quarta-feira, 16 de junho de 2021
GUEPPARDO - I AM THE LAW (2021)
GUEPPARDO - I AM THE LAW (2021)
quarta-feira, 9 de junho de 2021
BEHOLDER'S CULT - OUR DARKEST HOME (2021)
Independente - Nacional
As influências que antes
vinham à superfície do trabalho desenvolvido pelo quarteto foram melhor
equilibradas e diluídas, os ecos de Tiamat, Lake Of Tears, Katatonia e da
tríade britânica ainda existem, mas estão cada vez mais longínquos e sem tantas
pronúncias. Com menos elementos externos em sua paisagem musical, coube à banda
criar sua própria tela, valendo-se de sua própria paleta de cores e inspiração.
Ao fim da pintura percebemos que as pinceladas ainda exibem resquícios de
outras escolas e décadas, mas a assinatura está cada vez mais definida e
texturizada.
A moldura que envolve a
já citada pintura é criação de Zakuro Aoyama — minimalista, mas profunda,
sóbria e interpretativa. A própria banda zelou pela produção. Quanto aos
detalhes — aparas e acertos, eles ficaram a cargo de Rafael Giraldi e Victor
Hormidas. Aliás, cabe dizer que tanto a mixagem quanto a masterização são surpreendentes; as
composições ficaram ainda mais orgânicas, volumosas e fluidas; um trabalho
realmente distintivo, que soube como assinalar cada uma das qualidades dos
respectivos músicos e seus instrumentos. Basta ouvir as belíssimas trilhas de
teclado de Pedro Paes; as linhas suntuosas de baixo criadas por Luciano Dias e
também os riffs e melodias tão metodicamente redigidos pelo guitarrista e
também vocalista Felipe Stock. Saindo do ateliê, vamos enfim à obra.
“Samsara” é a faixa
incumbida de criar toda a ambientação do disco, que apesar de não ser de todo
conceitual, baseia-se na ideia da vida como sendo uma longa e árdua jornada sob
um sol impiedoso — jornada essa que inicia-se na noite e na mesma finda-se, tal
qual a vida, essa jornada é permeada por momentos, por significâncias e
transições: nascer e morrer; o trajeto entre ambos. Adornada por sons
ambientais, a faixa é um pseudo instrumental que vai dilatando-se em sutis
linhas de guitarra, belos discorreres de teclados, bateria mezzo tribal e vozes
femininas belíssimas. “Shadows”, a composição seguinte, é a melancolia em
trajes elegantes; bateria e baixo bem sublinhados, Felipe Stock seguro tanto em
seus vocais quanto em seus dotes guitarrísticos e os teclados a tecer a alma
que habita abaixo da pele e carne do tema. “Starry Queen” e “Crestfallen” são temas
que nos rendem frente à sua beleza e seus tantos contrastes. A primeira citada
é abrilhantada pelos vocais impecáveis de Marcela Dourado (que cedeu seus
predicados também a já citada, “Samsara”, e mais a frente volta a brilhar na
magnífica, “Ivory Tower”), quanto a segunda, a mesma conta com os vocais de Zé
Misanthrope e também com um belo solo de guitarra de Lucas Guimarães.
“Conceiving Silence” é o Beholder's Cult em seu habitat — transitando com
desenvoltura entre o Doom, o Gothic Rock/Metal e o Post-Punk.
O interlúdio “Whispers Of Dusk” nos prepara
para configuração final do disco, composta por “Weight Of The Sun” e as épicas:
“Ivory Tower” e “Empty Inside”. A primeira é totalmente carregada por aquele
sentimento Doom noventista; atmosférica, densa e agridoce — podendo desde já
ser tomada por um hino da banda, tanto que fez parte da coletânea “Brazilian
Doom Metal” (Pagan Tales Records). Quanto às duas seguintes, bem, estas são
duas suítes onde o quarteto explora todas as suas qualidades e inspirações. Aos
entalhes de beleza, citanto “Ivory Tower”, temos seu impecável arranjo vocal e
também o magistral solo de guitarra — devidamente creditado a Victor Hormidas.
“Empty Inside” é pontuada por uma dose extra de ousadia, Doom, Post-Punk e até
mesmo Shoegaze e Depressive Rock habitam sem atritos na mesma estrutura sonora.
Considerações finais: “Our Darkest Home” é mais um passo do Beholder's Cult rumo à sua própria identidade — uma essência em construção. Um disco equilibrado, potente, honesto e portador de uma balsâmico raro nestes dias, alma. Possui alguns poucos defeitos, mas todos eles se tornam irrelevantes perante a carga emocional e argumentativa que o trabalho entrega em seus 09 temas. Uma audição prazerosa, evocativa e imersiva — um disco de dicotomias: luzes e sombras, calmarias e tempestades, nostalgia e regozijo. O prefácio das noites, seu amadurecer e seus epílogos pedem por uma audição como essa.
Fábio Miloch
sexta-feira, 4 de junho de 2021
ENTREVISTA - DIVA SATANICA (NERVOSA)
Entrevista – DIVA SATANICA (NERVOSA)
Substituições em uma banda são sempre alvo das mais variadas perspectivas. Muitos fãs reprovam antes mesmo de ouvir, outros tantos concordam da mesma maneira. Mas, existe aquela parcela que espera o resultado final para poder emitir sua opinião. E no caso da NERVOSA, essa espera valeu e muito! Afinal, a banda sofreu uma reformulação geral, pois passou de trio a quarteto e com a entrada de três novas integrantes. Diva Satanica (vocal), Mia Wallace (baixo) e Eleni Nota (bateria) uniram-se a Prika Amaral, guitarrista e fundadora da banda, e lançaram Perpetual Chaos (Napalm Records/Shinigami Records), um dos mais aguardados e porquê não dizer, um dos melhores álbuns de 2021. Para falar sobre essas mudanças, sobre o álbum e planos para o futuro, conversamos com a vocalista Diva Satanica, sempre simpática e solícita. O resultado você pode ler logo abaixo.
Sergiomar Menezes
Rebel Rock – Pra iniciar, gostaria de agradecer
pela disponibilidade para entrevista, ainda mais sabendo da agenda apertada
depois do lançamento de Perpetual Chaos.
Muito obrigado! Mas já entrando no álbum, como a banda viu o lançamento do
trabalho? O CD saiu de acordo com as expectativas da própria banda?
Diva Satanica: Ficamos muito gratas por todo o
apoio. Foi uma situação muito difícil, a gente não se conhecia, tivemos que
trabalhar na distância… mas tudo foi muito legal pra nós!
Rebel Rock – Uma das primeiras percepções durante
a audição do álbum é que seus vocais deram uma certa revigorada, até mesmo no
estilo da banda. Muito porque os vocais da Fernanda tinham uma pegada muito
mais voltada pro death metal, enquanto o seu, ainda que também possua essa
característica, se mostra mais versátil. Você também percebe essa diferença?
Diva: Acho que não: o meu registro é o
growl, típico do death metal, Fernanda usa o vocal fry que permite coisas
diferentes. O growl tem mais contundência pela frequência que emite, mas o fry
permite cantar frases muito longas. São estilos diferentes. A gente queria
poder buscar um ponto próximo entre o registro passado e o meu próprio para
manter a minha identidade como vocalista sem perder a essência do som da banda.
Rebel Rock – “Venomous” abre o CD de forma
direta, concisa e brutal. O que não é nenhuma novidade em se tratando da
Nervosa (risos). Mas é nítido que a banda tá com aquele “sangue no olho”, tão
importante e ao mesmo tempo, mostra que o entrosamento entre vocês, apesar da
forma como foi gravado o álbum, é bastante consistente. Como foi o processo de
composição e gravação de Perpetual Chaos?
Diva: Foi muito intenso porque foram
muitas horas e a situação era difícil: escrever um novo álbum é um processo
muito íntimo e não tem a experiência prévia de trabalhar juntas, mas a gente
tem a mente aberta e isso fez mais fácil tudo. Passamos 3 meses compondo e 1
mês no estúdio e isso serviu para conhecer melhor a gente.
Rebel Rock – “Guided by Evil”, primeira faixa
divulgada, apresenta características voltadas ao thrash/death, uma vez que tem
um início denso, pesado e sombrio, mas ganha velocidade e agressividade muito
próximas do thrash alemão. Um dos segredos para essa identidade são os solos de
Prika, que prezam mais pela linha brutal do que melódica. Mas sua voz também
consegue esse destaque, pois vai do gutural mais ríspido ao mais rasgado sem
muita dificuldade. Conte um pouco sobre sua escola enquanto vocalista.
Diva: A gente queria encontrar esse
equilíbrio entre o registro da Fernanda e o meu próprio e o que achamos foi que
eu precisava de me aproximar mais dos registros agudos para manter uma base
similar. Prika trabalhou muito também nos solos para aportar um som mais
clássico e com influências novas.
Rebel Rock – Eleni Nota se destaca em “People of
the Abyss”. Dona de uma pegada que alia ténica e peso, a baterista caiu como
uma luva na banda. Qual sua impressão acerca do trabalho desenvolvido por ela e
o quanto ela acrescentou em brutalidade ao som da Nervosa?
Diva: Eu sou muito grata por trabalhar com
meninas tão talentosas. Eu conheci muitos bateristas na minha vida, muito
profissionais mas nunca como a Eleni. Ela tem algo muito especial. Para mim é
uma das melhores bateristas do mundo.
Rebel Rock – Outro grande momento é a faixa
título. Variada, alternando passagens mais lentas e pesadas com outras
recheadas de agressividade, ela consegue transmitir ao ouvinte toda a
personalidade do quarteto. O que essa composição representa para você e para a
banda como um todo?
Diva: “Perpetual Chaos” é o resumo do que
a gente quer transmitir no álbum: fala da conduta humana e de como erramos
sempre nas mesmas coisas desde séculos atrás: o egoísmo, a corrupção, a
contaminação, os abusos… têm muita influência de bandas clássicas como o Slayer
e Sepultura.
Rebel Rock – Perpetual Chaos também traz algumas
participações bem interessantes. A primeira é a do guitarrista brasileiro
Guilherme Miranda (Entombed A.D./Krow) na faixa “Until the Very End”. Como se
deu a participação dele e o quanto ele contribuiu para a composição?
Diva: Guilherme é amigo da Prika desde faz
muitos anos. Ele é um grande guitarrista e ajudou a gente em todo o processo de
gravação.
Rebel Rock – Ainda na esteira das participações,
Schmier Fink do Destruction, uma das lendas do thrash metal mundial, é o
convidado em “Genocidal Command”, que poderia facilmente estar em um disco dos
alemães. A Nervosa já dividiu os palcos com o quarteto germânico. Vem daí essa
proximidade e amizade?
Diva: Schmier também é um grande amigo da
Prika. A gente procurava um vocalista mais melódico para essa música e ele é
perfeito com essa versatilidade incrível nos vocais.
Rebel Rock – Erik AK (Flotsam And Jetsam) é o
convidado em “Rebel Soul”, uma faixa que remete aos primórdios do thrash metal
americano. Como foi para você dividir os vocais, ainda que à distância, com um
dos grandes nomes daquele cenário?
Diva: Tudo foi com a distância por causa
da pandemia, mas quando a gente é profissional não tem obstáculos. Não
imaginava que os meus vocais poderiam encaixar de uma forma tão legal com uma
voz tão diferente, mas Martin Furia o
nosso produtor, fez um trabalho incrível também.
Rebel Rock – Falando sobre as guitarras, não é
novidade falar sobre a qualidade de Prika enquanto guitarrista. Mas nesse
trabalho parece que ela, talvez em virtude dos acontecimentos, quis provar a
todos que quando o assunto é riffs, ela não fica a dever nada a ninguém.
Criatividade, ousadia e uma dose extra de agressividade se fazem presentes
durante toda a audição. Como você avalia esse quesito de Perpetual Chaos?
Diva: Prika é uma artista completa: ela
escreve qualquer instrumento, os riffs de guitarra mais incríveis e as melhores
letras. Ela queria apostar em explorar novos caminhos e acho que essa liberdade
compositiva foi muito boa para o álbum.
Rebel Rock – A pandemia parece estar dando
sinais de enfraquecimento ao redor do mundo. Alguns países e bandas estão
agendando turnês para este ano ainda. Como estão os planos da Nervosa para este
futuro próximo?
Diva: A gente cancelou muita coisa, mas já
temos algumas datas para este verão na Europa. Não podemos aguardar mais para
mostrar o que esta nova formação vai ser ao vivo!
Rebel Rock – E seu trabalho com a Bloodhunter?
Como está no momento?
Diva: Neste mês de junho por fim poderemos
entrar a gravar o nosso terceiro álbum de estúdio. A pandemia foi especialmente
difícil para nós como banda porque cancelamos todos os planos. Agradeço muito a
toda a gente que pergunta pela banda e mostra interesse!
Rebel Rock – Diva, mais uma vez, obrigado pela
entrevista e deixo esse espaço final para você mandar um recado para os fãs e
leitores do blog!
Diva: Muito obrigada pela atenção, mal posso aguardar para conhecer a todos vocês na próxima turnê. Nervosa will never die!!!