sexta-feira, 28 de julho de 2023

CRYPTA - "SHADES OF SORROW" (2023)

 


CRYPTA
SHADES OF SORROW
Napalm Records/Shinigami Records - Nacional

“Echoes of the Soul” (2021) alcançou excelentes números pelo mundo afora, aclamado pela crítica e pelos fãs. A banda detonou no Wacken, tocou no Rock In Rio, Summer Breeze e diversos festivais fazendo uma turnê extensa de divulgação do primeiro disco. Crescendo de forma significativa — Seja por aqueles que amam, sejam pelos haters (Sim, falem bem, falem mal, mas falem de mim), a Crypta esteve “na moda” nestes últimos anos, mas era esperado o segundo ato — A confirmação de terem virado uma realidade, uma grande potência do metal brasileiro. E digo, uma das melhores coisas em acompanhar uma banda, é sentir a sua evolução. Ver que os integrantes não estão estagnados no sucesso do passado, repetir as mesmas fórmulas não funcionam. Subir degraus deveria ser uma regra, e por sorte, as meninas da Crypta partem desse princípio neste novo trabalho de estúdio, o poderoso e instigante — “Shades of Sorrow”.

A grande força motriz neste novo disco está na junção da agressividade, melodias, passagens intrigantes e atmosféricas, carregando consigo uma carga de densidade perfeita onde deixa o ouvinte em hipnose total. O início com prelúdio “The Aftermath”, uma peça lenta ao piano com ar inquieto, deixando em aberto para logo Fernanda Lira explodir com seu “fryer” característica em “Dark Clouds”. Inclusive, a faixa traz um lado mais old school tendo Lira detonando em linhas mais brutais e urradas, que, aliás, no disco todo são surpreendentes por muitas vezes saírem do óbvio.

“Poisonous Apathy” e “The Outsider” têm características que vão do Death Metal moderno ao Black Metal, com brutalidade, “blasts beats” de Luana Dametto, e a dupla das 6 cordas Jéssica di Falchi e Tainá Bergamaschi afiadas despejando riffs furiosos. Fiéis ao seu som único, “Stronghold” apresenta mudanças constantes, por ora violenta, por ora cadenciada, passagens que transmitem tensão e solos geniais cheios de melodias. Sua letra é extremamente forte, o refrão gruda — “Stronghold - Until reality is a safe place to live. Stronghold - Bonded with fear, my only company”.

O berro “Dear Anger”, faz logo em seguida, a banda meter o pé no acelerador em “The Other Side of Anger”, música que tem como destaque Luana. Sem medo de errar, a baterista em “Shades of Sorrow” apresenta o seu melhor trabalho de estúdio. Ela literalmente surrou o kit, criou excelentes viradas e usou e abusou dos bumbos duplos, tudo com uma criatividade absurda. Os riffs em “Trial of Traitors” são alucinantes, será o recado para que rodas se abram nos shows e headbangers batam cabeça. Curioso ao decorrer do disco como as inclusões de dedilhados e paradinhas para que as músicas voltem para destruição mostram que a sinergia entre elas transborda criatividade e intensidade.

“Lullaby for the Forsaken” começa de um jeito confortável e “angelical” de Fernanda para depois caminhar pelo vale das sombras com onde a vocalista expressa solidão em confiar em si mesmo : “The loyalty I need lies only within me”. É interessante como as músicas onde a banda pisa no freio ganham um teor de suspense criando uma maravilhosa atmosfera tenebrosa onde o instrumental e vocal se casam muito bem, como também é o caso de “Agents of Chaos”. Por muitas vezes, a parte lírica apresenta confissões, uma libertação de sentimentos ruins, que acredito eu, os fãs pegaram para si o que é libertado da alma de Fernanda:

“How much I failed myself
How much I questioned myself
Now I shall stand for myself”

O final apoteótico com “Lift the Blindfold” e “Lord of Ruins” traz a agressividade novamente em primeiro plano. Duas faixas rápidas, brutais, de rasgar a carne e sangrar os puristas, deixando claro que elas fazem o que querem neste disco, são donas do seu tempo. “The Closure”, termina o trabalho do jeito que começou, suave e nebuloso.

A Crypta continua bruta, mas sem se deixar levar por regras “escritas” nos anos 80, adicionando ingredientes que só fazem sua música crescer mais e mais. “Shades of Sorrow ” é o passo adiante de mulheres que estão prestes a chegar ao olimpo.

William Ribas




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