domingo, 8 de julho de 2018

ANGRA - OMNI (2018)



             Antes de mais nada uma coisa precisa ficar clara: o último álbum do ANGRA que eu realmente curti foi "Temple of Shadows" (2004). Depois disso, ao menos para mim, a banda se tornou repetitiva e sem aquela pegada característica que sempre norteou sua carreia. Não que seu trabalhos que vieram na sequência fossem álbuns ruins. Em se tratando da banda, isso é algo muito difícil. Mas "Aurora Consurgens"(2006), "Aqua"(2010 - e na opinião deste que vos escreve, o trabalho mais fraco na discografia do grupo) e "Secret Garden" (2014), apesar de alguns bons momentos, não refletiam ou traduziam aquilo que  a banda poderia e pode oferecer. Mas eis que, após a saída de Kiko Loureiro (que foi ara o Megadeth), a banda parece ter "renascido" e traz agora, em 2018, seu mais consistente  e pesado trabalho desde o já citado "Temple of Shadows". OMNI, lançado por aqui pela Shinigami Records é sem dúvidas, um disco para ser ouvido com atenção e, uma vez feito isso, teremos a certeza de que a banda está de volta a um período criativo de enorme qualidade e relevância.

                  Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt (guitarra e vocal), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) gravaram este ótimo trabalho no Fascination Street Studios na Suécia, sob a produção de Jens Brogen, responsável também pela produção do álbum anterior. Jens também teve sob seu comando a mixagem do trabalho enquanto a masterização foi feita por Tony Lindgren. E, mais uma vez, como em quase todos os álbuns do grupo, tudo ficou milimetricamente no lugar. Se em um primeiro momento isso pode soar artificial, essa afirmação não se confirma, tendo em vista a complexidade das músicas e  arranjos criados pleo grupo. Cristalina e  ao mesmo tempo pesada, a produção soube deixar tudo no lugar certo, dando ao trabalho uma qualidade ainda maior. Já a capa traz a assinatura de Daniel Martin Diaz, sendo que o layout ficou a cargo de Gustavo Sazes. Com relação ao conceito do álbum, em muitas entrevistas Rafael deixou claro que se trata de uma reflexão sobre um sistema de cognição humana chamado OMNI, que mudaria a maneira de pensar e enxergar a realidade, algo na qual o guitarrista vinha trabalhando a cerca de 6 anos. 

                   Logo na primeira faixa, "Light of Transcendence" temos, pelo menos na opinião deste que vos escreve, a volta daquele Angra "clássico", melódico e ao mesmo tempo pesado e intenso. Dona de um refrão "tipicamente Angra", a música traz as características da banda e uma ótima performance de Fabio Lione. O que, diga-se de passagem, não é nenhuma novidade. Mas preciso confessar que ainda é um pouco difícil ouvir sua voz nas músicas antigas do grupo. Mas o experiente e talentoso vocalista mostra que está mais do que adaptado ao estilo da banda e cria linhas vocais muito boas. Já "Travelers of Time" tem aquela inserção de ritmos brasileiros tão inerentes á sonoridade da banda. Surgida de um riff criado pelo guitarrista Marcelo Barbosa. e aqui vai uma constatação: o guitarrista acrescentou muito à banda, pois além de ótimo músico, Marcelo participou da composição de boa parte das faixas, imprimindo sua personalidade d e forma bem consistente. Pesada, a música é um dos inúmeros destaques do álbum. Então, na sequência temos a faixa que, antes de seu lançamento gerou certa polêmica e algumas discussões. "Black Window's Web" traz a participação de Alissa White-Glutz (Arch Enemy) e Sandy. E, longe de todas as discussões (desnecessárias, que fique bem claro), a faixa é uma das melhores, se não a melhor do álbum! A participação de Sandy, pequena e que poderia até mesmo ter sido melhor explorada, não faz muita diferença no resultado final. O destaque fica entre o contraste da voz de Lione  e Alissa, que canta de forma extremamente brutal aqui. Em seguida, "Insania", uma faixa mais próxima dos últimos trabalhos do grupo, mas dona de uma bela melodia e de um refrão grudento como só o grupo sabe fazer dentro do metal melódico. A dupla Felipe e Bruno apresenta aqui um grande trabalho. Pesada e bastante técnica, a dupla é o destaque da composição. "The Bottom of My Soul" tem os vocais de Rafael Bittencourt e é uma das faixas que fogem um pouco do que o grupo apresenta no restante do álbum. Praticamente uma balada, a faixa traz um solo muito inspirado e um linha de teclado muito bem executada por Alessio Lucatti.

                 O peso reina absoluto em "War Horns". Como é bom ouvir o metal melódico do Angra dessa forma, inserindo o peso dentro do contexto, sem soar forçado. A faixa conta ainda com a participação de Kiko Loureiro. Uma das faixas mais rápidas, a música é daquelas que não podem faltar nos shows desta turnê. A modernidade e brasilidade do grupo se aliam na ótima "Caveman". Com algumas partes cantadas em português pelo coral (não tem como não lembrar de "Carolina IV", presente em "Holy Land" - 1996). Já "Magic Mirror" é uma faixa grandiosa. Guitarras fantásticas, pesadas, mas que trazem consigo uma influência de world music, que acaba sendo incorporada na faixa de uma forma tão consistente que chega até mesmo a emocionar quem era (e ainda é) fã da banda. isso mostra mais uma vez que o grupo pode ser versátil sem ser burocrático. faixa para ser ouvida inúmeras vezes, pois seu arranjo é algo que expõe toda a criatividade do grupo ( a faixa leva a assinatura dos cinco integrantes). Lione mostra em "Always More" porque é um dos maiores e melhores vocalistas do metal na atualidade. O italiano consegue cantar de forma suave e limpa de uma maneira cativante, da mesma forma que se impõe na hora de soltar o gogó em favor do heavy metal. E aqui cabe um comentário bem particular: sua entrada na banda abriu uma gama maior de possibilidades ao grupo, uma vez que o vocalista canta músicas de todas as fases da banda sem qualquer tipo de problema. "Omni - Silence Inside" é uma faixa de extremo bom gosto. Poderia ser classificada como uma mistura entre o Angra fez em "Holy Land" e "Temple of Shadows". Dona de complexidade e beleza ímpares, temos peso, variação e um trabalho de guitarras fantástico, mostrando o ótimo entrosamento da dupla Rafael e Marcelo. O encerramento vem com a instrumental "Omni- Infinite Nothing", que contou com a orquestração e arranjos de Ronaldo "cordas" Oliveira.

                   Não tenho nenhuma dúvida nem receio em afirmar aqui que OMNI é um dos principais trabalhos da vitoriosa carreira do ANGRA. Pesado, melódico, bem trabalhado e recheado de ótimas composições, o nono álbum de estúdio do grupo, retoma, de certa forma, a ousadia e criatividade que sempre estiveram presentes nos trabalhos do grupo. Se temos dois álbuns fundamentais da fase André Matos ("Angels Cry" - 1993 e "Holy Land" - 1996), bem como na fase Edu Falaschi ("Rebirth" - 2001 e "Temple of Shadows" - 2004), já podemos dizer que a fase Fabio Lione tem seu álbum pertencente a este círculo. Que o grupo mantenha essa pegada e siga nos presenteando com  mais álbuns fortes e intensos como OMNI. Sem dúvida, um dos discos do ano de 2018.





                     Sergiomar Menezes

Nenhum comentário:

Postar um comentário