Com a segurança de quem se dedica ao Doom Metal há
mais de 30 anos, os britânicos e pioneiros do MY DYING BRIDE entregaram no
início de 2020 o seu décimo quarto álbum de estúdio, THE GHOST OF ORION. O novo disco é marcado por ser o primeiro
pela Nuclear Blast, no Brasil ele saiu pela competente Shinigami Records —
“Feel The Misery” lançado em 2015 findou a parceria de longa data entre a banda
e a poderosa Peaceville Records. Nesse ínterim foi lançada a terceira parte da
coletânea “Meisterwerk” e o box set “A Harvest Of Dread”.
Maduro e coeso, embora pouco ousado em relação a seus
pares Paradise Lost e Anathema, o My Dying Bride pouco experimentou ao longo de
sua carreira, sendo “34.788%… Complete”, lançado em 1998 o trabalho que mais
foge a sua própria essência, o que de forma alguma o torna ruim. Os anteriores
e sucessores ora são tomados por definitivos no cenário que eles próprios
ajudaram a criar, no caso o Death/Doom Metal; ora como trabalhos de transição e
soma, quando Gothic Metal passa a ter mais espaço e acentuação na sonoridade
dos mesmos. De todo modo, qualidade jamais faltou à banda.
Produzido por Mark Mynett (Damnation's Hammer,
Godthrymm, Rotting Christ) e embalado numa arte lindíssima de Eliran Kantor
(Incantation, Fleshgod Apocalypse, Testament, Helloween), o disco possui 08
faixas que compartilham de pouco mais de 56 minutos e nelas ouvimos todas as
características tão marcantes que forjaram e bem definem a personalidade
musical do MDB — as letras enigmáticas e poéticas de Aaron Stainthorpe, os
riffs, melodias e harmonias de guitarra sempre elegantes e sentimentais, a base
rítmica bem composta e desenvolvida, variada quando assim o humor da composição
dita, e claro, as linhas de violino. Sobre a produção, ela é nitida, cristalina
e volumosa — sobra a estrutura do disco, é válido afirmar que “The Ghost Of
Orion” é sofisticado e melancólico como todo bom trabalho da banda, ele é bem
menos complexo que seu antecessor, ainda melodioso e denso, mas sem tantos
contrastes como tinha o supracitado “Feel The Misery”.
Sobre as composições e destaques: “Your Broken Shore”,
“To Outlive The Gods” e “Tired Of Tears” formam a trinca de abertura de um
trabalho que se dilata a medida em que o ouvimos e apreciamos, e sim, todos os
elementos e texturas tão bem explorados pela banda estão nelas. Os demais temas
se guardam a apresentar vestígios umas das outras, sem perder o folego de
qualidade, mas mantendo a postura rígida e o tom severo do album. Algumas vezes
amargo como em “The Long Black Land” e “The Old Earth” e noutras mais sereno e
divagante — poético-musical, como exposto em “The Solace” (abrilhantada por
linhas tristes e imersivas de guitarra e pela bela voz de Lindy-Fay Hellada, da
banda norueguesa de Folk, Wardruna) e no derradeiro tema, a instrumental, “Your
Woven Shore”.
Um álbum digno de figurar entre os grandes registros
dos britânicos, que envelhecem bem e com consciência de sua importância no
cenário Doom e Heavy Metal na totalidade. My Dying Bride é sinônimo de música
feita tendo as emoções como ingrediente principal, na ciência do sentir e na
arte como um bem imortal, “The Ghost Of Orion” é mais um primoroso capítulo
acrescido à discografia da banda que, não satisfeita, ainda lançou mais uma
meia página em novembro, o ep “Macabre Cabaret”. Longa vida aos mercadores da
miséria.
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