quarta-feira, 30 de agosto de 2023

TORTURE SQUAD - DEVILISH (2023)


TORTURE SQUAD
DEVILISH
Time to Kill Records

São quase três décadas mostrando ao mundo o poder e a brutalidade do thrash/death metal brasileiro. Durante esse período, o TORTURE SQUAD, não apenas consolidou sua carreira, como tornou-se uma das mais importantes bandas nacionais dentro e fora do país. Qualidade e técnica não faltam ao grupo, no entanto, esses são apenas dois dos ingredientes que tornam a banda uma das mais relevantes do nosso cenário. A capacidade de se reinventar, de buscar o aprimoramento e fazer sempre aquilo que querem sem se limitar às imposições do mercado, fazem do quarteto tudo aquilo que se espera de uma banda do estilo: uma máquina de moer ossos e estourar tímpanos mais sensíveis. E a prova concreta disso é DEVILISH, novo trabalho do grupo, que sai pela Time to Kill Records.

Mayara "Undead" Puertas (vocal), Rene Simionato (guitarra), Castor (baixo) e Amílcar Christófaro (bateria), após o sucesso na participação do Rock in Rio em 2019 (durante a composição deste trabalho), tiveram uma bem sucedida turnê pela América Central, passando por México, Honduras, El Salvador e Guatemala, tendo como destaque o show no Mexico Metal Fest, no qual o Torture Squad foi um dos headliners. Já em 2021, o grupo comemorou os 20 anos do aclamado "The Unholy Spell", um dos álbuns mais apreciados pelos fãs do grupo, tocando o trabalho na íntegra. E antes de fechar 2022 com chave de ouro em um show com a lenda do thrash metal EXODUS, o grupo colocou no mercado "Torture at La Iglesia en Vivo", gravado na já famosa casa paulista. Tudo isso serviu de preparação par o novo álbum, produzido pela própria banda, em parceria com Diego Rocha (também responsável pela mixagem, enquanto a masterização ficou com Martin Fury (guitarrista do Destruction). A capa é mais uma bela obra do mestre Marcelo Vasco, uma referência dentro do metal internacional. Mas toda essa preparação e produção não adiantaria de nada se o álbum não correspondesse às expectativas que sempre rondam os lançamentos do grupo. E posso afirmar, com a mais absoluta certeza, que mais uma vez, o TS superou todas as expectativas!

"Hell is Coming" inicia o álbum de uma forma inesperado, com uma pequena introdução ao violão que antecede o peso e brutalidade já habituais do grupo. Mayara usa sua voz de forma consistente, explorando momentos mais diversificados, enquanto Rene despeja riffs agressivos. O que falar de uma das cozinhas mais pesadas e e entrosadas do metal nacional? Amílcar e Castor (bateria e baixo) sentam a mão, garantindo uma sessão rítmica intensa. As "quebradas" existentes na faixa mostram bem a versatilidade do grupo que navega com a maior facilidade entre o thrash e o death, enquanto os solos, por vezes nos remetem ao metal tradicional. "Fukeman", é uma faixa mais tipicamente Torture Squad, com aquela pegada característica do quarteto, com momentos mais densos e lentos, criando uma atmosfera mais pesada que o habitual. Na sequência, um dos grandes destaques do álbum: "Buried Alive", faixa que conta com a participação de Andreas Kisser (Sepultura). Mais do que uma participação, a banda faz uma homenagem a um dos grandes heróis do metal brasileiro, numa música repleta de riffs matadores e ótima performance de Mayara. Já "Warrior" traz uma pegada "Hard/Heavy" e é uma uma homenagem a Rickson Gracie, o resiliente lutador de Jiu Jitsu considerado uma das maiores lendas do esporte mundialmente. o timbre da guitarra é contagiante! O peso descomunal de "Sanctuary" vem em seguida, numa das melhores performances de Amílcar no álbum. Impossível passar incólume ao que essa cara faz na bateria. uma pedrada que deve e merece constar nos setlists do shows que vem por aí! 

"Uamatã" é outro grande momento do álbum. O que dizer de um encontro que reúne Vitor Rodrigues (Tribal Scream e ex-Torture Squad), Suzase Hecate (Miasthenia) e João Luiz (Golpe de Estado)? Trazendo músicos ligados à defesa da causa indígena, a banda faz um apelo (em português e inglês) pela preservação da Amazônia, inserindo falas do indígena Raoni Metuktire e ritmos tribais. "Thoth", retorna às raízes da banda, com momentos mais velozes e dinâmicos, enquanto podemos perceber pitadas de prog metal em algumas passagens, ainda que muito tímidas. "Mabus", single disponibilizado antes do lançamento do álbum, é Torture Squad puro, sem concessões, trazendo o bom e velho thrash/death do grupo, numa linha bem tênue entre os dois estilos. Um momento bastante introspectivo surge em "Find My Way". A voz limpa de Mayara e a atmosfera quase gótica da faixa, nos remetem à bandas como Sisters of Mercy, Depeche Mode, entre outras, com o diferencial trazido por Rene nas seis cordas, criando um clima intimista e soturno."Gaia" traz referências à ritmos regionais e é interessante, pois surge como um momento mais suave e calmo durante a execução de um petardo. Rene, mais uma vez, mostra sua técnica e feeling quando o assunto é entrega à composição. Em seguida, "A Farewell to Mankind" vem com uma pegada mais ligada ao death metal enquanto que o encerramento com "The Last Journey", é praticamente uma "outro", que fecha esse belo trabalho do grupo de forma consistente.

Em seu segundo álbum com a atual formação, o TORTURE SQUAD transcende o som do metal extremo com maturidade, incorporando metal progressivo, influências da música brasileira e elementos sinfônicos em sua sonoridade. Uma banda que não fica estagnada, usufruindo de sua zona do conforto. Isso é muito mais que um diferencial, e sim, uma marca registrada do quarteto. DEVILISH sai oficialmente na segunda quinzena de setembro. Ouça alto e  sem medo. The Torture Never Stops!

Sergiomar Menezes




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