quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

DARK TOWER - OBEDIENTIA (2019)


Eu, por mais incrível que isso possa parecer, ainda me impressiono como algumas bandas brasileiras apresentam qualidade muito superior a muitas bandas estrangeiras e, mesmo assim, continuam preteridas por grande parte do público. Isso fica ainda mais explícito ao ouvirmos um trabalho de extrema qualidade como OBEDIENTIA, mais recente trabalho do grupo carioca DARK TOWER. Uma banda altamente profissional, seja pela música que apresenta, seja pela forma como vem a divulgar seu trabalho. Se você acha que isso deveria ser a regra, não sabe o nível de alguns trabalhos que recebo... Mas, voltando ao que realmente interessa, a mistura de Black e Death Metal, aliados ao Heavy Metal Tradicional, fazem deste trabalho um álbum para ser ouvido diversas vezes para ser completamente compreendido. Quero dizer que se trata de um trabalho difícil? Não, muito pelo contrário! Logo na primeira audição já é possível assimilarmos todo o poderio do quinteto. Mas a verdade é que a cada nova audição, novos detalhes surgem, o que torna tudo ainda mais espetacular!

Formado por Flávio Gonçalves (vocal), Raphael Casotto (guitarra), Rafael Morais (guitarra), Rodolfo Pereira (baixo e vocais) e Rômulo Grilo (bateria), o grupo traz em OBEDIENTIA uma mistura perfeita entre a ...Of Chaos and Ascension (álbum de estréia de 2013) e a brutalidade e peso do espetacular Eight Spears (segundo álbum, de 2016). Produzido pela própria banda e por Rômulo Pirozzi, que também gravou algumas guitarras adicionais, o trabalho foi mixado pelo próprio Rômulo no PYROZ (RJ) e masterizado por George Bokos na Grécia. E o resultado final é primoroso, pois todo peso e agressividade da banda permaneceram intactos dentro de uma produção cristalina, que soube deixar tudo em seu devido lugar. Duvida? escute com atenção para entender o que quero dizer... O trabalho, segundo a própria banda, é um manifesto contra a onda de obediência cega que assola a sociedade nos dias atuais, falando de todo tipo de libertação e rebeldia, sejam elas espirituais, culturais, sexuais e filosóficas.

"Punishment" é uma bela introdução, um dedilhado com uma atmosfera de suspense, que nos prepara para o primeiro petardo, a espetacular "Downfall". Uma composição carregada de peso e brutalidade, com destaque para o trabalho de guitarras da dupla Raphael e Rafael, que trazem em sua musicalidade não apenas o lado mais brutal e denso do Heavy Metal, mas também, aquela aura tradicional tão cara aos músicos do estilo. Os vocais de Flávio e Rodolfo, também baixista, primam pela agressividade, criando um contraste entre as duas vozes. "God Above Nothing" (título sintomático, não), é outro belo exemplo de como uma banda pode ser brutal sem que deixe de lado a técnica e melodia. Impressiona o nível de excelência nos riffs criados pelos guitarristas, pois como citado anteriormente, percebe-se que buscam fugir do lugar comum, sem se prender as amarras impostas pelo estilo. "Highland Ceremony" é outra intro que antecede "Winged Snake's Communion", uma faixa mais cadenciada, trazendo uma aproximação com o Thrash Metal, o que traduz de forma convincente a versatilidade da banda na hora de compôr e executar suas faixas.

"Praxis Against Ignorance" carrega os elementos do Black Metal de forma discreta, evidenciando a melodia, de forma bastante instigante, forçando o ouvinte a viajar na sonoridade apresentada aqui pelo quinteto. Muito mais próxima do metal tradicional, a composição é um dos destaques do trabalho. Mas a faixa título... Ah, que baita música! Seu início remete ao metal tradicional, mas logo em seguida o death/black tomam conta da composição, transformando esse no melhor momento do trabalho (que é de altíssimo nível). As guitarras pesadas e ríspídas ganham o auxílio primordial da cozinha, que agregou ainda mais peso á faixa, enquanto Flávio vocifera como se estivesse numa guerra verbal contra as atrocidades do mundo. Repito: que música sensacional! Uma pegada mais thrash é o que temos em "Rites of Conscience", com seu andamento mais cadenciado e carregado de agressividade, onde o destaque é o baterista Rômulo. "The Carnal Splendour" é outra faixa grandiosa, com orquestrações muito bem arranjadas e executadas, essas realizadas pelo produtor Rômulo e pelo baixista Rodolfo. O encerramento se dá com "... As the Obedients Marches to the Abyss", que é muito mais do que uma simples outro, visto que possui mais de 2 minutos de belas passagens, que fecham esse trabalho de forma magistral.

OBEDIENTIA é um álbum complexo, mas ao mesmo tempo, fácil de ser ouvido. E digo isso porque é um trabalho que pode, e deve, ser apreciado por todo fã de Heavy Metal. Por mais que uma declaração dessas possa soar piegas, dá orgulho dizer que uma banda como o DARK TOWER é brasileira. Só falta um maior reconhecimento por parte do público...

SERGIOMAR MENEZES




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