terça-feira, 30 de novembro de 2021

CARCASS - TORN ARTERIES (2021)

 


Carcass - Torn Arteries (2021)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Estamos em 2021 e ainda existem fãs que acreditam que o CARCASS vai voltas À sonoridade de álbuns como Reek of Purefaction (1988), Symphonies of Sickness (1989) e Necroticism - Descanting the Insalubrious (1991). Isso não tem a menor chance de acontecer, uma vez que, com Heartwork (1993), o grupo encontrou sua identidade unindo a podreira dos primeiros trabalhos, com a técnica e capacidade criativa apresenta deste o supracitado álbum. Dito isso, podemos afirmar que TORN ARTERIES, sétimo álbum do grupo, lançado no Brasil pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast dá sequência ao trabalho mais recente lançado pelo quarteto, o ótimo Surgical Steel (2013). Estão presentes a agressividade, brutalidade, mas devidamente "lapidadas", sem que isso faça com que a musicalidade do grupo se torne menor, ou até mesmo, despercebida.

Bill Steer (guitarra e vocal), Jeff Walker (baixo e vocal) e Don Wilding (bateria e vocal), contaram a participação de Per Wilberg (piano) e de Fredrik Klingwall (teclados adicionais). Cabe ressaltar que a banda tem a presença ao vivo do guitarrista Tom Draper. o álbum foi gravado entre novembro de 2018 e agoste de 2019 e tinha como previsão ser lançado em 2020, mas a pandemia frustrou os planos da banda, que achou melhor trazer o trabalho ao mundo agora em 2021. Torn Arteries foi produzido pelo próprio grupo enquanto a mixagem ficou sob a responsabilidade de David Castillo e a masterização foi feita pelo experiente Jens Bogren. Essa verdadeira "salada", (talvez uma pequena referência à capa), deu muito certo, pois o grupo soa pesado, intenso e bastante agressivo, sem que precise apelar para uma sonoridade datada ou "suja" em demasia.

O álbum abre com a faixa título, trazendo uma introdução brutal de bateria, mostrando que vem porrada por aí. E sem muita conversa, Bill Sterr despeja seus riffs insanos e agressivos, criando uma atmosfera perfeita para o mestre Jeff Walker soltar a voz de uma maneira ríspida e direta. Perfeita escolha para a abertura, pois de cara, entrega que o Carcass continua soberano naquilo que criou e sabe fazer como ninguém! Na sequência, Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March nº 1 in 18), que embora possua um nome pra lá de esquisito, é outro pelo petardo, carregado de peso. Cadenciada, a faixa mostra que o quarteto não se apega (há muito tempo) à nenhuma linha de composição, explorando seus próprios limites. Eleanor Rigor Mortis, faixa que vem em seguida, traz a velocidade de volta, pelo menos em seu início, com solos técnicos e melódicos, ainda que isso venha a irritar alguns fãs mais puristas. Dotada de peso, a composição acaba sendo um dos destaques do trabalho. Outro ótimo momento é Under the Scapel Blade, que começa brutal e agressiva, mas perde a velocidade e ganha muita intensidade em sua execução. Vale lembrar que a faixa estava presente no EP Despicable, lançado em 2019, e resgata uma pegada mais próxima de Swansong (1996). The Devil Rides Out traz um Bill Steer inspirado, técnico e ao mesmo tempo ríspido, mesclando de forma consistente, peso e melodia.

Flesh Ripping Sonic Torment Limited é a faixa mais longa, com quase dez minutos de duração. No entanto, ao contrário de muitas bandas que criam composições desse tipo apenas para mostrar suas técnicas instrumentais, o Carcass compôs uma música repleta de variações e passagens que vão da agressividade ao melódico sem pestanejar, mostrando, mais uma vez, uma banda preocupada, apenas, em fazer sua música. Kelly's Meat Emporium, como o título indica, traz a carnificina de volta, com velocidade, brutalidade e um acabamento que só bandas que criam um estilo conseguem fazer. Don Wilding mostra sua técnica de forma precisa, aliando momentos mais intensos e rápidos, com outros mais trabalhados e muito bem definidos. Enquanto isso, In God We Trust, também traz essa característica, não tão veloz, é verdade, mas dotada de uma execução coesa e com solos que fleum com total naturalidade. Wake Up And Smell the Carccas/Caveat Emptor, mantém a sequência, trazendo inúmeras referências que os fãs irão sacar e curtir. Pra encerrar, The Scythe's Remorseless Swing, nos deixa para um novo trabalho, que esperamos, não demore tanto para chegar.

Bandas que criam um estilo são raridade. As que conseguem se reinventar dentro daquilo que criaram são mais raras ainda. TORN ARTERIES mostra que o CARCASS é um desses raríssimos casos. Não há dúvidas de que estamos diante de um dos melhores álbuns lançados em 2021. Basta comprovar nas listas que logo mais virão por aí...

Sergiomar Menezes





sábado, 27 de novembro de 2021

MALVADA - A NOITE VAI FERVER (2021)

 


Malvada - A Noite Vai Ferver (2021)
Shinigami Records - Nacional

Formada em São Paulo no início de 2020, a MALVADA é uma banda formada por mulheres que decidiram mostrar que o Rock precisa, e muito de sangue novo. E A NOITE VAI FERVER, álbum lançado agora em 2021 pela Shinigami Records, prova que, além de sangue novo, o grupo traz consigo talento e garra suficientes pra sacudir o cenário, que diga-se de passagem, mostra-se num marasmo poucas vezes visto antes. Ainda que durante algum tempo tenhamos reclamado que o rock nacional não apresentava nada de novo, pelo menos tínhamos algumas bandas que, por mais comerciais que fossem, ainda conseguiam representar o estilo. Ainda bem que essas quatro mulheres resolveram mostrar que as coisas podem mudar. Cantado em português, mas com uma gama de influências que vão do Hard ao Pop, o trabalho tem tudo para agradar aos apreciadores da boa música.

Angel Sberse (vocal, participante do The Voice Brasil 2020, na Rede Globo), Bruna Tsuruda (guitarra), Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria) entraram no Studio Pub, em Santo André (SP), sob o comando de Nobru Bueno, que também produziu o álbum ao lado de Tiago Claro, e registraram nove faixas que mostram classe e bom gosto, seja nas composições, seja nos arranjos. Cabe ressaltar o talento e performance de Angel que possui um timbre próprio, indo com facilidade do mais suave ao mais visceral sem esforço. Ainda, a cozinha da banda mostra entrosamento, pois impõe peso nos momentos certos, enquanto a guitarra ganha seu espaço com riffs bem timbrados e de fácil assimilação. Se em alguns momentos o grupo acaba soando mais comercial, qual o problema? Música boa é música boa, toque ela no rádio (como se ainda acontecesse isso...) ou não...

A faixa título abre o álbum com uma pegada pop/rock, mas que ganha peso durante sua execução. Angel coloca uma dose extra de agressividade em alguns momentos, dando à composição uma vibe mais rocker do que pop. Na sequência, Prioridades, traz uma melodia simples, com linhas de baixo e bateria (Ma Langer e Juliana Salgado, respectivamente) bem trabalhadas, uma vez que a faixa tem um andamento mais cadenciado. Angel, mais uma vez, mostra versatilidade numa linha vocal interessante. Bruna Tsuruda, por sua vez, apresenta um solo bem construído, melódico e certeiro. Quem Vai Saber é um momento mais calmo, suave até. Traz belas passagens e mostra a capacidade criativa do grupo, deixando as guitarras mais pesada de lado, deixando o feeling fluir, o que se percebe no belo solo de guitarra presente aqui. A veia pop/rock retorna com Pecado Capital, com destaque pra levada de baixo/bateria.

Ao Mesmo Tempo, inicia com a bela voz de Angel, que canta de forma mais suave, onde Bruna brilha de forma precisa durante a execução da faixa (escute e você entenderá o que quero dizer). A veia rocker volta  aparecer com força em O Que Te Faz Bem?, numa levada blues n' roll, com vocais cheios de malícia e potencializados por uma performance segura de Angel. Já Disso Que Eu Gosto tem aquela pegada com uma certa dose de suingue (me trouxe a mente Por Que que a Gente é Assim do "saudoso" Barão Vermelho), enquanto que Mais Um Gole tem uma  cara anos 70, principalmente pelos timbres da guitarra de Bruna e pelos vocais rasgados, perfeitos em sua função de carregar de emoção a composição. O trabalho se encerra com Cada Escolha Uma Renúncia, faixa que segue a linha das anteriores, com passagens cheias de garra e energia, com mudanças de andamento que criam uma atmosfera pesada para a composição.

A NOITE VAI FERVER apresenta uma banda talentosa e disposta a encarar um mercado que busca alternativas, já que o cenário não mostra muitas perspectivas de originalidade ou, pelo menos, bom gosto. A MALVADA tem essa oportunidade. Afinal, o cartão de visitas cria essa expectativa. 

Sergiomar Menezes




sexta-feira, 26 de novembro de 2021

DARK ASYLUM - DEEP IN THE MADNESS (EP) (2021)

 


Dark Asylum - Deep in the Madness - EP (2021)
True Metal Records - Nac.

Antes de mais nada, preciso dizer o quanto é bom receber o material de uma banda que se preocupa em ser profissional. Óbvio que a música é mais importante, mas tem muita banda que não tá nem aí pra cuidar de sua imagem, do release, do trabalho em si e, o que é pior, depois vem cobrar da gente uma resenha com foto atualizada, informações sobre a formação que mudou, entre outras coisas. E isso não é raro. Felizmente, a DARK ASYLUM não se enquadra nesse conceito. Além de uma música de qualidade, o quarteto gaúcho mostra profissionalismo ao apresentar um material completo, seja através de sua assessoria, seja pelas próprias mãos da banda, que enviou pelo correio o CD, com um press release completo, deixando claro que ser underground não significa ser desleixado. DEEP IN THE MADNESS, EP lançado em 2021 traz uma banda entrosada e com uma sonoridade forte e direta.

A banda foi criada em 2003 pelo seu líder e fundador Aparício "Dark" Neto (vocal) e hoje é completada por William "The Axe Murderer" Leite (guitarra), Ângelo "Angel of Death" Gobbi (guitarra) e John "Doomslayer" Xavier (baixo). Fica o registro que a banda nunca teve um baterista fixo e apesar do início promissor, fazendo muitos shows pelo underground gaúcho, encerrou suas atividades em 2008, mesmo após gravar dois Eps, com a participação do baterista Everson Krentz (ex-Distraught, ex- Sacrário). Mas 13 anos após, Aparício "Dark" Neto decidiu que era hora de reativar a "loucura" e colocar o Dark Asylum de volta no cenário. E assim, resolveu lançar os trabalhos já gravados e reabrir as portas para um futuro promissor que espera pelo grupo. Com a arte do talentoso designer Günther Natusch e lançado pela True Metal Records, do lendário Flávio Soares (Leviaethan), DEEP IN THE MADNESS chega para colocar o pescoço dos bangers à prova!

Após a intro Brainwash, temos Final Link, uma pedrada no ouvido, trazendo um mixto de Thrash Metal, Heavy Tradicional e vocais que variam do limpo ao mais rasgado de forma simples. Os riffs mantém uma característica daquele thrash anos 80, aliados a cozinha que deixa o peso correr solto. Por ser uma faixa mais cadenciada e com certa dose de groove, ela deixa escancarada a capacidade d a banda em soar pesada. Cabe ressaltar que a banda era formada à época da gravação do EP por Leonardo "Babyface" e Vilmar "The Teacher" Gusbeti (guiatrras) e Jonas "Devil Son" Torres (baixo). A faixa seguinte, Factory of Fools, mantém essa pegada, mais cadenciada e carregada de peso e aqui percebe-se que a produção poderia ter dado uma caprichada maior nas guitarras, que ainda que bem timbradas, por vezes acabam se sobressaindo em demasia. Não que isso cause algum demérito, mas daria um "punch" extra ao grupo.

Feel the Heat é outro momento que guarda essa proximidade com o Thrash, naquele estilo "correria", perfeito para as rodas de mosh nos shows, que segundo relatos de quem já os presenciou, eram insanos e viscerais. O trabalho se encerra com Highest Force, com velocidade, peso e muita disposição em fazer valer cada segundo de execução da composição. 

DEEP IN THE MADNESS é um trabalho que traz de volta uma banda que merece, e muito, um destaque maior no cenário. Afinal, não é sempre que temos a oportunidade de ver um grupo que sabe onde quer chegar, como chegar e que demonstra um profissionalismo raro hoje em dia. E isso conta muito a seu favor. Deixe a loucura do DARK ASYLUM te transportar para o mundo do metal!

Sergiomar Menezes





quinta-feira, 25 de novembro de 2021

CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL (2021)

 


CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL
Zac Crain
Tradução:
Marcelo Vieira
Editora: Estética Torta

Dimebag Darrell. Um dos guitarristas que viraram o cenário do Heavy Metal de cabeça para baixo, não apenas com sua técnica, mas por seu jeito "maluco" e amigável de viver a vida. E os brasileiro têm a oportunidade de conhecer a história deste músico incrível através da Editora Estética Torta, que vem lançando no mercado muitos títulos imperdíveis. CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL, tem uma edição luxuosa, com capa dura e marca página com a ilustração da capa e foi traduzido por Marcelo Vieira, o que é garantia de uma leitura fácil e sem "burocracia". Não apenas um relato sobre a vida de Dimebag, o livro traz histórias contadas por amigos próximos, músicos, produtores, jornalistas, entre outras pessoas que viveram as mais variadas situações com o guitarrista que faz, e muita, falta nos dias de hoje...

Muito bem escrito e com riqueza de detalhes, o livro começa falando sobre o fatídico dia em que Dimebag veio a ser assassinado, voltando no tempo desde os primórdios, contando sobre a infância do guitarrista, filho de Jarry Abbott, compositor, produtor e multiinstrumentista, com uma forte ligação com a música country, e Carolyn Abbot, uma mãe amorosa que sempre apoiou os filhos, incondicionalmente. Cria do Texas, Dimebag cresceu envolto à música country, mas desde cedo teve, dentro de si, despertada a paixão pelo rock por ninguém menos que o VAN HALEN. E essa paixão iniciou em 1º de julho de 1978, quando assistiu pela primeira vez ao show da banda no Texxas Jam.

Mas havia um outro ídolo, o qual mudou o rumo da vida do saudoso guitarrista: ACE FREHLEY. A paixão pelo Kiss e seu eterno Spaceman ficaram marcadas na vida de Dime até seus últimos momentos. Quem viveu os anos dourados do Pantera, sabe do que estou falando. E essa relação entre fã e ídolo também fez com que Dimebag fosse, com seus fãs, um dos caras mais gente boa do mundo do rock. Não são poucas as histórias de bebedeiras homéricas patrocinadas pelo guitarrista junto aos seus admiradores. Se havia diversão, impossível imaginá-la sem a presença dele.

O livro traz os relatos da infância e adolescência de DarrelL Lance Abbott e de seu irmão Vincent Paul Abbott, mais conhecido por Vinnie Paul, e revelando que, se alguma banda se interessasse por um dos irmãos, teria que levar o pacote fechado, o que se mostrou algo bem interessante ao longo da carreira de ambos, principalmente quando da criação do Pantera. E um dos pontos interessantes do livro é essa narração, desde os primórdios do grupo, passando pela fase "glam", com o vocalista Terry Glaze até a entrada de Phil Anselmo e a mudança de rumo musical tomada pelo grupo. Mudança essa que fez com que o Pantera se tornasse um dos maiores nomes do metal mundial e Dimebag fosse reconhecido com um dos grandes guitarristas de sua geração.

Além disso, muitas curiosidades envolvendo a carreira do Pantera são contadas aqui. Metal Blade e Brain Slagel, Kerry King, entre outras histórias acabam por enriquecer ainda mais a leitura.

Mas, nem tudo era flores dentro da banda e isso é relatado sem cerimônias durante a leitura, principalmente a relação entre Phil e o restante do grupo, principalmente com os irmãos Abbott. Se no início tudo corria da melhor maneira possível, o sucesso e o uso demasiado de drogas acabou afastando os integrantes até o momento da separação, que conforme narrado no livro, nunca aconteceu de forma realmente de forma presencial. Os momentos gloriosos estão presentes no livro, mas também aqueles mais tristes também estão e nos mostram que muitas cicatrizes não fecharam e provavelmente nunca fecharão...

O livro também fala sobre a formação do DamagePlan, nova banda dos Abbott, que era uma espécie de continuação do que o Pantera fazia, mas com um olhar mais sombrio sobre o mundo. Apesar da ótima qualidade e ainda, contando com o nome de Dimebag e Vinnie Paul, o grupo se viu obrigado a voltar aos circuitos de pequenos clubes, o que para o guitarrista não fazia diferença nenhuma, pois o que realmente importava era estar no palco, divertindo o público e se divertindo fazendo sua música. Mas, infelizmente, no dia 08 de dezembro de 2004, no placo do Alrosa Villa, 24 anos após a morte de John Lennon, também assassinado por um "fã", a jornada de um dos mais brilhantes guitarristas que o rock/metal já tiveram, chegou ao fim. Em cima do palco, Dimebag foi assassinado com tiros à queima roupa, sem a menor chance de se defender...

CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL é um livro que nos mostra, principalmente, que a vida está aí para ser vivida, seja ela do jeito que se apresentar. E como diriam os irmãos antes de entrar no palco:
- VAN HALEN?
- VAN HALEN, PORRA! 

Sergiomar Menezes