terça-feira, 30 de agosto de 2016

SAGRAV - THE LYNCHING (EP)



              Fundado em 2014, o trio catarinense SAGRAV lançou em 2015, de forma independente,seu EP de estréia. THE LYNCHING traz o grupo de Chapecó (SC), praticando uma sonoridade que não tem o intuito de se prender á rótulos já pré-estabelecidos. Temos aqui passagens que nos remetem ao Metal tradicional (com uma cara de 80's), ao doom, ao death, ao thrash, ao black,e porque não dizer, também ao gore/grind. Com o pouco tempo de estrada, o grupo resolveu arregaçar as mangas e gravar 4 faixas neste registro que já servem para dar uma boa amostra do potencial da banda.


              Formado por Cristiano Zauza (vocal/guitarra), Protásio Vargas Neto (baixo) e José Paulo Kemper (bateria), o trio tem uma temática bem interessante pois traz em suas letras fatos e acontecimentos locais, o que acaba sendo diferente do que muitas bandas fazem ultimamente. Tanto é que o EP baseia-se  no linchamento e queima da igreja central de Chapecó, ocorrido em 1960.  que está devidamente retratado na arte da capa,que foi feita por Rafael Panegalli. A produção do trabalho ficou de bom tamanho, pois se por um lado, soa bastante crua (e que talvez tenha sido de forma proposital), por outro não atrapalha o andamento da audição. E nos dias de hoje, podemos considerar isso como ponto ganho.

              Uma breve intro antecede Dark Feelings, uma faixa que explora bem as influências do grupo. Alternando passagens mais arrastadas, que nos levam ao doom, com outras mais rápidas, passando pelo tradicional e pelo thrash, a música mostra que o grupo tem um bom potencial, pois a composição não se torna cansativa. Já a faixa título, The Lynching, tem uma pegada mais oitentista, com destaque para o bom trabalho de guitarra de Cristiano Zauza, que mostra boa desenvoltura ao despejar riffs que mesclam a agressividade do thrash e a brutalidade do death. E é, com certeza, a melhor faixa do EP. O encerramento vem com 1310, uma faixa que começa de forma amena, mas que ganha contornos de metal tradicional.

                   Nesta estréia, mesmo que em um EP, o trio SAGRAV mostra potencial. Uma produção mais esmerada e algumas pequenas correções (algo normal, tendo em vista o pouco tempo de estrada da banda), poderão confirmar o que aqui é apenas uma amostra. Mais uma banda buscando seu lugar ao sol neste concorrido mundo do metal nacional.

                     



               
              Sergiomar Menezes

SCORPION CHILD - SCORPION CHILD



             Os anos 70 foram sem dúvida, a época mais criativa da música em geral. Tanto é que, hoje em dia, muitas bandas seguem bebendo direto dessa fonte e conseguem transportar aquele energia e clima como se toda aquela magia recém tivesse acontecido. E um desses grupos é o norte americano SCORPION CHILD. Lançado em 2013, mas saindo agora por aqui, mais um fruto da parceria Shinigami Records/Nuclear Blast. o auto intitulado trabalho de estréia deste quinteto texano, nos mostra um hard rock com uma pegada bem setentista, mas sem soar forçado. Mesclando suas influências (que vão de Led Zeppelin, Deep Purple, Rainbow, até bandas mais "atuais", como o Black Crowes) e fazendo um som muito inspirado, o grupo mostra aqui personalidade e muito bom gosto nas dez faixas que compõem o trabalho.

               Formada em 2006, a banda que gravou o trabalho era composta por Aryn Jonathan Black (vocal), Chris Cowart (guitarra), Torn Frank (guitarra), Shaun Avants (baixo) e Shawn Alvear (bateria). Com performances cheias de energia e muita garra, o grupo chamou a atenção da Nuclear Blast que assinou sem pensar duas vezes com os americanos. E logo no primeiro álbum, podemos ver que a gigante alemã, mais uma vez, acertou em cheio. Pesado e com passagens cheias de psicodelia, o álbum foi gravado, produzido por Chris "Frenchie" Smith e soube manter a atmosfera do grupo intacta. A mixagem ficou por conta de Jason "Big Dick" Buntz e Donny James, enquanto a masterização foi feita por Dave McNair. Já a capa e seu conceito muito legal foi obra de Dehron Hite Benson. A repercussão e receptividade do trabalho foi tão boa que a banda foi indicada como "Best New Band" da influente Classic Rock Magazine. O que, convenhamos, não é para muitos...

                 Kings Highway abre o cd e de cara, podemos perceber que a banda é muito mais do que um resgate á sonoridade dos 70's. Com climas psicodélicos, mas cheia de riffs pesados e intensos, a faixa mostra a capacidade do grupo em criar arranjos que a diferenciam das demais bandas atuais. O timbre do vocalista Aryn Jonathan Black nos remete ao que de melhor as bandas de antigamente apresentavam: vocalistas preocupados em cantar e não em demonstrar suas técnicas vocais. Polygon of Eyes, que foi lançada como single, tem nas guitarras seu destaque. Com uma pegada bem característica, a banda despeja peso e riffs de forma perfeita, transformando a faixa em dos dos melhores momentos do cd. Um refrão bem estruturado se encaixa de forma perfeita, enquanto os solos "viajam" numa atmosfera bastante criativa. The Secret Spot também tem como guia, os riffs sensacionais criados pela dupla Chris Cowart e Torn Frank. Salvation Slave tem riffs com uma levada bem hard, enquanto a cozinha manda ver em uma pegada mais grooveada, com pitadas de funk (o verdadeiro), e isso deixa a composição bem especial. Com uma cara totalmente hard rock clássico, Liquor vem a corroborara a qualidade que a banda apresenta em suas composições. Com um arranjo muito bem pensado, essa faixa também se destaca.

                  Antioch, a mais Led Zeppelin de todas, traz aquele clima perfeito, onde a alternância entre a suavidade e a densidade, o mais calmo e o mais pesado, andam juntos levando o ouvinte a viajar num tempo, áquela época que a música estava acima de tudo. Mais guitarras a frente em In The Arms of Ecstasy, que também deixa no ar a sensação de que tem muita banda por aí que deveria rever sua carreira e maneira de compôr. As linhas de baixo/bateria se destacam, enquanto o vocal dá mais um show de interpretação. Paradigm é total Rock n' Roll. Mais rápida que as demais, a faixa tem um clima mais festivo. Red Blood (The River Flows) é a mais "viajante" das composições, mas nem por isso perde em qualidade ou intensidade. Apenas dá uma suavizada no clima, pra encerrar o track list regular do álbum. Na versão nacional, temos ainda uma faixa bônus, a excelente Keep Goin'. Mais uma viagem á década de ouro, capitaneada pelo teclado, o que acaba criando um clima ainda mais criativo.

                  Neste seu trabalho de estréia, o SCORPION CHILD se mostra muito mais do que uma banda saudosista. Trazendo elementos mais modernos e atuais á sua sonoridade calcada nos anos 70, o grupo consegue se destacar e provar que a busca por personalidade, não está apenas em tentar ser original. Ao dosar suas influências de forma correta, o grupo além de conseguir tudo isso, mostra uma identidade própria em tempos em que, aquela velha máxima, "nada se cria, tudo se copia" põe por terra muitas bandas que apenas se repetem. 








             www.scorpionchild.com


            Sergiomar Menezes





       

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

HORROR CHAMBER - ETERNAL TORMENT



             O Rio Grande do Sul vem há tempos, revelando grandes nomes do metal extremo nacional. Fica até complicado citar nomes, tamanho número de grupos de qualidade que o Estado tem mostrado ao mundo. Krisiun, Rebaelliun, In Torment, Exterminate... São alguns dos grupos que vem á memória em um primeiro momento. E podemos, com toda a certeza, juntar á esse time o quarteto HORROR CHAMBER. Lançando agora em 2016 seu primeiro full lenght, intitulado "ETERNAL TORMENT", o grupo vem, com este trabalho, dar seqüência ao que já vinha mostrando após o lançamento do EP "The Devil Has No Face", lançado em 2009, que obteve boas críticas e repercussão bastante positivo junto ao público. Apesar da da proposta da banda em fazer um death metal muito bem trabalhado, podemos perceber que o grupo não se limita aos clichês do estilo, buscando incorporar suas influências com muita categoria.

          O grupo, formado em 2004, hoje é composto por Guilherme Lannig (vocal/baixo), Paulo Hendler (guitarra/backing vocal), Felipe Pujol (guitarra) e Rafael Machado Kniest (bateria). Na gravação do álbum, as baquetas estavam sob o comando de Dio Britto (Westfield Massacre, ex-Distraught, ex-In Torment). O trabalho foi gravado no Hurricane Studio em Porto Alegre, tendo sido produzido (em parceria com a banda), mixado e masterizado por Sebastian Carsin, que sem dúvida, é um dos melhores produtores do Estado. Se tiver alguma dúvida, cabe lembrar que ele já produziu bandas de rock n' roll, death metal, hard core, thrash, hard rock... E todas, sem exceção ficaram com uma excelente qualidade. O que se repetiu aqui. A brutalidade do som grupo ficou evidente, com todos os instrumentos audíveis, sem aquele, por muitas vezes, tradicional embolamento que acaba acontecendo com algumas bandas do estilo. A arte da capa ficou por conta de Rafael Tavares, enquanto a o layout gráfico, foi obra do guitarrista Felipe Pujol.

              Após a climática e angustiante introdução, Beyond The Unknown, o grupo apresenta a faixa título, Eternal Torment. Muito bem executada, a composição traz um grande trabalho de guitarras, onde aquela pegada death metal old school encontra o que bandas como Nile, Hate Etenal, entre outras tem feito ultimamente. O vocal gutural, apesar de não mostrar variação (o que se encontra totalmente dentro da proposta do grupo), possui intensidade e muita energia. Já o duo baixo/bateria mostram grande entrosamento, se encarregando de entregar o peso e brutalidade que a faixa pede. Na seqüência, temos mais agressividade em estado bruto. Rise of The Dead, novamente, mostra que a dupla Felipe Pujol e Paulo Hendler possuem excelente entrosamento e coesão, pois os riffs se mostram variados, enquanto os solos, trazem a tona uma rispidez brutal e direta. Guilherme Lannig que além de vocal também comanda o baixo se mostra eficiente, como muitos dos grandes vocalistas do estilo. Já a bateria de Dio Britto, está muito bem trabalhada e técnica, variando momentos mais velozes e outros executados de forma mais brutal e pesada. Prelude to Perdition é um belo dedilhado, que, como o próprio nome entrega, serve de prelúdio para uma das melhores faixas do trabalho.

          Dawn of Madness começa com o vocal que transpassa uma forte dose de violência e desespero, enquanto as guitarras fazem o "serviço" de forma bastante agressiva. Mais variada, a faixa alterna momentos rápidos com passagens mais cadenciadas, onde o peso reina absoluto. destaque para o trabalho de baixo e bateria que não deixa pedra sobre pedra. Nessa composição, podemos ver que a banda se preocupa com os arranjos, pois apresenta aqui, uma versatilidade, que a tira do lugar comum. Já Believe in the Faith, tem uma linha mais tradicional no que tange ao death metal, mas busca nas guitarras, inspiração em bandas mais atuais, não apenas do estilo, mas em bandas de thrash (as mais extremas, como o Dew Scented por exemplo). Os guitarristas mostram sua categoria com riffs fortes e intensos. Blood Obsession é uma porrada que ao lado de Dawn of Madness merece também ser destacada. Insana e cheia de variações, a faixa é uma aula de brutalidade, pois vai de momentos velozes e cheios de riffs brutais á momentos mais trabalhados e cadenciados, com solos muito bem encaixados. Destaque para o trabalho de Dio Britto, que destrói seu kit de forma brutal. O encerramento vem com Perverse Mind, outro momento carregados de riffs tipicamente death metal e que também possui variações em seu andamento, mostrando a criatividade da banda em compôr linhas agressivas e brutais. Um grande fechamento para um excelente álbum.

            "ETERNAL TORMENT" tem apenas um pequeno senão. Das oito faixas presentes aqui, duas são introduções, restante ao apreciador do excelente death metal executado pela banda apenas seis faixas. Pelo que se apresenta aqui, o HORROR CHAMBER comprova mais uma vez que o metal extremo produzido aqui, no "Hell" Grande do Sul continua quebrando pescoços sem piedade. Para a nossa sorte!



           www.horrorchamber.com


           Sergiomar Menezes

                  
                   

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

ANCESTTRAL - WEB OF LIES



                Eu sei que estou sendo repetitivo. Mas não tem como não ser. Como alguém pode ter a coragem de dizer que o metal nacional está mal? Com tantos trabalhos excepcionais sendo lançados pelas bandas brasileiras? E WEB OF LIES, segundo álbum dos paulistas do ANCESTTRAL só vem a confirmar que, quem pensa ou escreve uma barbaridade dessas, só pode estar louco. Lançado pela Shinigami Records, o trabalho que vem na seqüência do EP Bloodshed and Violence (2012), mostra uma banda coesa, pesada e cheia de garra, fazendo um Thrash Metal moderno e atual. Trazendo na bagagem muito do que se fez na Bay Area, o grupo que lançou seu primeiro trabalho, o excelente The Famous Unknow (2007), agrega influências de bandas mais atuais, mas sem perder sua essência, mostrando personalidade.

               Formada em 2006, a banda hoje é composta por Alexandre Grunheidt (vocal e guitarra), Leonardo Brito (guitarra), Renato Canonico (baixo) e Denis Grunheidt (bateria). A produção ficou dividida entre Paulo Anhaia e a própria banda, sendo que a mixagem e masterização foi feita por Paulo. E ficou na medida certa, com uma cara bem atual, mas sem fugir das características que toda grande banda de thrash metal precisa apresentar: peso, intensidade e excelentes timbres. Aliados a isso, as composições trazem grandes riffs, viradas de bateria e baixo pesado, tudo muito bem arranjado. As letras, tratam do nosso cotidiano e acabam por formar essa "rede de mentiras" a qual estamos sendo submetidos diariamente. Não poderia ser diferente, haja visto que o estilo sempre foi norteado por fortes críticas sociais. A arte gráfica, nos remete diretamente ao primeiro álbum do grupo, o que ficou muito legal, pois resgata o passado e o presente da banda.

              Abrindo com a excelente What Will You Do, que já havia sido lançada como single em 2014, o grupo mostra que sabe incorporar suas influências sem perder sua identidade. Co guitarras muito bem equilibradas, a faixa tem um andamento não tão veloz, mas possui riffs inspirados. Baixo e bateria pegados e um solo eficiente dão um destaque a composição. E o refrão é daqueles que escutamos uma vez e grudam na mente! Massacre vem na seqüência e traz uma dose extra de peso. Isso também na letra, que retrata o que aconteceu no Carandiru, em 1992, mas na visão de um policial. E convenhamos, em tempos de politicamente correto, é preciso coragem pra fazer isso, não é verdade? Os riffs são bem agressivos, o que casa perfeitamente com a proposta da faixa. Em Threat To Society, há uma variação entre andamentos mais cadenciados e outros mais rápidos. E que solo! O vocal de Alexandre, se antes "sofria" comparações com James Hetfield, agora apresenta mais identidade, ganhando com isso maior desenvoltura em sua performance. Uma das melhores faixas do cd! You Should Be Dead é daquelas faixas tipo Inner Self, Black List... Impossível não bater cabeça com uma música assim. O peso segue comandando o ritmo intenso, que tem na bateria de Denis seu destaque. Fight tem uma linha mais atual, com um refrão que nos lembra as bandas da atual safra norte americana.

             Nice Day To Die começa com uma bateria furiosa e na seqüência a porradaria come solta, com riffs diretos e muita velocidade. Apesar de curta, a faixa tem pouco mais de 2 minutos e meio, ela é bastante intensa, pois tem uma bela variação, alternando momentos mais cadenciados com outros mais velozes, além de um solo cortante. Pathetic Little Liars é a faixa mais "lenta" do trabalho, o que faz com que as guitarras ganhem um peso ainda mais denso. O vocal de ganha maior visibilidade, pois é mais exigido neste tipo de faixa, e se sai muito bem. Já em Subhuman, temos de volta uma atmosfera mais atual, com o baixo de Renato guiando a faixa. Bem trabalhada, a música foi composta em parceria com Flávia Morniëtári. A única nesse formato, pois todas as outras faias sao de autoria da própria banda.Já a faixa título, Web Of Lies, possui nas guitarras seu destaque. Levadas pesadas, passagens cheias de feeling, dando um certo espaço para a melodia, se é que podemos chamar assim. E mais uma vez, um trabalho vocal que merce menção, pois mostra que a versatilidade também é um dos pontos nesse quesito. Fire tem um pegada tipicamente thrash, daquelas de causar mosh onde for tocada. No final, há uma versão de What Will You Do com um solo diferente, e que ficou muito boa também.

             WEB OF LIES recoloca o ANCESTTRAL entre os melhores nomes do Thrash Metal nacional. E com isso, podemos dizer que a lista de melhores do ano só se faz aumentar. Mas isso é tipo aquele problema que os técnicos de futebol tem quando possuem em seu plantel três ou quatro craques para a mesma posição. Ah, só mais uma coisa: Que o próximo trabalho não demore tanto, beleza?



         Sergiomar Menezes

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

NERVOSA - AGONY



              2016 está sendo um ano sensacional para o metal nacional. O que temos de lançamentos excelentes das bandas de nosso país chega a ser imensurável. E o segundo trabalho das garotas da NERVOSA se encaixa perfeitamente nessa descrição. Que baita disco! AGONY, que tem seu lançamento nacional via Shinigami Records, é uma síntese perfeita do que é o thrash metal atual, trazendo em sua bagagem muito do que se fez e faz na Bay Area e incorporando a pegada e também o lado mais cru do thrash alemão. Se em Victim of Yourself (2014), seu trabalho de estréia, a banda já apresentava um thrash visceral, aqui o negócio ganhou ares mais brutais e mais trabalhados, sem abrir mão do peso e agressividade. E a experiência adquirida nas turnês e shows fora do país contribuíram para esse "amadurecimento".

                Fernanda Lira (vocal e baixo), Prika Amaral (guitarra) e Pitchu Ferraz (bateria e que recentemente deixou a banda) gravaram um dos melhores álbuns deste ano. Sem exageros. São onze faixas regulares e mais uma bônus track que mostram que elas não estão para brincadeira. O trabalho foi produzido por Brendan Duffey e foi mixado e masterizado pelo renomado Andy Classen. Ou seja, ficou na medida exata. Sujo, pesado mas sem soar forçado. A produção apenas deixou a sonoridade da banda "natural", pois não deu limites á criatividade e capacidade do trio. A capa foi um trabalho de Godmachine que soube dar vida ao que o álbum representa. Num geral, a banda manteve sua essência, mas evoluiu musicalmente. Os riffs de Prika Amaral, seguem agressivos, mas ganharam mais punch, enquanto Fernanda mostrou muita versatilidade na fora de cantar, além de mandar muito bem no baixo. Pitchu Ferraz por sua vez, se mostrou técnica e brutal, pois a bateria soa intensa em todas a s faixas.

               Arrogance já chega arregaçando tudo. Escolha perfeita para abrir o álbum, a faixa traz riffs fortes, com uma pegada bastante agressiva, enquanto o vocal de Fernanda ganha linhas que se mostram mais ríspidas. Os backing vocals também s e destacam, pois ficaram bem encaixados. velocidade e brutalidade ao extremo! Theory of Conspiracy é uma típica faixa trash metal, com bateria "bate-estaca", mas que em algumas passagens se mostra variada, enquanto os riffs se mostram mais pesados. Em Deception, o vocal ganha uma linha mais death metal, principalmente em seu início, onde o gutural de Fernanda mostra sua versatilidade. A faixa possui um solo destruidor, enquanto a bateria segue ditando o ritmo, não tão veloz, mas com uma pegada bem agressiva. Intolerance Means War (que belo título, por sinal), traz guitarras carregadas de peso, trazendo um refrão daqueles que ficam na nossa mente por muito tempo. Aliás, essa faixa tem que estar no set list do grupo. As mudança de andamento durante sua execução são muito bem estruturadas. Guerra Santa, cantada em português tem uma pegada mais Hardcore. E pode-se dizer que ficou bem legal esta forma mais direta de cantar de Fernanda. Failed System tem guitarras com influências death metal, pois os riffs estão mais mortais aqui. E podemos perceber o baixo bem trabalhado nesta faixa.

                Hostages, que possui um vídeo animal, começa mais cadenciada, mas em seguida ganha velocidade e peso. É sem dúvida, um dos grandes destaques do trabalho. Linhas agressivas, um vocal intenso e violento, e a bateria se destacando com um grande trabalho num misto de técnica/brutalidade. Já em Surrounded By Serpents, a guitarra de Prika se destaca, pois adota uma veia em certos momentos mais "old school", enquanto Fernanda segue esbanjando qualidade com um vocal que vai do gutural ao mais rasgado com facilidade. O baixo comanda o massacre sonoro de Cyber War. Riffs mais diretos, aquelas paradinhas típicas e velocidade alucinante dão a faixa muita autenticidade. Hipocrisy, tem um inicio pesado, com um grande trabalho de baixo/bateria, e em seguida ganha velocidade e intensidade com riffs fortes. Muito bem arranjada, a faixa também é um dos destaques do trabalho, que na verdade, tem como destaque o excelente nível em todas as composições. Devastation, a última faixa do track list regular, é veloz e direta. Sem frescuras, a banda detona um thrash sem concessões. A faixa bônus, Wayfarer, mostra Fernanda mandando ver em um vocal limpo, e diga-se aqui, que baita vocalista! Com uma forte influência do blues e da soul music, a vocaista esbanja categoria, numa faixa que tem guitarras pesadas e um ritmo mais cadenciado. Quando resolve sotar a voz mais agressiva, Fernanda mostra desenvoltura e  a banda acompanha em passagens mais brutais. Uma faixa sensacional!

                AGONY mostra uma banda que evoluiu de forma considerável em seu segundo trabalho. A NERVOSA mostra que não é apenas uma revelação e promessa do metal brasileiro. A banda é, sim, uma realidade e um dos grandes nomes atuais da cena nacional. Fortíssimo candidato ao topo da lista de melhores do ano!



               Sergiomar Menezes

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

KHROPHUS - EYES OF MADNESS



              São 23 anos de estrada fazendo death metal. O KHROPHUS, de Santa Catarina, sempre praticou um brutal e agressivo death, buscando sempre níveis excelentes em seus trabalhos. EYES OF MADNESS, lançado em 2013, eleva ainda mais esse nível, pois, se em God From The Dead Images (2003) e Presages (2009) a banda já entregava músicas repletas de agressividade, neste novo álbum o grupo mostra maior maturidade em composições mais trabalhadas e intensas. E não podíamos esperar outra coisa, afinal, estamos falando de um dos grande nomes do estilo em nosso país. Experiência, turnês no exterior e muita disposição em levantar a bandeira do metal contam á favor do grupo catarinense.

             Formada por Alex Pazetto (vocal e baixo), Adriano Ribeiro (guitarra) e Carlos Fernandes (bateria), a banda traz neste seu terceiro trabalho, dez faixas intensas, brutais e pesadas. A produção foi feita pela própria banda, enquanto a masterização e mixagem ficaram sob a responsabilidade de Alexei Leão. E podemos dizer que ficaram muito boas pois ambas souberam ressaltar a agressividade e violência das músicas do grupo. Bateria bem trabalhada, veloz e brutal, baixo intenso e guitarras que despejam riffs carregados e fúria, fazem deste terceiro álbum, o mais bem elaborado da carreira do grupo até o momento. Já a arte gráfica ficou por conta de Alex Pazetto.

             O play já começa com o pé na porta! A paulada Smoke Screen (que possui vídeo), dá início ao massacre sonoro, com a guitarra de Adriano bem pesada e que recebem um suporte bem estruturado da dupla Alex e Carlos (baixo/bateria). O vocal de Alex possui muita intensidade, o que cai como uma luva no estilo do grupo. Dead Face segue mantendo o nível alto, e podemos destacar que o grupo se preocupa  com os arranjos, pois a velocidade alterna momentos mais trabalhados, o que acaba por dar versatilidade ao metal extremo do trio. A bateria merece destaque em By The Sun, uma faixa tipicamente death metal, mas que ganha alguns momentos que nos remete ao thrash metal. Em Interposition, os riffs de Adriano se sobressaem, e novamente percebemos a qualidade que o grupo emprega na estruturação das suas composições. As faixas sempre variam, sem se tornar repetitivas, o que muitos grupos do estilo, mesmo sendo muito bons, acabam fazendo e caem num lugar comum. Forbidden Melodies é outra faixa que carrega em energia e agressividade. Os blast beats comandam a insanidade e brutalidade aqui, sendo que os riffs continuam ríspidos e diretos.

            The Book of The Dead tem novamente na guitarra seu destaque. Que rifferama death metal! E  a linha de baixo e bateria que fica mais cadenciada em algumas passagens carrega no peso. Com o pescoço ainda no lugar, partimos para Lost Initiations, uma faixa forte e violenta, onde a pegada fica mais extrema e brutal. Na seqüência, a melhor faia do trabalho, em minha opinião. Master of Shadows. Que baita música! Riffs e mais riffs, bateria veloz e ao mesmo tempo bem trabalhada, vocal gutural e denso, baixo carregado de peso. Variações bem arranjadas. Sem dúvida, o grande destaque! Harvest (Eyes of Madness) possui momentos variados também, enquanto o encerramento com Chimeras, fecha o trabalho de forma violenta e grandiosa.

            Neste terceiro álbum, o KHROPHUS mostra que segue sendo uma das forças do metal extremo nacional. Um death metal brutal e agressivo é o que temos em EYES OF MADNESS. O grupo encontra-se em processo de composição do próximo trabalho, que está agendado para o segundo semestre de 2017. Se vier nessa mesma linha, haja pescoço!


             Sergiomar Menezes

terça-feira, 2 de agosto de 2016

BURNKILL - GUERRA E DESTRUIÇÃO



                Minas Gerais sempre foi uma referência quando se fala sobre heavy metal no Brasil. Principalmente quando falamos da parte mais extrema do estilo. Overdose, Sepultura, Chakal, Mutilator, Sarcófago, Holocausto... Toda uma cena que influenciou bandas ao redor do planeta e que ainda segue influenciando muito do que se faz hoje. E uma dessas bandas é a BURNKILL, grupo que vem do mesmo Estado e que mantém muitas daquelas características que marcaram aquela época grandiosa. GUERRA E DESTRUIÇÃO, o primeiro trabalho deste jovem grupo, foi lançado de forma independe e traz 8 composições pesadas, agressivas e cheias de energia.

                Antony Damien (vocal), Lucas Maia (guitarra), Pablo Henrique (guitarra), Jorge Luiz (baixo) e Anderson de Lima (bateria) apostam em um misto de thrash/death e metal tradicional. Cantando em português, o grupo aproxima mais ainda as referências ao metal praticado pelas bandas brasileiras nos anos 80. Com dois anos de formação, o grupo resolveu lançar logo de cara um full lenght, trazendo em suas letras muito dos problemas sociais dos dias de hoje e também abordando os males que a religião vem causando ao mundo, sempre em nome de Deus. O próprio gruo reforça que não possui cunho religioso, mas critica a doutrina imposta á sociedade. A produção do trabalho não ficou 100%, pois em alguns momentos não podemos ouvir os solos e por vezes os instrumentos acabam alternando momentos. Mas, como trata-se de um primeiro álbum e independente, isso não compromete o resultado final do trabalho.

                Corredor da Morte inicia o cd com uma introdução dedilhada que logo sofre a interferência de um riff ríspido e pesado. O vocal de Antony, é enérgico e o fato de cantar em português parece dar mais peso á faixa. Uma pegada suja e uma levada quase "rock n' roll", além do bom trabalho das guitarras ( Lucas e Pablo estão muito bem entrosados) são os destaques da composição. Vivendo uma Ilusão traz uma letra ácida e questiona o momento atual de grade parte da população. Riffs nervosos fazem a base para a letra: " Ei você aí que está na porra do sofá/ Sua vida está passando, você tem que levantar", traduzindo aquilo que assola muita gente por aí. Um refrão intenso e brutal. Grande trabalho da dupla Jorge e Anderson (baixo/bateria respectivamente), que mostram boa técnica e muito peso. A faixa título, Guerra e Destruição, começa arrastada mas logo entra um bom riff e uma levada thrash old school. Aqui, o solo, bem estruturada acaba perdendo um pouco do brilho devido á produção. Repressão vem na seqüência e traz um ritmo mais cadenciado. A faixa apresenta passagens mais variadas, mostrando que os músicos possuam, além de boa técnica, versatilidade.

                Cadáver do Brasil é uma das faixas mais pesadas do álbum. O vocal de Antony assume ares mais death metal aqui. As guitarras também caminham por esse lado, enquanto a cozinha alterna momentos mais thrash com levadas mais tradicionais, dando á composição um arranjo bem estruturado. Em Tempestade de Horror podemos perceber uma influência do hardcore. Mais "seca" a faixa também poderia ter um melhor resultado com uma produção mais esmerada. Chega de Mentiras tem na bateria de Anderson  destaque. Linhas bem trabalhadas e uma pegada certeira dão á bateria um destaque por aqui. E mais uma letra ácida, criticando a sociedade brasileira de uma maneira geral. Sinfonia da Guerra fecha o trabalho e também poderia ter um melhor resultado se a produção. A idéia da faixa é boa, mas falta um maior preenchimentos dos "espaços" que soam um tanto vazios.

               O BURNKILL faz uma boa estréia em GUERRA E DESTRUIÇÃO. A pouca experiência dos músicos foi compensada com garra, disposição e boas faixas. Uma produção mais caprichada pode fazer com que o grupo venha a se destacar mais. Talento e capacidade eles já mostraram neste primeiro trabalho.



                  Sergiomar Menezes

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

[MAUA] - UNCONSCIENCE



                  Não é raro ouvirmos por aí muitas pessoas dizendo que o Metal nacional anda mal. Sinceramente, eu não sei como alguém pode chegar nessa conclusão. As bandas nacionais estão cada vez mais profissionais, técnicas e não ficam devendo nada pra muita banda lá de fora. São inúmeros os exemplos. E o quinteto sergipano [MAUA], é um desses. Que baita banda! Praticando um Death Metal técnico e brutal, o grupo lança agora, depois de doze anos de atividades, seu primeiro full lenght, o pesado e agressivo UNCONSCIENCE. Muito bem produzido e embalado em um belo digipack, a banda mostra que o Nordeste brasileiro, é um celeiro de grandes bandas. Algo que nem precisa ser dito ou posto á prova, para falar a verdade.

                  A banda é composta por Erico Groman (vocal), André Cabral (guitarra), Adriano Santana (guitarra), Marcel Freitas (baixo) e Afonso Ramalho (bateria). Os músicos demonstram excelente nível técnico, vide a complexidade das composições. Extremamente brutal e pesado, o som do grupo ganha contornos que por vezes nos remete aos bons tempos do thrash metal, principalmente, aquele praticado na Bay Area dos anos 80. Com uma produção, que ficou sob a responsabilidade do próprio grupo e Marcel Menezes, que soube deixar o som do grupo sujo e  agressivo, mas ao menos tempo com todos os instrumentos audíveis e bem timbrados, o [MAUA] passa seu recado de forma muito eficiente. A mixagem e a masterização ficaram por conta de Alex Prado.  A arte gráfica também ficou muito boa. Como dito antes, o álbum vem em um belo digipack, que concentra sua arte em cores neutras, transmitindo de forma clara  a proposta do grupo. Tudo isso, só vem a tornar ainda mais atrativo o trabalho do grupo que, já é sensacional se levarmos em consideração apenas a  sonoridade apresentada.

                  O álbum inicia com a introdução Intro/Dispersed que nos deixa preparados para a porrada Resist. Guitarras agressivas e cheias de peso norteiam a faixa que traz consigo uma dose extra de energia. André e Adriano despejam excelentes riffs, enquanto Marcel e Afonso se encarregam de proporcionar o peso necessário para a fúria do vocal de Erico. E o instrumental variado, alternando "quebradeiras" com velocidade dá uma personalidade forte ao som do grupo. Volatile também traz essas características, onde o vocal acaba se mostrando bem versátil, alternando momentos mais agressivos/brutais e outros mais rasgados. E os riffs... Ríspidos e diretos como a estrutura da composição pede. Em Stay With Me a Little Longer temos um grande trabalho de baixo/bateria. Além de grandes músicos, a duple demonstra grande coesão e entrosamento, sendo um dos grandes destaques de todo o trabalho. Breakthrough tem uma linha introdutória bem introspectiva  que descamba em um golpe seco e direto na boca do estômago. Outra vez, as guitarras mandam ver em bases pesadas. Uma faixa bem trabalhada e estruturada que conta com um grande solo.

                 The Prey traz uma grande variação em sua estrutura. Mudanças de andamento em uma atmosfera bruta, criando um clima de forte agressividade e de muita técnica na hora da execução. Com um andamento mais cadenciado, o peso acaba por se acentuar e faz da faixa um dos grandes destaques do álbum. Em Leave The Coin, Get The Dice, o ritmo se mantém e Erico Groman repassa á composição uma forte densidade na interpretação. A próxima faixa, Warhead, traz outro excepcional trabalho da dupla Marcel e Afonso, que aliam muita técnica e peso á estrutura pesada que a música solicita. Alternando passagens mais quebradas e outra mais insanas, a faixa ressalta o potencial da banda. O encerramento vem com Liar e seus ótimos riffs. muito bem trabalhada, a faixa fecha o excelente trabalho de estréia do grupo. E aqui, fica a prova de que a experiência, faz a diferença.

                 Como escrevi lá no começo da resenha, dizem por aí que o Metal brasileiro não anda muito bem. E isso só pode ser dito por quem é surdo. Só em 2016, temos pelo menos duas dezenas de excelentes trabalhos lançados por aqui. Fora aqueles que ainda estão por vir. E o Nordeste segue muito bem representado. UNCONSCIENCE mostra isso de forma consistente. Que o [MAUA] possa seguir lançando ótimos trabalhos. O que, tendo em vista o que nos é apresentado aqui, não será difícil de acontecer!



                  Sergiomar Menezes