quinta-feira, 28 de setembro de 2023

HAMMERFALL - CRIMSON THUNDER (20TH ANNIVERSARY EDITION) - DIGIPACK TRIPLO (2023)

 

HAMMERFALL
CRIMSOM THUNDER (20th ANNIVERSARY EDITION)
DIGIPACK TRIPLO
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Ainda que muitos possam vir a não gostar da banda, é inegável que o HAMMERFALL foi um dos grupos responsáveis pelo ressurgimento do Heavy Metal, no final dos anos 90. Mesmo sendo chamado de clichê por muitos, o grupo resgatou toda aquela atmosfera do "true" metal que andava um tanto quanto esquecida naquele período. E desde que iniciou sua carreira, CRIMSOn THUNDER, seu quarto trabalho de estúdio lançado originalmente em 2002, foi o último grande álbum do quinteto durante um bom tempo, até o momento que vieram a renascer com o excelente (r)Evolution (2014). Completando 20 anos de seu lançamento em 2022, CRIMSOn THUNDER ganha sua edição de aniversário, num belo digipack triplo, remixado e remasterizado por Fredrik Nordstrom, que inclui faixas de pré-produção inéditas, um novo medley e músicas acústicas ao vivo, além do álbum ao vivo "One Crimson Night". O trabalho foi lançado por aqui pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast.

A banda, nesse período, era formada Joacim Cans (vocal), Oscar Dronjak (guitarra), Stefan Elmgren (guitarra), Magnus Rosén (baixo) e Anders Johansson (bateria). Formação essa que, para muitos, foi a que melhor representou o espírito do Hammerfall. E Crimson Thunder veio a ser um marco na carreiro do grupo, uma vez que na turnê de divulgação do próprio, o quinteto gravou "One Crimson Night", álbum duplo ao vivo, que também saiu em dvd, gravado na Suécia e que mostrava toda a energia do true metal da banda em cima do placo. E esse relançamento ganha ainda mais importância porque traz além do álbum de estúdio, o duplo ao vivo num pacote mais que especial, com um belo livreto recheado de fotos, histórias. Um prato cheio para os fãs dos suecos.

CRIMSON THUNDER possui grandes músicas que se tornaram clássicos obrigatórios nos shows do grupo. Faixas como "Riders of the Storm", com um clima pesada e bem metal, "Hearts on Fire", que entre outras coisas, se tornou uma espécie de hino para a seleção de Curling feminina sueca! a própria faixa título com seu clima épico, reforça o time de grandes músicas do trabalho que ainda conta com "Angel of Mercy" (cover do Chastain), "Unforgiven Blade", uma das melhores músicas do grupo e "Hero's Return", um heavy metal tradicional com aquele típico refrão que o Hammerfall se acostumou a fazer e que veio a se tornar uma marca registada do grupo. Ainda no primeiro CD, temos versões pré- produzidas das principais faixas do álbum, citadas anteriormente.

Já o duplo ao vivo "ONE CRIMSON NIGHT", traz o show de encerramento da turnê e traz as principais faixas da carreira do Hammerfall até aquele momento. Além das faixas de Crimson Thunder, temos "Heeding the Call", "Stone Cold", "Legacy of Kings", "At the End of the Rainbow", "The Way of the Warrior", "Let the Hammer Fall", "Renegade", "Steel Meets Steel", "Templars of Steel", entre outros clássicos do grupo. E para dar aquele upgrade no lançamento, temos versões acústicas para "Heeding the Call", "Steel Meets Steel" e "Renegade", além de um medley de Crimson Thunder ao vivo. 

Esta edição de aniversário de CRIMSON THUNDER, só vem a reafirmar quilo que muitos já sabiam e outros insistem em negar: o HAMMERFALL é uma banda séria, verdadeira e muito competente. Se você não tem ainda o referido trabalho e curte a banda, essa versão vale muito a pena, seja pelo belo pack envolvendo o material, seja pela qualidade musical aqui apresentada. LET THE HAMMER FALL!

Sergiomar Menezes






quarta-feira, 27 de setembro de 2023

SACRIFIX - KILLING MACHINE (2023)

 

SACRIFIX
KILLING MACHINE
Impaled Records, Sangue Underground Records e outros - Nacional

A podridão que nos rodeia serve para uma infinita inspiração no mundo do heavy metal. O novo trabalho da banda paulista Sacrifix, traz em seu enredo seriais killers, ficção, violência, sociedade perdida e religião — Uma sinfonia para o caos provocado pela ganância e loucura humana.

A trilha é um thrash metal visceral, provocador e inquieto calcado em heróis oitentistas, mas com uma produção mais atual e “na cara” dando um ganho absurdo para as composições de “Killing Machine”. Abrindo com a belíssima “Age of Doom”, uma intro que prende o ouvinte em meio a belas notas de guitarra que vão crescendo até a explosão com um riff matador da faixa-título, e é a partir daí que entramos num rodamoinho metálico. A insanidade de Gustavo Piza na levada de bateria, as viradas, os blast beats unidos à voz mais “desgracenta” de Frank Gasparotto dão um charme brutal logo de início ao disco que segue com as maravilhosas “Guided by God” e “Reality in Lost” .

“March To Kill” traz as linhas do baixista Kexo bastante audíveis numa faixa pesada e densa, mas com o pé sendo tirado do acelerador trazendo uma leve cadência. Já “Ancient Aggression” é Slayer e Exodus em estado puro, riffs, riffs e riffs sendo despejado sem qualquer piedade, um solo afiado na melhor escola Gary Holt mostrando que o lado americano do thrash metal corre nas veias dos integrantes.

“Raped Democracy” e “Dark Zone” são certeiras, com algumas mudanças de andamento caindo muito bem na destruição desenfreadas, inclusive ambas carregam consigo elementos de death/black metal com refrões de se berrar até perder a voz. “Thrash Again” contém um riff hipnótico, é uma ode a velha guarda, que foi certamente feita para ver o “coro cume” nos shows.

O encerramento fica a cargo de “Rotten”, o último suspiro de um disco que veio do passado para o futuro, de uma banda que está nos brindando numa brutalidade viciante e gratuita.

William Ribas




terça-feira, 26 de setembro de 2023

NERVOSA - JAILBREAK (2023) (ENGLISH VERSION)


NERVOSA
JAILBREAK
Napalm Records/ Shinigami Records

How many times will Prika Amaral have to reappear to shut up the envious? For some, the Brazilian is the skirt version of Dave Mustaine. Would it be a demerit to be compared to a spectacular musician? I see it all as a great compliment, and from the first listen to "Jailbreak", you can compare Mustaine, and so many others - The "powergirl" has left the band stronger than ever.

What else does a thrasher love about their favorite style? The answer is obvious - Riff! Prika and her new partner in crime, guitarist Helena Kotina, didn't mess around and came up with a waterfall of them. Nervosa's fifth studio album is their best yet. Creativity at an all-time high, sharp and philosophical lyrics, a band that has almost completely reinvented itself, bringing aggressive work, but without getting lost in the formulas of their discography.

The fantastic quartet also includes the talented Hel Pyre (Bass) and Michaela Naydenova (Drums), both of whom have a strong, in-your-face tone. Michaela's precise hammering and Hel's groovy, punchy notes form an indestructible mass of sound, bringing more brutality to Nervosa.

Opening with the missile "Endless Ambition", the girls come in kicking down the door, in your face and making sensitive ears bleed. If you can't hold on the pressure, don't go ahead, because "Suffocare" keeps hell on earth and your neck swaying. The track is about toxic people, where oppressors never show a real face, Prika screams:

"How far can it go?
How close can it be?
Soothing words
to feel at home
Protection, Oppression, Disguised"

The restlessness is inevitable, the timbre of the guitars are like a deadly attack of killer bees. "Ungrateful" and "Seed and Death" were born to wreak havoc on the moshpit - violent as elephant attacks, possibly leaving no stone unturned at gigs in just over 7:30 minutes, both were conceived as classics.

At times, I saw the simplicity of Motörhead's dirty Rock N Roll, with the "romantic" way of Exodus and Kreator and an influence here and there from Arch Enemy (Angela Gossow period), even the title track, fits very well with what is described above - Lemmy Kilmister leaves his Jack & Coke aside to applaud the girls. "Sacrifice" and "Behind The Wall" are broken, prog thrash metal, fast, "modern", pulsating and with solos with several notes per second (laughs). In fact, it's worth highlighting Helena's moments, the girl proves to be a full-fledged guitar-hero, the solos are the kind that the son cries and the mother doesn't see, simply nostalgia watered down by the spirit of Jeff Hannemann (Slayer) - a perfect feeling aligning melody very well when necessary and "frying" full of effects showing that she works for the music and not for her own ego.

The announcement of Fernanda Lira's departure took everyone by surprise. The same happened with Diva Satânica, when everyone was typing: "Oh and now?" Prika made a triumphant move by taking over the band's "lead" forever, Nervosa's identity would be maintained, the leader's voice would no longer be behind the stage curtains, and you know what? She did great! A huge weight with versatile gutturals.

The free and adventurous spirit appears in "Kill or Die", simple and precise, with a chorus to sing with your fists raised, more than obligatory in the tour setlist, classic! Yes, I said it again.

"On the highway of life
A promise you make
Choices you take
To be who you are
Not living to die
Living to kill
Be who you are"

Special guest appearances add to the album, and none other than Gary Holt appears on "When The True Is A Lie". The song is a frenetic attack, showing that the aggressiveness of the record was a 100% choice, showing that the thought was to have no pity, the fan will leave bewildered and that's that. In "Superstition Failed", the band flirts between more current death metal, with German thrash metal and adding denser and more charged passages, leaving the perfect atmosphere for Lena Scissorhands (Infected Rain) and Prika to work in a unique way.

The final set - "Gates To The Hell", "Elements of Sin" and "Nail The Coffin" - closes the work in the way it began - destruction with no speed limit.

"Jailbreak" is the band's apex. It's a work made by fans for fans. The moshpit is the only law in the life of Prika Amaral and Nervosa.

Willian Ribas





NERVOSA - JAILBREAK (2023)

 

NERVOSA
JAILBREAK
Shinigami Records/Napalm Records - Nacional

Quantas vezes Prika Amaral vai precisar ressurgir para calar a boca de invejosos? Para alguns, a brasileira é a versão de saias de Dave Mustaine. Seria demérito ser comparada a um músico espetacular? Eu vejo tudo como um grande elogio, e, a partir da primeira audição de “Jailbreak”, podem comparar Mustaine, e tantos outros — A “mina” deixou a banda mais forte do que nunca.

O que mais um thrasher ama no seu estilo favorito? A resposta é óbvia — Riff! Prika e sua nova parceira no crime, a guitarrista Helena Kotina, não brincaram em serviço e apresentaram uma enxurrada deles. O quinto trabalho de estúdio da Nervosa é o melhor de todos. Criatividade no alto, letras afiadas e filosóficas, uma banda que se reinventou quase que por completo, trazendo um trabalho agressivo, mas sem se perder nas fórmulas de sua discografia.

O quarteto fantástico ainda conta com as talentosas Hel Pyre (Baixo) e Michaela Naydenova (Bateria), as duas apresentam uma timbragem forte e “na cara”. As “marteladas” certeiras de Michaela, as notas cheias de groove e punch de Hel formam uma massa sonora indestrutível, trazendo mais brutalidade para a Nervosa.

A abertura com o míssel “Endless Ambition”, as meninas chegam já chutando a porta, a cara e fazendo ouvidos sensíveis sangrarem, se o caro leitor não aguenta brincadeira, não siga no play, pois “Suffocare” mantém o inferno na terra e o pescoço balançando. A faixa trata de pessoas tóxicas, onde opressores nunca mostram um real face, Prika berra:

“How far can it go?
How close can it be?
Soothing words
to feel at home
Protection, Oppression, Disguised”

A inquietude é inevitável, a timbragem das guitarras são como um ataque mortal de abelhas assassinas. “Ungrateful” e “Seed and Death” nasceram para desgraçar o moshpit — violentas como ataques de elefantes, possivelmente não deixarão pedras sobre pedras nos shows em pouco mais de 7:30 minutos, ambas foram concebidas clássicas.

Por algumas vezes, enxerguei a simplicidade do Rock N Roll sujo do Motörhead, com o jeitinho “romântico” do Exodus e Kreator e uma influência aqui e ali de Arch Enemy (período Angela Gossow), inclusive, a faixa-título, se encaixa muito bem no que é descrito acima — Lemmy Kilmister deixa seu Jack & Coke de lado para aplaudir as meninas.“Sacrifice” e “Behind The Wall” são quebradas, um “prog thrash metal”, rápidas, “modernas”, pulsantes e com solos com diversas notas por segundos (risos). Aliás, vale destacar os momentos de Helena, a menina se mostra uma guitar-hero de mão cheia, os solos são daqueles que o filho chora e a mãe não vê, simplesmente nostalgia regada do espírito de Jeff Hannemann (Slayer) — Um feeling perfeito alinhando muito bem melodia quando necessário e “fritação” cheio de efeitos mostrando que ela trabalha para a música e não para seu próprio ego.

O anúncio da saída de Fernanda Lira pegou todos de surpresas. Do mesmo modo aconteceu com Diva Satânica, quando todos digitavam: “Oh e agora?” Prika deu uma cartada triunfal assumindo “a gritaria” da banda para todo sempre, a identidade da Nervosa seria mantida, a voz da líder não mais será atrás das cortinas do palco, e quer saber? Mandou bem demais! Um peso descomunal com guturais versáteis.

O espírito livre e aventureiro aparece em “Kill or Die”, simples e certeira, com um refrão para se cantar com os punhos erguidos, mais que obrigatória no setlist da turnê, clássica! Sim, eu disse isso novamente.

“On the highway of life
A promise you make
Choices you take
To be who you are
Not living to die
Living to kill
Be who you are”

Participações especiais incrementam o disco, e nada mais, nada menos que Gary Holt aparece em “When The True Is A Lie”. A música é um ataque frenético, mostrando que a agressividade presente no disco foi uma escolha 100%, mostrando que o pensamento foi de não ter dó e piedade, o fã sairá desnorteado e ponto final. Em “Superstition Failed”, a banda flerta entre death metal mais atual, com o thrash metal alemão e adicionando passagem mais densas e carregadas, deixando o clima perfeito para Lena Scissorhands (Infected Rain) e Prika trabalharem de forma ímpar.

A trinca final — “Gates To The Hell”, “Elements of Sin” e “Nail The Coffin” fechando trabalho de forma que começou — Destruição sem limite de velocidade.

Jailbreak”, é o ápice da banda. É um trabalho feito de fã para fã. O moshpit é a única lei na vida de Prika Amaral e da Nervosa.

William Ribas






segunda-feira, 25 de setembro de 2023

NÖTHIN' BUT A GOOD TIME - A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80

NÖTHIN' BUT A GOOD TIME
A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80
Autores: Tom Beaujour e Richard Bienstock
Tradução: Marcelo Vieira
Editora: Estética Torta

Um trabalho definitivo. Como o próprio nome do livro entrega, NÖTHIN' BUT A GOOD TIME - A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80, é um livro que traz a história completa daquele que foi o cenário mais festivo, colorido e porque não dizer, mais criativo da música dentro dos anos 80. O Hard Rock (termo usado muito mais por aqui do que nos EUA, onde sempre foi chamado de Heavy Metal - pouco tempo depois ganhou a alcunha de "Hair Metal", foi muito mais do que um simples estilo musical, mas sim, uma forma de viver a vida, tocando, bebendo, se divertindo e entregando aos fãs, músicas que se tornaram atemporais, clássicos que até hoje mexem com a emoção daqueles que cresceram ouvindo bandas como Mötley Crüe, Twisted Sister, Quiet Riot, Ratt, Dokken, Poison, Guns N' Roses, Cinderella... São inúmeros os expoentes do estilo que tem agora, sua história contada neste belo trabalho escrito por Tom Beaujour e Richard Bienstock, lançado aqui no Brasil pela Estética Torta e que teve a tradução minuciosa de Marcelo Vieira.

Dividido em 7 partes, o livro tem seu prefácio escrito por Corey Taylor (vocalista do Slipknot, Stone Sour), um fanático por glam metal, e um ponto bem importante e bacana antes de iniciar a leitura propriamente dita, temos todos os participantes do livro nomeados e identificados (como por exemplo, Beau Hill, produtor, Ratt, Kix, Alice Cooper, Twisted Sister, Warrant, Winger), o que vem a facilitar para aqueles recém iniciados no mundo do Hard, situando o leitor dentro desse universo. 

Difícil falar de um livro desses sem deixar de lado a paixão pelo estilo em questão, uma vez que muitas curiosidades que eu particularmente tinha, foram devidamente sanadas. Editado com capa dura e pintura lateral (rosa) o livro traz mais de 600 páginas que vão desde os primórdios do nascimento de todo o visual, estética e musicalidade do cenário, passando pelas primeiras bandas, formações (é um todo mundo tocou com todo mundo), rivalidades (na maioria das vezes sadias), shows, confusões e muito, mas muito sexo, drogas e rock n' roll.

"Everybody Wants Some", música do Van Halen lançada em "Women and Children First" (1980), dá nome a primeira parte, trazendo o início de tudo, como algumas bandas tiveram importância fundamental para sedimentar o estilo, como é o caso do Quiet Riot. Ainda, essa parte traz como se deu a formação de algumas bandas (Stryper, Ratt, WASP), com depoimentos de quem esteve lá, mostrando que o conhecimento de causa é parte importante nesse aspecto.

"Feel the Noize" advinda de "Cum On Feel the Noize", clássico do Slade que ganhou uma versão fantástica pelas mãos, cordas e voz do QR, dá nome a segunda parte do livro, onde fica ainda mais clara a importância que o grupo e seu álbum "Metal Health" tiveram no cenário. Em seus capítulos, temos também a formação de novas bandas, muitas curiosidades, entre elas, uma certa "rivalidade" entre o QR e o Twisted Sister, que fez com que Dee Snider criasse "We'Re Not Gonna Take It" (você NUNCA mais vai ouvir essa música do mesmo jeito), bem como a história de um grande guitarrista desse período que não entrou na banda de Ozzy por causa do "cabelo"... Além disso, temos também como os ex-membros e aqueles que viriam a se firmar como Guns N' Roses se conheceram. Sem contar relatos nada sociáveis de com o algumas festas começavam e acabavam durante aquele período...

"Knock 'em Dead, Kid", música do Mötley Crüe presente em "Shout at the Devil" (1983), é a terceira parte e fala sobre a participação das mulheres no cenário, com destaque para a Vixen, banda formada por mulheres e que acabou invadindo esse cenário de forma contumaz. Um cenário que era bastante misógino e machista, diga-se de passagem. Um ponto bem interessante aqui é quando se fala sobre a capa de "Look What the Cat Dragged In", álbum de estréia do Poison. Você já deve imaginar o que vem pelas linhas... Outro ponto que merece destaque é a narrativa sobre a distribuição de flyers pela Sunset Strip naquele período, pois nunca é demais lembrar, não existia internet e as revistas tinham tiragem mensais. Havia outra maneira de divulgação? Ah, e ganha uma cerveja quem adivinhar aqui qual banda recebia o título de "mais safada de L.A."

"Youth Gone Wild", quarta parte do livro, é uma música presente em "Skid Row", álbum de estréia do grupo homônimo. Uma passagem pela formação do Winger, a entrada de Sebastian Bach no Skid Row, algumas curiosidades interessantes sobre a tal falada e criticada maquiagem utilizada pela maioria das bandas, a super exposição das "mela-calcinhas" (sem spoilers, ok?), os reais motivos da saída de Sebastian do Skid Row (algo que não estava muito bem esclarecido até os dias de hoje) e a concepção e execução do "Moscou Music Peace Festival, idealizado por Doc McGhee (e seus reais motivos) e que reunião Ozzy Osbourne, Bon Jovi, Mötley Crüe, Skid Row e Cinderella. Você consegue imaginar como foi a viagem de avião dessas bandas? 

"The Last Mile", música do Cinderella (Long Cold Winter - 1988), é a quinta parte, chegando aos momentos em que o estilo ainda reinava, mas já dava mostras que a coisa não iria durar pra sempre. Enquanto algumas bandas novas surgiam mas sem o mesmo brilho e criatividade de antes, a indústria musical já começava a dar mostras de que procurava algo novo. A turnê do Winger com o Scorpions e suas consequências, as histórias por trás de "Cherry Pie" do Warrant, o surgimento do Nelson e o que veio junto a essa "novidade", o que algumas bandas fizeram para tentar manter seu público. Um período que dava sinais evidentes de desgaste.

"Cale a boca, Beavis". Bom, a sexta parte não precisa de uma explicação, não é mesmo. Os motivos que fizeram com que as bandas perdessem seus fãs (ou não), baixas vendagens tanto de álbuns quanto de shows, as separações de muitas dessas bandas, Um pouco sobre o que o Nirvana representou para esse momento, além das brigas, picuinhas e deboche pelos quais muitas bandas passaram na MTV. Emissora essa que teve uma responsabilidade gigante também para o surgimento e manutenção do cenário anos atrás.

A parte sete do livro traz o epílogo, onde muitos músicos contam como se mantiveram após o auge, sendo alguns deles bastante curiosos e outros, sabendo jogar o jogo de forma brilhante (alguns nem tanto).

Como eu disse antes, é difícil falar de um livro desses sem dar spoilers, mas é preciso citar aqui a importância para todo o cenário Hard Rock nos anos 80 de pessoas como Vicky Hamilton (manager do Guns N' Roses, Mötley Cüe, Poison), o já citado Beau Hill, Rick Rachtman (coproprietário da Cathouse, VJ da MTV, apresentador do Headbangers Ball), Rick Krim (executivo, MTV), entre tantos outros. Um livro fundamental para quem não conhece ou quer entender melhor porque esse estilo é tão apaixonante para quem o conhece. Com depoimentos de quem viveu a cena, algumas entrevistas esclarecedoras e muitas, mas muitas curiosidades (alguém saberia dizer qual a ligação do clipe de "Bad" de Michael Jackson com o Warrant?) fazem de NÖTHIN' BUT A GOOD TIME - A história completa e sem censura do Hard Rock nos anos 80, um item que não pode faltar na biblioteca de todo fã de rock! Simplesmente necessário!

Sergiomar Menezes





THE TOY DOLLS - TOUR DE 40 ANOS - 13/09/2023 - PORTO ALEGRE/RS


THE TOY DOLLS - TOUR DE 40 ANOS
Abertura: Rotentix
Local: Bar Opinião - Porto Alegre/RS
13/09/2023
Produção: Ablaze Productions
Agenciamento: PowerLine Music & Books

Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Uillian Vargas (exceto foto de capa: Christian Haag)

Acredito que ainda no ano passado, estava eu procurando algum show pra assistir no You Tube, quando me deparei com uma apresentação do TOY DOLLS no HellFest. Não lembro se era atual (mas acredito que sim), só sei que ao término dos pouco mais de 45 minutos de apresentação cheguei numa simples, mas honesta conclusão: Ás vezes, tudo que a gente precisa é de um show do Toy Dolls! Ainda que o grupo seja muito mais conhecido pela turma do punk/HC, o grupo foi um daqueles pilares fundamentais da infância/adolescência. e porque não dizer, vida adulta de muita gente. Álbuns como "Dig That Groove Baby" (1983), "Idle Gossip" (1986), "Bare Faced Cheek" (1987) e "Wackey Wackey" (1989) fizeram e ainda fazem a alegria de muitos fãs por aí. Ainda que o grupo tenha trocado de formação algumas vezes, Michael "Olga" Algar, único remanescente da formação original (e alma da banda), manteve viva a chama da alegria e diversão que a música e as apresentações do grupo sempre proporcionaram. E a ABLAZE Productions em parceria com a POWERLINE Music & Books, trouxe a segunda passagem do trio à capital gaúcha.

A abertura do show ficou sob a responsabilidade do quarteto gaúcho ROTENTIX, mas se quiser, pode chamar de Ramones... hehehe. Brincadeiras a parte, a sonoridade da banda lembra e muita a da maior banda de punk rock de todos os tempos! Inclusive o visual do vocalista Douglas Wyse, que encarnou o espírito e atitudes do saudoso e inesquecível Joey Ramone. Na guitarra, Thiago Kamming trouxe aquele timbre característico enquanto a dupla Felipe Bittencourt e Alex Lamarque (baixo e bateria, respectivamente) se encarregaram de marcar com precisam a velocidade e dinamismo que o estilo precisa. Músicas curtas, mas repletas de energia como "Assustador", "Cemitério" e "Tudo Antigão", mostraram a força e capacidade do grupo em agitar o público presente. Em pouco menos de 01 hora, a quarteto trouxe 24 músicas próprias, incluindo a sensacional "Ouvindo Ramones" e encerram a apresentação com "Blitzkrieg Bop" e "Somebody Put Something in my Drink", covers do... RAMONES! Um show curto, porém visceral e que serviu para animar o público que ainda chegava ao Opinião.



Passava um pouco das 21h, quando "My Way", na versão cantada por Sid Vicious começou a tocar no sistema de som do Opinião. Logicamente que pra galera mais velha, isso trouxe boas recordações, lembrando de uma época que não volta mais... Em seguida, a luz do palco reflete no backdrop que estampa a imagem clássica do "mascote" do grupo e "Hello! Is it me you're looking for?", clássico de Lionel Ritchie dos anos 80 antecede a entrada do trio. O já citado "Olga" (vocal e guitarra), Tom Gubber (baixo) e The Amazing Mr. Duncan (bateria), colocam o bom público presente (mas abaixo da expectativa e do que a banda merece) a cantar suas músicas de forma uníssona! Era nítida a alegria da banda por estar ali, fazendo um show dinâmico, alegre e acima de tudo divertido! E afinal de contas, esse não é o espírito do Rock n' Roll?


O que tivemos a seguir, foi um dos shows mais empolgantes e cheios de energia que eu já tive a oportunidade de assistir nesses bons bons 40 de rock. Sem desmerecer nenhuma outra banda, mas poucas vezes vi uma interação e troca de energia tão grande entre público e músicos como nesse show. E o mais importante, a banda estava feliz em cima do palco, se divertindo. Após o tema de abertura (emendado com um sonoro Happy Birthday), "Fiery Jack" iniciou o espetáculo colocando todo mundo pra cantar e pular junto! Olga é uma simpatia enquanto Tom não para um único minuto sequer, interagindo com o vocalista/guitarrista a todo momento. Já o batera Mr. Duncan toca com uma naturalidade que nem parece que as músicas do grupo são repletas de velocidade, na maioria das vezes. O desfile de clássicos não parou pois tivemos "Cloughy is a Bootboy!" e "Bitten by a Bed Bug", numa sequência de tirar o fôlego! Infelizmente, cortaram do set aqui em Porto Alegre a espetacular "Fistcuffs in a Frederic Street", o que me deixou um tanto quanto chateado, uma vez que "Bare Faced Cheek" foi um dos discos que mais ouvi lá pelo fim dos 80/início dos 90... Mas pra compensar, "The Death of Barry the Roofer with the Vertigo", "Benny the Boxer" e "Up the Garden Path" vieram pra suprir tal ausência.


"Dougy Giro" e "I've Got Asthma", duas das músicas mais icônicas do grupo, fizeram a galera tirara a poeira do corpo (apenas um afigura de linguagem, afinal, a chuva castigava o RS há dias) e abriram espaços generosos em meio a pista do Opinião. Aliás, "Dougy", presente em "Dig That Groove Baby", é daquelas faixas que não podem faltar em uma coletânea que venha a resgatar o sinônimo de punk rock. Ainda que não seja uma música anticomercial ou dotada de cunho político, traz o espírito e a essência do estilo. "Spider in the Dressing Room" e "El Cumbanchero" nos preparam para outro momento inesquecível: "The Lambrusco Kid". Todos, mas realmente, todos os presentes cantando com a banda, pulando... sem palavras para definir um momento tão único como esse. E, ainda que isso fosse difícil, o que veio a seguir, deixou todo o público ainda mais "vivo": "Nellie The Eplephant"! Ah meu amigo... Se você é fã do grupo, já imagina o que aconteceu, não é mesmo?


"She Goes do Finos" veio antes do momento "Dream Theater" do show (risos). "Toccata and Fugue in D Minor, BWV 565", cover de ninguém menos que Johan Sebastian Bach, mostrou a qualidade técnica de Olga, que na minha opinião, acabou sendo ao longo da história, um músico bastante subestimado, pois sempre criou melodias e harmonias cativantes, além de executar sempre com perfeição suas passagens. É preciso citar aqui também , a qualidade de Tom Gubber, até porque, como já citado anteriormente, o cara não pára um segundo de agitar! A elétrica "Alec's Gone" antecedeu o "solo" de bateria de Mr Duncan. Solo entre aspas porque nada teve a ver com aqueles que estamos acostumados a assistir, quais sejam, viradas infindáveis, quebradeiras infinitas ou apenas aquela necessidade que alguns músicos tem de mostrar que "compraram um carro grande"... "Harry Cross (A Tribute to Edna)" e "Wipe Out", cover clássico do The Surfaris, encerraram a primeira parte do show. A banda se despede, mas até os leitores de QR Code do bar do Opinião sabiam que não acabaria dessa forma...

O grupo retorna para executar um de seus maiores clássicos. "Dig That Groove Baby" coloca todos novamente para cantar e pular com o grupo de forma magistral. Impressionante a energia do grupo, pois como eu disse lá atrás, Olga e Tom não param um minuto sequer durante a apresentação! O final do show estava se aproximando e "When the Saints Go Marching In" e "Glenda and the Test Tube Baby" vieram para nos preparara para o encerramento, que não poderia ser outro que não "Idle Gossip", outro daqueles clássicos que o tempo se encarregou de transformar em eterno. A banda agradece e deixa o palco. Ah... ainda no final do show, vários balões caíram sobre o público num clima de festa e diversão, como só um show do Toy Dolls pode proporcionar!

Eu não tenho dúvidas, ainda que o ano não tenha acabado, que esse show estará entre os meus escolhidos como o show do ano aqui em Porto Alegre! Empolgação, energia, diversão e música boa. Como eu escrevi no primeiro parágrafo desse texto, às vezes, tudo que a gente precisa é de um show do Toy Dolls. E essa é uma verdade incontestável!

Fica aqui o nosso agradecimento ao Leonardo e a Ablaze Productions e ao Erick Tedesco e a PowerLine pela cordialidade e tratamento dispensado a quem realizou a cobertura do show. Felizmente, o profissionalismo de pessoas como vocês nos dão a certeza de que nosso trabalho vai ser bem feito. 



TOSCO - AGORA É A SUA VEZ (2023)

 

TOSCO
AGORA É A SUA VEZ
Independente - Nacional

Após ouvir “Agora é a Sua Vez”, a percepção de que você tomou um voleio na nuca é totalmente eminente. As letras ácidas, o instrumental bruto fazem um combo ignorante para que ouvinte seja jogado na lona mostrando que: “A verdade dói, a verdade corrói, a verdade mostra, a verdade constrói”.

O grupo Tosco chega ao seu terceiro trabalho de estúdio mais letal, mais pesado, mais insano, com mais riffs e blast beats infernais que farão a festa de qualquer fã de música pesada. O Crossover do grupo tem influências de Slayer, Korzus, Nuclear Assault, D.R.I, Ratos de Porão e Sepultura (atual), mas engana-se quem possa pensar que são “cópias” dos heróis. Osvaldo Fernandez (Vocal), Ricardo Lima (Guitarra), Carlos Diaz (Baixo) e Paulo Mariz (Bateria) injetam doses cavalares de groove deixando claro que o passado e o presente fazem parte do “mix” sonoro, mostrando que não haverá qualquer respiro nas 12 músicas do tracklist.

A catarse destrutiva se dá o pé inicial com “Intro”, os seus 38 segundos de puro suspense são o suficiente para elevar a expectativa do ouvinte que logo já está “batendo cabeça” com as caóticas “Mais Uma Vez”, “Issaqui Não Tem Jeito”, “O Brasil é o Crime!” e “Hellvetia”. O início mostra o cotidiano e o pensamento de todo brasileiro — A corrupção, os problemas sociais, a sensação que todo político só pensa no próprio “rabo” e o caos no centro de São Paulo (e obviamente de qualquer metrópole). As 4 faixas já valeriam qualquer elogio, nota alta e obrigação de estarem em qualquer lista de melhores lançamentos de 2023.

Mas, o quarteto tinha outras boas cartas na manga. A trinca “O Monstro”, “Nada Tá Bom” e “A Verdade” são arrasas quarteirões, os vocais "gritados" e “crus” de Osvaldo dão todo um charme “desesperado” nas músicas, fazendo crescer a vontade de “quebrar tudo me chama”. A faixa “Tropa Z”, fala da invasão russa à Ucrânia, um ponto extremamente triste para mim (e para humanidade), pois minha tataravó era russa e minha bisavó ucraniana. Bem, a música em si traz consigo todo o clima causado por uma estupidez, tensão e destruição — “Nessa Maldita Guerra Muita Gente Ainda Vai Morrer”

Algo que deve ser destacado, por mais ácida que seja a letra, os refrãos são “chicletes”. Você escuta e num primeiro instante já está cantarolando por aí, aliás, facilmente você será pego berrando enquanto faz o arroz. (risos). Voltando ao tracklist, “Qualquer Ajuda”, para mim, é a mais “moderna” de todo o disco. O instrumental “mais solto” e “mais leve”, com uma letra que deixa a dica para sempre que possível ajude os mais necessitados. O encerramento fica para o maravilhoso cover da clássica “Guerreiros do Metal”, do Korzus. Com todo respeito ao Pompeu e sua turma, “a cria superou a criatura”. Uma cacetada, uma versão brutal e “na cara”.

O Tosco com “Agora é sua Vez” entra de vez hall dos grandes nomes da atualidade da cena brasileira. Uma banda que deixa de ser promessa para ser realidade com um disco brilhante e letras atemporais.

Ouça sem moderação!

William Ribas




sexta-feira, 22 de setembro de 2023

REBEL ROCK RESEARCH - BON JOVI

 


Bon Jovi é um fenômeno que há 40 anos cria sentimentos mistos entre os fãs de toda esfera do Rock/Heavy Metal. Como eles mesmo se definiam, eram pesados demais para serem pop e leves demais para se denominarem Heavy Metal.

Na década de 70, seu líder Jon Francis Bongiovi Jr, já atuava no ramo da música desde os 13 anos de idade, participando de várias bandas, inspirado por um de seus ídolos da música local como o Southside Johnny e Asbury Jukes. Anos depois trabalhou interpretando a voz de R2-D2 para o álbum “Christmas in the Stars: The Star Wars Christmas”, graças ao seu primo e produtor Tony Bongiovi, proprietário do Power Station Studios em Nova Iorque. Mas mal sabíamos que nos anos 80 o ambicioso garoto de Nova Jersey revolucionaria a história do rock, trazendo suspiros, principalmente ao público feminino, pela sua aparência, letras e música facilmente digeríveis; ao mesmo tempo em que os amantes mais radicais da música pesada fingiam ignorar, gerando um sentimento de repudia pelo grupo.

Nos anos 90 até 2000, a indústria da música virou a sua página. Com o advento da internet e uma nova geração menos extremista, o grupo buscou novos caminhos musicais dando um novo sentido ao que construíram, afastando muitos fãs antigos, mas angariando novos admiradores. Já nas últimas décadas muitas águas rolaram, e o agora o assumido e grisalho Jon B. Jovi agarrou de vez as rédeas da sua própria banda, antes conduzido em parceria com produtores, compositores e seu antigo escudeiro Richie Sambora, que em entrevistas recentes garante uma possibilidade de retorno à formação.

Para celebrar estas quatro décadas de clássicos, ranquearemos seus 15 álbuns de inéditas, buscando conciliar qualidade dos registros com a sua relevância, não apenas olhando para o gosto pessoal. Infelizmente teremos que evitar dezenas de coletâneas, algumas com músicas importantíssimas para a história como a mega balada “Always”, que fez parte da trilha sonora de todos os adolescentes nos anos 90. Além de sua carreira solo que vive em simbiose com a banda, como o maravilhoso e premiado “Blaze of Glory”, parte do filme “Jovem Demais para Morrer” e “Destination Anywhere”, um disco que seguia os padrões da época e que fez muito sucesso no Brasil em meados dos 90. Mas deixo claro de começo que não considero nenhum disco ruim e os ranquearei de forma democrática, se é que isso é possível...

Leandro Isoppo (Alma Hard)


WHAT ABOUT NOW – 2013


Como fã, é sempre complicado deixarmos um disco por último lugar, mesmo sabendo de suas qualidades. Sabemos que muitos apreciam este disco devido aos hits “Because They Can” e a faixa título, pois na ascensão do Youtube seus vídeos clipes eram facilmente veiculados e na maioria das vezes divulgados de forma orgânica. Em sua versão japonesa e Deluxe, conta com “Not Running Anymore” indicada ao 70º Globo de Ouro e “Old Habbits Die Hard”, ambas músicas solo de Jon Bon Jovi que fizeram parte do filme “Amigos Inseparáveis” lançado no ano anterior. Já me retratando, o deixo nesta posição por alguns motivos, como a falta de criatividade em suceder um disco simples como “The Circle”, e por marcar a saída do guitarrista Richie Sambora poucos meses após seu lançamento, talvez por conta disso criando um trauma entre os fãs. Mesmo assim, conseguiram chegar ao topo das paradas de sucesso, algo recorrente na carreira do B.J naquela altura.

BURNING BRIDGES – 2015


Um nome perfeito para encerrar uma parceria de décadas com uma gravadora, no caso estamos falando a Mercury Records. Podemos ouvir toda a indignação na letra da faixa título, embora com uma pegada musical cômica. Talvez não devesse estar na penúltima posição pois conforme relato de muitos, assim como o meu, quanto mais se ouve mais familiarizado e confortável com as músicas vamos ficando. Não é para menos, pois se trata de sobras e versões não finalizadas de estúdio que não entraram nos demais álbuns já lançados. Dentre elas, as três últimas composições co-escritas por Richie Sambora, substituído há 3 anos por John Shanks, produtor e compositor da banda desde 2004. Mesmo com os destaques como "We Don't Run" e "Saturday Night Gave Me Sunday Morning", foi o primeiro disco em 30 anos a não chegar entre os 10 primeiros colocados nas paradas americanas. Aqui podemos considerar um leve declínio comercial, mas de dar inveja a 99% das bandas.

2020 – 2020


Possivelmente merecia um melhor destaque se levássemos em conta a qualidade de suas letras e as temáticas abordadas. Aqui sentimos Jon lidando com os problemas do mundo como um lobo solitário, desde questões sociais e políticas em um momento delicado durante a pandemia. Mas a musicalidade para encorpar as composições foi insuficiente, fixando um sentimento de frustração para muitos fãs que aguardavam algo mais voltado ao rock, apesar de sabermos que Jon sempre repudiou resgatar o passado. Ouvimos toda a sua inspiração na linda balada “Blood on Water” que nos remete aos tempos áureos da banda e "Do What You Can", que criou um vínculo entre os fãs, por ser apresentadas aos poucos durante lives transmitidas o lockdown. Um disco marcado pelo um momento histórico, mas que ao contrário das opiniões de Jon sobre retroceder ao passado, pode se tornar uma realidade a sua música daqui para frente.

THE CIRCLE – 2009


Aqui encontramos um dos últimos grandes hits do grupo, "We Weren't Born to Follow"; que deu início a fase que vivenciamos até os dias de hoje e com os integrantes já cinquentões que buscavam manter a sua base fãs, conquistadas na última década mesclando elementos antigos aos contemporâneos. Nitidamente ouvimos isso em "Work for the Working Man", uma tentativa de arremeter ao ritmo de “Livin´On A Prayer”, além das guitarras soando em maior evidência comparadas ao seu antecessor. Podemos resumir que é um disco de rock adaptado ao mercado fonográfico da época, algo que o Bon Jovi sempre fez de melhor. Colhendo frutos de tudo que construiu até então, chegou ao 1# lugar em vendagem o que resultou em atualizado “Greatest Hits” lançado um ano depois, além de seus melhores registros ao vivo, “Inside Out”, que marcou o auge da segunda fase da sua carreira.

THIS HOUSE IS NOT FOR SALE – 2016


Abusando da sua reputação, vídeo clipes em todas as plataformas e material físico distribuído a preços acessíveis fez com que o disco já estivesse na boca do povo logo após seu lançamento, chegando ao topo das paradas. Provavelmente um dos fatores foi a curiosidade do público em saber como o Bon Jovi soaria com o atual guitarrista Phil X. O que ouvimos aqui é uma nova/velha temática, trazendo uma mescla de tudo o que acontecia no cenário musical como Maroon Five, Bruno Mars e Imagine Dragons. A diferença é que tínhamos os vocais já cansados de Jon e sua “banda baile de rock” finalmente assumida. Boas composições, mas diferentes do que estávamos acostumados, como percebido em "Knockout", “Labor of Love” e "Roller Coaster". Mas seu lado rock ainda dava as caras em "The Devil's in the Temple", "God Bless This Mess" e na faixa título onde mostrava que as raízes da banda estão cravadas no chão de rocha em meio a todos os problemas de desgaste em que sua morada vinha passando.

LOST HIGHWAY – 2007


Para os antigos fãs, a estrada já estava mais do que perdida há anos, mas para o grupo foi um golpe de mestre que garantiu a sua sobrevida. Mostrando desejo de trabalhar em parceria com outros artistas de Nashville, pegaram o caminho rumo a um estilo já familiarizado, o Country. “The Lost Highway” criou uma espécie de elo entre seu antepassado “Blaze of Glory”, claro que tomada as proporções necessárias de distanciamento das décadas, fazendo com quem ainda não tivesse acesso a suas músicas tomasse nota do que era o Bon Jovi. O guitarrista e produtor Dann Huff, famoso por adaptar a sonoridade de bandas como Megadeth, aqui fez o mesmo, desta vez incorporando o espírito de caipira de Nashville as praias frias de New Jersey. Sucesso garantido e topo das posições conquistado a base de hits como "(You Want to) Make a Memory", "Till We Ain't Strangers Anymore" a faixa título, abrindo as portas para uma sequência devastadora de álbuns vendidos, arenas lotadas e o futuro desgaste entre os integrantes. 

CRUSH – 2000


O retorno triunfal do Bon Jovi ao mainstream aconteceu aqui. Não que a banda já não fosse autossuficiente, mas 5 anos de hiato em uma época em que as coisas só funcionavam na base de shows e discos vendidos, era um risco enorme permanecer anos em inatividade. Para seu novo disco, Jon buscava trabalhar novamente com os renomados produtores Bruce Fairbairn e Bob Rock (criadores do clássico “Slippery When Wet”), mas a morte de Faribairn fez com que os planos mudassem. Este atraso ajudou com que possibilidade de um sangue novo para a produção. Luke Ebbin, um nome desconhecido na cena foi indicado pelo lendário executivo John Kalodner, e a aposta não poderia ser melhor. Crush possui o esmagador segundo maior sucesso da carreira do B.J. Estamos falando de “It´s My Life”, que trouxe o público adolescente dos anos 2000, oriundos do Pop e Hip Hop, a tomarem conhecimento de um dos maiores ídolos da década anterior. Além da MTV que transmitia massivamente os clipes de “Thank You for Loving Me”, temos "Captain Crash & The Beauty Queen from Mars" que são listadas em quase todos os shows até hoje. Não podemos esquecer de uma das melhores músicas do grupo, "One Wild Night", que poderia facilmente abrir qualquer álbum, mas aqui ela é a última faixa. Um dos discos mais vendidos da banda, com 11 milhões de cópias vendias no mundo todo, resultando em seu primeiro registro ao vivo oficial “One Wild Night Live 1985–2001”, uma espécie de compilação, com várias gravações ao logo de sua carreira.

HAVE A NICE DAY – 2005


Quem não se lembra desta capa? O álbum do “rostinho vermelho maroto” encerra a trinca de retorno como um dos maiores grupos do planeta. Mesmo parecendo algo tranquilo e natural, o disco traz questões profundas sobre a política Americana naquele período e seu sentimento sobre o rumo da indústria fonográfica vinha tomando. Além que o álbum sofreu atraso em seu lançamento por desentendimentos com a gravadora. Mas a arma secreta era o novato John Shanks, que estreou como letrista e produtor, somando musicalmente ao lado de Jon e Richie em quase todas as faixas, ampliando a habilidade lírica de todos até então. Um registro de rock por completo, desde a faixa título, "Last Man Standing", "I Want to Be Loved", mas seu ponto de convergência comum em todos os discos da banda, foi em "Who Says You Can't Go Home" a semi-balada responsável por uma versão country ao lado da cantora Jennifer Nettles, sucesso imediato dentre o estilo e como resultado, decidiram seguir com este conceito no trabalho seguinte tamanho o sucesso do disco.

BOUNCE – 2002


A explosão de “Crush” merecia um sucessor a altura. Em “Bounce” tivemos pontos ainda melhores, extraindo a musicalidade de bandas emergentes da época como Nickelback, Creed e The Killers e fazendo um “blend” fusionadas à expertise do grupo. A enjoadíssima “Missunderstood”, trilha sonora de novela aqui no Brasil, foi o ponto alto comercialmente falando, mas caminhando ao lado da antagônica “Everyday”, ambas transmitidas à exaustão pela MTV garantiram mais um álbum de sucesso. Pesado, guitarras arrastadas e riffs, letras melancólicas, derivada do acontecimento de 11 de setembro nos Estados Unidos, com certeza é um dos melhores trabalhos da banda, colocando-o em pé de igualdade com os clássicos. Percebemos o excelente resultado de um registro quando em sua sequência temos enxurradas de lançamentos como o ao vivo acústico “This Left Feels Right” de 2003 e o tão sonhado box quadruplo (quíntuplo no Japão) 100.000.000 Bon Jovi Fans Can't Be Wrong, com centenas de demos e lados B, que marcou a venda de 100 milhões de discos vendidos no mundo todo.

7800° FAHRENHEIT – 1985


A temperatura em que a rocha derrete! Parece um nome apropriado para o auge do Heavy Metal nos Estados Unidos na década de 80. Realmente temos guitarras evidentes, muitos solos e a essência da banda já eram nítidas aqui antes do seu sucesso mundial. Mas para Jon algo parecia não encaixar com o produtor Lance Quinn e as parcerias musicais que não ajudavam a definir uma personalidade musical. Mesmo estranho, impossível não adorar “Secret Dreams” temos a única letra compostas pelo baterista Tico Torres e as raras contribuições como compositor do tecladista David Bryan na maravilhosa “Only Lonely”. Além de flertes com o estilo da new wave em “The Price” e “Into The Fire”, opostas ao rumo que o grupo queria seguir. A avalanche com problemas amorosos entre os integrantes foi um dos pontos negativos marcantes no álbum. Segundo Jon, ele não gosta nem de relembrar desta fase, principalmente das canções, pois além dos abusos com bebidas a depressão e frustração em não alcançar o resultado esperado eram frequentemente trazidos a mente. Um dos motivos de nenhuma canção ser executadas nos dias de hoje, com raríssimas exceções. Mesmo assim, tiveram sua primeira participação no Monster of Rock de 1985, o que ajudou a divulgar a banda para o resto do planeta. Considerado pelos fãs mais apaixonados como um dos melhores registros, conseguiu alcançar disco de ouro quando lançado. Na verdade, só eles que não sabem, mas este registro tem muito a ver com que viria na sequência.

BON JOVI – 1984


Há quem deixaria o debut algumas posições para atrás, mas o que Jon e seu primo e produtor Tony Bongiovi conseguiram criar as pressas neste registro é algo inimaginável até para os músicos mais experientes. Lembre-se que quando o single de “Runaway” explodiu nos Estados Unidos, fazia parte apenas de uma coletânea regional distribuída para as rádios locais. E o grupo ainda se chamava The All Star Review, e que ainda contava com músicos contratados; dentre eles seu amigo e multi-instrumentista Aldo Nova, o atual baixista Hugh McDonald e o guitarrista Tim Pierce (Rick Springfield). Após muito esforço, conseguiram seu primeiro contrato e graças a seu amigo de infância o tecladista David Bryan, todos os demais integrantes foram preenchendo as lacunas criando a personificação do que conhecemos. Pronto, Bon Jovi estava criado e só bastava a ambição e talento levassem a voos mais altos.

THESE DAYS – 1995


Em meados dos anos 90 o rock alternativo em alta obrigou bandas da década anterior a mudarem sua sonoridade, e o Bon Jovi não foi a exceção. Aproveitando o sucesso de sua coletânea Crossroad com 10 milhões de cópias vendidas graças também ao mega hit “Always” lançados no ano anterior, deu folego para criarem com maestria criar um disco perfeito. Evidenciado pelos fãs como a “obra prima” do Bon Jovi é soterrado por hinos como “Hey God”, “Diamond Ring”, “This Ain´t a Love Song” e a faixa título, que emociona sempre em cada ouvida. O disco também marca a saída definitiva do baixista “Alec John Such”, por motivos até hoje enigmáticos. Mas em próprios relatos, Alec apenas resolveu se aposentar pois estava cansado das turnês. Outros alegam que houve problemas de imagem até desempenho com a banda. Mas o que já é de conhecimento público, é que a maioria das gravações de baixo foram feitas por Hugh McDonald desde o primeiro registro. Entre outros perrengues, a troca de estúdios de gravação se tornou corriqueira, uma delas conhecida pelo vazamento de áudio do Fear Factory que fazia divisão com as salas em Woodstock em Nova Iorque. Para a produção, o renomado Peter Collins foi escolhido devido aos seu ótimo desempenho com Queensryche e Rush, talvez fosse o Bon Jovi tomando sobriedade total sobre seu trabalho, buscando caminhar por terrenos mais férteis. Comercialmente falando, o disco fez mais sucesso fora do Estados Unidos, desbancando até Michael Jackson das paradas britânicas por exemplo. Isso obrigou o grupo a excursionar exaustivamente pelo mundo e com consequência disso, o maior hiato musical da sua carreira até seu próximo lançamento em 2000.

NEW JERSEY – 1988


O seu quarto filho não poderia decepcionar, segundo Jon Bon Jovi, era a chance de aproveitar o embalo do sucesso mundial com “Slippery When Wet” e cravar a bandeira de maior banda de rock do planeta. Sem férias, nem tempo somados a parceria com vários compositores de sucesso como Desmond Child, Dianne Warren e Holly Knight, aumentaram o padrão de qualidade. Um álbum irmão de seu antecessor, seguindo as mesmas fórmulas desde a faixa de abertura, hits e baladas, mas desta vez sem integrantes na capa e contracapa, mostrando que o mais importante era a sua música e não apenas o visual. E conseguiram! “New Jersey” ou “Son of Beaches” como seria chamado, alcançou o topo das paradas de sucesso em 5 paises, com inéditos 5 singles entre o top 10 americano, algo recorde na história da música na época. Ao todo 17 músicas foram compostas e a ideia era lançar como material duplo, mas a gravadora não atendeu ao pedido, além das clássicas “Lay Your Hands on Me”, “Bad Medicine”, “Born to Be My Baby” e “I´ll Be There For You”, temos várias outras faixas, algumas ainda inacabadas na versão Deluxe dupla 2014. Inclusive com músicas hoje conhecidas como “House Of Fire” famosa com Alice Cooper e “Does Anybody Really Fall in Love Anymore” pela Cher, fariam parte de sua track list. Um exagero de perfeição, desempenho e criatividade musical, o primeiro auge do grupo aconteceu após os frutos do sucesso em Slippery, claro!

KEEP THE FAITH – 1992


O nome é autoexplicativo! Mesmo com o sucesso colossal nos anos 80 e sua carreira solo conquistando prêmios internacionais, Jon sabia que os anos 90 traria novos desafios, entre eles a busca pela sanidade de seus companheiros de banda. Faltando pouco para entrarem em colapso, decidem partir para uma viagem para as ilhas caribenhas de Saint Thomas. Lá confrontariam todas as suas questões pessoais entre si, além de discutirem o rumo da banda e seu próximo disco. Aproveitando os ventos de mudanças em série, Jon resolve demitir também o empresário Doc McGhee, tomando a frente de toda a gestão do grupo. Com os ânimos acalmados partem para uma nova empreitada, gravar um disco que superasse ou fosse tão bom quando seus antecessores, mas de forma diferente. Desta vez para produção apenas Bob Rock dá as caras, sendo que Bruce Fairbairn estava extremamente ocupado com “Get A Grip” do Aerosmith, disco de maior sucesso de sua carreira. Quantos as músicas? Somente 6 hits clássicos, dentre eles 5 são ainda tocados em praticamente todos os shows até hoje. Podemos destacar faixas mais experimentais como “Dry County” e seus quase 10 minutos de puro feeling e “If I Was Your Mothers”, uma das músicas mais pesadas da banda até então, derivada da produção de Bob Rock, característica de seu Groove. Além da sofisticada “Keep The Faith”, que mostra um lado totalmente desconhecido da banda e as baladas que marcaram o início da década como “These Arms” e a sofrência que marcaria o estilo do grupo em “Bed of Roses”. Bom Jovi se livrou dos clichês, começaram a saga conscientemente política em suas além do visual que mudou radicalmente, inclusive o corte de cabelo de Jon virando moda entre os adolescentes na época. Nada de grunge, nada de rap, o Bon Jovi se reinventando pela primeira vez, mostrando o início de várias facetas que a banda se encaixaria daqui para a frente.

SLIPPERY WHEN WET – 1986


Por motivos óbvios, seu trabalho de maior sucesso aparece como primeiro colocado. Particularmente, eu retardaria algumas posições, mas colocando a mão na consciência, é apenas o disco que revolucionou a história do rock na segunda metade dos anos 80. Você não acredita? Ouça “Hysteria” do Def Leppard, “1987” do Whitesnake, “Permanent Vacation” do Aerosmith entre outros, todos com a mesma fórmula, buscando unir o lado Pop da música Rock pesado. Mas claro que um resultado como este não veio sozinho; Desmond Child contribuiu com 3 faixas e 2 delas chegaram ao topo das paradas de sucesso. A atemporal “Livin´ On A Prayer” e “You Give Love A Bad Name”, que caminham sempre juntas, lembradas automaticamente por todos os fãs, mesmo que antagônicas em letras e estilo, ainda podemos considerá-las como irmãs. Além de “Wanted Dead Or Alive”, composta em dupla por Jon/Sambora, uma daquelas que caem como uma luva até para não apreciadores da banda e facilmente entram entre as músicas mais invejadas por diversos artistas, pois retratam a vida real de um Rockstar. Outra é “Social Disease”, procurada pelo Aerosmith, mas não liberarada.m Também temos algumas que não entraram no álbum como “Edge of a Broken Heart”, que acabou indo parar no lado B do single de “Livin´On A Prayer”, que quase ficou de fora do full length. Toda essa qualidade criativa atrelada a produção limpa e cristalina de Bruce Fairbairn garantiu que o trabalho não soasse datado, passando a impressão de banda nova a cada geração que aparecesse. E quem não se lembra de sua capa, escorregadia e molhada como o próprio nome diz? Após a versão original com uma modelo peituda censurada no ocidente, Jon, decidiu às pressas borrifar água em um saco de lixo, e obra estava pronta, mostrando que o caia na mão do garoto virava ouro. Na listagem de discos mais vendidos da história com espantosos 30 milhões de cópias em todo mundo, mudou a história da música para sempre. Nada mal para um garotinho marrento de Perth Amboy que decidiu em tempo, mudar sua função dentro do estúdio onde trocava serviços de faxina por horas de gravação.






segunda-feira, 18 de setembro de 2023

NOT ON THE HEEP: THE HEAVY METAL SAGA OF LEE KERSLAKE

 


À luz da história do Heavy Metal e do Rock n' Roll em geral, não é raro encontrar aquele músico subestimado, aquele que nunca é lembrado como um mestre, um excelente compositor e um marcante instrumentista. Esses músicos nunca ou raramente são citados naquelas listas, quase sempre duvidosas e tendenciosas dos melhores de todos os tempos, mas deveriam estar.

Um deles é, sem sombra de qualquer dúvida, o baterista LEE KERSLAKE. Discorda? Escute a introdução de “Over The Mountain” no clássico álbum “Diary Of Madman” de Ozzy Osbourne, ou as levadas precisas e pesadas e viradas cirúrgicas no seminal álbum ao vivo “Uriah Heep Live”. Mas sempre há tempo para um resgate, e com este emocionante documentário, acompanhamos o último ano de vida do Sr. Kerslake, falecido em 19 de Setembro de 2020, aos 73 anos.

Dirigido por Tayla Tracey Goodman, “Not On The Heep” mostra imagens realmente comoventes, enquanto Lee relembra a sua gloriosa carreira. Impossível ficar impassível ao assistir Lee aguardando no camarim para entrar no palco pela última vez, junto a banda que ele ajudou a criar, e depois materializando este que era um dos seus últimos desejos em vida, tocando pandeiro e cantando “Lady In Black” em um show do Uriah Heep na Inglaterra em maio de 2020, para uma plateia lotada.

Ao longo do documentário, Lee recebe visitas dos seus velhos amigos do Kiss, encontra Joe Elliot (Def Leppard), Ian Paice (Deep Purple), Bob Daisley ,companheiro antigo da banda de Ozzy e da fase “Abominog” do Heep. Obviamente temos a participação mais que especial de Mick Box, o único integrante original do Uriah Heep, que aparece ativamente e esteve muito presente desde sempre na vida de Lee Kerslake.

Mas uma das partes mais marcantes é quando Lee recebe os discos de ouro referentes as vendas dos álbuns “Blizzard Of Ozz” e “Diary Of Madman”, ambos gravados por Kerslake e que teve uma briga judicial extensa e ao meu ver, injusta, já que até em relançamentos mais recentes, as partes de Lee Kerslake (e de Bob Daisley) foram apagas e regravadas, por ordem da “senhora” Osbourne.

Por justiça, Lee Kerslake recebeu os discos de ouro ao epílogo da sua existência terrena. Pode parecer uma hipocrisia da família Osbourne, mas ao menos o reconhecimento e até o arrependimento deles, verdadeiro ou não veio a tempo, e é contagiante ver a alegria do Sr. Kerslake ao abrir as embalagens dos quadros recebidos, em sua residência.

Não posso deixar de citar também que Lee foi diagnosticado com câncer de próstata em 2018, e os médicos, na época lhe deram por volta de 8 meses de vida. Como o grande vencedor que sempre foi, Lee superou este prognóstico e finalizou seu primeiro e único disco solo, “Eleventeen”, lançado após a sua morte em 2021. As gravações e produção deste álbum são retratadas de maneira detalhada neste documentário.

Enfim, se você é fã de Lee Kerslake, do Uriah Heep, de documentários sobre músicos, procure assistir este “Not On The Heep” , infelizmente ainda não tem lançamento nacional previsto nos serviços de streamings. Mas garanto a você que emoção aqui é o que não falta. Sim, caiu um cisco no meu olho mais de uma vez ao assistí-lo.

José Henrique Godoy