Houve uma época em que os álbuns tributo fervilham no mercado. A cada três meses, saíam os mais variados tributos por diversas gravadoras. Alguns eram excelentes, outros nem tanto. Alguns eram verdadeiros caça-niqueis (alguém por aí lembrou de Nativity in Black II?), porque, ao menos na minha visão, tributo é quando uma banda ou artista resolve homenagear alguém que o influenciou. E isso nem sempre acontecia neste trabalhos lançados lá atrás. Mas, recentemente, a Secret Service Records tomou a iniciativa de reunir bandas brasileiras para homenagear grandes ícones do metal mundial. Tudo começou como tributo ao Motorhead. E agora, a gravadora solta este espetacular SABBATH BRAZIL SABBATH - THE BRAZILIAN TRIBUTE TO BLACK SABBATH, onde grandes bandas nacionais mostram que apesar dos estilos bem diferentes, todas trazem consigo toda a inspiração que Ozzy, Iommi, Butler, Ward, Dio, Martin, Gillan, Hughes (entre outros músicos que passaram pelo grupo), uma vez que todas as fases do BLACK SABBATH foram lembradas aqui. TODAS. Inclusive, o mais recente e último (?) trabalho, o excelente 13 (2013).
Como citado logo acima, temos aqui, um verdadeiro quem é quem no metal nacional. Desde nomes lendários e consagrados, até nomes já bem estabelecidos, mas que não possuem ainda uma grande visibilidade por parte dos bangers brasileiros. Soou contraditório o que eu disse? O que posso dizer de bandas que já possuem uma discografia bem consistente mas que acabam não obtendo reconhecimento por parte do público? Bom, mas isso não é assunto para esse momento. SABBATH BRAZIL SABBATH é um trabalho muito bem desenvolvido. Desde a arte gráfica, formato (CD Duplo), passando pela qualidade sonora (que conseguiu algo bastante raro neste tipo de álbum, uma vez que temos 30 gravações realizadas em estúdios diferentes, com produções diferentes), que ficou sob a responsabilidade de Sebástian Carsin , temos aqui, o melhor tributo aos mestres do heavy metal já lançado. E não tenho nenhum receio em dizer isso!
O CD 01 abre com a banda cearense Obskure, que consegue imprimir sua personalidade na clássica "The Wizard" (Black Sabbath - 1970). O death metal do grupo surge de forma imponente durante a execução da faixa, mostrando que não precisa fugir de suas características para se fazer uma homenagem digna de nota. Na sequência, uma das lendas do thrash metal nacional, a banda gaúcha Leviaethan, um dos grandes destaques do álbum com outro grande clássico do quarteto inglês. "Children of the Grave" (Master of Reality - 1971) ganhou uma dose extra de peso através da banda. "Heaven in Black" (TYR - 1990), ganhou uma versão correta e cheia de garra do grupo paulista Tailgunners. Já o Genocídio, outra lenda do metal brasileiro mostrou que o Sabbath corre nas veias dos músicos. "Tomorrow's Dream" (Vol.4 -1972) ganhou uma aura soturna, muito próxima da sonoridade que consagrou o grupo brasileiro. Já os mineiros da Uganga trazem a primeira da fase Dio. "Voodoo" (Mob Rules - 1981) foge das características habituais do grupo, que pratica um thrash/crossover visceral em sua carreira e que aqui, soube transformar toda sua agressividade em passagens carregadas de feeling numa excelente interpretação do vocalista Manu Henriques. "Sabbra Cadabra" (Sabbath Bloody Sabbath - 1973) ganhou uma bela versão das mãos do Ancesttral, uma das melhores bandas brasileiras da atualidade. Se o grupo pratica um thrash meoderno e direto em seu trabalho, aqui o quarteto incorporou a atmosfera do Black Sabbath de forma bem consistente. Os catarinenses do Orquídea Negra honram de forma ímpar "Heaven and Hell" (Heaven and Hell - 1980), que na opinião deste que vos escreve, é o maior clássico do Black Sabbath. Ótima versão!
O death metal do grupo paulista Chemical Disaster é substituído pelo doom metal em uma versão pesada e insana de "Iron Man" (Paranoid - 1970). Os paulistas do Hellish War incorporam uma dose generosa de Hard Rock ao seu Heavy metal tradicional e mandam ver em uma versão muito interessante de "Get a Grip" (Forbidden - 1995). A fase Ian Gillan surge com "Digital Bitch" (Born Again - 1983) através do grupo de Minas gerais For Bella Spanka, que eu ainda não conhecia. O Gothic Rock/Metal do grupo foi adicionado à faixa de forma sutil, deixando a versão com um cara bem própria. "Supernaut" (Vol.4 - 1972) foi revisitado de forma sublime pelo grupo paulista King Bird, que "cometeu" uma das melhores versões do tributo. O classic/hard rock do grupo caiu como uma luva em uma das melhores músicas do Sabbath. A banda carioca Syren, do vocalista Luiz Syren, traz uma versão de "Black Moon" (The Eternal Idol - 1987), cujo destaque é a grande interpretação de Luiz. Então, uma das maiores instituições do metal brasileiro dá as caras com uma versão excepcional de "Neon Knights" (Heaven And Hell - 1980). Dizer o quê sobre o Korzus? Simplesmente destruidor em uma versão cheia de personalidade, peso e paixão pelo metal! A gaúcha Panic traz uma versão completamente diferente de "I" (Dehumanizer - 1992), deixando claro sua identidade thrash metal na execução da clássica composição. O primeiro CD fecha com a banda baiana Malefactor que traz "War Pigs" (Paranois - 1970), que não deixa nada a dever para tantas versões que surgiram por aí...
O CD 02 abre com o grupo Silver Mammoth que com seu rock clássico, faz uma bela e pesada versão de "Symptom of the Universe" (Sabotage - 1975). O Taurus, outra lenda do metal nacional, traz uma versão de "Cornucopia" (Vol.4 - 1972), onde a veia thrash do grupo paulista fica bem latente, uma vez que as guitarras acrescentam uma dose generosa de peso na execução da faixa. "Mob Rules" (Mob Rules - 1981), outra pérola da era Dio, ganhou uma versão muito foda nas mãos do veterano grupo paulista de thrash MX. E o bacana em muitas versões aqui é aquilo que escrevi anteriormente. Mesmo que muitas versões tenham ficado semelhantes às originais, as que mais se destacam são aquelas em que as bandas deixaram suas características nortearem o andamento da composição. E esse é um desses casos. "In For The Kill" (Seventh Star - 1986) traz a fase "Black Sabbath Featuring Tony Iommi", na presença do gruo de death metal Vulture, que também traz uma interpretação bem pessoal em sua execução. O grupo baiano Headhunter D.C. apresenta uma versão de "Electric Funeral" (Paranoid - 1970) bastante modificada, completamente inserida dentro de sua sonoridade. Já o Drowned mostra que tem personalidade e coragem ao trazer uma versão da clássica "Sabbath Bloody Sabbath" pesada, com seus vocais tipicamente death metal, até mesmo na parte acústica da faixa. O metal tradicional do grupo catarinense Steel Warrior vem para apresentar "The Shinning" (The Eternal Idol - 1987), uma das melhores faixas da fase Tony Martin. O thrash dos paranaenses do Jailor se faz presente com "After Forever" (Master of Reality - 1971). Apesar da comparação inevitável com a versão destruidora do Biohazard presente em Nativity in Black (1994), podemos dizer que a versão do gruo brasileiro tem personalidade e aquela pegada que só as bandas de thrash conseguem imprimir em suas composições.
O Anthares, outro nome lendário do cenário nacional, comparece com uma bela versão para "Hole in the Sky" (Sabotage - 1975). "TV Crimes" surge através do Voodoopriest. E mais uma vez, temos uma interpretação bem pessoal por parte do grupo, recriando algumas passagens, de forma que se encaixasse em sua sonoridade. Já o grupo Attrachtha agregou o peso de seu heavy metal à sua sonoridade mais Hard n' Heavy e fez de N.I.B. (Black Sabbath - 1970) um outro grande momento deste homogêneo trabalho. E o representante do Symphonic Metal no tributo, o grupo carioca Revengin traz "Headless Cross" (Headless Cross - 1984). E a bela voz da soprano Bruna Rocha deu uma nova cara á composição. E os veteranos mineiros do Sextrash trazem uma das grandes e belas surpresas do álbum. Trata-se de "Loner"(13 - 2013), faixa do mais recente e último (?) álbum dos mestres supremos do Heavy Metal. Próxima da versão original, aqui a faixa ganhou uma dose extra de "sujeira" deixando a composição com cara dos mineiros. "Psychophobia" (Cross Purposes - 1994) ganhou uma interpretação raivosa e agressiva por parte do grupo mineiro Aneurose. O encerramento vem com o "clássico dos clássicos". "Paranoid" (Paranoid - 1970) interpretada pelo Demons of Nox ( na verdade, trata-se do grupo Colblood, que por questões judiciais não pôde usar o nome), ganhou vocais guturais que deixaram o clima de encerramento ainda mais agressivo e pesado.
SABBATH BRAZIL SABBATH - THE BRAZILIAN TRIBUTE TO BLACK SABBATH cumpre sua proposta de forma grandiosa. Não apenas traz bandas brasileiras homenageando a maior banda de Heavy metal da história, como, na opinião deste que vos escreve, vem a ser o mais completo e elaborado tributo ao Black Sabbath já realizado. parabéns a Secret Service Records que soube valorizar o metal brasileiro de forma respeitosa e exemplar. Que venham mais tributos com essa qualidade!
Sergiomar Menezes
Resenha perfeita!
ResponderExcluirParabéns, Sergiomar, sou seu fã.