segunda-feira, 26 de agosto de 2024

HAMMERFALL - AVENGE THE FALLEN (2024)

 


HAMMERFALL

AVENGE THE FALLEN

Shinigami Records/Neclear Blast - Nacional


Uma coisa é inegável em relação ao HAMMERFALL: a banda foi uma das maiores responsáveis pelo resgate daquela sonoridade clássica do Heavy Metal tradicional no final dos anos 90. Ainda que muitos considerassem toda a estética que envolvia a banda um tanto quanto clichê, a verdade que Joacim Cans, Oscar Drönjak e cia, fizeram com que muitos fãs voltassem seus ouvidos para o metal, seja falando de espadas, dragões, aço, guerreiros, etc. Dito isso, também é importante dizer que depois de um certo tempo, o grupo acabou se repetindo e mesmo que isso se tornasse sua principal característica, teve álbuns um pouco abaixo da média, sendo o principal deles o controverso "Infected", lançado em 2011. mas em 2019, com "(r)Evolution", o quinteto resgatou aquela pegada que lhe é tão cara e trouxe novamente o power metal que o consagrou, principalmente nos 4 primeiros álbuns. E com a chegada de "AVENGE THE FALLEN", novo trabalho do grupo, lançado por aqui pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast, essa consolidação se dá por completo, sendo na opinião deste que vos escreve, o álbum mais regular do grupo deste "Crimsom Thunder" de 2002.

Os já citados Joacim Cans (vocal) e Oscar Drönjak (guitarras), juntamente com Pontus Norgren (guitarra), Fedrik Larsson (baixo) e David Wallin (bateria), apresentam neste novo álbum uma continuidade do que já haviam nos mostrado em "Dominion" (2019) e "Hammer of Dawn" (2022), mas com uma maior valorização da sua própria sonoridade. A produção, à cargo de Jay Ruston e Fredrik Nördstrom (Drem Evil) é certeira, pois como sempre, o quinteto sueco sabe o caminho a seguir. A capa, apesar de bem elaborada, ficaria bem mais interessante se fosse criada pelo mestre Andreas Marshall, autor das primeiras capas do grupo e que retratava o guerreiro Hector de forma mais imponente. No entanto, não cabe como um ponto negativo, mas sim, uma questão de opinião mesmo.

Abrindo com a poderosa faixa título, uma composição "tipicamente" Hammerfall: cadenciada, pesada e com backing vocals imponentes. Joacim pode não ser um dos vocalistas mais lembrados do estilo, mas faz seu trabalho de forma correta, entregando às composições exatamente aquilo que elas pedem. A dupla Oscar e Pontus, guardadas as devidas proporções (frise-se bem isso), traz consigo aquela intimidade que K.K. Downing e Glen Tipton exibiam de forma tão simples e direta. Uma perfeita abertura que logo na sequência, dá lugar a power "The End Justifies", rápida e com refrão grudento, lembrando os bons tempos de "Legacy of Kings" (1998). E ainda que soe clichê, como não se emocionar com um faixa que traz a frase "Heavy metal in our Hearts"? Em seguida, "Freedom", outro momento puramente Hammerfall, com as guitarras de Oscar e Pontus em sintonia, enquanto Fredrik e David criam uma base bastante pesada, que ganha maior intensidade no refrão. "Hail to the King", provavelmente, foi composta para aquele momento do show em que as mão se empunham e o refrão é cantado em uníssono pelos fãs, mesmo que isso se repita em diversos momentos da apresentação do grupo. Já "Hero to All", faixa mais rápida, é aquele power metal característico, sem muita invencionice, sem inovações.

"Hope Springs Eternal" apresenta uma suavidade em sua execução, trazendo o jeito Hammerfall de fazer esse tipo de composição. Ainda que não seja o forte do grupo, a faixa é um belo momento para aqueles que apreciam músicas com essas características. Enquanto "Burn it Down", traz aquela palhetada metal tradicional, cavalgada e cheia de peso, assim como "Capture the Dream", duas faixas próximas em estilo e pegada. O peso do metal mais old school volta em "Rise of Evil", que resgata aquelas "paradinhas", outro ponto forte do quinteto, que dá um molho extra à esse tipo de composição. O álbum fecha com "Time Immemorial", a mais longa do trabalho, com jeitão de épica, que encerra o CD mostrando que o Hammerfall é isso aí: metal de verdade!

AVENGE THE FALLEN não vai mudar o mundo do Heavy Metal. E todos nós sabemos que isso não é preciso. Tampouco vai agregar ao grupo novos fãs. Mas o que eu posso garantir é que aqueles que curtem o trabalho do grupo, terão em mão mais um motivo pra seguir curtindo. O HAMMERFALL é uma banda mais que necessária nesse mundo em que subdivisões cada vez mais esquisitas se mostram ativas dentro do metal. 

Sergiomar Menezes





sexta-feira, 16 de agosto de 2024

LAMB OF GOD - RESOLUTION (2012 - RELANÇAMENTO 2024)

 



LAMB OF GOD
RESOLUTION (2012 - RELANÇAMENTO 2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Após o sucesso de "Wrath" em 2009, o grupo americano Lamb of God enfrentou o desafio de criar um sucessor à altura. Dizem que em time que está ganhando não se mexe, então chamaram Josh Wilbur, o mesmo produtor do disco anterior, para continuar fazendo história.

"Resolution" segue a mesma linha de "Wrath" – pesado, agressivo, rápido, criativo e poderoso. A banda trouxe a mesma vontade de continuar evoluindo, aliada a uma mixagem cristalina, onde cada instrumento é ouvido claramente, criando uma muralha sonora com impacto em cada nota. "Straight For The Sun" é avassaladora, com um peso descomunal em uma música arrastada, fugindo do padrão de começar já com os dois pés na porta. O final dessa faixa emenda com "Desolation", onde o bicho pega. Podemos colocar o adesivo de "100% agressivo", pois seus riffs pesados e rápidos ditam o ritmo, e um moshpit é garantido.

"Ghost Walking" foi um dos singles na época. Surpreendeu e ainda surpreende; o riff acústico é apenas fachada para a destruição que a faixa pode causar. Os urros de Randy Blythe são cavernosos, combinando perfeitamente com um instrumental cheio de groove. "Guilty" pisa no acelerador, com a bateria de Chris Adler sendo a chama condutora da faixa. A música desacelera em certos momentos, mas sem perder energia e coesão – uma típica música que poderia estar em "Far Beyond Driven", do Pantera.

"The Undertow" é notável pela sua complexidade e mudanças de tempo, ao mesmo tempo que carrega uma simplicidade quase punk em sua dança rítmica. "The Number Six" apresenta uma mistura de groove e técnica, com letras diretas e sombrias, sempre entregues com uma intensidade emocional que ressoa com os ouvintes. Exemplos incluem "Invictus", "Cheated" e "Terminally Unique", que possuem densidade lírica e rítmica.

"To The End" exemplifica a evolução e a maestria técnica do Lamb of God, misturando brutalidade e melodia para criar uma experiência auditiva poderosa e imersiva. O grand finale fica para "King Me", uma faixa épica com mais de seis minutos de duração, incorporando elementos orquestrais e corais, adicionando uma camada de grandiosidade e drama ao caos.

Vale destacar que a versão nacional, relançada pela Shinigami Records, traz as faixas bônus "Digital Sands", "Bury Me Under The Sun" e "Hit The Wall".

"Resolution" é a afirmação do Lamb of God no cenário mundial.

William Ribas







LAMB OF GOD - WRATH (2009 - RELANÇAMENTO 2024)

 


LAMB OF GOD
WRATH
Shinigami Records/Nuclear Blast Records - Nacional

Wrath” é o sexto álbum de estúdio do Lamb of God. Lembro que, quando foi lançado, o trabalho foi extremamente elogiado pela evolução que a banda apresentava, saindo do característico groove metal e começando a incorporar novos elementos, expandindo sua “massa sonora”. O tempo passou, estamos 15 anos depois do seu lançamento, e o álbum continua sendo uma referência, tanto para a própria banda quanto para novos fãs.

O que chama bastante atenção em sua sonoridade é a capacidade que a gravação teve de capturar a intensidade do grupo em suas apresentações ao vivo. As 10 faixas têm adrenalina e emoção, um equilíbrio perfeito que transforma a audição em uma experiência poderosa. Obviamente, as músicas seguem o padrão de agressividade dos primeiros dias da banda, mas o ouvinte mais atento consegue sentir que “a cereja do bolo” está nas letras, que carregam consigo temas importantes como resistência, luta interna e reflexões sobre a humanidade.

A abertura com “The Passing” é um instrumental com início calmo, notas limpas que vão crescendo até explodir em “In Your Words”. A segunda faixa é brutal, com riffs poderosos, e as mudanças vocais e da bateria ditam as ordens, deixando o ouvinte hipnotizado. As seguintes, “Set to Fail”, “Contractor” e “Fake Messiah”, mantêm o nível com a mesma dinâmica; agressividade é a ordem, e a trinca pode ser colocada na fila de exemplos clássicos de groove metal.

“Grace” surpreende nas primeiras notas, com guitarra limpa e emotiva, mas o caos chega de maneira inesperada. A quebra de andamento parece estar sempre no livro da lei do groove metal. Em “Broken Hands”, o instrumental intrincado parece um quebra-cabeça em construção durante os pouco menos de 4 minutos de duração. “Dead Seeds” me mantém um pouco no espírito do Pantera; seu riff principal é explosivo e grudento, mantendo a chama viva do heavy tradicional com uma energia bastante acessível aos “marinheiros de primeira viagem”.

A espontaneidade toma conta de “Everything to Nothing”; o refrão é daqueles para se berrar como se não houvesse o dia seguinte, e o instrumental carrega uma boa mescla de thrash metal, mas sem perder a linha quebrada de sempre. A dupla final, “Choke Sermon” e “Reclamation”, são distintas, porém necessárias para entregar texturas reais de uma banda que estava prestes a explodir na cena.

Wrath” é intenso e, por que não dizer, contemporâneo. Um trabalho que ganhou prêmios e respeito. É um daqueles álbuns que abrem cabeças e quebram preconceitos.

Aproveite o relançamento do álbum pela Shinigami Records; garanto que terá orgulho de ter o CD na sua prateleira.

William Ribas




PAIN - I AM (2024)

 


PAIN
I AM (2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast Records

Após quase três décadas, ainda é necessário chamar o Pain, de Peter Tägtgren, de projeto? Creio que não. Obviamente, não lançam álbuns a cada dois anos e não estão sempre em turnês mundiais, mas, em 2024, marcam o lançamento do seu 9º trabalho de estúdio, “I Am”.

O Pain continua explorando os limites do metal industrial com sua mistura única de guitarras pesadas e elementos eletrônicos. Não há segredos ou mudanças abruptas em relação aos álbuns anteriores neste novo capítulo. Possivelmente, as experiências durante o período de composição trazem algo mais introspectivo, com sentimentos mais fortes. “I Am” foi composto durante o isolamento da pandemia de COVID-19, o que resultou em letras mais pessoais, refletindo as adaptações às mudanças no mundo. Outro ponto importante do álbum é a participação do filho de Peter, Sebastian Tägtgren, na bateria.

A produção impecável de Peter Tägtgren, com cada faixa apresentando uma combinação equilibrada dos mundos eletrônico e metálico, cria uma experiência envolvente. O início aterrorizante com "I Just Dropped By (to Say Goodbye)" tem um ritmo pulsante, mas também traz elementos góticos, proporcionando uma viagem dançante e pesada. As faixas seguintes, "Don't Wake the Dead" e "Go With the Flow", são distintas, mas se complementam dentro do tracklist. A primeira desacelera, com batidas mais leves, cheias de nuances densas, orquestrais e tons emocionais. Já a segunda remete aos anos 90 e à febre da música eletrônica, com um ritmo dançante daquela década — seu refrão é grudento, daqueles que te fazem "se jogar" na pista, especialmente quando combinada com "Party in My Head", mostrando que o universo do Pain gira em torno de sintetizadores energéticos.

“I Am” é provocativo, no sentido de que te incentiva a se mover, seja nos momentos pesados, seja nas partes mais leves. A audição é muito agradável ao longo das 11 músicas, pois cada nova faixa oferece algo diferente do que foi ouvido antes, mostrando um cuidado para que o ouvinte não se canse. "Push the Pusher" é intensa do início ao fim, uma boa mistura entre Prodigy e metal, com um som futurista. O álbum mantém a energia alta com "The New Norm" e "Revolution", que são pura adrenalina e abrem espaço para a "calmaria" que se segue.

Quando digo calmaria, não pensem em algo tranquilo ou relaxante, mas sim em músicas com melodias suaves, sem tanto peso em seus movimentos. "My Angel" e "Fair Game" fecham o álbum aproximando-se do pop, mantendo a trajetória do Pain, mas com o peso das guitarras escondido, deixando claro que a emoção é o ator principal neste final de viagem.

No fim, “I Am” é o que esperamos de gênios como Peter Tägtgren.

William Ribas




CARRO BOMBA - ESMIGALHANDO (AO VIVO) - (2024)

 


CARRO BOMBA
ESMIALHANDO - AO VIVO
Independente - Nacional

Qual é a melhor forma de celebrar datas importantes? Para uma banda, é lançando um álbum ao vivo, com um repertório cheio de clássicos, tanto antigos quanto novos. É assim que chega “Esmigalhando (Ao Vivo)”, o trabalho comemorativo de uma das bandas mais icônicas da cena underground brasileira.

Em 2004, o grupo paulista Carro Bomba deu a "primeira largada" com seu álbum autointitulado. De lá para cá, são 20 anos e seis álbuns de estúdio, sendo o mais recente "Migalhas", lançado no ano passado. A sonoridade do Carro Bomba pode ser descrita com base em três pilares: Black Sabbath, Motörhead e Golpe de Estado — densidade, velocidade e um estilo despojado.

Ao vivo, esses elementos ganham mais força, criando um som cru e visceral. O álbum abre com a faixa-título do último disco de estúdio, deixando clara essa percepção. Rogério Fernandes, com sua voz rasgada e cheia de "drives", traz uma certa angústia teatral para as faixas. Escolher um setlist deve ser uma tarefa árdua para uma banda com tantas músicas boas, mas eles dominam o jogo. Músicas como "Queimando a Largada", "Ferrugem" e "Bala Perdida" elevam o clima com combinações caóticas de riffs rápidos e bateria explosiva.

Anos de estrada trazem maturidade, como se pode ouvir em "Refugo". O instrumental coeso e o baixo pulsante de Ricardo Schevano, alinhado ao refrão fácil e grudento, mostram a combinação perfeita que apenas o tempo traz para as bandas. A máxima "menos é mais" se aplica perfeitamente, como na simplicidade de faixas como "A Máquina Não Para", que deixa qualquer um com um "sorriso" de orelha a orelha. O punch dessa música ao vivo é algo de outro mundo, e seu refrão é tão poderoso que poderia ser cantado eternamente — afinal, a máquina dos governantes nunca para, certo?

A recepção positiva de "Migalhas" é sentida na escolha do setlist para a gravação ao vivo. Das 16 músicas presentes aqui, sete são do último álbum, com destaque para o rock 'n' roll cheio de andamentos quebrados de "Claridão" e "O Que A Noite Pode Te Trazer". Cada nota que sai da guitarra de Marcelo Schevano tem o peso de um mamute, com riffs que parecem ter a incorporação do mestre Tony Iommi.

O show agrada tanto aos fãs antigos quanto aos novos, funcionando quase como um best of dessas duas décadas. Faltou música? Certamente, mas ainda temos "O Foda-se", "O Dobro ou Nada", "Overdrive Rock N' Roll" e "Punhos de Aço" para divertir os fãs dos primeiros dias. O final fica por conta de "Thrash N' Roll", o fechamento perfeito para uma noite extremamente consistente e pesada.

Esmigalhando (Ao Vivo)” foi gravado em setembro do ano passado no Sesc Santo André, no ABC paulista. Uma noite agora registrada para a posteridade, onde o Carro Bomba incendiou o palco e cravou sua marca na eternidade.

Que venham mais 10, 20, 30 anos de muito Thrash N' Roll!

William Ribas




METAL CHURCH - THE FINAL SERMON (LIVE IN JAPAN 2019) (2024)

 


METAL CHURCH
THE FINAL SERMON (LIVE IN JAPAN 2019)
Reaper Entertainment - Importado

Em 2016, o Metal Church lançou o álbum "XI", marcando o retorno do vocalista Mike Howe, que havia deixado a banda em 1994. O álbum foi bem recebido, sendo visto como um retorno às raízes do metal tradicional. A turnê do álbum rendeu o álbum ao vivo "Classic Live", de 2017, que contou com faixas icônicas da banda. O próximo lançamento de estúdio foi "Damned If You Do", em 2018. Este álbum manteve a pegada do anterior, consolidando o retorno de Howe como uma força vital na banda.

Tudo indo a mil maravilhas — Estúdio, estrada, estúdio, shows, mas o destino tinha um pecado a cometer.

Em julho de 2021, o mundo do heavy metal sofreu uma grande perda com a morte de Mike Howe. O vocalista foi encontrado morto em sua casa, um golpe profundo para a banda e seus fãs, dado o impacto que ele tinha na identidade do Metal Church. A banda seguiu em frente, mas a ausência de Mike "berrando" ao microfone ainda é sentida por todos.

Agora, três anos após sua precoce partida, o Metal Church lança "The Final Sermon (Live in Japan 2019)". O show foi registrado nos dias 24 e 25 de agosto de 2019, no Club Citta, na cidade de Kawasaki, Japão.

O guitarrista Kurdt Vanderhoof comentou antes do lançamento: "Gravamos esses dois shows no Japão com a intenção de Mike entrar no estúdio para polir quaisquer inconsistências e/ou refazer qualquer coisa que não tenha saído corretamente, mas ele nunca teve a chance. Primeiro a pandemia atingiu, e então, é claro, sua trágica morte. Portanto, o que você está ouvindo é exatamente o que o público ouviu naquela noite, Mike dando tudo de si, ao vivo e sem censura! Este álbum não apenas comemora nossa turnê 'Damned If You Do', mas também homenageia o legado do nosso amigo e irmão."

E é isso, uma homenagem forte a uma lenda do underground mundial. Do início ao fim, Howe é contagiante. Cantando com potência, "berrando" e incitando o público, mostrando como deve se comportar um verdadeiro frontman. A abertura do show com a incendiária "Damned If You Do" mostra o quão em forma o grupo estava naquele momento. "Needle and Suture" demonstra a sinergia entre banda e público, com a empolgação dos japoneses ao peso da música sendo muito interessante. Outro ponto marcante é ouvir os fãs gritando: "Metal Church, Metal Church, Metal Church..."

Mike exibe potência e carisma, enquanto Kurdt Vanderhoof, Rick van Zandt (guitarra), Steve Unger (baixo) e Stet Howland (bateria) transmitem peso e precisão em cada nota executada, mostrando que todos estavam numa noite extremamente inspirada. Ouça o clássico "Fake Healer" e sinta todos os pelos do corpo arrepiados com o entusiasmo que o grupo executou cada nota dessa música. O tracklist é um verdadeiro passeio por velhos e novos clássicos — A história de Mike Howe dentro do Metal Church foi passada a limpo.

Para o caro leitor ter uma ideia, treze músicas tocadas durante o show foram gravadas em estúdio com Howe, e inconscientemente, o grupo gravou para a posteridade uma verdadeira homenagem ao legado do vocalista. "Date with Poverty" deve ser ouvida no volume máximo. "Gods of a Second Chance" é um show à parte, juntamente com "Watch the Children Pray", que, aliás, tem uma interpretação teatral ímpar do vocalista.

"By the Numbers", "No Friend of Mine", "Badlands" e tantas outras faixas mostram que "The Final Sermon" é um verdadeiro testemunho de poder e paixão do Metal Church nos palcos com Mike Howe.

Imperdível!

William Ribas




MUNICIPAL WASTE - TANGO & THRASH (EP) - (2003 - RELANÇAMENTO 2024)

 


MUNICIPAL WASTE
TANGO & THRASH (2003 - RELANÇAMENTO 2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast Records - Nacional 

Não sei qual é a ideia por trás de criar um álbum tão rápido. Não, não estou falando das músicas, mas sim da duração total. Acredito que o Municipal Waste já não pode ser considerado uma revelação ou uma banda nova. São mais de uma década lançando e destruindo em álbuns aclamados pela crítica e pelo público.

A banda, com seu crossover, sempre trouxe um certo humor em seus trabalhos. Energia e criatividade nos instrumentais rápidos, mas, dessa vez, “foram longe demais”. Em “Tango & Thrash”, antes que qualquer um consiga colocar a água para ferver e fazer o seu macarrão instantâneo, o álbum acabou. Antes que você consiga soletrar paralelepípedo sem gaguejar, o álbum acabou. Sim, é muito agressivo. Sim, é muito veloz.

Acredito que contenha uma certa ironia ao que muitos dizem: que não ouvem álbuns inteiros, que não escutam músicas longas. Não curtem músicas longas? Espera aí, temos algo para vocês...

Originalmente lançado em 2003 como parte de um split com a banda Bad Acid Trip, “Tango & Thrash” foi relançado em 2024. Das 9 faixas que compõem o álbum, as últimas 3 são covers de bandas icônicas como Poison Idea e Corrosion of Conformity. Este trabalho dos americanos pode ser comparado aos mestres do S.O.D e Napalm Death, afinal, temos 9 faixas com uma duração total de 9 minutos e 20 segundos. Eu nunca pensei que minha mãe estaria certa em algum momento, afinal, “Meu filho, que barulheira é essa!” Pois é, mãe, você estava certa.

A música mais longa tem 2 minutos e 2 segundos e, incrivelmente, “Intervention” (Corrosion of Conformity) é a última faixa do álbum. Possivelmente posso classificá-la como a “diferente”, a música mais Dream Theater de “Tango & Thrash”; seu andamento é mais arrastado (isso não significa que não seja rápida, ok), e é a música onde você consegue cantarolar algumas de suas partes.

As outras 8 faixas seguem uma linha frenética. Por exemplo, a mais absurda, “Backdraft”, tem apenas 18 segundos de pura insanidade. “Captain Ron/Overboard” tem 32 segundos de “sujeira” barulhenta. “Big Trouble In Little China” traz 38 segundos de caos. Não existem firulas; é brutalidade, gritos, instrumental sujo, e nada de solos.

É porrada, porrada e porrada.

Tango & Thrash” é um trabalho ímpar na carreira do Municipal Waste, e nos dias de hoje, ao final da audição, ele faz todo sentido.

William Ribas




MACHINE HEAD - THE BLACKENING (2007 - RELANÇAMENTO 2024)

 


MACHINE HEAD
THE BLACKNING (2007 - RELANÇAMENTO 2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast Records - Nacional

Quando o Machine Head assombrou o mundo com o seu álbum de estreia, o petardo “Burn My Eyes” (1994), ficou difícil acreditar que a banda poderia repetir o feito de ao menos se igualar a este trabalho futuramente, isso em termos de técnica e agressividade, em um nível que pouquíssimos conseguem alcançar.

Após esse início avassalador, vieram o ótimo “The More Things Change” (1997), e os questionáveis “The Burning Red” (1999) e “Supercharger” (2001), fazendo com que este pensamento inicial parecesse cada vez mais real. Com “Through the Ashes of Empires” (2003) a banda parecia determinada a voltar aos seus melhores dias e após um intervalo de mais de 3 anos, chegaram novamente ao ápice com o fabuloso classico “The Blackening”, uma aula de técnica e ferocidade com um Thrash Metal cheio de feeling e groove.

Chama a atenção a primeira vista a duração das músicas que estava mais longas desta vez, repleta de faixas técnicas e cadenciadas que formaram este tracklist, algo similar ao que Metallica fez com o classico “…And Justice for All” (1988).

A abertura “Clenching the Fists of Dissent” aflora na letra o lado politizado de Rob Flynn em seus mais de 10 minutos de duração. Cheia de reviravoltas o climax dos minutos finais mostra uma criatividade que pouco se vê em um disco de Metal. Soberba!

Outro hino é “Aesthetics of Hate” que em várias passagens remete a Sepultura da fase clássica, um Thrashão com ares mais modernos com solos caprichados. A faixa é o que podemos chamar de um tributo ao inesquecível Dimebag Darrel, ex guitarrista do Pantera e Damageplan, morto em 2004 durante um show. A faixa é uma resposta nada educada a William Grim que em um artigo sobre o músico, ele afirmou que Dimebag era um guitarrista sem talento e um bárbaro ignorante. Pra mim, essa é a melhor do disco!

“Now I Lay Thee Down” e “Halo” tem Rob cantando em linhas melódicas abrindo mão do gutural em várias passagens, sendo estas as faixas mais cool do disco. “Slanderous” tem muito do Thrash Old School oitentista o que não é tão comum em se tratando de Machine Head; dá quase pra imaginar ela em um disco do Exodus, por exemplo.

“Wolves” e “A Farewell to Arms” fecham a conta com a pancadaria afiada mesmo soando mais cadenciados em várias passagens dando ao ouvinte aquela sensação de que apesar do trabalho ter mais de uma de duração, tudo passou como uma avalanche em nossos ouvidos.

The Blackening” é um marco atemporal na discografia do Machine Head. Analisando a discografia da banda, esse trabalho foi fundamental para tudo o que fizeram nas últimas duas décadas pois fundamentou definitivamente que o som do Machine Head é Thrash e não Nu Metal ou algo parecido.

Mauro Antunes




segunda-feira, 12 de agosto de 2024

ANTHRAX - FOR ALL KINGS (2016 - RELANÇAMENTO 2024)

 


ANTHRAX
FOR ALL KINGS (2016 - RELANÇAMENTO 2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em fevereiro de 2016, "For All Kings" pode ser considerado um dos grandes trabalhos do Anthrax. O álbum transborda energia e criatividade, mostrando uma enorme jovialidade — um resgate do poder de “Among the Living”(1987) e “State of Euphoria”(1988), ambos de clássicos absolutos.

Obviamente, não se trata de copiar a si próprio. Em “For All Kings”, a banda coloca as melodias lado a lado com a velocidade característica do thrash metal, fazendo com que as 11 faixas sejam únicas. Sendo o segundo disco após o retorno de Joey Belladonna ao comando dos microfones, aos meus ouvidos soa muito melhor que *Worship Music*, de 2011. O início com a maravilhosa "You Gotta Believe" já deixa claro que teríamos um novo clássico. Ou vai me dizer que os riffs atmosféricos e infernais de Scott Ian não te empolgam logo de cara?

“For All Kings” traz em seu tracklist uma mistura melódica memorável junto com uma agressividade eficaz. Existe também um toque dramático, como em "Breathing Lightning", e em uma das minhas favoritas, "Evil Twin". "Blood Eagle Wings" é um capítulo à parte. Seu andamento arrastado é cativante, sua narrativa é envolvente e explode em um excelente refrão. A mudança de andamentos é o clímax perfeito para uma das melhores músicas já compostas pelo Anthrax, não é por menos que ela segue no setlist dos shows até hoje.

A Shinigami Records acerta ao relançar o álbum para o mercado brasileiro, pois é obrigação ter em casa um trabalho que conta com as destruidoras "Defend Avenge", "All of Them Thieves" e "Zero Tolerance". Essa trinca merece ser escutada no volume máximo, fazendo as paredes tremerem com cada "marretada" certeira de Charlie Benante.

For All Kings” mostra o quão relevante e forte o Anthrax é. Mesmo décadas após sua formação, a banda ainda é capaz de criar um trabalho que pode caminhar ao lado dos “chapas” dos anos 80 e, ao mesmo tempo, acompanhar a renovação sem perder sua identidade.

William Ribas 





RHAPSODY OF FIRE - CHALLENGE THE WIND (2024)

 


RHAPSODY OF FIRE
CHALLENGE THE WIND 
AFM Records - Importado

O mais recente álbum do Rhapsody of Fire, "Challenge the Wind", é uma nova empreitada da banda no mundo do metal sinfônico. Continuando a saga “The Nephilin’s Empire” começada há dois álbuns (The Eighth Mountain - 2019 - e Glory for Salvation - 2021) o disco traz uma sequência de faixas que mistura poder e melodia, celebrando o estilo grandioso que a banda popularizou ao longo das últimas 3 décadas, porém falha ao trazer mais do mesmo. Sem inovação ou grandes apostas, o álbum está longe de ser ruim, contudo cai na armadilha de trazer o que já vem sendo feito há muito tempo, e de forma bem mediana levando em conta o peso da banda.

A faixa-título abre o álbum com uma introdução orquestral, contudo sem nenhum tipo de locução à parte (uma marca registrada da banda). Com uma combinação de riffs fortes e corais grandiosos, a música estabelece o tom épico do álbum, criando uma atmosfera imersiva para os fãs que já sabem o que esperar.

"Whispers of Doom" segue com a receita clássica já tradicional: velocidade, pedal duplo e o vocal marcante do Giacomi. A faixa se destaca pela sua introdução atmosférica e uma progressão que evolui para um ritmo intenso e dramático. Variando entre momentos cadenciados e velozes, "The Bloody Pariah" dá continuação ao álbum conceitual, mas musicalmente acaba se parecendo muito com as duas canções anteriores.

"Vanquished by Shadows" é uma faixa que se destaca das demais. Riff pesado e vocais guturais no início quase fazem acreditar que é outra banda. Com mais de 16 minutos, a música é uma viagem épica que mistura agressividade com momentos mais melódicos. A estrutura dinâmica, que inclui variações rítmicas e instrumentais, mostra a habilidade do Staropoli em criar peças épicas e memoráveis. No meio da faixa, o estilo fica mais lento e cadenciado, mas sem perder o brilho. Um dos poucos pontos altos até aqui.

"Kreel’s Magic Staff" traz a sensação mágica já esperada ao álbum. A faixa mistura elementos orquestrais, riffs grudentos e muito teclado, já característico da banda. A receita de bolo que sempre deu certo está aqui mais uma vez, e embora a estrutura já seja conhecida e esperada, é uma boa música, embora não surpreenda. Com "Diamond Claws", o álbum avança na história, com mais velocidade nos instrumentos e uma guitarra bem presente, inclusive brilhando um pouco mais no solo.

"Black Wizard" é uma faixa marcada por uma atmosfera mais densa e os momentos de peso ajudam a quebrar a mesmice. Alternando os ritmos e com corais em boa parte da música, a pompa do metal sinfônico fica evidente. Entre guturais, voz limpa e agudos, Giacomi acaba se destacando, mas o mesmo não acontece na canção "A Brave New Hope". Aqui, a sensação de se estar escutando algo muito parecido com as primeiras 3 músicas é gritante. Entre apostar em algo diferente ou repetir o mesmo padrão que elevou a banda ao cenário mundial nos anos 90, a banda fez uma escolha clara. Contudo a faixa em si é muito boa, e poderia muito bem abrir o álbum.

"Holy Downfall" traz timbres da guitarra já conhecidos de outros álbuns e Staropoli cria uma atmosfera envolvente com o teclado. O solo de guitarra de De Micheli também se destaca, afinal, não se pode negar que, ao se tratar de talento, a banda tem de sobra.

O álbum termina com "Mastered by the Dark", uma faixa que combina a grandiosidade e a complexidade que caracterizam o Rhapsody of Fire. A música é uma conclusão apropriada para o álbum, com uma mistura de riffs pesados, orquestrações exuberantes e uma sensação de encerramento triunfante. A viola no início da música ajuda a ambientar a história, que entre sussurros e cânticos cadenciados encerram o álbum.

"Challenge the Wind" é um álbum que reafirma o status do Rhapsody of Fire como referência do Power Metal Sinfônico. Combinando elementos épicos e técnicas refinadas, o álbum oferece uma experiência musical envolvente, mas ao não ousar, acaba evidenciando o desgaste do estilo.

Para os fãs, com certeza é um trabalho feito com todos elementos esperados, navegando entre pontos altos e baixos. Entretanto, para uma banda com sua história e representatividade, optar pelo seguro pode fadar o grupo a um distanciamento de novos públicos, ao mesmo tempo que deixa de encantar o já conquistado.

Henrique Cunha