quinta-feira, 17 de julho de 2025

EDU FALASCHI - VERA CRUZ - LIVE IN SÃO PAULO (2025)

 


EDU FALASCHI
VERA CRUZ - LIVE IN SÃO PAULO
Voice Music - Nacional

Antes de falar sobre Vera Cruz: Live in São Paulo, vale gastar algumas linhas para reconhecer a importância e o crescimento de Edu Falaschi. Os últimos anos consolidaram seu nome como um dos principais artistas do metal brasileiro — e por que não, da música brasileira como um todo. Seja revivendo álbuns clássicos do Angra, seja com material autoral, Edu tem construído uma trajetória marcada por grandiosidade, emoção e excelência técnica.

Independentemente do caminho escolhido — nostalgia ou inovação —, nunca se trata de algo pequeno. Cada projeto vem carregado de impacto, seja no som, seja na parte visual. Hoje, sem exagero, é possível afirmar: Edu Falaschi não apenas se reinventou — ele superou o Angra. Com sua visão artística ousada, empreendedorismo e sua conexão profunda com os fãs, Falaschi ocupa um patamar onde poucos chegaram.

“Vera Cruz: Live in São Paulo” foi gravado em 2022, no palco do Tokio Marine Hall. Na ocasião, Edu e sua banda executaram na íntegra dois álbuns marcantes: “Rebirth”, do Angra, e “Vera Cruz”, sua primeira obra solo conceitual — mais uma vez, sendo ousado.

O material que acaba de ser lançado em CD, no entanto, traz apenas (uma pena!) o registro completo do repertório solo, além de três faixas bônus ( 2 músicas de “Rebirth” e 1 do “Temple of Shadows”), como uma espécie de homenagem aos momentos épicos no Angra. Algo bastante louvável — e que certamente agradará os fãs em cheio — é o encarte recheado de fotos da apresentação. Todos os convidados, integrantes e equipe ganharam espaço e destaque, valorizando ainda mais o trabalho.

Edu está cercado por um verdadeiro dream team: Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra), Raphael Dafras (baixo), Aquiles Priester (bateria) e Fábio Laguna (teclado), além do suporte de Fábio Caldeira e Raissa Ramos nos backing vocals. Se em estúdio “Vera Cruz” já soa impecável, ao vivo não seria diferente. Uma das melhores sensações para um músico deve ser quando existe essa troca de energia entre banda e público — e é impressionante perceber, ao longo de todo o tracklist, o público cantando junto, fazendo coro, transformando aquela noite em algo realmente especial.

“The Ancestry” e “Sea of Uncertainties” são um belíssimo cartão de visitas, com o baixo de Dafras pulsante e com um timbre bem marcante. Mas é a emocionante “Skies in Your Eyes” que se torna um dos grandes destaques logo de cara. Afinal, quem resiste a bons arranjos e um refrão marcante? Isso mesmo: ninguém!

Balada boa sempre fará parte das composições do cantor — e Edu é puro talento nesse quesito.

“Frol de La Mar” funciona como uma passagem intimista e sombria, uma introdução perfeita para “Crosses”, faixa do mais puro suco do power metal: rápida, com bumbos duplos, instrumental cheio de quebras, solos velozes e linhas vocais nas alturas. Edu segura com firmeza, mostrando que os problemas vocais são coisa do passado. Ele sabe exatamente quando conter a voz e quando soltar toda a potência. Quer ter certeza do que digo? Ouça “Land Ahoy”.

Essa música se tornou um dos grandes marcos da carreira de Falaschi. Já era impactante em estúdio, mas agora, em “Vera Cruz: Live in São Paulo”, ganha sua gravação definitiva. Uma faixa que mistura passagens introspectivas com momentos explosivos e, ao vivo, Edu dá um show de interpretação, enquanto Barros e Mafra dividem com o vocalista o protagonismo no palco, ÉPICO!

“Fire with Fire” retorna ao metal melódico — quase como uma prima distante de “Angels and Demons”, do aclamado “Temple of Shadows”. É mais um exemplo de como Edu Falaschi soube se cercar das pessoas certas para transformar suas ideias em obras grandiosas. Aquiles e Laguna brilham em “Mirror of Delusion”, enquanto Fábio e Raissa, nos backing vocals, acrescentam ainda mais grandiosidade à música. É como se a referência na hora da composição tivesse sido uma fusão entre Angra e Helloween, oferecendo ao fã uma boa dose de nostalgia.

Após diversos momentos de alta intensidade, era preciso “relaxar” e baixar um pouco o clima — sem perder o público. É aí que entra “Bonfire of the Vanities”. Cheia de feeling (e com um solo de Roberto Barros de tirar o fôlego), a música conta com as participações especiais de Tito Falaschi e Fábio Lima, deixando o som ainda mais grandioso. O momento calmo se vai, pois é chegada a hora da pancadaria: “Face of the Storm”. Originalmente gravada com a participação de Max Cavalera (o maior nome do metal nacional, diga-se), aqui ganha um encontro de gerações do metal nacional com Marcello Pompeu (Korzus) e Fernanda Lira (Crypta). O interessante é que temos três vozes distintas — o thrash, o death e o melódico — que se complementam e formam um resultado único. Repito: as músicas de Vera Cruz ao vivo são excelentes. Treino é treino (estúdio), jogo é jogo (ao vivo) — e esse álbum só marca golaço.

Mas o prêmio Puskás vai para a participação de Elba Ramalho em “Rainha do Luar”.
O timbre cativante da cantora hipnotiza qualquer um, e o clima de “conversação” entre Edu e Elba — com o público fazendo a terceira voz — é simplesmente mágico. É impossível não colocar essa faixa para tocar diversas vezes. A calmaria, o peso explosivo e o clima à la “Late Redemption” não têm erro: é a cereja do bolo do primeiro álbum solo de Edu Falaschi.

O bônus com “Nova Era”, “Heroes of Sand” e “Spread Your Fire” só reforça como a noite foi marcante.

Vera Cruz: Live in São Paulo” é o registro de um artista que nunca desiste. Pelo contrário: Edu Falaschi se entrega de corpo e alma à sua música, sonha grande e entrega grandiosidade aos seus fãs.

William Ribas




THE TROOPS OF DOOM - 12/07/2025 - SESC BELENZINHO - SÃO PAULO/SP

 


THE TROOPS OF DOOM
12/07/2025
SESC BELENZINHO
SÃO PAULO/SP

Texto/fotos/vídeos: William Ribas

É interessante como a poética frase “The Calm Before the Storm” muitas vezes é a mais pura verdade. Chegando ao Sesc Belenzinho pouco antes das 20h, era uma tranquilidade que os vizinhos e bares não imaginavam — o caos sonoro que estava prestes a acontecer na zona leste de São Paulo. Entrando na Comedoria do Sesc, pensei: “Vou na barraquinha do merch” — lotado. Ok, deixo pra depois.

Foi interessante ir observando o local enchendo aos poucos. Quanto mais perto do horário, mais o local ia tomando forma para uma noite inesquecível. Antes de falar sobre o show em si, acredito que vale um detalhe principal — o Troops of Doom, em seu primeiro momento, “é a banda de Jairo ‘Tormentor’ Guedz”, o guitarrista que gravou nos anos 80 Bestial Devastation e Morbid Visions, mas, lançamento após lançamento, show após show, a banda não precisa mais desse “slogan”. Esse pensamento deve ser triturado e esquecido.

O The Troops of Doom é o The Troops of Doom!

Banda que é completada por Alex Kaffer (baixo e vocal), Marcelo Vasco (guitarra) e Alexandre Oliveira (bateria) — um rolo compressor do death metal brasileiro. O público demonstrou que a passagem de Jairo pelo Sepultura é especial, mas a “nova jornada” é o principal motivo de todos estarmos lá.

Pouco após o horário marcado, “God of Thunder”, do Kiss, começa a tocar nos PAs — era o anúncio do pandemônio chegando. Alex Kaffer lembrou:
“Amanhã é o Dia Mundial do Rock, mas, hoje, será o dia do death/thrash metal old school.”


O show começa com os quatro músicos metendo os coturnos no peito de cada fã. Um início maravilhoso com “Act I - The Devil’s Tail”, que provocou as primeiras rodas. Aliás, as rodas foram do primeiro ao último minuto da apresentação, com Kaffer instigando a cada instante para que o público continuasse. Aliás, o baixista e vocalista é um completo frontman — o cara sabe como poucos hoje em dia agitar e provocar o público.

Com dois álbuns de estúdio e três EPs lançados, o que vimos foi basicamente um best of dos últimos quatro anos. “Far from Your God”, “The Rise of Heresy”, “Dethroned Messiah”, “Dawn of Manifesto” e as “sepulturas” — “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” — mostraram como o grupo é extremamente afiado. Jairo Guedz é um verdadeiro riffmaker, e é impossível, em certos momentos, não fixar os olhos nas palhetadas e movimentos certeiros em sua guitarra.


O som cristalino e perfeito fazia com que a troca de energia entre banda e público fosse ímpar. Braços fazendo o sinal que Dio nos ensinou, agitação e circle pits entre as ordens que ninguém ousou abandonar. Em cima do palco, a dupla implacável Vasco e Guedz são dois “animais” — riffs e solos com inquietude, com ambos não parando de se movimentar e bater cabeça.

“The Confessional” é uma das minhas favoritas da banda, e ter ela destruindo o meu pescoço foi um prazer. Ao vivo, ela ganha mais poder: o riff, seu modo arrastado, hipnótico e brutal são incríveis, com destaque para as linhas de bateria de Alexandre. Inclusive, o que esse “ser” toca não é brincadeira — o cara é uma máquina. Viradas, blast beats, batidas intrínsecas e um modo de “bater sem dó” no kit que beiram ao surreal.

Falando em algo inacreditável, o que falar de “A Queda”? Originalmente, ela conta com a participação de João Gordo, do Ratos de Porão, nos vocais. Alex Kaffer deu um lindo recado aos homens de fé das igrejas. A música, que em estúdio já é agressiva, ao vivo ganhou requintes de crueldade, tamanha destruição que provocou em todos. O grito final — “A QUEDAAAAAAA” — de Alex fez o segurança arregalar os olhos com medo e pavor. Impagável!


Dizem que clássico é clássico, e vice-versa, correto?
O encerramento foi com a música que dá nome ao grupo. “Troops of Doom” se tornou uma música atemporal. Não importa quantas vezes você tenha escutado, seja quando foi lançada com Jairo e os irmãos Cavalera, seja agora na regravação, ela arrepia como se fosse a primeira vez — obviamente que o Sesc veio abaixo nesse momento.

Um final de show apoteótico. Uma noite inesquecível de caos, com um grupo que é old school, que honra o passado, mas vive o agora.
E esse agora é brutal.

Ah, tentei mais uma vez na saída passar no 'merch', mas... LOTADO.





DIAMOND HEAD - LIVE AND ELECTRIC (2025)


 

DIAMOND HEAD
LIVE AND ELECTRIC - UK TOUR 2022
Shinigami Records/Silver Lining Music - Nacional

Eu nunca imaginei que perder um show do Iron Maiden pudesse ser tão prazeroso quanto foi em 2022. No mesmo dia, separados por quilômetros de distância, São Paulo recebia dois gigantes da música pesada. Dois grupos ingleses que marcaram época. O Maiden é o gigante que todos conhecemos, arrastando multidões por onde passa. Mas naquele 4 de setembro de 2022, eu queria ver Brian Tatler e seu Diamond Head.

Escolhi assistir a um dos heróis dos meus heróis.

Escutando agora o novo lançamento do Diamond Head, é como reviver exatamente a emoção daquele dia. “Live and Electric” adota um formato que, pessoalmente, não me agrada muito. Álbuns ao vivo gravados em diferentes cidades — com cada faixa vinda de um show diferente — soando como pedaços costurados que, por vezes, perdem a magia. Às vezes, parecem quase um “monstro de retalhos” tentando soar coeso. Por sorte, a mixagem aqui soa surpreendentemente unificada. Se não fosse Rasmus Bom Andersen mencionando o nome das cidades entre uma música e outra, seria fácil acreditar que tudo foi registrado em uma única apresentação. Ponto para a banda — e também para o produtor Jay Shredder.

O tracklist beira a perfeição. E quando digo beira, é porque, infelizmente, “Sucking My Love” e “Lightning to the Nations” ficaram de fora (felizmente, ambas foram tocadas no show de São Paulo). Clássicos como “The Prince”, “It’s Electric”, “Helpless” e “Am I Evil?” estão presentes — e são, claro, os grandes destaques (e todos sabemos o porquê). No entanto, confesso: a graça do material está na gangorra entre “hits” e nas faixas menos conhecidas. Músicas como “The Messenger”, “In the Heat of the Night” e “Set My Soul on Fire” têm um peso sombrio, como se nascessem em algum beco onde o heavy metal cru encontra o despojamento do hard rock. São canções que evidenciam o talento de Tatler como guitarrista — um verdadeiro riffmaker.

Rasmus é puro carisma. Além de cantar muito, ele é “virado nos 220”, e constantemente instiga o público a participar. “Death by Design” mostra bem o tamanho do frontman que a banda tem. E na sequência, “Sweet and Innocent” — uma das melhores do catálogo da banda. Essa não foi “coverizada” pelo Metallica… mas deveria! Mesmo após mais de 40 anos, a música continua hipnotizante. QUE RIFF!

“Live and Electric” fecha com “Belly of the Beast” e a clássica das clássicas, “Am I Evil?”. Com pouco menos de 60 minutos de duração, é o tipo de álbum que você facilmente deixa no repeat. O som é cru, mas bem mixado, e transmite aquela sensação quase tátil de estar presente no show. Em um mundo moderno repleto de overdubs, correções e enfeites, esse álbum prova que o simples — quando bem feito — ainda funciona de maneira ímpar. Sem dúvida, um dos melhores discos ao vivo que escutei nos últimos anos.

Um disco obrigatório — Seja a compra, seja a audição.

Parabéns à Shinigami Records, que em parceria com a Silver Lining Music, trouxe esse lançamento para o Brasil. Um registro honesto, potente e feito por uma banda que continua relevante — mesmo depois de ter inspirado um gigante.

William Ribas




IN FLAMES - THE TOKYO SHOWDOWN (2001/2025) - RELANÇAMENTO

 


IN FLAMES 
THE TOKYO SHOWDOWN - LIVE IN JAPAN 2000
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2001, THE TOKYO SHOWDOWN é o primeiro álbum ao vivo do IN FLAMES, um dos nomes mais influentes do melodic death metal. Gravado durante a turnê japonesa do álbum "Clayman" (2000), especificamente na apresentação realizada em Tóquio, o disco captura com intensidade a energia crua, técnica apurada e o carisma da banda em sua melhor forma durante o período clássico de sua carreira. Mas... peca pela produção. Então é ruim? Não, pelo contrário, pois a gravação captou a intensidade do quinteto ao vivo. Mas o som um pouco abafado (melhorado nesse relançamento), deixa um pouco a desejar. No entanto, o álbum serve não apenas como um registro ao vivo, mas como uma afirmação do impacto global que a banda começava a consolidar no início dos anos 2000. E a Shinigami Records, em mais uma parceria com a Nuclear Blast, recolocam no mercado nacional esse trabalho que torna explícita a energia e brutalidade do grupo.

À época, a banda contava com sua formação considerada clássica pelos fãs: Anders Fridén (vocal), Jesper Strömblad (guitarra), Björn Gelotte (guitarra), Peter Iwers (baixo) e Daniel Svensson (bateria). E, podemos afirmar, qua nesse momento, a banda estava no auge (ao menos para esse que vos escreve), e nessa apresentação se mostra com aquele "sangue no zóio". Produzido por Anders Fridén  e gravado por Takeuchi Koichi, o álbum tem um setlist interessante, que navega por todas as fases da banda, destacando os  os principais momentos dos álbuns "The Jester Race" (1996), "Whoracle" (1997), "Colony" (1999) e "Clayman' (2000), mostrando que em 5 anos, o grupo cravou seu nome no panteão dos grandes grupos do metal mundial.

The Tokyo Showdown apresenta uma performance intensa e vigorosa, com destaque para faixas como “Bullet Ride”, “Moonshield”, “Jotun” e “Only for the Weak”. A qualidade da gravação, no entanto, deixa um pouco a desejar, mas não prejudica a audição. Posso soar chato, mas uma banda como o IN Flames merecia uma produção mais primorosa, ainda mais com o status que a banda já ostentava naquele momento. Mesmo assim, é possível sentir o peso das guitarras de Jesper Strömblad e Björn Gelotte, a precisão da bateria de Daniel Svensson e a performance intensa de Fridén nos vocais. Um dos momentos mais marcantes do disco é a "inesperada" citação ao riff de "Raining Blood", do... bom vocês sabem quem, durante a introdução de “Scorn” — um tributo espontâneo ao thrash metal que influenciou as raízes mais agressivas da banda. 

Em termos de importância, esse álbum ao vivo marca o fechamento simbólico da era "clássica" da banda antes de sua guinada estilística em álbuns posteriores como "Reroute to Remain" (2002), onde o som começou a incorporar elementos mais modernos do metal alternativo (leia-se norte-americano). Por isso, o trabalho é frequentemente celebrado por fãs como um documento fiel da essência original da banda, antes de sua transição sonora.

Mais do que apenas um registro de turnê, THE TOKYO SHOWDOWN é uma celebração do espírito brutal e melódico, da técnica e da força do IN FLAMES. Ele solidifica a posição da banda como pioneira do death metal melódico de Gotemburgo e serve como uma ponte entre o passado agressivo e o futuro experimental do grupo.

Sergiomar Menezes