DARK SARAH - ATTACK OF ORYM
Riena Productions - Importado
Sejamos todos francos – aos menos os adictos e amantes de heavy metal sinfônico finlandês – mas uma realidade esgueira-se sempre na mentalidade do estilo: bandas com vocais femininos, temáticas góticas, teclados (fundamentais!) como condutores das músicas e instrumentais épicos com refrãos emotivos. Desde o Nightwish – epítome do gênero - essa tem servido praticamente como uma fórmula, quase um clichê - ao menos em um eixo padrão de comparação – para se fazer heavy metal melódico pelas terras escandinavas.
Ao ouvir o novo álbum da – também banda finlandesa de metal sinfônico com vocais femininos, teclados e temáticas góticas e tudo aquilo mais que vocês já pressupõem – DARK SARAH, estamos sim, diante de mais um clichê do gênero. Ainda assim, seguindo nesse movimento de previsibilidade – tal qual intencionei até aqui neste texto – vamos ao que interessa: o que faria alguém parar para ouvir DARK SARAH, ou ao menos seu último álbum de estúdio, “Attack of Orym” (2023), mesmo diante dos cognoscíveis e previsíveis elementos típicos do gênero?
Eis que respondo: Dark Sarah faz o bom e velho heavy metal melódico/sinfônico com excelência, e consegue convencer com a qualidade se sua produção e algumas ideias interessantes, mesmo que esteja jogando em um terreno tranquilo. A banda que chega ao seu quinto trabalho de estúdio e, apesar de manter-se fixada ao estilo que assumem, abrem espaço para novas explorações estilísticas e ousadias que tornam a audição bem interessante e instigante. Atualmente formado por Heidi Parviainein (vocals), Sami Salonen (guitarras), Thomas Thunkkari (bateria), Rude Rothstén (baixo) e Henrik Airaksinen (teclados), o grupo, diferente dos trabalhos anteriores, partem para determinadas possibilidades e vertentes as quais criam novas nuances e cores – contrapondo a típica escuridão das temáticas góticas do metal finlandês - as quais brilham em determinadas composições, revelando suas influências oitentistas, até então, discretas em trabalhos anteriores.
Ainda que a faixa de abertura “Choose Your Weapons” seja mais um projeto incidental com instrumentais sinfônicos típicos de trabalhos do gênero, a faixa seguinte “Attack of Orym” revela-se em uma canção robusta com riffs cadenciados e pesados, além dos vocais dobrados os quais buscam aqui, uma justificativa poderosa e de vieses épicos para justificar a homonímia com o nome do álbum. Contudo, é na terceira faixa “Invincible” que a cor proposta pela Dark Sarah se amplia de forma que subverta o padrão – não o estilo – e que surpreenderá os ouvintes do álbum. Nesta faixa, os sintetizadores comandam a música, assumindo uma perceptível energia dos anos 80, em uma sonoridade cativante e, por que não, “pegajosa” da música, tal qual seu energético refrão. Esqueça a fria Finlândia: aqui você irá encontrar-se com um pé em uma pista de dança com um globo de luz e neon. Ainda que as teclas comandem, destaque também para o trabalho de guitarras, especialmente para o solo quase ao final da faixa.
A faixa seguinte “B.U.R.N.”, no entanto, é uma música que pouco inova e cadencia-se de forma que alterna entre uma progressão lenta e rápida entre versos, pré-refrãos e refrãos, jogando mais no mesmo. Corais e suplícios, tudo está lá. Você retorna para a fria e gótica Finlândia mais uma vez. Porém, a previsibilidade dessa música é deixada de lado ao destaque da próxima e quinta música: “Warning Sign”. Temos aqui uma das melhores composições do álbum: teclado e sintetizadores oitentistas mesclam-se com uma bateria firme e ritmada e com guitarras agressivas, enquanto Heidi mantém sua voz firme e leve, paradoxalmente, sem apelos aos líricos típicos do estilo. Aliás, aqui cabe um adendo: Dark Sarah é uma banda mais próxima do Sirenia ou do Within Temptation do que propriamente do todo-poderoso Nightwish. Desde os vocais às opções instrumentais, percebemos uma banda livre em suas proposições menos progressivas e mais libertas “em fazer mais do mesmo bem feito”. Isso fica evidente em “Goth Disco”, sexta música do trabalho, em que mais uma vez caminha-se em um terreno seguro, com vocais altos e trilhas mais assombrosas em um modelo mais sinfônico. Elementos como narrativas bestiais e coros confrontadores estão lá, tudo na velha perspectiva da luta da luz contra as trevas, clássica do estilo.
“Delirium” surge como a sétima faixa do álbum dos finlandeses. Com todo respeito ao Dark Sarah, mas é uma música vazia e sem inspiração nenhuma em que os elementos clichês e pouco idealizados retornam. Na minha opinião, não faz falta nenhuma ao trabalho do disco e pode ser sim pulada da audição, pois o refrão é muito maçante. O belo solo de guitarra esforça-se, mas não salva. Momento mais fraco da produção. Entretanto, a oitava música “Piece of My Heart” joga no bom e velho estilo do metal sinfônico a la Nightwish que tanto cativa os fãs do bom heavy metal sinfônico. Ainda que não apresente novidades, ela é válida pela composição em si, com vocais e instrumentos em uníssono construindo “o mais do mesmo” que tanto se adora no gênero. Já em “Breaking Free”, a banda volta a ousar com sintetizadores puxados para uma estética mais propriamente industrial do que sinfônica. Heidi entona vocais fortes e emotivos, em uma essência mais progressiva entre a calma e a fúria, destacando essa música como uma das melhores do álbum. Emotiva e épica, é um dos melhores momentos de “Attack of Orym”. Por fim, “Hero and a Villain” encerra o álbum com a volta dos sintetizadores-anos 80 e até bateria eletrônica, ainda que a trilha seja mais cadenciada em busca da melodia emotiva, promovendo uma bela despedida do trabalho. Essa faixa, também serve para indicar, mais uma vez, qual o caminho que a Dark Sarah deve seguir para sobrepor os clichês do gênero, ainda que os pés da banda mantenham-se fixados no paradigma estilístico do metal sinfônico melódico clássico.
Em termos gerais, Dark Sarah em “Attack of Orym” apresenta um trabalho interessante que oferece o tradicional, o épico e o retrô ao flertar com sonoridades oitentistas em algumas faixas. Talvez se o Nightwish fosse criado na década de 80 ele poderia se parecer muito com o Dark Sarah hoje. Ainda assim, independente dessas fugazes comparações, a qualidade do álbum e do desempenho da produção desse trabalho indicam, certamente, que Dark Sarah construiu um som sólido, calcado em bases típica, mas, ainda assim, com suas nuances de originalidade. Aos fãs do estilo e até mesmo aos saudosistas dos Symph Pop dos anos 80, o álbum oferece um universo amplo de apreciação que pode, por que não, elevar esses finlandeses a um lugar distantes das típicas comparações do gênero tão engendrado em seu país por tantas bandas congêneres. Se eu pudesse dizer algo a eles diria isso: sejam menos Nightwish e mais Depeche Mode! A tendência, na essência do Dark Sarah a essa loucura, tende a funcionar.
Gregory Weiss Costa
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