segunda-feira, 17 de agosto de 2020

REBEL ROCK ENTREVISTA - GASTÃO MOREIRA

 


ENTREVISTA - GASTÃO MOREIRA

Sejamos sinceros: poucos jornalistas no meio do rock/metal brasileiro possuem a credibilidade e capacidade de Gastão Moreira. Desde os primórdios da MTV Brasil (quando ainda podíamos chamá-la dessa forma), passando pela TV Cultura e o MusiKaos, pelos seus programas de rádio e agora com o Kazagastão (Heavy lero, KZG News, Hellfabetto), Gastão segue fazendo aquilo que lhe dá mais satisfação:: falar sobre música! Tive o prazer de trocar uma rápida idéia com ele por email e o resultado está aqui. Fala mestre  Gastão!

Rebel Rock - Primeiramente Gastão, eu gostaria de agradecer imensamente a oportunidade de realizar essa entrevista com você e também dizer a honra e satisfação que é poder falar com um dos caras que mais me inspiraram a ouvir e falar sobre música, em especial o heavy metal. Eu sempre digo pra todos que se hoje eu curto música dessa maneira e gosto de escrever e falar sobre ela, são três os responsáveis: Fernando Souza Filho (Rock Brigade), Ricardo Batalha (Roadie Crew) e Gastão Moreira (MTV).

Gastão Moreira - Muito obrigado Sergiomar, é uma honra saber disso! Fico muito feliz!

RR - Como foi que a música e em especial o Rock apareceu na tua vida? E qual a importância que esse primeiro contato teve em toda sua “formação” e carreira musical?

GM - O rock surgiu na figura de Gene Vincent quando escutei Be Bop A-Lula pela primeira vez numa fita cassete. Não posso precisar minha idade, mas é o primeiro registro que tenho lembrança e à partir daí foi um caminho sem volta.

RR - Curiosamente eu também sou formado em Direito, assim como você e o Ricardo Batalha, e muitas vezes acabo “embolando” as coisas (rs). Como você decidiu que não iria exercer a advocacia e encarar o mundo do jornalismo musical?

GM - Jamais seria um advogado feliz. Decidi ir para Europa depois de me formar quando estava no segundo ano de Direito na Puc. Fui orador da turma e me mandei para Londres. Isso foi no começo de 1989 e foi a melhor coisa que fiz na vida.

RR -  E a MTV? Como foi que você ficou sabendo que a emissora estava a procura de VJs e o que te levou a tentar uma vaga lá?

GM - Escutei sobre os testes da MTV no carro quando cheguei no Brasil para o casamento da  minha irmã. Ia ficar apenas 15 dias aqui e voltaria para Londres. Mas meus planos mudaram quando fui fazer o primeiro teste no Aeroanta em 1990. Queria tanto trabalhar com música que fui bem nos testes e acabei escolhido entre os seis Vjs que estrearam a MTV no Brasil.

RR - Acredito que trabalhar lá era algo muito bacana, uma vez que tudo girava em torno da música e isso tornava o ambiente bastante descontraído. Como era seu relacionamento com os demais VJ’s da sua época?

GM - O mais legal era trabalhar com minha paixão, a música. Fui para a MTV por causa do M! Sempre me dei bem com os outros Vjs, cada um tinha seu espaço, sua personalidade. Nunca tive problema com nenhum colega.

RR - E a idéia para o Fúria Metal? Como surgiu?? Foi através desse programa que muitos tiveram acesso a vídeos e também a bandas que eram conhecidas apenas pelo nome aqui no Brasil...

GM - A ideia do Fúria Metal já existia quando fui contratado. Eles queriam um espaço para sons mais pesados, mas o programa estreou às duas da manhã, era completamente marginal. Eu tinha que implorar por vídeos e entrevistas. Logo depois tornou-se uma das maiores audiências da MTVe  passou para horário nobre com duas reprises.

RR - A sua saída da emissora se deu em um período que a própria MTV começou a decair, deixando de ser aquela referência e se tornando algo que ia muito mais na onda do momento. Como você que esteve no inicio e também no período mais importante dela viu essa caída de qualidade e audiência?

GM - A MTV perdeu relevância muito rápido pela absoluta falta de visão da diretoria ao não conseguir se adaptar aos novos tempos. Assisti a toda decadência da MTV com muita tristeza, pois foi onde realizei grandes sonhos da minha vida. Hoje essa nova MTV me dá vergonha, não há nada com que me identifique lá.

RR - Falando agora do MusiKaos... O programa era um dos mais interessantes pois trazia sempre bandas de todos os gêneros musicais mas não caía naquela mesmice de ir no embalo dos esquemas radiofônicos. Como surgiu a idéia ara esse programa?

GM - O Musikaos é minha cria e foi inspirado no Fábrica do Som, antigo programa da Tv Cultura. A ideia era trazer ao palco diferentes manifestações artísticas ao mesmo tempo, bandas, artes plásticas, fotografia, poesia, etc. Levamos mais de 500 bandas ao vivo e conseguimos alguns programas históricos, sem seguir fórmulas ou modismos.

RR -Depois você foi morar em Florianópolis. Nesse período você apresentou um programa pela Rádio Atlântida (Gasômetro) e formou a banda Kratera. Como foi essa época na sua vida

GM - Estava cansado de São Paulo, encarava 4 horas de trânsito todos os dias. Passei 8 anos em Floripa, trabalhei na rádio (Gasômetro), tive banda (Kratera), tive casa de show (Célula), construí minha casa e contemplei muito o mar. Foram anos maravilhosos.

RR - Botinada: A Origem do Punk no Brasil é um dos documentários mais ricos e abrangentes sobre o movimento punk aqui no nosso país. Acredito que o trabalho de pesquisa e desenvolvimento demorou bastante tempo, mas teve um rultado muito acima da média. De onde veio essa idéia e você já pensou em fazer um documentário sobre o Heavy Metal aqui no Brasil?

GM - A ideia surgiu nos bastidores do Musikaos nos papos com o Clemente. O movimento punk nunca foi bem documentado no Brasil e era uma história incrível. Levei 4 anos para concluir o Botinada. Foi uma luta achar os entrevistados e conseguir material da época em boas condições, mas acho que consegui contar a história.

RR -Hoje você se dedica ao Kazagastão e suas “vertentes” (News, Hellfabeto, Entrevista, entre outros). Mas antes houve o Heavy Lero com o Bento Araújo e depois com o Clemente. Ou seja, você é um verdadeiro workaholic da música (rs). Mas acredito que cada episódio que vai ao ar deve te trazer uma enorme satisfação, pois é inegável a paixão com a qual você conduz cada programa (principalmente o Hellfabeto). Para você, como é ser esse cara que passa tanto conhecimento musical de forma simples e com total domínio sobre o que fala?

GM - O que movimenta o Kazagastão é minha paixão obsessiva por música. É um trabalho hercúleo, ingrato, mal remunerado, mas é o que eu gosto de fazer e tenho muito orgulho do canal. Jamais conseguiria falar desses assuntos na Tv. Por isso considero a curadoria do canal essencial. O Kazagastão segue na contramão sem farol e sem freio.

RR - Gastão, mais uma vez, agradeço pela tua disponibilidade em ceder essa entrevista e deixo aqui esse espaço para tuas mensagens aos leitores e seguidores do seu canal.

GM - Eu que te agradeço! Desejo que todos descubram algo pelo qual sintam uma paixão incontida, seja na música, na profissão, na vida. E nunca desistam de lutar pelos sonhos, quanto mais difícil for, menos concorrência você vai ter! rsrs Grande abraço!


 

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