BRUCE DICKINSON
MORE BALLS TO PICASSO
BMG - Importado
MORE BALLS TO PICASSO
BMG - Importado
Mexer em material clássico é sempre um terreno espinhoso. Não é incomum os gênios da música revisitarem sua discografia e perceber que algo pode ser melhorado, remixado ou regravado, algo que vem se tornando muito frequente entre grandes nomes do Heavy Metal. Obviamente, os recursos tecnológicos que temos atualmente superam, e muito, o que se podia esperar de um grande trabalho lançado há 30, 40, 50 anos atrás.
A discografia solo da voz do Iron Maiden não chega a ser, digamos, muito extensa. São ao todo, sete trabalhos de estúdio e temos altos e baixos nesses álbuns. Trabalhos fenomenais como “Accident of Birth” (1997) e “The Chemical Wedding” (1998), sendo este o preferido deste redator; trabalhos bons/regulares como “Tattooed Millionaire” (1990) e “Tyranny of Souls” (2005) e os fraquinhos “Skunkworks” (1996) e “The Mandrake Project” (2024). E temos também, o clássico “Balls to Picasso” (1994), aqui revisitado e reimaginado pelo Metal God. Não, o trabalho não foi regravado, nada disso, apenas uma generosa remixagem que deixou o disco com uma roupagem mais moderna e muito, mas muito mais pesada. Tentaremos passar a você, caro leitor, uma leitura de quem realmente aprecia este fabuloso trabalho com pouquíssimas derrapadas. Vamos faixa a faixa:
Cyclops: as guitarras e baixo estão bem mais altos e poderosos. Impressionante como o baixo está grooveado! A faixa continua com aquele levada mais cadenciada, o que combinou e muito com as mudanças. Incontestavelmente, ficou melhor!
Hell No: a faixa menos “reimaginada” que temos aqui. As versões são praticamente idênticas, o que se nota é um cuidadoso processo de remixagem e remasterização. Na dúvida, ouça as duas versões.
Gods of War: Sempre tive ela como faixa favorita do disco, e felizmente, assim como a faixa anterior, não senti ou reconheci mudanças relevantes; o que saltou aos ouvidos foi o vocal de Bruce ainda mais alto, o que obviamente, deixa tudo ainda melhor. Afinal, é de Bruce Dickinson que estamos falando.
1000 Points of Light: a guitarra está bem mais alta. Com o perdão do trocadilho infame, ficou 1000 vezes melhor.
Laughing in the Hiding Bush: sempre achei que essa faixa era deveras superestimada. Mas aqui ela ficou tão poderosa que quase me arrisco a dizer, que ela é sim, a melhor do disco! Tudo aqui ficou encantador. Talvez a mais insana performance de Roy Z com um solo que receberia aplausos qualquer ser humano minimamente bom de ouvido. Soberba!
Change of Heart: acredito que essa seja a faixa que mais diferente de todas. Dá pra sentir aquele clima meio tribal com orquestra em cada batida e nota. Talvez um pouco demais, mas nem de longe, dá pra menosprezar ou dizer que não colou. Passa raspando, mas passa!
Shoot All the Clowns: trocou seis por meia dúzia! Sabe aquela sensação de que houve uma remasterizada caprichada e mais nada. Ela continua sendo a menos inspirada do disco, e isso não será mudado jamais.
Fire: essa sempre foi especial para este redator. Não sei explicar, mas ela me cativou desde a primeira vez que ouvi. O refrão ficou ainda mais poderoso, Roy Z foi incrivelmente original nas linhas de guitarra, deixando um pouco de lado seu perfil latino, e sendo mais melódico do que nunca. Uma das melhores, indiscutivelmente!
Sacred Cowboys: essa faixa é a “Bring Your Daughter... to the Slaughter” da carreira solo de Bruce. Primeiro, por ser a faixa 9, segundo por ter parte das letras faladas ao invés de cantadas. O que falta aqui é apenas o glamour da outra faixa. Tirando a clássica faixa que vem a seguir, é o melhor refrão do disco. Aqui o produtor deu enfeitada desnecessária pra florear aquilo que não precisava. Ficou bom, mas nada acrescenta, poderia ser melhor...
Tears of the Dragon: os primeiros segundos da faixa já irão causar calafrios, do tipo WTF...?!! Mas calma, não é nada de ruim, apenas diferente elevado a milésima potência. Arranjos orquestrais pode ser uma boa para quem gosta, e eu particularmente adoro mas desde que não queiram ser o centro das atenções, e infelizmente, é o que acontece aqui. Algo bem parecido com o que o Guns ‘N Roses fez com a icônica “November Rain”. Mas aqui o buraco é mais embaixo. Se a ideia de Bruce era causar impacto, a proposta foi executada e aprovada com méritos. Ficou melhor ou pior? Difícil dizer, mas eu ainda prefiro a original.
Gods of War (live in studio): é a cara de Bruce lançar faixas ao vivo em estúdio. Aqui, a voz está mais incrível do que nunca, podemos imaginar Bruce tocando ao vivo ela em um pub. Ficou bem diferente das versões anteriores, o que não chega a surpreender, já que aqui é ao vivo e sem firulas.
Shoot All the Clowns (live in studio): se a anterior foi bem diferentona, aqui o negócio ficou mais sério. Tudo soa como uma jam session, a música ficou bem mais longa e nos minutos Bruce disparou uns tradicionais “oooooooo” algo que sempre o acompanhou, em especial, a frente da Donzela de Ferro. Interessante e nada mais.
Que é um material indispensável para os fãs do Metal God, isso é inquestionável, porém “Balls to Picasso” não é o único trabalho que mereça essa versão mais elaborada. Quem sabe mais pra frente, o mestre nos brinde com mais trabalhos desse tipo. Os fãs iriam adorar!
Mauro Antunes