segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

UGANGA - SERVUS (2019)


Com mais de 25 anos de carreira, um dos mais expressivos e relevantes grupos do rock pesado brasileiro lança seu 5º trabalho de estúdio. Após o excelente "Opressor" de 2014 e do DVD "Manifesto Cerrado" de 2017, o UGANGA lança o excepcional SERVUS, um trabalho carregado de peso e intensidade. A maturidade da banda fica visível, o que não é nada de extraordinário, visto que o grupo conta com músicos experientes, além de já ter tocado por quase todas as regiões do país, participando de importantes festivais e realizado duas turnês européias, somando 28 shows em 13 países. Turnês que deram origem ao ótimo "Eurocaos ao vivo", lançado em 2013.

Manu Henriques Joker (vocal), Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Maurício "Murcego" Pergentino (guitarra), Raphael "Ras" Franco (baixo e vocal) e Marcos Henriques (bateria  e vocal) tiveram o financiamento para lançar o trabalho através de dois relevantes prêmios: o Wacken Foundation, organização alemã sem fins lucrativos idealizada em 2008 pelos produtores do Wacken Open Air - o maior festival de Heavy Metal do planeta - e também pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Uberlândia (MG) de onde o grupo é originário. Gravado no mesmo local que o álbum anterior, no estúdio Rock Lab em Goiânia/GO, o trabalho foi produzido por Gustavo Vazquez e pelo próprio Manu Joker, moldando de forma certeira a identidade do grupo que veio sendo construída nos dois trabalhos anteriores ("Vol.3: Caos Carma conceito - 2009 - e "Opressor" de 2014). A verdade é que SERVUS é um trabalho muito mais à frente que seus antecessores, pois buscou o ponto perfeito entre o Thrash e o Hardcore que permeiam a sonoridade básica da banda.

Repleto de participações especiais, SERVUS inicia com "Anno Domini", uma pequena intro, que nos prepara para a faixa título, um ótimo exemplo de como soar Thrashcore com identidade própria. Pesada e intensa, a faixa possui um andamento tipicamente Hardcore que ganha o peso das guitarras criando uma junção perfeita com o Thrash. Quanto às guitarras, cabe lembrar que Maurício gravou o álbum , mas foi substituído por Lucas "Carcaça". Na sequência, "Medo" traz um ´timo trabalho da cozinha composta por Raphael e Marcos, e mantém aquele híbrido Thrashcore, onde as guitarras pendem mais para o lado metal enquanto a cozinha se encarrega de encaixar a velocidade HC na composição. Manu Henriques entrega sua voz de forma segura e firme, ríspido em alguns momentos, mas perfeitamente dentro da proposta musical do sexteto. "O Abismo" conta com a participação do vocalista Casito Luz, da lendária banda WitchHammer, conterrânea da banda. Mais cadenciada, a faixa mantém uma maior proximidade como Thrash Metal. A produção soube valorizar muito bem o peso das guitarras, fugindo do lugar comum onde muitas bandas do estilo caem. "Dawn" é uma faixa mais lenta, uma espécie de balada, dentro dos parâmetros do grupo, enquanto as guitarras voltam a ditar o ritmo em "Hienas", que conta com a participação do grupo chileno de rap Lexico. A faixa, pesada, e que ganha velocidade em determinados momentos, é um dos grandes destaques do trabalho, que se mantém bastante homogêneo.

O Punk/HC assume o protagonismo em "7 Dedos (Seu Fim)", que conta com a participação do vocalista Renato BT, da banda John No Arms. Outro ótimo momento, onde a versatilidade dos músicos é o grande destaque. "Couro Cru" começa com o baixo na cara, e ganha velocidade, juntamente com os riffs tipicamente HC do trio de guitarristas do grupo. Com uma mudança de andamento durante sua execução, a composição apresenta características um pouco fora das usuais da banda, mas nem por isso, deixa de lado sua personalidade. E tome riffs metálicos em "Imerso", mais uma faixa que traz a influência mais pesada da banda, em especial de Black Sabbath. Prestem atenção nos riffs que surgem durante o desenrolar da composição e entenderam o que quero dizer. A porradaria volta à tona em "Lobotomia", e não teria como ser diferente, vide a letra extremamente crítica e sincera sobre um dos tantos momentos que vive o nosso país. Já "Fim de Festa" possui um acento mais "acessível", se é que dá pra dizer dessa forma. Destaque para as guitarras. Cabe destacar também a passagem quase atmosfera no meio da música, que nos deixa respirar um pouco. A cantora e dançarina pernambucana Flaira Ferro participa de "E.L.A." que também conta com a participação especial do vocalista Luiz Salgado. A faixa é totalmente voltada à brasilidade, com ênfase total na música regional. O encerramento vem com "depois de Hoje", uma faixa estranha, misteriosa e cercada de elementos espirituais, vide a participação especial do espiritualista Dr. Waldir.

SERVUS traz também uma belíssima capa, obra do artista Wendell Araújo, que já trabalhou com o ratos de Porão e Cólera. Segundo o próprio Manu Joker "A arte da capa e contracapa têm a ver com o atual momento pelo qual passa a humanidade". De forma geral, o trabalho todo em si traz essa forte reflexão. E o UGANGA soube transformar isso num trabalho de valor inquestionável!

SERGIOMAR MENEZES






  


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