quarta-feira, 23 de novembro de 2022

MEDJAY - CLEOPATRA VII (2022)

 


MEDJAY - CLEOPATRA VII (2022)
MS Metal Records - Nacional

Uma das coisas que mais me impressionam no meio do metal nacional é a quantidade de bandas muito acima da média que temos por aqui e que não sabemos valorizar. Muitas vezes, acabamos por dar preferência à bandas gringas que não possuem metade da qualidade dos grupos nacionais, apenas pelo fato destas serem internacionais. Alguns diriam que isso é o famoso "complexo de vira latas", que nos faz sempre valorizar mais o que não é nosso. Mas eu, particularmente, acredito que é falta de vontade, preguiça ou qualquer outro nome que se queira dar pra esse tipo de atitude. A verdade é que já passou da hora de darmos o devido valor ao que se faz aqui e não esperar que tais bandas ganhem primeiro destaque lá fora. E uma das bandas que merece, e muito, essa valorização é a mineira MEDJAY. O nível de excelência do grupo não deve absolutamente nada a muitas bandas de fora. Esse fato fica ainda mais evidente em CLEOPATRA VII, segundo e mais recente trabalho do grupo que tem lançamento na Europa pela DyMM M&M e que saiu por aqui, pela MS Metal Agency.

O grupo, que iniciou suas atividades em 2018, é formado por Phil Lima (vocal e guitarra), Freddy Daniels (guitarra), Samuka (baixo), Riccardo Linassi (bateria) e Marco Herrera (percussão) nos apresenta um trabalho que mergulha na cultura e religiosidade do antigo Egito, trazendo em seu conceito, uma reflexão sobre a verdadeira Cleópatra, a última rainha do Egito. Produzido durante a pandemia, o álbum traz 12 faixas que contaram com a produção e orquestração de Tiago Della vega e direção vocal de Guilherme de Siervi. Para abrilhantar ainda mais o belo trabalho, o grupo contou com algumas participações especiais como de Mayara Puertas (Torture Squad), Oula Al Saghir, cantora Sírio-Palestina e Mafra, uma cantora de apenas 15 anos. A sonoridade do grupo viaja entre um power metal muito bem executado e linhas de musicalidade árabe, com orquestrações que nos remetem diretamente aos tempos dos Faraós. Ainda, é impossível não destacar o capricho e esmero que o grupo teve com a arte gráfica criada por Romulo Dias.

"Stargate" abre o álbum e é uma introdução que nos convida a adentrar esse mundo misterioso e rico em detalhes que é a cultura egípcia. Na sequência "Shemag in Blood" traz uma bela mistura entre o metal tradicional e música árabe, com orquestrações e corais que criam um clima perfeito para a faixa. As guitarras se destacam, com ótimos riffs, que grudam na cabeça, mostrando a veia melódica da banda. O peso não fica para trás, como podemos perceber em "Warrior People", um heavy metal intenso, com uma atmosfera típica, embalado por vocais muito bem construídos por Phil Lima, que possui um timbre bem peculiar, indo do mais tradicional até o mais melódico. O solo da faixa traz essa veia mais melódica do grupo. "Mask of Anubis", mais cadenciada, é aquela faixa densa e dona de linhas mais pesadas, ainda que o grupo insira de forma consistente orquestrações que elevam o nível da composição. Assim como em "Osiris e Seth", que deixa a mostra que a cozinha composta por Samuka e Ricardo não estão pra brincadeira quando decidem criar estruturas fortes e pesadas. Outra vez, os solos melódicos se encaixam perfeitamente na faixa. Podemos destacar o cuidado com os arranjos, que foram criados e executados com perfeição.

Já a faixa título merece um destaque a parte. A composição é uma obra de arte, executada pela banda com técnica, mas acima de tudo, sentimento e envolvimento. Viajando por diversos estilos, com variações que comprovam a versatilidade do grupo, "Cleopatra VII" é uma faixa que deve demandar a banda uma grande dedicação para sua execução ao vivo, principalmente com Phil fica "a sós" com o piano, logo após os riffs dele próprio e de Freddy mostrarem que o Heavy metal está ali. Parabéns ao grupo pela criatividade nessa bela composição!

"Magic of Isis" traz a participação de Oula Al Saghir e é uma faixa com clima árabe e tem um belo dueto entre a cantora Sírio-Palestina e Phil Lima. E por falar em participações, Mayara Puertas, vocalista do torture Squad, é a convidada em "Sarcophagus", que por sinal, é um dos momentos mais pesados e intensos do álbum. As participações especiais se encerram com a cantora Mafra, de apenas 15 anos, que empresta sua bela voz para "Ankhesenamon" e, confesso que me veio à mente o filme "A Múmia", estrelado por Brendan Fraser... hehehe... O peso volta, com melodias orientais em "Book of the Dead" enquanto "Return to Medjay" traz de volta as características power metal do grupo. "The Boat of Rá" encerra esse belo trabalho, de forma consistente, numa marcha que nos faz querer voltar ao início do trabalho.

CLEOPATRA VII é um álbum cheio de detalhes que merece ser ouvido muitas vezes para que se perceba cada um deles. Mas na primeira audição, fica a certeza: estamos diante de um grande disco de HEAVY METAL! O Brasil segue sendo um dos maiores nomes do metal mundial e a MEDJAY integra esse rol com o devido merecimento. Falta só o público brasileiro aprender que aqui temos bandas fantásticas. Aliás, passou da hora...

Sergiomar Menezes



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