerem os punho e gritar "Freedom"! "The Trooper", que parece não envelhecer, mostra que um clássico dessa magnitude não pode sair do setlist, assim como "Revelations", um dos momentos mais esperados e aqui, um dos grandes destaques do álbum. Particuarmente, confesso que "The Greater Good of God" é uma faixa que nunca chmaou muito a minha atenção, mas depois que tive o privilégio de assitíla ao vivo, entrou no meu rol de músicas que não podem faltar em uma playlist ou show do grupo. O primeiro CD fecha com "The Wicker Man", que traz, mesmo que instintivamente, a abertura do show da bando no Rock in Rio de 2001.

O segundo CD abre com "The Sign of the Cross", uma das melhores faixas da era Blaze Bailey e que, no show, ganhou ares teatrais sombrios e pesados. Mas também preciso confessar que, se fosse me dado o direito de mudar algo, eu a trocaria por duas músicas, uma vez que ela é bastante extensa. "fligh of Icarus"... o que dizer a respeito? Uma das melhores faixas já gravadas pelo Iron, com uma performance de Bruce Dickinson que nos kostra que o velhinho ainda tem muita lenha par queimar. Na sequência, uma das faixas mais controversas do setlist: "Fear of the Dark". Muitos fãs reclamam e acham que ela deveria ser limada do repertório por ser batida, insuportável, chata, entre tantos outros termos depreciativos à ela impostos. Mas alguém em sã consciência retiraria do set uma faixa que causa a maior interação com o público? Eu concordo com a banda, afinal, show de rock não é par agradar fã xiita. Se for assim, faz um playlist e ouve no celular, no carro, em casa, etc... O clássico dos clássicos vem para nos lembrar o por quê do Iron Maiden ser o Iron Maiden. "The Number of the Beast" não precisa de nenhuma apresentação, comentário ou o que for. A simples menção de seu nome já diz tudo. "Iron Maiden" é outro momento clássico e inesquecível. Já "The Evil That Men Do" é um moemnto que eu sempre esperei ter a oportunidade de ver assistir ao vivo, o que consegui em 2019. E é impossível oví-la aqui e não relembrar desse momento mágico e espetacular. Pra encerrar, a maior e melhor composição do grupo (e talvez, um dos melhores solos da história do Heavy Metal): "Hallowed be thy Name", acompanhada da já clássica faixa de encerramento "Run to the Hills".

Agora, com relação a produção... Obviamente que ela não é mais perfeita, algo que vem recorrente nos últimos trabalhos ao vivo da Donzela. Mas aqui, essa "sujeira" e "tosquice" joga a favor, pois resgata a energia e vitalidade que uma banda de rock, seja ela do estilo que for, precisa passar pra quem está lhe ouvindo. A verdade é que, se você procura uma produção limpa, cristalina, com tudo no seu devido lugar, corre atrás de algum álbum do Dream Theater, pois a garantia de que vai encontrar isso lá é de 100%. Bem como a cura da sua insônia...

NIGHTS OF THE DEAD - LEGACY OF THE BEAST - LIVE IN MEXICO CITY é um puta disco ao vivo. Não deixe se levar por opiniões de quem está descontente com os rumos da banda, nem mesmo por essa resenha que você está lendo aqui. Ouça e tire suas próprias conclusões. Tenho certeza que você vai ouvir um abanda afiada, com garra e energia de moleques e uma atitude de quem ainda vai nos proporcionar muitas alegrias...

Sergiomar Menezes