sexta-feira, 7 de julho de 2023

ENFORCER - NOSTALGIA

 

ENFORCER - NOSTALGIA 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Uma vez, quando indagados por uma famosa revista de seu país sobre seu estilo ser muito “old school”, os suecos do Enforcer foram cirúrgicos na resposta: “não existe música ‘old school’, existe música atemporal”.

Então, sejam “old school” ou “atemporais”, a banda lança seu novo álbum, 6º de estúdio, intitulado “Nostalgia”, e apresenta na obra o costumeiro speed metal que os consagraram na cena como um dos maiores nomes do gênero. Assim, sem grandes arroubos ou surpresas, temos em mãos mais um trabalho que nos leva àquele território seguro e conhecido de guitarras velozes e de mística oitentista que ainda ressoa labaredas da era do NWOBHM

Se em seu trabalho anterior, “Zenith”, de 2019, o quarteto liderado pelo guitarrista e vocalista Olof Wikstrand trouxe um novo frescor ao tradicional som que se propõem a fazer – sendo inclusive bem elogiados e avaliados pela crítica especializada - em “Nostalgia” percebe-se nitidamente que o Enforcer quis retornar ao berço confortável por onde começaram sua história. A ideia de “Nostalgia” é, segundo a própria banda, um retorno às raízes, mas, para este ouvinte que vos escreve, isso parece uma balela. Primeiro, por que o grupo nunca se distanciou muito de suas raízes; segundo, porque até mesmo um trabalho que se rotule intencionalmente como um “retorno” carece, evidentemente, também, de inspiração. E “inspirado” não é um adjetivo que você possa remeter ao novo álbum do Enforcer.

Trata-se de um trabalho o qual você arma os pressupostos da seguinte maneira: se você não conhece a banda, não comece por aqui. Se você conhece, já sabe que a banda é muito mais do que isso. Se você quer conhecer o estilo, “Nostalgia” não é um resumo eficiente para tal propósito. Se já conhece, certamente sabe citar uma lista de trabalhos mais relevantes à frente.

Ainda assim, o disco tem seus momentos. Faixas como “Coming Alive”, “Kiss Of Death”, “At The End Of The Rainbow” e “Metal Supremacia” apresentam toda a potência e qualidade do grupo - competência já esperada de certa forma. Afinal, no ano que vem os suecos completam 3 décadas de estrada, ou seja, encontram-se em um estágio mais complexo do que apenas surpreender ou ofertar mais do mesmo. As mencionadas músicas são excelentes e bem trabalhadas, mas ainda não consagram tudo que o Enforcer fez ou poderia fazer.

Por outro lado, o disco traz pontos questionáveis. A faixa-título “Nostalgia” é mais um clichê oitentista do que propriamente uma ode ao estilo. “Demon” e “No Tomorrow” seguem nessa mesmice beirando ao esquecível. “Heartbeats” é um um Def Leppard chupinhado descaradamente! Seria uma homenagem ou falta óbvia de inspiração? Não sei responder. Porém, é em “Keep The Flame Alive” que você fica sem entender o que os suecos objetivaram. Uma música de speed metal que descamba para uma sonoridade de Disco Music dos anos 70! Por momentos assim, a questão do que seria um tributo singra, na realidade, para uma aparente falta de identidade ou de identificação própria do grupo.

Por fim, embora “Nostalgia” esteja distante de ser um trabalho inaudível ou até mesmo fraco, ele não empolga da maneira a qual se sabe que o “Enforcer” tem capacidade para fazer. O álbum não deixa claro sua pretensão de servir como um retorno ou homenagem às raízes do speed e do heavy tradicional, ou se utilizou essa carapuça para apenas fechar e prensar o disco. Conforme mencionei anteriormente, a obra careceu de inspiração ou de uma identidade mais coesa. Para os ouvintes, vale a experiência, contudo, será mais um disco que, na minha opinião, irá acumular poeira na prateleira. A maioria das bandas, em algum momento de seus percursos, têm manifestações não muito claras de suas sonoridades em suas linhas temporais, e talvez, em “Nostalgia”, estejamos presenciando esse pé fora da trilha do “Enforcer”. Ficamos na espera de trabalhos futuros, esperançosos, claro, pois se algo que esses 4 suecos possuem é força, agressividade e presença para fazer o “old school” ou “atemporal” reluzir brilhantemente na cena metálica.

Gregory Weiss Costa




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