quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

MELHORES - 2021 (NACIONAL)

Chegou a hora de listarmos os melhores álbuns de 2021 dentro do cenário nacional. E, ainda que muitos não concordem, o ano foi recheado de grandes trabalhos, que vão desde nomes consagrados (ainda que em bandas paralelas), até bandas iniciantes, que mostraram valor e qualidade logo de cara. Sem muita enrolação, na opinião do REBEL ROCK, esses foram os 10 melhores álbuns lançados neste penoso ano de 2021:


DIRTY GLORY - MISS BEHAVE



NITE STINGER - NITE STINGER



HEAVY SMASHER - HEAVY SMASHER



ELECTRIC GYPSY - ELECTRIC GYPSY



DARCHITECT - THE VISITING



GOATEN - CRIMSON MOONLIGHT



GUEPPARDO - I AM THE LAW



FULLRAGE - RESSURECTION DENIED



RAGE IN MY EYES - SPIRALS



MARCELO SOUZA - HUMAN VS MACHINE


Sergiomar Menezes

















 






terça-feira, 21 de dezembro de 2021

MELHORES - 2021 (INTERNACIONAL)


MELHORES - 2021 (INTERNACIONAL)

2021 foi uma espécie de 2020 parte 2... Infelizmente, passamos a maior parte do ano lutando contra uma pandemia que insistia (e ainda insiste) em fazer parte do nosso dia a dia, trazendo consigo problemas de todas as ordens (financeiros, psicológicos, físicos, entre outro). Para amenizar um pouco tudo isso, tivemos muitos álbuns de excelente qualidade, ficando difícil selecionar 10 para organizar essa lista. Obviamente que é humanamente impossível ouvir tudo que foi lançado, mas daqueles a que tivemos acesso e oportunidade de conferir, foram esses os escolhidos pelo REBEL ROCK como os melhores trabalhos de 2021!



RUNNING WILD - BLOOD ON BLOOD



THE NIGHT FLIGHT ORCHESTRA -
AEROMANTIC II



CARCASS - TORN ARTERIES



DEE SNIDER - LEAVE A SCAR




IRON MAIDEN - SENJUTSU



GO AHEAD AND DIE - GO AHEAD AND DIE



EXODUS - PERSONA NON GRATA



ALICE COOPER - DETROIT STORIES



DESASTER - CHURCHES WHITOUT SAINTS



HELLOWEEN - HELLOWEEN


Sergiomar Menezes




terça-feira, 30 de novembro de 2021

CARCASS - TORN ARTERIES (2021)

 


Carcass - Torn Arteries (2021)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Estamos em 2021 e ainda existem fãs que acreditam que o CARCASS vai voltas À sonoridade de álbuns como Reek of Purefaction (1988), Symphonies of Sickness (1989) e Necroticism - Descanting the Insalubrious (1991). Isso não tem a menor chance de acontecer, uma vez que, com Heartwork (1993), o grupo encontrou sua identidade unindo a podreira dos primeiros trabalhos, com a técnica e capacidade criativa apresenta deste o supracitado álbum. Dito isso, podemos afirmar que TORN ARTERIES, sétimo álbum do grupo, lançado no Brasil pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast dá sequência ao trabalho mais recente lançado pelo quarteto, o ótimo Surgical Steel (2013). Estão presentes a agressividade, brutalidade, mas devidamente "lapidadas", sem que isso faça com que a musicalidade do grupo se torne menor, ou até mesmo, despercebida.

Bill Steer (guitarra e vocal), Jeff Walker (baixo e vocal) e Don Wilding (bateria e vocal), contaram a participação de Per Wilberg (piano) e de Fredrik Klingwall (teclados adicionais). Cabe ressaltar que a banda tem a presença ao vivo do guitarrista Tom Draper. o álbum foi gravado entre novembro de 2018 e agoste de 2019 e tinha como previsão ser lançado em 2020, mas a pandemia frustrou os planos da banda, que achou melhor trazer o trabalho ao mundo agora em 2021. Torn Arteries foi produzido pelo próprio grupo enquanto a mixagem ficou sob a responsabilidade de David Castillo e a masterização foi feita pelo experiente Jens Bogren. Essa verdadeira "salada", (talvez uma pequena referência à capa), deu muito certo, pois o grupo soa pesado, intenso e bastante agressivo, sem que precise apelar para uma sonoridade datada ou "suja" em demasia.

O álbum abre com a faixa título, trazendo uma introdução brutal de bateria, mostrando que vem porrada por aí. E sem muita conversa, Bill Sterr despeja seus riffs insanos e agressivos, criando uma atmosfera perfeita para o mestre Jeff Walker soltar a voz de uma maneira ríspida e direta. Perfeita escolha para a abertura, pois de cara, entrega que o Carcass continua soberano naquilo que criou e sabe fazer como ninguém! Na sequência, Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March nº 1 in 18), que embora possua um nome pra lá de esquisito, é outro pelo petardo, carregado de peso. Cadenciada, a faixa mostra que o quarteto não se apega (há muito tempo) à nenhuma linha de composição, explorando seus próprios limites. Eleanor Rigor Mortis, faixa que vem em seguida, traz a velocidade de volta, pelo menos em seu início, com solos técnicos e melódicos, ainda que isso venha a irritar alguns fãs mais puristas. Dotada de peso, a composição acaba sendo um dos destaques do trabalho. Outro ótimo momento é Under the Scapel Blade, que começa brutal e agressiva, mas perde a velocidade e ganha muita intensidade em sua execução. Vale lembrar que a faixa estava presente no EP Despicable, lançado em 2019, e resgata uma pegada mais próxima de Swansong (1996). The Devil Rides Out traz um Bill Steer inspirado, técnico e ao mesmo tempo ríspido, mesclando de forma consistente, peso e melodia.

Flesh Ripping Sonic Torment Limited é a faixa mais longa, com quase dez minutos de duração. No entanto, ao contrário de muitas bandas que criam composições desse tipo apenas para mostrar suas técnicas instrumentais, o Carcass compôs uma música repleta de variações e passagens que vão da agressividade ao melódico sem pestanejar, mostrando, mais uma vez, uma banda preocupada, apenas, em fazer sua música. Kelly's Meat Emporium, como o título indica, traz a carnificina de volta, com velocidade, brutalidade e um acabamento que só bandas que criam um estilo conseguem fazer. Don Wilding mostra sua técnica de forma precisa, aliando momentos mais intensos e rápidos, com outros mais trabalhados e muito bem definidos. Enquanto isso, In God We Trust, também traz essa característica, não tão veloz, é verdade, mas dotada de uma execução coesa e com solos que fleum com total naturalidade. Wake Up And Smell the Carccas/Caveat Emptor, mantém a sequência, trazendo inúmeras referências que os fãs irão sacar e curtir. Pra encerrar, The Scythe's Remorseless Swing, nos deixa para um novo trabalho, que esperamos, não demore tanto para chegar.

Bandas que criam um estilo são raridade. As que conseguem se reinventar dentro daquilo que criaram são mais raras ainda. TORN ARTERIES mostra que o CARCASS é um desses raríssimos casos. Não há dúvidas de que estamos diante de um dos melhores álbuns lançados em 2021. Basta comprovar nas listas que logo mais virão por aí...

Sergiomar Menezes





sábado, 27 de novembro de 2021

MALVADA - A NOITE VAI FERVER (2021)

 


Malvada - A Noite Vai Ferver (2021)
Shinigami Records - Nacional

Formada em São Paulo no início de 2020, a MALVADA é uma banda formada por mulheres que decidiram mostrar que o Rock precisa, e muito de sangue novo. E A NOITE VAI FERVER, álbum lançado agora em 2021 pela Shinigami Records, prova que, além de sangue novo, o grupo traz consigo talento e garra suficientes pra sacudir o cenário, que diga-se de passagem, mostra-se num marasmo poucas vezes visto antes. Ainda que durante algum tempo tenhamos reclamado que o rock nacional não apresentava nada de novo, pelo menos tínhamos algumas bandas que, por mais comerciais que fossem, ainda conseguiam representar o estilo. Ainda bem que essas quatro mulheres resolveram mostrar que as coisas podem mudar. Cantado em português, mas com uma gama de influências que vão do Hard ao Pop, o trabalho tem tudo para agradar aos apreciadores da boa música.

Angel Sberse (vocal, participante do The Voice Brasil 2020, na Rede Globo), Bruna Tsuruda (guitarra), Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria) entraram no Studio Pub, em Santo André (SP), sob o comando de Nobru Bueno, que também produziu o álbum ao lado de Tiago Claro, e registraram nove faixas que mostram classe e bom gosto, seja nas composições, seja nos arranjos. Cabe ressaltar o talento e performance de Angel que possui um timbre próprio, indo com facilidade do mais suave ao mais visceral sem esforço. Ainda, a cozinha da banda mostra entrosamento, pois impõe peso nos momentos certos, enquanto a guitarra ganha seu espaço com riffs bem timbrados e de fácil assimilação. Se em alguns momentos o grupo acaba soando mais comercial, qual o problema? Música boa é música boa, toque ela no rádio (como se ainda acontecesse isso...) ou não...

A faixa título abre o álbum com uma pegada pop/rock, mas que ganha peso durante sua execução. Angel coloca uma dose extra de agressividade em alguns momentos, dando à composição uma vibe mais rocker do que pop. Na sequência, Prioridades, traz uma melodia simples, com linhas de baixo e bateria (Ma Langer e Juliana Salgado, respectivamente) bem trabalhadas, uma vez que a faixa tem um andamento mais cadenciado. Angel, mais uma vez, mostra versatilidade numa linha vocal interessante. Bruna Tsuruda, por sua vez, apresenta um solo bem construído, melódico e certeiro. Quem Vai Saber é um momento mais calmo, suave até. Traz belas passagens e mostra a capacidade criativa do grupo, deixando as guitarras mais pesada de lado, deixando o feeling fluir, o que se percebe no belo solo de guitarra presente aqui. A veia pop/rock retorna com Pecado Capital, com destaque pra levada de baixo/bateria.

Ao Mesmo Tempo, inicia com a bela voz de Angel, que canta de forma mais suave, onde Bruna brilha de forma precisa durante a execução da faixa (escute e você entenderá o que quero dizer). A veia rocker volta  aparecer com força em O Que Te Faz Bem?, numa levada blues n' roll, com vocais cheios de malícia e potencializados por uma performance segura de Angel. Já Disso Que Eu Gosto tem aquela pegada com uma certa dose de suingue (me trouxe a mente Por Que que a Gente é Assim do "saudoso" Barão Vermelho), enquanto que Mais Um Gole tem uma  cara anos 70, principalmente pelos timbres da guitarra de Bruna e pelos vocais rasgados, perfeitos em sua função de carregar de emoção a composição. O trabalho se encerra com Cada Escolha Uma Renúncia, faixa que segue a linha das anteriores, com passagens cheias de garra e energia, com mudanças de andamento que criam uma atmosfera pesada para a composição.

A NOITE VAI FERVER apresenta uma banda talentosa e disposta a encarar um mercado que busca alternativas, já que o cenário não mostra muitas perspectivas de originalidade ou, pelo menos, bom gosto. A MALVADA tem essa oportunidade. Afinal, o cartão de visitas cria essa expectativa. 

Sergiomar Menezes




sexta-feira, 26 de novembro de 2021

DARK ASYLUM - DEEP IN THE MADNESS (EP) (2021)

 


Dark Asylum - Deep in the Madness - EP (2021)
True Metal Records - Nac.

Antes de mais nada, preciso dizer o quanto é bom receber o material de uma banda que se preocupa em ser profissional. Óbvio que a música é mais importante, mas tem muita banda que não tá nem aí pra cuidar de sua imagem, do release, do trabalho em si e, o que é pior, depois vem cobrar da gente uma resenha com foto atualizada, informações sobre a formação que mudou, entre outras coisas. E isso não é raro. Felizmente, a DARK ASYLUM não se enquadra nesse conceito. Além de uma música de qualidade, o quarteto gaúcho mostra profissionalismo ao apresentar um material completo, seja através de sua assessoria, seja pelas próprias mãos da banda, que enviou pelo correio o CD, com um press release completo, deixando claro que ser underground não significa ser desleixado. DEEP IN THE MADNESS, EP lançado em 2021 traz uma banda entrosada e com uma sonoridade forte e direta.

A banda foi criada em 2003 pelo seu líder e fundador Aparício "Dark" Neto (vocal) e hoje é completada por William "The Axe Murderer" Leite (guitarra), Ângelo "Angel of Death" Gobbi (guitarra) e John "Doomslayer" Xavier (baixo). Fica o registro que a banda nunca teve um baterista fixo e apesar do início promissor, fazendo muitos shows pelo underground gaúcho, encerrou suas atividades em 2008, mesmo após gravar dois Eps, com a participação do baterista Everson Krentz (ex-Distraught, ex- Sacrário). Mas 13 anos após, Aparício "Dark" Neto decidiu que era hora de reativar a "loucura" e colocar o Dark Asylum de volta no cenário. E assim, resolveu lançar os trabalhos já gravados e reabrir as portas para um futuro promissor que espera pelo grupo. Com a arte do talentoso designer Günther Natusch e lançado pela True Metal Records, do lendário Flávio Soares (Leviaethan), DEEP IN THE MADNESS chega para colocar o pescoço dos bangers à prova!

Após a intro Brainwash, temos Final Link, uma pedrada no ouvido, trazendo um mixto de Thrash Metal, Heavy Tradicional e vocais que variam do limpo ao mais rasgado de forma simples. Os riffs mantém uma característica daquele thrash anos 80, aliados a cozinha que deixa o peso correr solto. Por ser uma faixa mais cadenciada e com certa dose de groove, ela deixa escancarada a capacidade d a banda em soar pesada. Cabe ressaltar que a banda era formada à época da gravação do EP por Leonardo "Babyface" e Vilmar "The Teacher" Gusbeti (guiatrras) e Jonas "Devil Son" Torres (baixo). A faixa seguinte, Factory of Fools, mantém essa pegada, mais cadenciada e carregada de peso e aqui percebe-se que a produção poderia ter dado uma caprichada maior nas guitarras, que ainda que bem timbradas, por vezes acabam se sobressaindo em demasia. Não que isso cause algum demérito, mas daria um "punch" extra ao grupo.

Feel the Heat é outro momento que guarda essa proximidade com o Thrash, naquele estilo "correria", perfeito para as rodas de mosh nos shows, que segundo relatos de quem já os presenciou, eram insanos e viscerais. O trabalho se encerra com Highest Force, com velocidade, peso e muita disposição em fazer valer cada segundo de execução da composição. 

DEEP IN THE MADNESS é um trabalho que traz de volta uma banda que merece, e muito, um destaque maior no cenário. Afinal, não é sempre que temos a oportunidade de ver um grupo que sabe onde quer chegar, como chegar e que demonstra um profissionalismo raro hoje em dia. E isso conta muito a seu favor. Deixe a loucura do DARK ASYLUM te transportar para o mundo do metal!

Sergiomar Menezes





quinta-feira, 25 de novembro de 2021

CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL (2021)

 


CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL
Zac Crain
Tradução:
Marcelo Vieira
Editora: Estética Torta

Dimebag Darrell. Um dos guitarristas que viraram o cenário do Heavy Metal de cabeça para baixo, não apenas com sua técnica, mas por seu jeito "maluco" e amigável de viver a vida. E os brasileiro têm a oportunidade de conhecer a história deste músico incrível através da Editora Estética Torta, que vem lançando no mercado muitos títulos imperdíveis. CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL, tem uma edição luxuosa, com capa dura e marca página com a ilustração da capa e foi traduzido por Marcelo Vieira, o que é garantia de uma leitura fácil e sem "burocracia". Não apenas um relato sobre a vida de Dimebag, o livro traz histórias contadas por amigos próximos, músicos, produtores, jornalistas, entre outras pessoas que viveram as mais variadas situações com o guitarrista que faz, e muita, falta nos dias de hoje...

Muito bem escrito e com riqueza de detalhes, o livro começa falando sobre o fatídico dia em que Dimebag veio a ser assassinado, voltando no tempo desde os primórdios, contando sobre a infância do guitarrista, filho de Jarry Abbott, compositor, produtor e multiinstrumentista, com uma forte ligação com a música country, e Carolyn Abbot, uma mãe amorosa que sempre apoiou os filhos, incondicionalmente. Cria do Texas, Dimebag cresceu envolto à música country, mas desde cedo teve, dentro de si, despertada a paixão pelo rock por ninguém menos que o VAN HALEN. E essa paixão iniciou em 1º de julho de 1978, quando assistiu pela primeira vez ao show da banda no Texxas Jam.

Mas havia um outro ídolo, o qual mudou o rumo da vida do saudoso guitarrista: ACE FREHLEY. A paixão pelo Kiss e seu eterno Spaceman ficaram marcadas na vida de Dime até seus últimos momentos. Quem viveu os anos dourados do Pantera, sabe do que estou falando. E essa relação entre fã e ídolo também fez com que Dimebag fosse, com seus fãs, um dos caras mais gente boa do mundo do rock. Não são poucas as histórias de bebedeiras homéricas patrocinadas pelo guitarrista junto aos seus admiradores. Se havia diversão, impossível imaginá-la sem a presença dele.

O livro traz os relatos da infância e adolescência de DarrelL Lance Abbott e de seu irmão Vincent Paul Abbott, mais conhecido por Vinnie Paul, e revelando que, se alguma banda se interessasse por um dos irmãos, teria que levar o pacote fechado, o que se mostrou algo bem interessante ao longo da carreira de ambos, principalmente quando da criação do Pantera. E um dos pontos interessantes do livro é essa narração, desde os primórdios do grupo, passando pela fase "glam", com o vocalista Terry Glaze até a entrada de Phil Anselmo e a mudança de rumo musical tomada pelo grupo. Mudança essa que fez com que o Pantera se tornasse um dos maiores nomes do metal mundial e Dimebag fosse reconhecido com um dos grandes guitarristas de sua geração.

Além disso, muitas curiosidades envolvendo a carreira do Pantera são contadas aqui. Metal Blade e Brain Slagel, Kerry King, entre outras histórias acabam por enriquecer ainda mais a leitura.

Mas, nem tudo era flores dentro da banda e isso é relatado sem cerimônias durante a leitura, principalmente a relação entre Phil e o restante do grupo, principalmente com os irmãos Abbott. Se no início tudo corria da melhor maneira possível, o sucesso e o uso demasiado de drogas acabou afastando os integrantes até o momento da separação, que conforme narrado no livro, nunca aconteceu de forma realmente de forma presencial. Os momentos gloriosos estão presentes no livro, mas também aqueles mais tristes também estão e nos mostram que muitas cicatrizes não fecharam e provavelmente nunca fecharão...

O livro também fala sobre a formação do DamagePlan, nova banda dos Abbott, que era uma espécie de continuação do que o Pantera fazia, mas com um olhar mais sombrio sobre o mundo. Apesar da ótima qualidade e ainda, contando com o nome de Dimebag e Vinnie Paul, o grupo se viu obrigado a voltar aos circuitos de pequenos clubes, o que para o guitarrista não fazia diferença nenhuma, pois o que realmente importava era estar no palco, divertindo o público e se divertindo fazendo sua música. Mas, infelizmente, no dia 08 de dezembro de 2004, no placo do Alrosa Villa, 24 anos após a morte de John Lennon, também assassinado por um "fã", a jornada de um dos mais brilhantes guitarristas que o rock/metal já tiveram, chegou ao fim. Em cima do palco, Dimebag foi assassinado com tiros à queima roupa, sem a menor chance de se defender...

CAUBÓI DO INFERNO - VIDA E MORTE DE DIMEBAG DARRELL é um livro que nos mostra, principalmente, que a vida está aí para ser vivida, seja ela do jeito que se apresentar. E como diriam os irmãos antes de entrar no palco:
- VAN HALEN?
- VAN HALEN, PORRA! 

Sergiomar Menezes







terça-feira, 26 de outubro de 2021

ENTREVISTA - FABIO LIONE

 


Fabio Lione, sem dúvidas, é um dos maiores vocalistas do Metal mundial. Consagrado e reconhecido pelo seu trabalho no Rhapsody,  Lione está à frente do Angra desde 2013. Muita coisa aconteceu de lá pra cá,  e após o caos vivenciado por todos nós nessa pandemia, o vocalista, em parceria com Marcelo Barbosa, guitarrista do Angra, vai visitar o Brasil com "Rocking Your Life", uma turnê acústica, revisitando clássicos de sua carreira, bem como do rock mundial. Pra falar exclusivamente sobre essa turnê,  Lione respondeu as perguntas do Rebel Rock e o resultado, você lê a seguir.

Sergiomar Menezes 


Rebel Rock - De onde surgiu a ideia para a turnê Rocking Your Life no formato acústico? 

Fabio Lione - Estive conversando com o Paulo (Baron) sobre ideas, músicas etc..e mandei pra ele covers que fiz em estúdio..ele me propôs a idea de fazer uma turnê de clássicos do Rock acústica e músicas das minhas bandas e gostei da idea…

RR - Quais são as expectativas de ambos para a realização dessa turnê pois afinal de contas  estamos há mais de 1 ano e meio sem shows, apesar de Lives que foram feitas, não é a mesma  coisa. Esse contato direto com o público vai voltar acontecer. Quais são as expectativas para  essa situação? 

Lione - Principalmente é importante começar a estar presente no palco e ter contato com o público, tenho certeza que as pessoas vão curtir muito o show, a set list e que essa turnê vai receber muito papo e ser muito comentada..

RR - O formato acústico demanda uma maior concentração de ambos os músicos pois as músicas  são tocadas num formato bem diferente do usual, tanto para o guitarrista quanto para o  vocalista. Existe uma certa atmosfera diferente nesse tipo de apresentação. Como vocês  adaptaram as músicas que serão tocadas nesse formato? 

Lione - A realidade é que teremos um clima e um sentimento diferente, muito mais íntimo com o público a quem proponho interagir e apresentar algumas surpresas. As melodias, riffs e acordes são sempre os mesmos e portanto o público poderá cantar e apreciar as músicas como sempre, além de que algumas caracteristicas dos músicos ficarao mais claras..

RR - A escolha do repertório foi muito complicada? Pois pelo que foi a divulgado serão músicas do  Angra, Rhapsody, Almah, além de clássicos do rock mundial. Como se deu a escolha do  repertório? 

Lione - Não, não foi complicado..Eu propus ao Marcelo e o Paulo um set list bem variado, com classicos de várias bandas e mais músicas do Angra e Rhapsody ( nunca pensei em nenhuma música do Almah para falar a verdade..)Tenho certeza que depois do primeiro show haverá muitos comentários e reações positivas porque o que estamos tentando propor não é um show acustico normal..

RR - Como dito anteriormente, os músicos estiveram muito tempo parados durante essa  pandemia, e o público está sedento por shows. Essa turnê servirá como um pré aquecimento  ou até mesmo um aquecimento para futuros shows que vêm por aí?

Lione - Um aquecimento para futuros shows que vém poi ai.. 


RR - Lione, você é um dos maiores vocalistas do metal mundial. Esse formato para você traz alguma  dificuldade, alguma preparação diferente daquela que você está acostumado? Como você  adaptou a sua voz para as músicas que serão tocadas nesse formato?

Lione - Nada em particular, tenho um estilo vocal muito variado e provavelmente este formato é ainda mais natural para mim..

RR - Depois de tudo que passamos e ainda estamos passando, o que mais vemos são pessoas  loucas para poder assistir a um show. Quais as expectativas de vocês para esses shows, para  essa turnê? E como vocês vêm essa relação do público com todas as questões que vão  envolver as condições sanitárias, como o distanciamento social, uso de máscaras, etc?

Lione - Eu acho que a reaçao a esses shows será muito boa assim como eu acho que após esse período tudo vai ficar gradualmente verso a normalidade e claramente o distanciamento social vai colocar algumas limitações, mas isso nao afetará o sucesso do show.. 

RR - Em nome do Rebel Rock, gostaria de agradecer pela entrevista e deixar o espaço aberto para  que vocês possam convidar a os fãs para essa turnê!

Lione - Em breve iremos cantar juntos meu amigo!!!Temos algumas surpresas nos shows e tenho certeza que todos vamos nos divertir muito!!!Um grande abraço a todos vocês!!



terça-feira, 28 de setembro de 2021

HEAVY DUTY - MINHA VIDA NO JUDAS PRIEST (2021) - K.K. DOWNING

 


HEAVY DUTY - MINHA VIDA NO JUDAS PRIEST
K.K. Downing com Mark Eglinton
Tradução:
Marcelo Vieira
Editora: Estética Torta

Quando se fala em Heavy Metal é praticamente impossível não pensar no Judas Priest. É inegável a importância e relevância do quinteto inglês para o estilo musical que tanto amamos. Não apenas musicalmente falando, mas também no que diz respeito ao visual. E, talvez aquele ponto que mais vem à mente quando o assunto é a banda, são as guitarras. K.K Downing e Glenn Tipton, são com a mais absoluta certeza, uma das duplas mais lembradas de todos os tempos. Mas, como na maioria das vezes, nem sempre tudo é como imaginamos. Quem diria que dentro desse pequeno universo habitado pelos dois existia (e existe) uma animosidade tão intensa como a que somos levados a descobrir em HEAVY DUTY - MINHA VIDA NO JUDAS PRIEST? A auto biografia de K.K Downing, escrita em parceria com Mark Eglinton e traduzida por Marcelo Vieira, foi lançada no Brasil pela Estética Torta e, revela muitos detalhes acerca da formação da banda, vida na estrada, atritos pessoais, ascensão e queda nas vendas e demais turbulências as quais o grupo foi submetido ao longo desse tempo. Obviamente que aqui temos a visão de K.K., que relata de forma simples e direta seus 40 anos ao lado de uma das maiores bandas de todos os tempos.

O livro tem uma edição caprichada. Capa dura, com um belo acabamento gráfico, além de um book plate autografado pelo próprio K.K. Outro ponto que também merece destaque é a revisão e tradução realizada por Marcelo, uma vez que a leitura não é nenhum pouco burocrática, tornando-se agradável e fácil de ler. 

Com relação ao conteúdo, o livro traz um apanhado do que foram os 40 anos vividos por K.K. com o Judas Priest (como o próprio título da biografia entrega). Mas também, carrega revelações sobre a vida pessoal do guitarrista, desde sua infância, bastante complicada, seja pelo lado financeiro/econômico, seja pela lado emocional/afetivo. E com o desenrolar da leitura, muitas coisas ficam claras, tendo em vista esse passado. 

Mas falando do Judas, é muito interessante e algumas vezes até mesmo surpreendente como determinadas situações acabaram por moldar aquilo que veio a se tornar uma das marcas registradas do quinteto. É importante salientar que K.K. não esconde nada, relatando seus dissabores com alguns integrantes do grupo de forma simples e direta. Desde o início da banda quando ela era um quarteto e o vocalista era Al Atkins, até sua saída da banda, o guitarrista mostra-se bastante sincero sempre que aborda os mais variados temas aqui presentes.

Alguns pontos acabam ganhando destaque durante a leitura, como a entrada de Rob Halford e Glenn Tipton na banda, os primeiros anos de grupo, quando não havia ainda uma identidade estabelecida, os relacionamentos com empresários, namoradas e a vida na estrada, o constante clima de competitividade entre os guitarristas, o que nem sempre foi algo rum, mas muitas vezes se mostrou algo que deixava K.K. com uma mágoa que não se desfez ao longo dos anos, o sucesso de vendas e estabelecimento da "marca" Judas Priest durante os primeiros dez anos, assim como as tretas com o Iron Maiden, pois não d´pra chamar de amizade o que existe entre as duas bandas, entre tantas outras histórias, como a saída Halford, o disse-me-disse na imprensa após esse fato, a entrada de Ripper Owens (descrito por K.K. como uma das melhores pessoas do mundo), o retorno de Halford ao grupo (que se deu muito mais por motivos financeiros do que por qualquer outra coisa), além, é claro, dos motivos que o levaram a deixar o grupo após uma vida inteira dedicada ao Heavy Metal.

HEAVY DUTY - MINHA VIDA NO JUDAS PRIEST é um relato sincero e honesto sobre a vida de uma das figuras mais emblemáticas e, por que não dizer, esquecidas do estilo, algo que também traz uma certa mágoa por parte de K.K. Um livro que nos mostra um lado da história que, na maioria das vezes, não parece. Parabéns a Estética Torta por colocar no mercado algo de extrema valia para os fãs, não apenas do Judas Priest, mas para os fãs do estilo.

Sergiomar Menezes





sexta-feira, 13 de agosto de 2021

SWITCHBACK - BATENDO DE FRENTE (EP) (2021)

 


SWITCHBACK - BATENDO DE FRENTE (EP) (2021)

Independente

Sabe aquele Hardcore, mas Hardcore mesmo? Meio difícil de encontrar hoje em dia né? Se você também corrobora da mesma opinião que este que vos escreve, dê uma sacada em BATENDO DE FRENTE, novo EP da banda carioca SWITCHBACK! Direto, seco e agressivo como um soco na boca do estomago. Pode parecer um tanto quanto primitiva uma descrição desse tipo, mas a sonoridade apresentada pelo quarteto é digna de nota! Muito bem produzido, o grupo flerta em vários momentos com o Thrash, o que dá uma encorpada ainda maior ao HC da banda. Sem muito papo, como reza a cartilha do estilo, vamos ao que interessa.

Vinny Blanc (vocal), Fabio Lannes (guitarra), Luciano Munhoz (baixo) e Mauro Lopes (bateria), despejam toda fúria e agressividade de sua música em 4 faixas gravadas no Tellus Studio no Rio de Janeiro. Produzido pela própria banda, mixado por Felipe Borges e Caio Mendonça e masterizado por este último, BATENDO DE FRENTE peca em um único quesito a duração! Como relatado anteriormente, o Hardcore da banda encontra momentos de rispidez thrash, de sujeira punk, mas acima de tudo, traz consigo personalidade e identidade, o que fica ainda mais evidente nas letras do quarteto.

A primeira faixa, "Corrosão", que teve seu vídeo divulgado no início de 2021, é um singelo convite à compra de novos móveis pra casa, se você correr o risco de ouví-la sem ter cuidado de estar em um local deserto. Os riffs de Fábio guardam uma proximidade com o Thrash, enquanto a cozinha composta por Luciano e Mauro se encarregam de adicionar a veia Hardcore explícita do grupo. Já o vocal de Vinny tem todas a s características necessárias, pois é direto, intenso e sem "melodia". Ou seja, um soco na cara sem nenhum tipo de defesa! Da mesma forma, "Passa Seu Ego Pra Cá", segue mantendo a aproximação com o Thrash, com passagens mais "limpas". Enquanto isso, Mauro imprime à faixa eu momento britadeira, castigando seu kit sem piedade. Outro ponto que merece destaque é o peso que o grupo repassa, algo raro, pois muitas vezes, o Hardcore acaba priorizando a velocidade em detrimento ao peso, o que acaba tirando um pouco da intensidade das faixas.

E por falar em velocidade, "Pelo Povo, Para o Povo", mostra de forma concisa a face mais HC do grupo. Com um clipe muito bem gravado, a letra da composição é uma espécie de protesto contra os ataques à constituição (que ultimamente vem sendo perpetrados por aqueles que deveriam defendê-la) e que acabam por distorcer o conceito de direito e deveres dos cidadãos. Sem dúvidas, o grande destaque do trabalho! Pra encerrar,  "Bota a Cara, Cuzão", com sua levada Thrash (Exodus, Sepultura) mostrando a versatilidade do grupo, tanto na composição quanto na execução.

BATENDO DE FRENTE é um trabalho que coloca em evidência o nome da SWITCHBACK. Uma pena que acabe de forma tão repentina. Fica aqui uma pergunta: não é o momento de um álbum completo????




quinta-feira, 12 de agosto de 2021

AS THE PALACES BURN - FOR THE WEAK (SINGLE) (2021)

 


AS THE PALACES BURN -  FOR THE WEAK (SINGLE) (2021)

Independente 


Uma da bandas mais promissoras do cenário brasileiro decidiu por "repaginar" sua identidade visual antes do lançamento de seu mais novo álbum, previsto para este segundo semestre de 2021, contando com a produção do renomado Adair Daufembach. A AS THE PALACES BURN sempre foi uma banda que soube, e sabe, onde quer chegar, pois nas conversas que tive com Alyson Garcia, vocalista do grupo, isso sempre ficou bem claro. E, mais uma vez, a banda prova que tem seu caminho muito bem delineado com o single "For the Weak", uma vez que apresenta uma sonoridade mais agressiva, mantendo sua identidade.

O grupo, que sempre se mostrou dono de uma versatilidade e técnica acima a média, traz em "For the Weak", uma pegada mais visceral, pesada, agregando tudo isso à sua sonoridade característica, qual seja, a mistura de Heavy, Thrash e Prog Metal, com vocais que soam ora mais intensos e ríspidos, ora mais melódicos e limpos. O single serve como um "aperitivo" para o que vem por aí, e a julgar pela qualidade aqui apresentada, teremos um álbum, mais uma vez, acima da média. Algo já comum à curta, porém consistente, discografia do grupo.

Sergiomar Menezes



quarta-feira, 11 de agosto de 2021

ORPHANED LAND - UNSUNG PROPHETS & DEAD MESSIAHS (2018)

 

ORPHANED LAND - UNSUNG PROPHETS & DEAD MESSIAHS (2018)

Shinigami Records/Nuclear Blast Records

Banda na atividade desde 1991, passou por várias alterações na sua formação desde que iniciou sob o nome de Resurrection (até 1992), mas sempre manteve o foco máximo da inspiração nas criações para os álbuns. Originada em Tel Aviv (Israel), a banda discorre suas melodias inspirada pela cultura religiosa do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Claro que essa inspiração, algumas vezes, também se dá ao direito de criticar atitudes originadas dessas religiões. Mas o que é inegável é a percepção de todo desse clima mediterrâneo na sonoridade da banda. Muito peso, velocidade, pegada, mas com um semblante de oriente médio nas melodias. Certamente esses elementos não estão juntos pela primeira vez em uma banda, mas cabe dizer que Orphaned Land encontrou o caminho de tornar a mescla desses elementos, originais na sonoridade das suas músicas. 

Assim veio a este mundo o Unsung Prophets & Dead Messiahs (2018). Não é somente mais um  Full-length da banda, o disco é um manancial cultural de onde vertem os mais impressionantes versos fraseados sobre vida e morte, amor e ódio, o possível e o impossível, a relação de amor e ódio entre o permitido e o proibido. Unsung Prophets procede o All is One (2014), que em seu lançamento trouxe igual euforia para o cenário metal. All is One trouxe uma música que falava sobre a mundialmente conhecida, trégua entre os inimigos na noite de Natal, durante a primeira guerra mundial em 1914. Tudo isso para introduzir a grandeza da bolachinha que antecedeu ao Unsung Prophets. E qual não foi a certeza em perceber que o disco de 2018 trouxe uma igual (ou superior) qualidade, emoção e entrosamento da banda. Além disso, Unsung Prophets & Dead Messiahs também conta com um line up de convidados impressionante. Um total de 45 convidados entre vocal convidados, Backing vocalistas e coro (para edição dupla). E muito alinhado com o estilo musical da banda, Orphaned Land não deixa passar batida oportunidade de tecer algumas críticas, em suas músicas, sobre alguns costumes ou a ortodoxia das tradições locais, onde a banda surge. Feita essa apresentação, agora é hora de comentar sobre o disco e suas características. 

Unsung Prophets & Dead Messiahs (2018) vem ao nosso encontro cheio de informação, cheio de cultura e algumas denúncias, como falado anteriormente. Mas não vem só com esses elementos. Também apresenta uma banda completamente coesa, vibrante e sons construídos com melodias inacreditáveis. Ainda que categorizada como uma banda de Doom/Death por alguns veículos, o disco de 2018 também apresenta algumas canções com uma riqueza Folk impressionante. Falaremos adiante. 
O disco abre com “The Cave”, um compendio complexo cursivo sobre a os questionamentos que rondam o credo religioso. E não só do credo religioso de Abraão, se a mente estiver aberta para interpretação, são questionamentos e anseios que podem ser aplicados em qualquer crença religiosa. Palavras da sabedoria, humanismo e humanidade, orquestrados sob uma linda melodia que te transporta ao oriente médio. Sonoridade que te faz sentir o grão de areia na pele, o cheiro da carne de carneiro ao molho de canela, é quase um bólido que te transporta ao deserto. O disco todo segue esse clima de uma grande experiencia de imersão cultural. E se eu tivesse o poder de indicar algumas obras sonoras, ao prêmio de Nobel da paz, certamente Unsung Prophets & Dead Messiahs estaria no topo dessa lista.

“The Cave” recebe o ouvinte com um pouco mais de 8 minutos que passam rápidos demais. A segunda faixa, bem mais curta e com tempo dentro do normal, mergulha o ouvinte no cerne do que a banda sabe fazer. Rápida e cadenciada, “We Do Not Resist” o vocal de Korbi Farhi deixa clara a razão de a banda estar listada entre os gêneros Doom e Death Metal.  A terceira faixa traz o primeiro ponto alto do disco. Chamada de “In Propaganda”, narra muito o estilo de vida dos que se deixam levar pela palavra. Nem sempre isso é um sinal ruim, mas muitas vezes “a palavra” (seja religiosa, da mídia, da sociedade, dos influentes, etc.) conduz o ouvindo por um caminho de cegueira intuitiva. A letra da música traz esse alerta embalada, mais uma vez, por uma melodia construída com muito requinte cultural. 
Yedidi cantada na língua original dos integrantes da banda, toca mais uma vez no lado espiritual da existência. O que, sem dúvida, é uma das características mais marcantes de Israel: 

“Then, upon an orphaned land have I not chased after you?
("Então, em uma terra órfã, eu não te persegui?)

Seir, and Mount Paran, and Sinai, and Sin - my witnesses “
(Seir, e Mount Paran, e Sinai, e pecado - minhas testemunhas")

“Chains Fall to Gravity” desacelera um pouco o ritmo e quase busca referencias em Opeth para se conduzir na execução. Pontuada com alguns elementos do metal progressivo inclusive, é uma música que enriquece a audição do disco. Aqui aparece o primeiro convidado especial, que talvez explique um pouco da presença do progressivo no som. Ninguém mais, ninguém menos que Steve Hackett (ex-Genesis). Falando em convidados, o próximo som do disco retrata outro grande ponto alto do disco. “Like Orpheus” estonteante conta com a participação de Hansi Kursh (Blind Guardian, Demons & Wizards) como vocal convidado. É impressionante como a atmosfera da música se transforma nos contrapontos do vocal metal do Hansi e em momentos que toda magia da ancestralidade dos mouros se faz presente, através do vocal do Kobi Farhi. Se buscares pelo clipe, aviso que talvez possa te encontrar nessas melodias. Conta um pouco sobre a vida dupla de um headbanger. Pessoal “normal” durante o dia, banger a noite. O pano de fundo do som, é essa duplicidade vivida, porém para metaleiros nascidos sob uma cultura enraizada em tradições muito mais antigas. Outra personalidade que aparece, também, é o Tomas Lindberg (AT THE GATES). Ele faz uma participação no som “Only the Dead Have Seen The End of War”, que é pontual e cirúrgica. 

O fato, senhoras e senhores, é que Unsung Prophets & Dead Messiahs é um grande apanhado cultural regional, de um local que emana toda uma aura de mistério religioso (ou pela busca da legitimidade santa ou pelos conflitos violentos dessa busca) e vale cada segundo da audição. Espero que esse texto de faça pensar em ouvir o disco. Falo sem medo de errar: 
- Esse é daqueles discos que agrada, inclusive, quem não curte metal! 

Uillian Vargas




XFEARS - THE FIRST (2021)

 


Xfears - "The First" (2021)

GSC Music

Não apenas técnica apurada, esmero matemático/musical — megalomania criativa ou mostruário de virtuoses;  “The First”, o primeiro registro completo da banda paulista Xfears, é, antes de mais nada, um álbum edificado com emoções fortes, conduzido por sensibilidades e organicamente elegante. Repleto de diferentes texturas, de nuances — relevos e ápices. Riquezas harmônicas e um vasta paleta de melodias habilmente escritas que, tanto conseguem seduzir quanto encantar. Em suma, uma cordilheira de sentimentos numa paisagem que emula com perfeição todas as virtudes e sutilezas do Metal Progressivo.

A Xfears foi fundada em 2002 por Gabriel Carvalho (vocais/teclados), Marcelo Monteiro (guitarras) e Gilmar Cazagrande (guitarras). Em 2004 a banda entrou num hiato que durou 13 longos anos, mas que felizmente findou-se em 2017, quando voltaram e lançaram o fabuloso single “Changes”. Em 2020 o alinhamento da banda foi reconfigurado com a entrada dos músicos; Douglas Polents (bateria) e Ricardo Roque (baixo). Outros singles foram concebidos e eis que finalmente neste mês, eles debutam com uma força natureza, o instigante “The First” (GSC Music).

Com sua concepção sonora creditada a Gabriel Carvalho, o álbum teve seus cursores de estúdio — gravação, mixagem e masterização deixados sob a responsabilidade de Alexandre Dipper (Xstudio); a arte da capa e demais recursos visuais receberam a rubrica do designer Danilo Zacarias.

Antes de adentrar no universo de musical do Xfears, quatro acertos (dentre muitos) que devem ser ressaltados. Primeiro: A produção é o oposto daquilo que o contemporâneo tem oferecido, ela é “viva”, cristalina e volumosa, cada instrumento e timbre, cada relevo e curva do instrumental, e cada camada sonora tem seu espaço e tempo bem definidos. Cada músico tem seu próprio holofote e quando em conjunto tudo é ainda mais intenso e grandioso. Segundo: Apesar de ser um composto fronteado pelo Metal Progressivo, o repertório desenvolve-se além do que o rótulo, por vezes, define. Ou seja, o Prog segue como norte do trabalho (o cardeal mestre), mas linhas de Heavy e de Power Metal tradicional o abrilhantam (como pontos colaterais). Terceiro: A habilidade do quinteto em transmutar estruturas convencionalmente complexas em algo acessível, ainda pesadas e intrincadas, mas de fácil “digestão”. Quarto: A não necessidade de preenchimento absoluto. O disco comporta 09 faixas de tempo razoável. Uma curta introdução intitulada “Xfears”; que serve para ambientar a narrativa e um interlúdio; “Prelude To Pain” (que prepara terreno para a maior malha do trabalho “The Worst Pain”). As demais 07 extrações transitam entre 04 e 06 minutos — sucintas, mas coesas e devidamente detalhadas; sem ausências ou excessos.

“Take Control” esbanja feeling e técnica, com grande enfase  no desenvolver das guitarras (riffs, edificações melódicas e solos); nas linhas de bateria que foram maravilhosamente caligrafadas — e são mutáveis conforme a progressão da música, e nos teclados, que tanto fazem fundo quanto adorno. “Hell Is Here” é uma verdadeira ode ao Prog Metal, com incríveis mudanças de ritmo, elegantes transições e um refrão evocativo (candidata a hino da banda). “No Regrets” amalgama elementos das anteriores, porém, mais enérgica e com as guitarras protagonizando o espetáculo. Num disco onde a emoção é a aorta, uma balada se faz mais que obrigatória e “I See” atende essa necessidade. Teclas delicadas, guitarras que seduzem tanto em suas elevações quanto no solo (se o Progressivo não tem alma, que alguém me explique essa música, por favor). Gabriel Carvalho não apenas canta e dá vida aos sentimentos da canção, ele se torna a canção (proeza que poucos conseguem, acredite). “Endeavour” vai do esmero do supracitado Prog até o Metal em suas formas mais tradicionais — sensacional!

Uma homenagem ao imortal Nevermore e ao também imortal Warrel Dane acontece na sétima faixa, trata-se de um cover digníssimo para a belíssima “Believe In Nothing” (décima faixa da obra-prima “Dead Heart In A Dead World” — 2000). E verdade seja dita, tocar Nevermore, ainda que seja uma de suas baladas nunca será uma tarefa simples, cantar as letras imortalizadas pelo Warrel menos ainda. Sua voz, sua interpretação e sua força eram únicas e irreplicáveis. “The Worst Pain” encerra nossa digressão pela pintura em movimento que é “The First”. Todos os predicados encontrados e enumerados durante toda a audição são novamente expostos e intensificados nela. Um fim épico à altura de tudo que revelado durante todo o disco.

O Xfears é um achado e um acréscimo valoroso para o Metal brasileiro; “The First” é forte, inteligente e coeso. Um álbum marcante e inundado de criatividade, que não pode de modo algum ficar restrito apenas a um nicho de fãs (música de qualidade transgride estilos, gêneros e rótulos). O Xfears merece ser conhecido não apenas por sua habilidade, mas também pela emoção com a qual confecciona sua arte, emoção essa que se torna cada vez mais rara atualmente (ouve-se rápido e esquece-se mais rápido ainda.

Fábio Miloch




terça-feira, 10 de agosto de 2021

HEAVY SMASHER - HEAVY SMASHER (2021)

 



HEAVY SMASHER - HEAVY SMASHER

Roadie Metal - 2021


Antes mesmo de ouvir o álbum de estréia do quinteto cearense HEAVY SMASHER, que traz consigo uma década de bagagem, é impossível não simpatizar e nutrir uma expectativa acima da média pelo trabalho. Afinal, entre as influências do grupo estão Judas Priest, Iron Maiden, Dio, Black Sabbath e Accept. Ou seja, Heavy metal em seu estado mais puro. E é exatamente essa fórmula que encontramos já nos primeiros segundos de audição. Nada de invencionices, barulhinhos, ou outras modernidades que são utilizadas ultimamente para encobrir a falta de talento. Riffs tipicamente trazidos dos gloriosos anos 80, mas com uma roupagem atual, peso, e o mais importante, paixão pelo que se faz. Sim, de nada adianta a técnica se o que é feito não vem do coração, da alma. E o HEAVY SMASHER tem essa dedicação muito explícita. Se você tem alguma dúvida, escute e depois me diga!

Formado por Nildo Gomes (vocal), Nando Smasher (guitarra), Diego Quântico (guitarra), Luís Paulo (baixo) e Bruno Rocha (bateria) o grupo iniciou as gravações do trabalho em setembro de 2018 e conclui em abril de 2021. Para muitos pode parecer um longo período de tempo, mas só quem conhece as dificuldades de se fazer Heavy Metal no país do samba e sertanejo, sabe bem como é. Gravado em Fortaleza, no VTM Studio, com produção, masterização e mixagem de Taumaturgo Moura, o álbum traz nove faixas, sendo cinco delas inéditas e quatro regravações de "Smasher and Loud", EP lançado em 2018. Um ponto que é importante ser destacado é que este é o primeiro trabalho desta formação. Outro ponto que também merece distinção é a produção. Encorpada, pesada e até certo ponto cristalina, garantiu que a musicalidade de cada integrante, e por consequência, do grupo, ganhasse ainda mais visibilidade. 

"We Are Angels" abre o trabalho com aquela cara Judas/Accept que todo verdadeiro fã de metal esperava ouvir em um álbum do estilo. As guitarras muito bem timbradas ganham o peso da cozinha, pois Luís Paulo e Bruno (baixo e bateria respectivamente) sentam a mão de forma concisa. O vocal de Nildo também possui um timbre interessante, pois traz um consigo uma similaridade com o do grande Matt Barlow (Iced Earth), mas com personalidade. Escolha muito bem acertada para a abertura, uma vez que a faixa seguinte, "Heavy Smasher Sound" é mais cadenciada, mas nem por isso menos empolgante. Com uma levada Hard/Heav, a composição é dona de um refrão que não sai da cabeça após a primeira audição. Nando e Diego mostram um bom entrosamento, o que reforça a veia mais oitentista da faixa, que faz parte do EP de estréia do quinteto. Na sequência, "Sunrise Rebels", outra composição do EP "Smasher and Loud" mantém a pegada Hard/Heavy da faixa anterior.

"Clash of the Gods" traz consigo aqueles riffs cavalgados, mas possui uma pegada mais atual, destoando um pouco da linha que vinha sendo abordada nas faixas anteriores. Também presente no EP, a música tem um solo inspirado, mas fica pouco aquém daquilo que a precedeu. A coisa muda de figura com "FireFight", uma pedrada cheia de guitarras bem NWOBHM, onde a banda mostra que fazer Heavy Metalé pra quem conhecimento de causa. Sem dúvidas, um dos destaques do álbum, apesar de alguns pequenos deslizes/exageros vocais em alguns momentos. E tome riffs e solos cheios de referências aos ícones Downing/Tipton, Murray/Smith, Hoffman/Frank em "Face Up Reality". Ainda que em alguns momentos surjam nuances mais atuais durante a execução da faixa, restam evidentes as influência dos mestres das guitarras.

E tome peso e andamento cadenciado em "Into the Abyss", que tem seu destaque nos solos inspirados, além de mostrar a veia mais atual da cozinha, que demostra também excelente entrosamento e coesão. "Screaming All", última faixa presente no EP de estréia, deve ter sido composta com a intenção de fazer o público cantar junto dos shows. Não há outra explicação! Jeitão de "hino", com pegada pesada e típica, também merece ser citada como um dos destaques de um álbum bastante regular. O encerramento vem com "To Be Strong", que me trouxe a mente a fase Jugulator/Demolition do Judas. Com peso e uma levada mais moderna, em alguns momentos até a voz de Nildo me remeteu a de Ripper Owens, o que, de forma alguma, causa demérito á faixa. Muito pelo contrário, afinal, estamos falando de uma das maiores bandas de todos os tempos, e, conforme o róprio release do grupo, uma das grandes influências do quinteto.

HEAVY SMASHER é um belo álbum de HEAVY METAL. Dono de todos os ingredientes que se buscam quando se fala no estilo, o trabalho vai agradar em cheio todo fã que conhece  e sabe apreciar o que de melhor o Metal nos proporciona. 

Sergiomar Menezes