segunda-feira, 30 de setembro de 2024

EDU FALASCHI - REBIRTH LIVE IN SÃO PAULO 20TH ANNIVERSARY - 21/09/2024 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 


EDU FALASCHI
REBIRTH LIVE IN SÃO PAULO 20TH ANNIVERSARY
Abertura:
STORIA
NOTRURNALL
21/09/2024
BAR OPINÃO
PORTO ALEGRE/RS
Produção: ABLAZE PRODUCTIONS

Texto e Fotos:  Henrique Lippert



Celebrando os 20 anos do álbum Rebirth, Edu Falaschi veio à Porto Alegre para relembrar grandes sucessos de sua carreira. Assim como o álbum, Edu agora 20 anos mais velho ainda mostra que está à vontade no palco e com energia, mas é nítido o esforço para manter o fôlego e as notas altas. Um bom show - mesmo levando em conta problemas técnicos e pausas - que agradou o público e deixou um ar de nostalgia em todos.

Era 18h e Storia abriu os trabalhos com uma pontualidade britânica. Trazendo as músicas do seu EP Revenant - The Silver Age, o quarteto mostrou qualidade e energia. Com Pedro Torchetti no vocal, Gabriel Veloso na guitarra, Pablo Guillarducci no baixo e Thiago Caeiro na bateria, o grupo trouxe seu power metal para o palco do Opinião, cujo público ainda chegava na casa. Na linha conceitual e com canções que lembram Rhapsody e Blind Guardian, Storia mostrou peso e preparou bem o terreno para as próximas bandas. 



Logo na sequência a banda Noturnall entra no palco se sentindo em casa, comandada pelo vocalista Thiago Bianchi (vocal), e contando também com Henrique Pucci (bateria), Saulo Xakol (baixo) e Victor Franco (guitarra). O que não faltou foi peso e velocidade, com músicas com tom político mas também aquela homenagem ao saudoso André Mattos com “Fairy Tale”. 

Um dos pontos altos da noite, “Scream! For!! Me!!!”, música deles com o Mike Portnoy, veio com o voo do Bianchi para o público. Thiago ainda tomou cerveja da plateia antes de cantar a “Nocturnal Human Side”, criado em conjunto com Russel Allen, e aproveitou pra colocar o Victor nos ombros. Com muita simpatia e carisma, a banda deixou o palco para a preparação da banda principal da noite.





Com poucos minutos de atraso, In Excelsis começou a soar e o público entendeu o recado: era chegada a hora de voltar no tempo. E assim aconteceu: “Nova Era” veio com tudo e a emoção do público ficou clara na energia cantada de cada refrão. Foi dessa forma calorosa que o público recebeu Edu Falaschi (vocal), acompanhado de Fábio Laguna (teclados), Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra), Raphael Dafras (baixo) e Jean Gardinalli (bateria). Já disparando com “Acid Rain” a empolgação continuava alta, enquanto Gardinalli espancava a bateria e Falaschi se esforçava para manter o fôlego e as notas mais altas. 

O início tão característico de Angels Cry fez a plateia vibrar, cantando todos refrões e dando um respiro pro Edu, que por vezes ficou com o volume abaixo dos demais instrumentos. Heroes of Sand deu aquela desacelerada, mas que também contou com o acompanhamento dos fãs, principalmente nos refrões. Viajando ainda mais no tempo e trazendo algo do álbum “Fireworks”, “Metal Icarus” trouxe de volta a energia. Esse clássico mostrou que, em alguns momentos, os agudos não conseguiram chegar onde eram esperados, o que não tirou o brilho ou a qualidade da música. 



“Millennium Sun” começou devagar, aquecendo os motores para arrancar de novo em disparada para a plateia. Ao som de vários “Edu, Edu, Edu”, Make Believe começou na bateria do Gardinalli, foi pro Laguna, e do resto da banda para o público que foi embalado com esse baita clássico, contando com um momento de destaque para Falaschi no final da canção. Após um breve solo de bateria, Edu pega o violão para cantar a faixa título do álbum, mas ficou empenhado por questões técnicas.

O jeito foi pular pra “Unholy Wars” que trouxe um pouco da brasilidade no ritmo que introduz a música e que manteve os fãs animados, mesmo com alguns problemas na guitarra do Mafra. A nova tentativa de ressuscitar “Rebirth” fracassou de novo, e Edu aproveitou o momento para falar do apoio que conseguiu para os gaúchos durante as enchentes ao realizar uma ação para levantar fundos. De acordo com o próprio vocalista, foram quase vinte mil reais arrecadados, que beneficiaram duas ONG 's (Horta Comunitária e Sopão Solidário) e seus representantes foram chamados no palco. Após a promessa do PIX, foi a vez de “Time”, também do álbum “Angels Cry”, voltar a ditar o ritmo mais cadenciado para a noite. 

E por falar em tempo, Falaschi disse ter recebido um feedback positivo sobre a troca do horário de início original do show, o que foi confirmado pela plateia presente com vários polegares levantados. “Running Alone” trouxe a atenção de volta para o show, intercalando velocidade e momentos mais leves. Os deuses do metal devem ter escutado as preces dos ali presentes. A terceira é pra acertar! E o violão voltou, “Rebirth” tocou e a plateia vibrou. Parecia um grito de gol trancado na garganta, mas quando as primeiras notas soaram do instrumento, não teve erro. Com certeza valeu a pena a insistência e a plateia cantou com vontade. 



Breve saída triunfal, a galera já sabe que vem mais logo ali. E veio nada menos que “Nothing to Say” e “Carry On”, duas pedradas que não poderiam faltar. Ficou evidente o desgaste do Edu já na última música, ainda assim ele disse ter preparado uma surpresa. A versão turbinada de “Pegasus Fantasy” veio pra arrematar todo sentimento de nostalgia que já estava presente desde o início do show. Cantada do início ao fim pelos fãs, com certeza foi um dos momentos mais especiais da noite. 

Para o bis do bis, direto do emblemático “Temple of Shadows”, “Spread Your Fire” teve a honra de ser o “gran finale" do evento. A banda ainda teve gás pra tirar a galera do chão e interagir até o último minuto, cantando e já sentindo aquele gostinho de que está acabando. Foi uma noite feliz para o metal nacional e a satisfação do público mostrou que Edu e banda conseguiram entregar o que prometeram. 

Problemas técnicos à parte, a qualidade da banda é inegável e Edu, embora não em sua melhor fase, emocionou os gaúchos com mais um show que trouxe ótimas lembranças e nos fez viajar direto para os anos 2000.



sexta-feira, 27 de setembro de 2024

MAIS UM DOS GRANDES SE FOI... DESCANSE EM PAZ, PIT PASSAREL...


"Como eu era filho da puta com o Andre!" Essa a frase com a qual eu sempre lembro do baixista/vocalista do Viper, o agora saudoso Pit Passarel. Frase essa, dita durante uma entrevista para o documentário "20 Years - Living for the Night", documentário que celebrava, como o próprio nome entrega, os 20 anos de carreira da banda. Fora de contexto, poderia se achar que Pit teria feito alguma sacanagem para o também saudoso Andre Matos, vocalista dos dois primeiros álbuns do grupo. No entanto, o baixista se referia ao seu modo de composição, que ele foi perceber o quanto era exigente apenas quando Andre deixou o grupo e ele próprio assumiu os vocais. Figura ímpar do metal brasileiro, um dos criadores do metal melódico, e sem sombra de dúvidas, um dos melhores compositores seja do rock, seja do metal, Pit Passarel foi um cara único e genuíno. Por vezes polêmico, nos deixou hoje de forma precoce, privando à todos de sua companhia. Mas, sua obra, eternizada, seguirá servindo de exemplo para muitas gerações de fãs de heavy metal pelo mundo. Uma pena partir tanto cedo, parecendo até mesmo um ato de rebeldia, deixando aqui muitos amigos, fãs e admiradores. Mas, com o ele mesmo já cantava em "Rebel Maniac": EVERYBODY GETS ME WRONG (no one, no one, no one) AND NOBODY UNDERSTAND ME..

Fica aqui nossa singela mas honesta homenagem a um dos responsáveis pelo metal brasileiro ser reconhecido mundo a fora. Seguem palavras nossas, aqui da Rebel Rock e também de amigos e parceiros que relatam a importância desse grande músico e artista que nos deixou...

Sergiomar Menezes

"E lá se foi ele, Pedro Sérgio Murad Passarell, o Pit. Lembro de como o Viper me impactou no início dos anos 90, quando começava a desbravar o universo do Heavy Metal. Creio que foi a primeira banda brasileira a fazer minha cabeça. Na época, todos comentavam sobre "Theatre Of Fate" e, na sequência, chegou "Evolution". "Rebel Maniac" imediatamente se tornou um hino para os headbangers e o vídeo de "Dead Light" passava sem parar na MTV. Muito triste todas as circunstâncias que cercaram a sua morte. Em seus melhores dias foi um dos gênios do nosso Metal." (Fábio Reis, Mundo Metal)

"O metal brasileiro e mundial perdeu um ícone com a partida de Pit Passarell. Seu estilo único de tocar, combinado com uma presença de palco vibrante e carismática, o tornava uma figura inconfundível. Sempre sorridente e profundamente envolvido com o público nos shows, Pit era não apenas um baixista de talento excepcional, mas também um dos maiores compositores da cena.
Álbuns como “Theater of Fate”, “Soldiers of Sunrise” e “Evolution” são verdadeiros marcos na história do metal e levarão o legado de Pit Passarell além do tempo, eternizando sua contribuição e seu impacto na música.  Descanse em paz, Pit." (William Ribas, Rebel Rock)

"Mais um dia de luto da música pesada brasileira. 
Pit Passarel não foi apenas um músico, foi um grande compositor e um dos responsáveis por dois dos melhores álbuns de Heavy Metal desse país.
Mais uma grande perda. Mas fica a obra grandiosa, e talvez um reconhecimento, mesmo que tardio, de que ele tinha uma mente genial.
Descanse em paz, Pit !" ( Flávio Soares, Leviaethan)

"Pit Passarell foi um dos maiores representantes do Metal Nacional, seja como músico, seja como compositor. Desde o álbum de estréia do Viper , “Soldiers Of Sunrise”, era possível notar a qualidade e quão diferenciadas eram as suas composições. Quando tudo parecia perdido para o Viper, com a saída do André Mattos em 1990, ele assumiu os vocais da banda e, não só segurou e manteve o Viper no seu status, como ajudou a banda a ampliar os seus horizontes a nível internacional. Pit Passarell foi o verdadeiro “ Rebelde Maníaco”, e deixou um legado enorme para o Metal nacional, e jamais será esquecido. Obrigado por tudo , Pit!" (José Henrique Godoy, Rebel Rock)

"Pit era um dos precursores do Metal nacional.
A importância do seu talento como músico e compositor vai muito além do que se pode imaginar...
Descanse em paz, guerreiro!" (Tarcísio Chagas, The Bridge Press)

"Primeiro show do Viper que Pit Passarl fez vocal,  eu estava lá. Porto Alegre, acho que 1990. Dei 60 stage dive, a interação banda público nessa época era admirável. Consegui trocar uma ideia com o agora vocalista. Compositor ímpar, carisma ao vivo, pra mim, Pit ficará na memória como um dos pilares do heavy metal no Brasil." (Márcio Jameson Kerber - Sextrash, Rebel Rock)

"É difícil encontrar palavras para descrever a perda de Pit Passarell. Ele foi um verdadeiro pilar do Metal no Brasil, ajudando a fomentar a cena desde seus primeiros passos. Como baixista, vocalista e compositor do Viper, criou obras imensuráveis, que não só levaram o metal brasileiro ao mundo, mas também inspiraram uma geração inteira de músicos e fãs. Sua arte foi fundamental no meu crescimento como fã de rock e metal; suas composições me acompanharam em muitos momentos da minha vida.
Quem foi adolescente no final dos anos 80 e meados dos 90 tem lembranças inapagáveis de seus shows com o Viper e da emoção de ouvir os clássicos "Soldiers of Sunrise", "Theatre of Fate", "Evolution", onde brilhou demais, etc. Esses discos não eram apenas música – eram trilha sonora da nossa juventude, faíscas que alimentaram a chama do metal no Brasil na época.
Pit Passarell deixa um legado gigante e uma falta que jamais será preenchida. A sua perda é irreparável, mas sua música e seu espírito vão continuar ecoando em todos nós.
Descanse em paz, Pit. Obrigado por tudo!" (Johnny Z. - JZ Press, Metal na Lata)

"Triste demais. Perdemos mais um dos grandes. Pit Passarell é pioneiro do metal brasileiro, compositor de mão cheia e que vai deixar saudades. Força aos familiares, companheiros de Viper, amigos e fãs" (Ricardo Batalha)

Descanse em Paz. E obrigado pela sua arte e talento!




MOGG'S MOTEL - MOGG'S MOTEL (2024)

 


MOGG'S MOTEL
MOGG'S MOTEL
Steamhammer SPV/Cleopatra Records - Importado

O UFO sempre foi uma banda clássica e cultuada entre os amantes do Hard Rock. Não são poucos os grandes nomes que se declararam fãs e prestaram tributo ao grupo inglês, dentre eles Steve Harris (Iron Maiden) e Joe Elliot (Def Leppard). O UFO criou uma história cheia de álbuns clássicos, turnês concorridas e grandes músicos nas suas formações.

Pois em 2020, logo após a banda completar cinqüenta anos de história, foi anunciada a sua aposentadoria e o final das atividades, o que efetivamente ocorreu em 29 de Outubro de 2022, em Atenas na Grécia. O vazio tomou conta dos fãs , ainda mais que Phil Mogg, o seu lendário vocalista declarou que era hora do UFO se retirar, pois “o trabalho foi feito”.

Pois o mesmo Phil volta aos holofotes agora em 2024, com uma nova banda, apropriadamente intitulada Moggs Motel, e lança o primeiro álbum autointitulado. Os músicos que o acompanham são o velho companheiro, Neil Carter (guitarras e teclados), que entrou e saiu do UFO algumas vezes, Tony Newton (baixo), Joe Lazarus (bateria) e Tommy Gentry (guitarras). O álbum foi inteiramente gravado no estúdio do já citado Steve Harris, em Essex, no Reino Unido.

O trabalho é composto de doze composições, e mostram que Phil Mogg não perdeu o jeito, seja na sua forma peculiar e marcante de cantar, seja na forma de compor. Por um lado, “Moggs Motel” tem uma cara de “Não vou usar o nome UFO para não dar grana para os outros caras, já que acabamos a banda mesmo”. Por outro lado, a aura da banda está presente e pode ser sentida em faixas como “Princess Bride”, “Tinker Taylor” e “Other People´s Lives”. Óbvio, as raízes e influencias de Phil estão presentes o tempo todo e não há como não recordar da banda que o fez famoso.

Existe um ditado que diz: “Cães velhos não aprendem truques novos”. No caso de Phil Mogg, ele não precisa apresentar novidades, apenas seguir a fórmula que tanto agradou a milhares. “Moggs Motel” é um ótimo disco de estreia desta nova banda de uma estrela veterana.

José Henrique Godoy




BENEDICTION - SUBCONSCIOUS TERROR (1990 - relançamento 2024)


 

BENEDICTION
SUBCONSCIOUS TERROR (RELANÇAMENTO 2024)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Tem uma maneira mais marcante de estrear seu primeiro álbum no mundo do death metal do que com os vocais de Mark “Barney” Greenway, o lendário vocalista do Napalm Death? Pois é assim que o Benediction em 1990 estreia seu Subconscious Terror, da Inglaterra para o mundo.

A intro "Portal to your Phobias" nos remete a um clima perturbador carregado de ruídos sinistros, arrastar de correntes e muito eco nos sussurros de fundo falando sobre medos e temores do subconsciente humano, que desencadeia a excelente faixa título, "Subconscious Terror". É impressionante como nessa época as bandas eram diferentes entre si, e aqui o rótulo doom ainda se mesclava com o death metal e faixas como "Artefacted Irreligion", "Grizzled Finale", e todas as outras soam de uma forma original sem esforço para ser super rápido ou ter bumbos ultra técnicos, todas as músicas soam naturais, apenas death metal tradicional na sua melhor forma, com algumas partes inclusive soando com pequenas influências punk num som cru e direto.

O álbum é tão parelho entre si, que fica difícil destacar alguma faixa, todas tem feeling e inspiração exatamente como deve ser um debut ao longo aqui de suas nove faixas.

A potente e marcante "Confess All Goodness" fecha esse hoje clássico do death metal mundial, colocando os ingleses definitivamente no mapa das importantes bandas europeias, como podemos constatar agora, mais de trinta anos depois nesse relançamento no Brasil pela Shinigami Records. Imperdível!

Márcio Jameson Kerber




quinta-feira, 26 de setembro de 2024

SKID ROW - LIVE IN LONDON (2024)

 


SKID ROW
LIVE IN LONDON (LIVE IN 2022)
earMusic - Importado


Sabe aqueles álbuns ao vivo que você ouve e tem a certeza que se tornarão trabalhos que você vai ouvir pra sempre? LIVE IN LONDON, gravado na capital inglesa em 2022, é um desses itens que você precisa ter em sua coleção, porque, acredite ou não, daqui a um tempo ele estará em sua lista de melhores ao vivo de todos os tempos. Acha que estou exagerando? Então escute essa maravilha lançada pelo SKID ROW, recheada de clássicos, não apenas da banda, mas do Hard Rock mundial, e me diga que estou errado. Se você provar, lhe devo um café!

Erik Grönwall (vocal), Dave "The Snake" Sabo (guitarra), Scott Hill (guitarra), Rachel Bolan (baixo) e Rob Hammersmith (bateria) nos entregam aquilo que podemos realmente chamar de álbum ao vivo. Teve mexidas em estúdio? Com certeza. Mas a essência, a energia e a vibração da banda, são perceptíveis até se você estiver dormindo! Além disso, a timbragem aqui conseguiu ser atual sem mexer na estrutura das músicas, deixando tudo um verdadeiro arregaço! 

Uma verdadeira coletânea ao vivo (lá fora o trabalho também sairá em DVD), o álbum traz os principais "hits" do grupo, tudo com o brilho extra da voz de Erik Grönwall, que infelizmente deixou a banda. Uma verdadeira lástima, pois "The Gang's All Here", álbum de estúdio do Skid Row lançado com ele mostrou que o grupo estava em sintonia, como se você um encntro entre "Skid Row" (1989) e "Slave to the Gring" (1991). Isso é ainda mais perceptível quando as faixas desse disco são executadas durante o show e não percebemos a diferença entre todas as outras 13 que compõem o CD (incluindo o cover do Ramones).

A abertura com "Slave to Grind" já é aquele soco na boca do estômago, que nos tira o fôlego sem nenhum tipo de conversa. "The Threat" e "Big Guns" (essa última, na minha modesta opinião, uma das faixas mais injustiçadas da carreira da banda", mostram uma banda afiada, com aquele sague nozóio, como se precisa provar algo pra alguém (alguém pensou no Tião), o que fica ainda mais nítido na performance matadora de "18 & Life". É impressionante o que Erik canta, que vocalista fiadaputa! O que dizer de "Piece of Me", com aquele baixo sem vergonha (faixa essa disponibilizada em vídeo no Youtube)? Em seguida "Living on a Chain Gang", pesada e insana, antecede a clássica "Psycho Therapy", do Ramones, cantada por Bolan, que foi gravada pela banda em "B-Sides Ourselves" de 1992, uma das grandes influências do baixista/vocalista.

O baile segue com a linda "In a Darkneed Room", o momento em que, novamente, Erik mostra que é, sim, um dos melhores vocalistas em atividade. Relembrando o início da carreira, temos a sleaze "Makin' a Mess", rápida e cheia de energia. "The Gang's All Here", faixa que deu título ao mais recente álbum de estúdio do grupo, lançado em 2022, vem na sequência, com sua aura "Pieceof Me/The Threat", provando que poderia facilmente estar em qualquer um dos dois primeiros álbuns da banda. A sensacional punk/hc (para os padrões Skid Row) "Riot Act" é uma daquelas pedradas cheias de adrenalina, que antecede a pesada e densa "Tear it Down", mais uma faixa recente. "Monkey Business", um dos momentos mais pesados do show (e da discografia do grupo) vem com força e intensidade. Como essa banda ficou tanto tempo sem se reencontrar com seu passado? Uma das mais belas baladas de todos os tempos traz ao show aquele clima romântico, afinal, estamos falando de uma banda de Hard Rock, não é mesmo? "I Remember You", se você ainda não tinha percebido, Fez o público cantar e acionar as luzes de seus celulares, conforme solicitado por Erik no início da faixa. Que belo momento deve ter sido! Uma das melhores faixas de "The Gang's All Here", a pesada "Time Bomb", é o prenúncio do final, que chega com a mais que clássica e incendiária "Youth Gone Wild", outra que teve seu vídeo disponibilizado (e que você confere logo abaixo da resenha), num encerramento de show apoteótico, digno e mais que merecido pelo grupo.

Como escrito mais acima, uma verdadeira lástima a saída de Erik do grupo, pois o que temos aqui é uma banda com energia, na ponta dos cascos e pronta pra dizer ao mundo que está aí, mostrando sua relevância, apesar de todos os problemas que vem enfrentando desde sua volta em 1999. LIVE IN LONDON é obrigatório! O mundo ainda precisa de bandas como o SKID ROW. E esse disco é a prova cabal disso!

Sergiomar Menezes





TROYEN - UNFINISHED BUSINESS (2024)

 


TROYEN
UNFINISHED BUSINESS
Classic Metal Records - Nacional

Formado em 1981, dentro da New Wave of British Heavy Metal, o TROYEN acabou encerrando suas atividades um ano depois, em 1982, mas não sem antes lançar duas demos e atingir o status de "cult" entre os fãs do estilo. Lançando várias coletâneas, EP's e singles desde 2015, o grupo lançou em 2021 seu primeiro full lenght, "Falling Off the Edge of Forever", muito bem recebido, tendo atingido o termo "clássico" para muitos. Agora em 2024, a banda retorna com UNFINISHED BUSINESS (nome bastante sugestivo) que tem seu lançamento através da Classic Metal Records, mostrando que o Heavy Metal segue sendo o norte do quinteto. 

Paul Ward (vocal), Simon Lind (guitarra), Steve McGuire (guitarra), Mark Notley (baixo) e Jeff Baddley (batreria), nos trazem 11 faixas onde a atmosfera da NWOBHM está mais viva do que nunca. Impossível passar batido pela sonoridade do quinteto, que nos transporta para aquela época mágica, onde surgiam bandas que traziam a paixão pelo heavy metal/hard rock em suas composições. Com uma produção que manteve intacta a veia 80's do grupo, mesmo que possa soar datado em certos momentos, acredito que tenha sido essa a intenção, mostrando à todos que aqui não há espaço para "modernidade", invencionices ou coisas similares que possam distorcer o metal característico da banda.

"The Man I Used to Be" abre o álbum com aquela pegada tipicamente oitentista, qual seja, veloz, intensa e pesada. Lembrando os grandes nomes do estilo, contemporâneos do grupo como Iron Maiden, Saxon, Angel Witch, entre outros, o TROYEN mantém acesas a chama e a atmosfera daquele período. Já "Twist of Fate" tem uma linha mais Hard, que caem muito bem nos vocais de Paul Ward. "Hoax", rápida e com as guitarras de Lind e McGuire guiando a composição é um daqueles momento que nos transporta para um pub esfumaçado e como aqueles cartazes cheio de anúncios de shows, como era o lendário "Cart & Horses" (que, infelizmente, vi apenas pelos documentários existentes). sabe aquele baixo e bateria cavalgados? É isso que encontramos em "On the Outside (Don't Go)", um dos grandes momentos do álbum. A longa "(recurring) Nightmare", traz um clima introspectivo e intimista em seu início, ganhando uma intensidade crescente ao longo de sua execução.

"Darkness Within", puramente Hard, antecede "It Wasn't Just Me", uma bonita balada, com um belo solo de Steve McGuire. A rocker "No Resistance at All" mostra que as influências do grupo vêm de muito longe, indo do rock clássico de nomes ao blues, o que fica um pouco mais evidente em "Bourbon & Shame". Mas que fica claro, falo de influência, não que a faixa seja diretamente uma referência ao estilo que consagrou nomes como Buddy Guy, B.B. King, entre outros. "Hold On" e "Into the Fire", fecham o trabalho com uma ótima impressão.

UNFINISHED BUSINESS é um belo trabalho e vai agradar em cheio os fãs da New Wave of British Heavy Metal. A Classic Metal Records acerta, mais uma vez, lançando por aqui o segundo álbum do TROYEN. Que a banda tenha, ainda, muitos "negócios inacabados" para nos apresentar...

Sergiomar Menezes







MARENNA - TEN YEARS AFTER (2024)

 


MARENNA
TEN YEARS AFTER
Classic Metal Records - Nacional

10 anos de carreira nadando contra a maré é algo a ser muito comemorado. E como fazer isso? Fazendo aquilo que se sabe de melhor. E foi exatamente essa a maneira encontrada pelo MARENNA de celebrar uma década de trabalho e luta, levantando a banda do rock, mas principalmente, da boa música. TEN YEARS AFTER é um álbum ao vivo, que traz ainda, duas faixas gravadas especialmente pra esse trabalho, mostrando um grupo coeso, entrosado, e que sabe muito bem como transformar o feeling em música. E o palco é o local perfeito para entender isso, pois quem já teve a oportunidade (e privilégio) de assistir uma apresentação do quinteto, sabe bem do que estou falando. 

Rod Marenna (vocais), Edu Lersch (guitarra), Bife (baixo), Luks Diesel (teclados) e Arthur Schavinski (bateria), formam hoje uma das bandas mais interessantes do país, uma vez que como poucas conseguem aliar técnica e classe, sem perder a categoria. Músicos experientes (exceção feita á Edu que fez seu primeiro show com o próprio grupo, mas que não deve nada a muito "guitar hero" por aí) que se uniram em prol da música, em especial do Hard Rock. O resultado disso é que durante a turnê do seu mais recente trabalho de estúdio, o excelente "VOYAGER", lançado em 2022, o quinteto gravou dez faixas ao vivo , onde tudo aquilo que já foi falado se enquadra com perfeição. E se levarmos em consideração os problemas sérios de saúde pelos quais Rod passava nesse período, o trabalho ganha ainda mais brilho. As dez faixas ao vivo foram produzidas, mixadas e masterizadas no Estúdio Linha Sonora, em Caxias do Sul, pelo produtor Jonas Godoy, colaborador em álbuns anteriores da banda. Lançado mundialmente pela Classic Metal Records, o álbum conta com a direção de arte de João Duarte, o que resultou numa das capas mais bonitas lançadas esse ano. Mas vamos ao que interessa: as faixas gravadas ao vivo. E que faixas!

Trazendo uma verdadeira coletânea de faixas gravadas ao longo desses dez anos, o álbum abre com "Voyager", onde já podemos perceber a entrega total da banda à apresentação, em especial de Rod, que se o Brasil fosse um país sério, teria maior reconhecimento, ainda mais quando nomes de qualidade técnica bastante duvidosa, são chamados de "cantores". "Never Surrender" vem na sequência, mostrando aquela pegada Hard/Heavy bem característica, enquanto a "Pieces of Tomorrow", traz a classe do Hard/AOR, onde a dupla Edu/Luks mostra um entrosamento perfeito, dosando de forma correta peso e melodia, além do belo solo do guitarrista. "You Need to Believe", faixa perfeita, digna de figurar naqueles saudosos comerciais do Hollywood, é um dos grandes momentos do show (como em todos os outros da banda). Uma síntese perfeita do estilo, com Rod destruindo nos vocais, enquanto Bife e Arthur, a cozinha encarregada de "pesar" a mão, assim o faz com maestria. "Wait", dona de um refrão e de uma linha de teclado muito bonitos vem na sequência, seguida de "Out of Line" e seu refrão grudento, mostram que músicas assim poderiam tocar tranquilamente nas rádios rock. Se existissem rádios Rock no Brasil...

"Breaking the Chains", outro momento com refrão grandioso, antecede "Gettin Higher", faixa que dosa bem peso e melodia. Too Young to Die" é o momento em que Arthur ganha destaque, seja pela pegada precisa, seja pelo peso da batida, enquanto a banda navega pela melodia durante a execução da composição. Pra encerrar o tracklist ao vivo, um dos grandes clássicos do grupo: "Had Enough", um daqueles momentos que percebemos que, por mais que tentem nos impôr modismos, a verdadeira música segue nos trazendo sentimentos reais. Ainda temos duas faixas inéditas. "How Long", um petardo Hard Rock em sua concepção e "Runaround", que abrange de forma direta todas a s características do grupo: peso, melodia e linhas vocais (incluindo os backing vocals, executados por todos os integrantes) muito bem estruturadas e arranjadas.

TEN YEARS AFTER não é apenas um álbum ao vivo de uma banda de Hard Rock. É a celebração de uma década de luta e batalhas em prol da música de qualidade, mostrando que é em cima do palco que o MARENNA tem seu habitat natural. Prestes a embarcar em uma turnê pelo velho mundo, o grupo merece um maior reconhecimento do público, não apenas dos fãs. Que venham mais dez anos, mais dez, mais dez...

Sergiomar Menezes





STRYPER - WHEN WE WERE KINGS (2024)

 


STRYPER
WHEN WE WERE KINGS
Shinigami Records - Nacional

Uma das grandes injustiças cometidas no mundo do Heavy Metal, é lembrar do Stryper como “aquela banda crente”, ou “aqueles caras de amarelo e preto que cantam sobre Jesus Cristo e afins”... Errado não está, mas esta “pecha” atribuída ao quarteto californiano encobre e pode afastar os preconceituosos que acham que apenas o diabo indica boa música.

Formado em 1980 pelo irmãos Michael e Robert Sweet, o auge e reconhecimento do Stryper ocorreu na mesma década com álbuns de sucesso como “Soldiers Under Command” (1986) e “To Hell With The Devil” (1987). Após um hiato de mais de uma década, o grupo retornou em 2005 e desde lá vem lançando álbuns e fazendo turnês sem parar. Nos últimos 11 anos, são seis álbuns, sempre com uma qualidade acima da média.

Este novo “When Were Were Kings” é a sequência lógica do último trabalho da banda, “Final Battle”, lançado em 2022. A abertura com a faixa “End Of Days” faz o fã e conhecedor do Stryper abrir um sorriso, pois é o som característico da banda. O ouvinte desavisado, pode pensar tratar-se de uma faixa perdida do Judas Priest. As guitarras gêmeas de Michael Sweet e OZ Fox são uma aula de riffs e solos de bom gosto.

“Unforgivable” e a faixa título com grandes andamentos convidam para o “headbanging”, muito pelo andamento solido construído pela “cozinha” Robert Sweet/Perry Richardson ( ex-baixista do Firehouse). Robert Sweet tem, desde sempre, um dos melhores timbres de bateria do Metal mundial, isso é incontestável, escute e comprove.

Outros destaques: “Trinity”, uma faixa que poderia tranquilamente estar nos três primeiros álbuns da banda, com riffs e solos grandiosos, sem falar no poderoso vocal de Michael Sweet, que deixa todas as composições ainda mais fortes. "Rhime of Time”, andamento mais cadenciado e com refrão “cante junto”, enquanto “Rapture Of The Time” vem cheia de groove, lembrando algo do Extreme.

No início deste 2024, o Stryper lançou o acústico “To Hell With The Amps”, e a música “Grateful”, apesar de não ser neste formato, se encaixaria muito bem nos shows acústicos que promoveram o trabalho citado. Fechando o álbum temos “Imperfect World”, uma excelente peça de Heavy Metal, que demonstra toda a categoria do Stryper, onde todos os músicos demonstram sua classe, desde a “intro” de bateria até os solos finais.

Enfim, o Stryper, como de costume, entrega um excelente trabalho com “When Were The Kings”. O lançamento nacional é da Shinigami Records, e é altamente recomendável para os fãs de Heavy & Hard.

José Henrique Godoy




terça-feira, 24 de setembro de 2024

THRESHOLD - PSYCHEDELICATESSEN (1994 - RELANÇAMENTO 2024)

 


THRESHOLD 
PSYCHEDELICATESSEN
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O segundo álbum da banda de prog metal THRESHOLD traz duas diferenças básicas em relação ao seu álbum de estreia: a voz do vocalista Glynn Morgan e a crueza que foi ofuscada em seu antecessor. PSYCHEDELICATESSEN, lançado originalmente em 1994 e relançado agora, remasterizado e remixado, pela parceria Shinigami Records / Nuclear Blast Records, mostra uma banda mais pesada e direta, trazendo uma situação um tanto quanto inusitada, uma vez que a maioria dos grupos lança trabalhos com essas características em sua estreia, "evoluindo" no segundo álbum. No entanto, não pense que a técnica, versatilidade e qualidade dos ingleses ficaram de lado, pois o CD nos mostra uma banda afiada e em sintonia, e nessa versão, temos 4 faixas bônus, como podemos conferir em seguida.

Composta à época pelo já citado Morgan, Karl Groom (guitarra), Nick Midson (guitarra), Jon Jeary (baixo), Nick Harradence (bateria) e Richard West (teclados), a banda sofreu sua principal mudança nos vocais, pois Damian Wilson se mostrava (e ainda se mostra) um vocalista mais técnico e versátil. Morgan, por sua vez, tem características diversas, trazendo por vezes, mais agressividade em algumas passagens. Mantendo a veia prog metal em alta, mas com classe e energia, o grupo traz 13 faixas (9 em sua versão original) que fazem com a peça se torna obrigatória aos fãs do sexteto. Gravado em Berkshire, Inglaterra, entre julho e setembro de 1994, PSYCHEDELICATESSEN é um álbum que mostrava um novo caminho sendo trilhado pela banda.

Abrindo com a pesada e "suja" "Sunseeker", o THRESHOLD já nos mostra as diferenças vocais entre Morgan e Wilson (e este que vos fala, tem sua predileção pelo último), mas sem descaracterizar a energia presente na música da banda. O núcleo criativo formado por Groom e West seguiu intacto, mantendo a identidade do sexteto. "A Tension of Souls", uma música que poderia estar em algum álbum do Paradise Lost, vem na sequência, arrastada e com linhas de guitarra bem intensas. "Into the Light", com seus mais de 9 minutos é uma faixa mais suave e melódica, com suas mudanças de andamento, enquanto o peso e a quebradeira de "Will to Give" vem em seguida, antecedendo a "cura" "Under the Sun", com o piano de West conduzindo a bela melodia. A Versão regular traz ainda "Babylon Rising" e "He is I Am", duas faixas com todas as características do prog metal, quais sejam, pesadas, com mudanças de andamento e muita qualidade em suas execuções, bem como "Innocent"  e "Devoted", sendo essa última, pesada e bastante intensa.

Como bônus, temos as faixas "Lost", melódica e trazendo um belo dueto entre os teclados de West e o violão de Groom, "Intervention", com seus 8 minutos, "Fist of Tongues", a faixa mais Heavy Metal da carreira do grupo até este momento, e na minha opinião, a melhor faixa do trabalho e "Half Way Home", com seu clima intimista e ao mesmo tempo livre, dona de uma bela melodia.

PSYCHEDELICATESSEN traz o THRESHOLD num momento de transição, principalmente pela troca de vocalista, ainda que Glynn Morgan já estivesse excursionando com o grupo, desde a saída de Damian Wilson. Um trabalho que se mostra interessante e indispensável àqueles que curtem a sonoridade do sexteto inglês.

Sergiomar Menezes




KTROCK - ARAÚJO VIANNA - 14/09/2024 - PORTO ALEGRE/RS

 



KTROCK

WANDER WILDNER
DEFALLA
ROSA TATTOOADA
GRAFORRÉIA XILARMÔNICA
CARLINHOS CARNEIRO
TNT

ARAÚJO VIANNA
14/09/2024
PORTO ALEGRE/RS

PRODUÇÃO: KTO
ASSESSORIA: OPINIÃO PRODUTORA

TEXTO: SERGIOMAR MENEZES
FOTOS: JOSÉ HENRIQUE GODOY


KTROCK - A CELEBRAÇÃO DO ROCK "GAÚCHO"

A segunda edição do KTROCK, festival que reúne grandes bandas do "Rock Gaúcho", aconteceu no dia 14 de setembro, e depois de dias nublados recheados pela fumaça das queimadas (alguém tem notícia dos artistas da música "Salvem a Amazônia"?), o sol resolveu dar as caras e transformar a data num dia ainda mais especial, que se consolidou com a confirmação da presença da atração "surpresa" (que não era mais tão surpresa assim desde a sexta-feira...).

O local escolhido, foi mais uma vez, o clássico Auditório Araújo Vianna, um verdadeiro ícone da cultura porto-alegrense e gaúcha, palco de inúmeras apresentações históricas, situado na Osvaldo Aranha, no Parque Farroupilha (entendedores entenderão).

O público, que foi aumentando com o decorrer da tarde, mesmo que não tenha sido aquele que um festival dessa importância merecia, acabou primando mais pela qualidade, pois cantou praticamente todas as músicas com todas as bandas, mostrando que aquele "bairrismo" gaúcho acaba mantendo acesa a chama desse estilo tão caro aos seus admiradores.


Passavam poucos minutos das 16h (horário previsto para os shows), quando Lelê Bortholacci (comunicador das rádios Atlântida e 102.3 FM), apresentador oficial do evento, anunciou a primeira atração, a lenda do punk gaúcho WANDER WILDNER.

Um alegre e carismático Wander, adentrou o palco acompanhado de uma excelente banda, para trazer inúmeros clássicos de sua carreira solo e alguns covers que abrilhantaram ainda mais sua apresentação. Vestindo um terno azul claro a lá Graham Bonnet, Wander sabe como poucos conduzir um show, tendo o público em suas mãos do início ao fim. "Ritmo da Vida", "Bebendo Vinho", "Eu Tenho uma Camiseta Escrita Eu Te Amo",  covers como "Lugar do Caralho" (Júpiter Maçã), "Candy" (Iggy Pop) e "Sangue Latino" (Secos e Molhados), foram alguns dos grandes momentos do show.

No entanto, Wander também trouxe suas "surpresas": "Jesus Cristo Vai Voltar", lembrando os bons tempos da Sangue Sujo, e a participação de Jimi Joe, que enfrenta problemas de saúde, mas protagonizou o momento mais bonito e emocionante do festival, tocando guitarra em uma faixa e fazendo backing vocal em outra. Jimi foi locutor da falecida Rádio Ipanema, além de ter participado da banda de Wander durante muitos anos, inclusive na gravação do Acústico MTV Bandas Gaúchas. Pra fechar o show, "Redemption Song" de Bob Marley, numa versão bem pessoal, transformada em "Canção Iluminada". Um abertura de evento grandiosa!



Depois de um curto intervalo para a troca de equipamento, era chegada a vez da mais irreverente, polêmica e maluca banda gaúcha: DEFALLA! Com sua formação clássica, Edu K (vocal), Castor (guitarra), Fornazzo (guitarra), Flu (baixo) e Biba Meira (bateria), o grupo mostrou que os 40 anos de estrada fazem a diferença. ainda que o show tenha demorado um pouco a engrenar. Talvez pelo público que ainda chegava, talvez pelo início mais introspectivo do show, a verdade é que quando faixas como "Repelente", "I Have to Sing a Song", "Wake of Jo" "Como Vovó Já Dizia" foram tocadas, o público interagiu de maneira mais direta com o grupo. 

Edu K, ainda que não se considere um integrante do "rock gaúcho", é sim, uma das figuras mais icônicas do estilo no Rio Grande do Sul. Com luvas de monstro, óculos que acendiam suas luzes, e uma tampa de vazo sanitário no pescoço, relembrando o que a saudosa Mari Mezzari disse no documentário da banda sobre as vestimentas de Edu no início dos anos 80 pela Osvaldo Aranha, o vocalista é um show a parte dentro da apresentação.

O grupo também trouxe uma participação especial: King Jim, do Garotos da Rua, outra lenda do rock gaúcho que se fez presente. Mas o mais curioso é que quando perguntado que músicas tocaria com o grupo, King apenas disse "não faço ideia"... Que coisa mais DeFalla que isso? "Não me Mande Flores", "It's Fucking Borin' to Death" e Popozuda Rock n' Roll" (se o AC/DC um dia fizesse um funk, não tenho dúvidas que seria assim) encerraram a apresentação que ganhou o público.



Após outo intervalo, era chegada a hora do, na minha modesta opinião, melhor show do festival em 2024: ROSA TATTOOADA! Prestes a completar 36 anos de estrada, Jacques Maciel (vocal e guitarra), Valdi DallaRosa (baixo e backing vocal) e Matt Thoffern (bateria), esbanjam classe e categoria, num Hard Rock totalmente seu, incorporando desde in fluências clássicas do estilo, mas sem perder a essência do rock praticado por aqui. Aliás, esse sempre foi um ponto que me pega: Se o Rosa fosse de outra região do país, seria reconhecido pelo Hard Rock ou pela sua localização? Melhor que ficar com esse questionamento é aproveitar a apresentação recheada de clássicos como "Na Estrada", "Um Milhão de Flores", "Carburador", Diamante Interestelar", "Voando Baixo", "Fora de Mim, Dentro de Você", "Rendez-Vouz" e tantos outros que fizeram e ainda fazem a alegria dos fãs da música pesada.

Assim, como nas apresentações anteriores, o grupo também resolveu trazer uma participação especial: Flávio Basso, também conhecido como Júpiter Maçã, veio espiritualmente engrandecer a execução de "Sob um Céu de Blues", clássico absoluto d'Os Cascavelletes e da nossa música, cantado por todos os presentes de forma uníssona. Um dos mais belos momentos do festival, engrandecendo ainda mais o show, que além de uma homenagem, também foi um agradecimento ao gênio indomável do rock gaúcho, responsável pela criação do Rosa, com já contado pelo próprio Jacques muitas vezes. A banda está afiadíssima, mas cabe destacar a presença de palco e pegada de Matt, que caiu como uma luva na banda, tocando como reza a cartilha do Hard, por vezes de pé, sempre sorrindo e fazendo aqueles "malabarismos" que todo batera que se preza guarda na manga.

Ainda tivemos "Tardes de Outono" e a mais que clássica "O Inferno vai ter que Esperar", música que catapultou a carreira da banda e foi composta por Thedy Correa do Nenhum de Nós, não aproveitada pelo grupo em questão e que foi dada ao Rosa de presente. Quem diria que o Nenhum de nós fez bem ao rock gaúcho? Ainda houve tempo pro vocalista homenagear sua esposa que estava de aniversário no dia, puxando um belo "Parabéns à Você" cantado por todos no Araújo Vianna. Senti falta de algumas faixas como "Rock n' Roll até Morrer", "Dólar na Calcinha", " Hard Rocker Old School", mas como o tempo era reduzido, fica pra uma próxima..



Então, era chegada a hora do show, ao menos para mim, mais aguardado do festival: GRAFORRÉIA XILARMÔNICA! O trio formado por Frank Jorge (baixo/vocal), Carlo Pianta (guitarra/vocal) e Alexandre Birck (bateria/vocal) é um dos mais cultuados na terra castigada pelas enchentes e ventos. O que dizer de seus integrantes, que fizeram e fazem parte da história do rock no Rio Grande do Sul? Juntos gravaram álbuns sensacionais, com destaque para os dois primeiros, Coisa do Louco II (1995), que só havia saído em CD, mas agora ganhou sua versão em vinil, e "Chapinhas de Ouro" (1998), fundamentais pra quem quer entender o que é o Rock Gaúcho...

Sem muito papo, o trio detonou faixas clássicas, tais como "Bagaceiro Chinelão", "Literatura Brasileira", "Patê", "Twist" (um verdadeiro primor), "Rancho", "Meus Dois Amigos", "Eu gostaria de Matar os Dois", "Eu", "Nunca Diga", "Benga Minueto", "Você foi Embora", entre tantas outras. Apesar de um problema ocorrido durante o show envolvendo o guitarrista Carlo Pianta, o show transcorreu de forma perfeita, culminando em duas faixas muito importantes: "Colégio Interno", primeira música do grupo a tocar na rádio, mas que ganhou "vida" apenas no segundo álbum, e um dos maiores hinos já criados no cancioneiro do rock: "Amigo Punk", faixa que, não é preciso dizer, foi cantado por todos, até mesmo pelos seguranças ali presentes.

E como disse o apresentador Lelê Bortholacci, todos nós atravessamos a Osvaldo Aranha e entramos no Parque Farroupilha...



O "último show", encarregado de fechar o show foi o do vocalista da Bidê ou Balde, CARLINHOS CARNEIRO, que vem fazendo suas apresentações celebrando os 25 anos da banda, que tem muito a cara de Porto Alegre. Se você duvida, me pergunte em qual show o público mais agitou, cantou as músicas e vibrou junto com o carismático vocalista, protagonista do momento mais polêmico e constrangedor do festival...

Trazendo as músicas que mais se destacaram na durante da banda, Carlinhos trouxe a participação de ex-integrantes, além de amigos e também, de Frank Jorge, numa verdadeira festa no palco do Araújo Vianna. "Melissa", "Buddy Holly", "Mesma Cidade", "Cores Bonitas", "Bromélias", "É Preciso dar Vazão aos Sentimentos", entre outras, foram cantadas por todos, mostrando que a escolha dele pra fechar o festival foi acertada. No entanto, o vocalista em determinado momento fez uma crítica/brincadeira ao patrocinador do evento que não soou nada legal, ainda mais tendo em vista toda a estrutura proporcionada ás bandas que ali tocaram. E não satisfeito, repetiu a dose pouco tempo depois. Desnecessário, ou como diria Sandra Annenberg, deselegante.

O Show terminou com "Mesmo que Mude", que fez o Araújo Vianna cantar, com Carlinhos descendo do palco, subindo nas cadeiras (que diga-se de passagem, passaram no teste), tirando selfies com o público e deixando sua marca irreverente na apresentação. Seria o final do festival, mas...



Lelê Bortholacci então volta ao palco e anuncia a "surpresa": a volta do TNT! Uma das maiores bandas do RS, está de volta! Foram apenas duas músicas, mas Charles Master (baixo e vocal), Tchê Gomes (guitarra e vocal), Márcio Petracco (guitarra), Paulo Arcari (bateria), Fabio Ly, mais conhecido por Musklinho (bateria) e João Maldonado (teclados), foram ovacionados e deixaram em todos os presentes aquele sentimento de nostalgia que será revivido dia 19 de dezembro no mesmo Araújo Vianna.

"Não Sei" e "Cachorro Louco" foram as faixas escolhidas para "reapresentar" o grupo ao público, e mostraram que os 21 anos sem tocar juntos parecem ter sido 21 segundos, tamanha a química da banda. Petracco era um dos mais felizes no palco, enquanto Charles Master brincou dizendo que o combinado era só uma música, mas como já estavam ali, sem ensaiar mesmo, iam tocar mais uma. Uma pequena amostra do que teremos no final do ano.



Saldo mais que positivo, o festival mostrou a força do rock e do povo gaúcho, que embora seja constantemente atingido por catástrofes, consegue se reerguer e mostrar suas façanhas a toda Terra.

Obrigado KTO e Opinião Produtora!