Rupturas são sempre traumáticas. Não importa o motivo, pois as partes envolvidas acabando sofrendo todas as agruras que uma separação, mesmo que amigável, causa. No entanto, após as feridas se tornarem apenas cicatrizes, muitas vezes o que vem pela frente pode ser algo muito benéfico. Basta saber como cada um vai encarar a situação. E no caso da NERVOSA, o resultado da separação envolvendo a banda, é o que se vê e ouve em PERPETUAL CHAOS, lançado no Brasil pela Shinigami Records. O trabalho é "apenas" o melhor álbum já lançado pela banda. Seja pela entrada das novas integrantes, seja elo sangue no olho da guitarrista e líder Prika Amaral, temos aqui um dos sérios candidatos a melhor álbum de 2021. E o ano mal começou!
Ao lado da já citada Prika, as novas integrantes Diva Satanica (vocal - Bloodhunter), Mia Wallace (baixo, ex- Abbath) e Eleni Nota (bateria), mostraram que, muito mais do que simples substitutas, entraram para fazer história na banda. Os vocais de Diva Satanica se mostram bem mais encaixados na proposta do grupo que os da ex-vocalista Fernanda, uma vez que esta última estava indo para um lado bem mais death metal. Claro que a escola da qual Diva faz arte também é essa, mas seu timbre soa muito mais natural. Enquanto isso, Mia e Eleni mostram um entrosamento coeso e versátil, deixando uma maior liberdade para que Prika possa destilar seus riffs thrash/death com maior precisão e garra. O resultado disso tudo são 13 faixas que carregam consigo peso, agressividade e muita vontade de mostrar ao mundo que a NERVOSA está de volta. E não é demais reforçar, melhor do que nunca.
"Venomous", um petardo com riffs animais, abre o trabalho mostrando que o quarteto veio com aquele já citado "sanguenozóio". Diva imposta sua voz de forma precisa, num misto de guturais mais ríspidos e outros mais rasgados, o que não é nenhuma novidade, pois quem conhecia seu trabalho a frete da Bloodhunter já sabia o que esperar. O que chama atenção é a unidade apresentada. Mesmo sabendo que em estúdio "tudo pode acontecer", o quarteto mostra entrosamento e parece que sempre tocou junto! Na sequencia, "Guided by Evil", que já havia sido divulgada anteriormente, começa com um clima denso, pesado e sombrio, mas descamba para um thrash/death cheio de violência. O solo de Prika traz influência da escola do thrash alemão, uma vez que é levado pra um lado muito mais agressivo do que melódico. A velocidade e brutalidade ditam as regras de "People of the Abyss", faia que merece ser destacada a participação de Eleni Nota. Precisa e dona de técnica apurada, a baterista apresenta excelente desenvoltura. Já a faixa título é um dos destaques do álbum. Pesada, com uma levada mais cadenciada e com uma performance inspirada por parte de Diva, a composição mostra uma face mas suja e brutal da banda, sem qe para isso seja necessário abusar da velocidade. Obviamente que, durante a sua execução, partes mais velozes surgem acompanhadas de um solo de guitarra bem interessante. "Until the Very End" conta com a participação do guitarrista Guilherme Miranda (Entombed A.D./ex- Krow). Mais próxima do thrash tradicional, a faixa traz uma linha guiada pelas guitarras, o que não poderia ser diferente.
O mestre do thrash alemão, Schmier Fink, é o convidado em "Genocidal Command", uma composição que poderia facilmente estar em um dos mais recentes trabalho do Destruction. Nunca é demais lembrar que a banda brasileira dividiu o palco com os alemães pela Europa. "Kings of Domination" é outro ótimo momento, pois foge do esquema "velocidade da luz" e prima pela condução diversificada durante sua execução. As guitarras, mais uma vez, merecem destaque, pois despejam peso e sujeira em nossos ouvidos de uma maneira absurda. Isso se torna curioso, pois mesmo que nos trabalhos anteriores Prika trouxesse sua criatividade, aqui ela parece ter se soltado mais, provando (como se precisasse) ser uma excelente criadora de riffs. Enquanto isso, "Time to Fight" resgata uma aura thrash/HC, num dos momentos mais cheios de energia e adrenalina do álbum. Imagino o estrago que isso vai fazer em um show do quarteto... "Godless Prisoner" é outo momento bem trabalhado, com passagens cadenciadas alternado com momentos mais rápidos e ríspidos, o que transforma sua execução em algo mais visceral, assim como "Blood Eagle", que mantém as mesmas características, diferenciado apenas pelas passagens mais lentas. Erik AK (Flotsam and Jetsam) é o convidado em "Rebel Soul", um momento que nos remete aos primórdios do thrash americano, principalmente pelos vocais de Erik, que conseguem transmitir uma atmosfera mais voltada à Bay Area. "Persued by Judgement" é outro soco seco na boca do estômago, enquanto o encerramento vem com "Under Ruins", densa, obscura e que fecha de forma brilhante esse "renascimento" do agora quarteto.
PERPETUAL CHAOS, quarto disco da NERVOSA não é apenas um álbum que vem para mostrar que a banda conseguiu se reerguer e dar a volta por cima. Muito mais do que isso, o trabalho mostra que as novas integrantes acrescentaram, e muito, ao grupo. Sem dúvidas, um dos melhores álbuns do estilo lançados nesse ano. E, nunca é demais ressaltar, estamos apenas em fevereiro...
Sergiomar Menezes
Linda resenha!!!
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