Na
ativa desde 2013 a BLOODY VIOLENCE
já impressionou desde seus primeiros registros. Primeiro passo foi dado com o
EP Obliterate (2014), são quase quinze minutos indigestamente
apaixonantes aos simpáticos do estilo. Desconcertante, pesado e carregado, e era
justamente esse o recado a ser entregue. Depois com o Full-length Divine
Vermifuge (2015), então com não apenas passos, aqui o disco já inicia a
maratona de 42 km e em alta velocidade. Um aparado de situações,
acontecimentos, mitos e denuncias muito bem orquestrados pelo (então) quarteto
sangrento. Nas palavras do Igor Dornelles (guitarra) em entrevista para a Rock
Meeting (Ago/2020):
-
“Não queríamos ser apenas mais uma banda, então fomos pensando em temas que
nos agradavam, e acabamos criando um Discovery channel com esse disco (risos)”.
Esse
impacto culmina com o HOST (2019) e nesse momento a banda está voando
num rasante matador feito uma ave de rapina. Enfrentaram mudança na formação,
readaptação para acertar as vozes com a saída do Cantídio (vocal), tour
internacional, saída do Eduardo Polidori (batera) e então em 2019, pouco antes
do disco novo ganhar vida, o retorno do Eduardo na bateria. Toda essa
movimentação de energias e setup mostrou uma Bloody Violence ainda mais
evoluído nesse novo disco. Mas agora com o “hospedeiro”, a banda está pronta
para escrever um novo capítulo na sua história musical. HOST é como se fosse
uma caixa cheia de fragmentos de espelhos, um caleidoscópio sentimental. E como
diz o ditado popular: “de médico e de louco, todos têm um pouco”, porém o disco
vem para nos contar a verdade universal que alguns, possuem pouco de “medicina”
na sua essência. Em contrapartida, a
fatia de loucura, preenche o resto de espaço que mantém o (des)equilíbrio
necessário. Pronto para se encontrar nessa perdição?
De
arrancada a obra encanta pela capa numa arte estonteante do Marcos Miller, mas
guarda esse pensamento, vamos retomar a capa mais adiante.
Feito
o desenrolar do play (disco somente digital na época dessa resenha), ele abre
com “Decompression Sickness”, que normalmente é o nome do diagnóstico de
quem de quem mergulha e emerge rápido demais. Imagina estar no longínquo e
profundo oceano e ter que emergir rapidamente. O hidrogênio dissolvido no
sangue e nos tecidos vai ferver em bolhas e vai transformar o corpo inteiro num
formigueiro, você provavelmente sentirá fortes dores no peito, tontura e dores
musculares. Agora tente imaginar sentir tudo isso, sem nunca ter chegado perto
do oceano. Talvez seja sua consciência emergindo do mar de dormências e
cegueiras em que esteve mergulhada a vida toda. Apesar de fora do mar, é o
corpo que vai sentir esse diagnóstico. Pois bem, esse é o “boas vindas” que o
Host lhe dá, no som de entrada do disco. Estendido o tapete vermelho, Eduardo
Polidori monstra a que veio (ou a que retornou) com a “Visceral Memories”.
Numa pegada cadenciada e ao mesmo tempo dinâmica, a batera guarnece muito bem
toda eclosão de notas do baixo (israel Savaris) e da guita (Igor Dornelles).
Arrisco que será difícil não soltar aquela batidinha de pé nesse som. Swingada,
pegada e arrasadora ao melhor estilo daquelas memórias guardadas no hipocampo,
que faz o corpo todo sentir o efeito quando a lembrança é revivida no soar,
muitas vezes, de uma só palavra.
Então
chegamos na “The White Box”, que para mim é o primeiro ponto alto do
disco. Um riff repetitivo, indigesto, dissonante, que invade o ouvido e fica
andando numa espiral pela sua cabeça, o início de uma jornada progressiva com
rumo certo a amargura, a proporção logarítmica perversa, um fractal divino que
se revela na carta da loucura do Tarot, mas que ao mesmo tempo revela que nossa
evolução natural também ocorre em uma espiral. E que desesperos colecionamos
nessa jornada ao nos depararmos com uma evolução que se movimenta sistólica e
diastolicamente, para retornar ao ponto de partida: - O nada! “The White box” é
aquela “voz” que fica sussurrando ideias no seu subconsciente, mas é o
consciente que as transforma em ações involuntárias. Aquele pensamento que não
te deixa dormir e aquele barulho sem identificação, no escuro silencio da casa.
Agora depois de ler esse parágrafo, volte na faixa e escute-a novamente. Se se
identificou com algum trecho do parágrafo, eu te aconselharia a “vigiar melhor
os pensamentos”. E a sutileza desse
breve desespero se completa com a “Whispers of Anguish” que imprime um ritmo
mais compassado que, quase, contamina com uma tranquilidade cadenciada do riff
ao final (será o último suspiro antes de dar mais um passo na beira do
abismo?). Hora de mais um ponto de destaque do disco, “Unfit Thought Processes”
que chega vestida de luto, uma visita indesejada que tem aquele tom de voz
agudo e irritante (justo como a nota sendo repetida pela guitarra do Igor),
falando sob assuntos desajeitados e que te faz ter pensamentos nada saudáveis.
Ufa, Te pareceu desequilibrado? Perfeito, então entendeu o som na totalidade.
Host
é um daqueles plays que foi concebido para ser atemporal, pois existem muitos
enigmas escondidos por trás do véu dos pensamentos e a qualquer momento um dos
sons do Host, pode ser o manual da sua loucura. Pois se for, sirva-se, foi
feito pensando em você! Cheio de execuções precisas, com muita técnica, mas
também muita musicalidade. O encontro perfeito entre a perfeição e o feeling
musical. Não há razões para focar em apenas um
e esquecer o outro.
Lembra
da capa do disco? Pois bem, eis o “gran
finale" que ganhou vida nas mãos do Marcos Miller. Assim como todo
comportamento desviante, a mega arte criado pelo marcos comporta olhares e
interpretações diferentes. Se permita admirar a capa do disco várias vezes e de
jeitos diferentes, vai encontrar surpresas a cada observação. A concepção da
arte está muito alinhada com a mensagem que o disco carrega.
O
disco nasceu em 2019 enquanto o mundo girava silenciosamente em torno do seu
eixo, mas é em 2020 que Host encontra abrigo para fundamentar a sua retórica,
nos braços dessa loucura viral chamada COVID-19. Não há maior insanidade do que
ter que conviver com as próprias inquietações, em um momento em que não é possível
dissipar essas doses homeopáticas de loucura na multidão. E você já parou para
se perguntar:
- Se não fossem esses momentos de breve total
descontrole do pensamento, seria possível viver uma mente sana?
Talvez
sim, talvez não. Minha dica? Se chama HOST, tens 32minutos e 24 segundos para
encontrar algo próximo de uma resposta na bolachinha. Mas se não encontrar
essas resposta, não se desespere, só a audição já será o suficiente para
proporcionar alguns momentos de satisfação, para quem curte o estilo. Com o
novo disco a Bloody Violence continua sedimentando a sua carreira como um ícone
do Technical Death Metal nacional, com motivos de sobra para causar orgulho. É
nosso!
E
a melhor parte é que, como o disco só saiu na versão digital (por enquanto), está
ao alcance de um clique:
Bloody
Violence é:
Igor Dornelles – Guitarra e Vocal
Israel Savaris – Baixo e Vocal
Eduardo Polidori – Bateria
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