quinta-feira, 20 de agosto de 2020

BLOODY VIOLENCE - HOST (2020)

 


Na ativa desde 2013 a BLOODY VIOLENCE já impressionou desde seus primeiros registros. Primeiro passo foi dado com o EP Obliterate (2014), são quase quinze minutos indigestamente apaixonantes aos simpáticos do estilo. Desconcertante, pesado e carregado, e era justamente esse o recado a ser entregue. Depois com o Full-length Divine Vermifuge (2015), então com não apenas passos, aqui o disco já inicia a maratona de 42 km e em alta velocidade. Um aparado de situações, acontecimentos, mitos e denuncias muito bem orquestrados pelo (então) quarteto sangrento. Nas palavras do Igor Dornelles (guitarra) em entrevista para a Rock Meeting (Ago/2020):

- “Não queríamos ser apenas mais uma banda, então fomos pensando em temas que nos agradavam, e acabamos criando um Discovery channel com esse disco (risos)”.

Esse impacto culmina com o HOST (2019) e nesse momento a banda está voando num rasante matador feito uma ave de rapina. Enfrentaram mudança na formação, readaptação para acertar as vozes com a saída do Cantídio (vocal), tour internacional, saída do Eduardo Polidori (batera) e então em 2019, pouco antes do disco novo ganhar vida, o retorno do Eduardo na bateria. Toda essa movimentação de energias e setup mostrou uma Bloody Violence ainda mais evoluído nesse novo disco. Mas agora com o “hospedeiro”, a banda está pronta para escrever um novo capítulo na sua história musical. HOST é como se fosse uma caixa cheia de fragmentos de espelhos, um caleidoscópio sentimental. E como diz o ditado popular: “de médico e de louco, todos têm um pouco”, porém o disco vem para nos contar a verdade universal que alguns, possuem pouco de “medicina” na sua essência.  Em contrapartida, a fatia de loucura, preenche o resto de espaço que mantém o (des)equilíbrio necessário. Pronto para se encontrar nessa perdição?

De arrancada a obra encanta pela capa numa arte estonteante do Marcos Miller, mas guarda esse pensamento, vamos retomar a capa mais adiante.

Feito o desenrolar do play (disco somente digital na época dessa resenha), ele abre com “Decompression Sickness”, que normalmente é o nome do diagnóstico de quem de quem mergulha e emerge rápido demais. Imagina estar no longínquo e profundo oceano e ter que emergir rapidamente. O hidrogênio dissolvido no sangue e nos tecidos vai ferver em bolhas e vai transformar o corpo inteiro num formigueiro, você provavelmente sentirá fortes dores no peito, tontura e dores musculares. Agora tente imaginar sentir tudo isso, sem nunca ter chegado perto do oceano. Talvez seja sua consciência emergindo do mar de dormências e cegueiras em que esteve mergulhada a vida toda. Apesar de fora do mar, é o corpo que vai sentir esse diagnóstico. Pois bem, esse é o “boas vindas” que o Host lhe dá, no som de entrada do disco. Estendido o tapete vermelho, Eduardo Polidori monstra a que veio (ou a que retornou) com a “Visceral Memories”. Numa pegada cadenciada e ao mesmo tempo dinâmica, a batera guarnece muito bem toda eclosão de notas do baixo (israel Savaris) e da guita (Igor Dornelles). Arrisco que será difícil não soltar aquela batidinha de pé nesse som. Swingada, pegada e arrasadora ao melhor estilo daquelas memórias guardadas no hipocampo, que faz o corpo todo sentir o efeito quando a lembrança é revivida no soar, muitas vezes, de uma só palavra.

Então chegamos na “The White Box”, que para mim é o primeiro ponto alto do disco. Um riff repetitivo, indigesto, dissonante, que invade o ouvido e fica andando numa espiral pela sua cabeça, o início de uma jornada progressiva com rumo certo a amargura, a proporção logarítmica perversa, um fractal divino que se revela na carta da loucura do Tarot, mas que ao mesmo tempo revela que nossa evolução natural também ocorre em uma espiral. E que desesperos colecionamos nessa jornada ao nos depararmos com uma evolução que se movimenta sistólica e diastolicamente, para retornar ao ponto de partida: - O nada! “The White box” é aquela “voz” que fica sussurrando ideias no seu subconsciente, mas é o consciente que as transforma em ações involuntárias. Aquele pensamento que não te deixa dormir e aquele barulho sem identificação, no escuro silencio da casa. Agora depois de ler esse parágrafo, volte na faixa e escute-a novamente. Se se identificou com algum trecho do parágrafo, eu te aconselharia a “vigiar melhor os pensamentos”.  E a sutileza desse breve desespero se completa com a “Whispers of Anguish” que imprime um ritmo mais compassado que, quase, contamina com uma tranquilidade cadenciada do riff ao final (será o último suspiro antes de dar mais um passo na beira do abismo?). Hora de mais um ponto de destaque do disco, “Unfit Thought Processes” que chega vestida de luto, uma visita indesejada que tem aquele tom de voz agudo e irritante (justo como a nota sendo repetida pela guitarra do Igor), falando sob assuntos desajeitados e que te faz ter pensamentos nada saudáveis. Ufa, Te pareceu desequilibrado? Perfeito, então entendeu o som na totalidade.

Host é um daqueles plays que foi concebido para ser atemporal, pois existem muitos enigmas escondidos por trás do véu dos pensamentos e a qualquer momento um dos sons do Host, pode ser o manual da sua loucura. Pois se for, sirva-se, foi feito pensando em você! Cheio de execuções precisas, com muita técnica, mas também muita musicalidade. O encontro perfeito entre a perfeição e o feeling musical. Não há razões para focar em apenas um  e esquecer o outro.

Lembra da capa do disco?  Pois bem, eis o “gran finale" que ganhou vida nas mãos do Marcos Miller. Assim como todo comportamento desviante, a mega arte criado pelo marcos comporta olhares e interpretações diferentes. Se permita admirar a capa do disco várias vezes e de jeitos diferentes, vai encontrar surpresas a cada observação. A concepção da arte está muito alinhada com a mensagem que o disco carrega.

O disco nasceu em 2019 enquanto o mundo girava silenciosamente em torno do seu eixo, mas é em 2020 que Host encontra abrigo para fundamentar a sua retórica, nos braços dessa loucura viral chamada COVID-19. Não há maior insanidade do que ter que conviver com as próprias inquietações, em um momento em que não é possível dissipar essas doses homeopáticas de loucura na multidão. E você já parou para se perguntar:

-  Se não fossem esses momentos de breve total descontrole do pensamento, seria possível viver uma mente sana?

Talvez sim, talvez não. Minha dica? Se chama HOST, tens 32minutos e 24 segundos para encontrar algo próximo de uma resposta na bolachinha. Mas se não encontrar essas resposta, não se desespere, só a audição já será o suficiente para proporcionar alguns momentos de satisfação, para quem curte o estilo. Com o novo disco a Bloody Violence continua sedimentando a sua carreira como um ícone do Technical Death Metal nacional, com motivos de sobra para causar orgulho. É nosso!

E a melhor parte é que, como o disco só saiu na versão digital (por enquanto), está ao alcance de um clique:

TIDAL
SPOTIFY
DEEZER

Bloody Violence é:

Igor Dornelles – Guitarra e Vocal

Israel Savaris – Baixo e Vocal

Eduardo Polidori – Bateria

 Resenha por Uillian Vargas




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