Um Thrash/Death brutal, agressivo e veloz! Assim, de forma rápida, podemos definir o que o AFFRONT, grupo carioca formado em abril de 2016, apresenta aos apreciadores da estilo mais extremo do heavy metal. Mas não podemos nos restringir apenas a isso, pois o que temos em ANGRY VOICES, traz influências de outras sonoridades, mostrando que o grupo, mesmo praticando esse lado mais "metal da morte", não se restringe, expandindo seus limites e cria com isso, uma identidade própria. Podemos ouvir ecos de nomes como Sodom, Dorsal Atlântica, Ratos de Porão, Motorhead, Iron Maiden e Sepultura (mesmo que no release da banda, haja informação sobre a influência da fase antiga do maior nome do metal nacional, pode-se ouvir também um pouco do que a banda faz nos dias atuais).
Formado por M. Mictian (baixo e vocal, fundador da banda de black metal Unearthly), o grupo conta ainda com o guitarrista R. Rassan (também Unearthly) e com o baterista Jedy Najay. Com guitarras que sintetizam de forma eficiente essa mistura entre o thrash e o death, podemos perceber também a pegada do baterista Jedy, que traz consigo alguns moemntos que remetem ao black metal (mas de forma contida). Nada de se estranhar, afinal as faixas que integram o álbum foram compostas pela dupla M. Mictian e R. Rassan, que possuem bagagem de sobre quando o assunto é o lado mais negro do estilo. Já as letras ficaram por conta do baixista/vocalista e explorou temas a sujeira na política, a violência que nos cerca diariamente, além de versar sobre religião e seus males, bem como sobre a inconformidade do povo perante as falcatruas regidas pelos governos que se sucedem. Produzido por M. Mictian e R. rassan, o álbum tem uma sonoridade bem peculiar, pois carrega no peso, deixando o timbre da guitarra bem mais próximo do thrash metal. Já a mixagem e masterização ficaram sob a responsabilidade de Daniel Escobar, enquanto que a capa é mais uma bela obra do brasileiro Marcelo Vasco (Slayer, Distraught, entre outras). Em doze faixas, o grupo passa seu recado de ódio e fúria de forma brutal!
Scum of the World abre o cd como um soco seco e violento na boca do estômago! Guitarras ríspidas e nervosas encontram no baixo e na bateria, uma base pesada que sustenta toda agressividade da faixa, que trata em sua letra sobre o lado sujo da política e da igreja e como esse lado aparece na hora de "ganhar" dinheiro. As guitarras com uma pegada mais death metal aparecem na faixa título, que traz um vocal beirando a insanidade em alguns momentos. Cantando de forma mais rasgada, M. Mictian deixa sua marca de forma bem característica. Forte e bastante agressiva, a música fala sobre o ódio e a raiva com que políticos e religiosos assolam o mundo usando de suas crenças. Affront segue a aula de ódio e violência, com mais velocidade e bateria que alterna momentos mais trabalhados e rápidos. E mais uma vez, as linhas de guitarra, mais próximas do death, se destacam. Conflicts é mais cadenciada, com algumas alternância em sua velocidade, fazendo com apareça bem a versatilidade do grupo, o que comprova que as amarras do estilo não são respeitadas pelo grupo. E isso faz a diferença! Já Terra Sem Males (Guerra Guaranítica) é uma faixa instrumental que teve o baixo e todos os instrumentos indígenas gravados por M. Mictian e que homenageia os povos guaranis que lutaram contra os espanhóis de forma desigual para manter sua liberdade sem se tornar escravos. Na sequência, Mestre do Barro, única faixa cantada em português, é um tapa na cara do radicalismo, pois traz elementos do folclore brasileiro, mais precisamente do baião. Esse Thrash/hardcore faz uma homenagem ao Mestre Vitalino, que viveu em Pernambuco no século passado e tem suas obras espalhados por importantes museus ao redor do mundo.
Riffs diretos e agressivos são o norte de Religious Cancer, que me trouxe à memória, um pouco do que o Kreator fazia no início de sua carreira, mas trazendo um clima mais atual, principalmente no que diz respeito aos arranjos. Under Siege é o que podemos definir como a melhor expressão thrah/death. Os estilos se encontram e s e fundem perfeitamente aqui mesmo que pequenos inserts hardcore apareçam em alguns momentos. Já Carved In Stone é a faixa mais lenta e arrastada do álbum. Mas em alguns momentos a velocidade mostra a cara, deixando um clima mais agressivo. O vocal de M. Mictian encontra nas linhas e guitarra de R. Rassan, o complemento perfeito para descarregar sua fúria. Wartime Conspiracy é rápida e direta e traz consigo, um pouco da influência de metal tradicional na sonoridade do grupo, principalmente pelas guitarras. Em Echoes of the Insanity é outra faixa instrumental onde apenas baixo e violão se fazem presentes e mostram, mais uma vez, que o grupo não tem medo de arriscar. O encerramento vem com um reprise de Under Siege, que dessa vez conta com a participação de Marcelo Pompeu, vocalista do Korzus, o que deu uma nova atmosfera á música.
ANGRY VOICES é apenas o primeiro trabalho do AFFRONT, mas já coloca o grupo como um dos destaques do cenário nacional. Músicos com um background respeitável, com disposição de "começar" tudo de novo, além de mostrar versatilidade em um estilo que não é muito adepto á isso, fazem deste álbum, algo de estrema relevância para o metal nacional!
Sergiomar Menezes
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