NÖTHIN' BUT A GOOD TIME
A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80
Autores: Tom Beaujour e Richard Bienstock
Tradução: Marcelo Vieira
Editora: Estética Torta
Um trabalho definitivo. Como o próprio nome do livro entrega, NÖTHIN' BUT A GOOD TIME - A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80, é um livro que traz a história completa daquele que foi o cenário mais festivo, colorido e porque não dizer, mais criativo da música dentro dos anos 80. O Hard Rock (termo usado muito mais por aqui do que nos EUA, onde sempre foi chamado de Heavy Metal - pouco tempo depois ganhou a alcunha de "Hair Metal", foi muito mais do que um simples estilo musical, mas sim, uma forma de viver a vida, tocando, bebendo, se divertindo e entregando aos fãs, músicas que se tornaram atemporais, clássicos que até hoje mexem com a emoção daqueles que cresceram ouvindo bandas como Mötley Crüe, Twisted Sister, Quiet Riot, Ratt, Dokken, Poison, Guns N' Roses, Cinderella... São inúmeros os expoentes do estilo que tem agora, sua história contada neste belo trabalho escrito por Tom Beaujour e Richard Bienstock, lançado aqui no Brasil pela Estética Torta e que teve a tradução minuciosa de Marcelo Vieira.
Dividido em 7 partes, o livro tem seu prefácio escrito por Corey Taylor (vocalista do Slipknot, Stone Sour), um fanático por glam metal, e um ponto bem importante e bacana antes de iniciar a leitura propriamente dita, temos todos os participantes do livro nomeados e identificados (como por exemplo, Beau Hill, produtor, Ratt, Kix, Alice Cooper, Twisted Sister, Warrant, Winger), o que vem a facilitar para aqueles recém iniciados no mundo do Hard, situando o leitor dentro desse universo.
Difícil falar de um livro desses sem deixar de lado a paixão pelo estilo em questão, uma vez que muitas curiosidades que eu particularmente tinha, foram devidamente sanadas. Editado com capa dura e pintura lateral (rosa) o livro traz mais de 600 páginas que vão desde os primórdios do nascimento de todo o visual, estética e musicalidade do cenário, passando pelas primeiras bandas, formações (é um todo mundo tocou com todo mundo), rivalidades (na maioria das vezes sadias), shows, confusões e muito, mas muito sexo, drogas e rock n' roll.
"Everybody Wants Some", música do Van Halen lançada em "Women and Children First" (1980), dá nome a primeira parte, trazendo o início de tudo, como algumas bandas tiveram importância fundamental para sedimentar o estilo, como é o caso do Quiet Riot. Ainda, essa parte traz como se deu a formação de algumas bandas (Stryper, Ratt, WASP), com depoimentos de quem esteve lá, mostrando que o conhecimento de causa é parte importante nesse aspecto.
"Feel the Noize" advinda de "Cum On Feel the Noize", clássico do Slade que ganhou uma versão fantástica pelas mãos, cordas e voz do QR, dá nome a segunda parte do livro, onde fica ainda mais clara a importância que o grupo e seu álbum "Metal Health" tiveram no cenário. Em seus capítulos, temos também a formação de novas bandas, muitas curiosidades, entre elas, uma certa "rivalidade" entre o QR e o Twisted Sister, que fez com que Dee Snider criasse "We'Re Not Gonna Take It" (você NUNCA mais vai ouvir essa música do mesmo jeito), bem como a história de um grande guitarrista desse período que não entrou na banda de Ozzy por causa do "cabelo"... Além disso, temos também como os ex-membros e aqueles que viriam a se firmar como Guns N' Roses se conheceram. Sem contar relatos nada sociáveis de com o algumas festas começavam e acabavam durante aquele período...
"Knock 'em Dead, Kid", música do Mötley Crüe presente em "Shout at the Devil" (1983), é a terceira parte e fala sobre a participação das mulheres no cenário, com destaque para a Vixen, banda formada por mulheres e que acabou invadindo esse cenário de forma contumaz. Um cenário que era bastante misógino e machista, diga-se de passagem. Um ponto bem interessante aqui é quando se fala sobre a capa de "Look What the Cat Dragged In", álbum de estréia do Poison. Você já deve imaginar o que vem pelas linhas... Outro ponto que merece destaque é a narrativa sobre a distribuição de flyers pela Sunset Strip naquele período, pois nunca é demais lembrar, não existia internet e as revistas tinham tiragem mensais. Havia outra maneira de divulgação? Ah, e ganha uma cerveja quem adivinhar aqui qual banda recebia o título de "mais safada de L.A."
"Youth Gone Wild", quarta parte do livro, é uma música presente em "Skid Row", álbum de estréia do grupo homônimo. Uma passagem pela formação do Winger, a entrada de Sebastian Bach no Skid Row, algumas curiosidades interessantes sobre a tal falada e criticada maquiagem utilizada pela maioria das bandas, a super exposição das "mela-calcinhas" (sem spoilers, ok?), os reais motivos da saída de Sebastian do Skid Row (algo que não estava muito bem esclarecido até os dias de hoje) e a concepção e execução do "Moscou Music Peace Festival, idealizado por Doc McGhee (e seus reais motivos) e que reunião Ozzy Osbourne, Bon Jovi, Mötley Crüe, Skid Row e Cinderella. Você consegue imaginar como foi a viagem de avião dessas bandas?
"The Last Mile", música do Cinderella (Long Cold Winter - 1988), é a quinta parte, chegando aos momentos em que o estilo ainda reinava, mas já dava mostras que a coisa não iria durar pra sempre. Enquanto algumas bandas novas surgiam mas sem o mesmo brilho e criatividade de antes, a indústria musical já começava a dar mostras de que procurava algo novo. A turnê do Winger com o Scorpions e suas consequências, as histórias por trás de "Cherry Pie" do Warrant, o surgimento do Nelson e o que veio junto a essa "novidade", o que algumas bandas fizeram para tentar manter seu público. Um período que dava sinais evidentes de desgaste.
"Cale a boca, Beavis". Bom, a sexta parte não precisa de uma explicação, não é mesmo. Os motivos que fizeram com que as bandas perdessem seus fãs (ou não), baixas vendagens tanto de álbuns quanto de shows, as separações de muitas dessas bandas, Um pouco sobre o que o Nirvana representou para esse momento, além das brigas, picuinhas e deboche pelos quais muitas bandas passaram na MTV. Emissora essa que teve uma responsabilidade gigante também para o surgimento e manutenção do cenário anos atrás.
A parte sete do livro traz o epílogo, onde muitos músicos contam como se mantiveram após o auge, sendo alguns deles bastante curiosos e outros, sabendo jogar o jogo de forma brilhante (alguns nem tanto).
Como eu disse antes, é difícil falar de um livro desses sem dar spoilers, mas é preciso citar aqui a importância para todo o cenário Hard Rock nos anos 80 de pessoas como Vicky Hamilton (manager do Guns N' Roses, Mötley Cüe, Poison), o já citado Beau Hill, Rick Rachtman (coproprietário da Cathouse, VJ da MTV, apresentador do Headbangers Ball), Rick Krim (executivo, MTV), entre tantos outros. Um livro fundamental para quem não conhece ou quer entender melhor porque esse estilo é tão apaixonante para quem o conhece. Com depoimentos de quem viveu a cena, algumas entrevistas esclarecedoras e muitas, mas muitas curiosidades (alguém saberia dizer qual a ligação do clipe de "Bad" de Michael Jackson com o Warrant?) fazem de NÖTHIN' BUT A GOOD TIME - A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80, um item que não pode faltar na biblioteca de todo fã de rock! Simplesmente necessário!
Sergiomar Menezes