segunda-feira, 3 de abril de 2023

KAMELOT - THE AWAKENING (2023)

 


KAMELOT - THE AWAKENING (2023)
Napalm Records

Como diríamos aqui no Rio Grande do Sul, - apropriando-me da variante linguística – assim vou começar a falar da banda e de seu novo álbum: “o Kamelot não é mais guri, tá longe de ser piá”. Falo isso, pois trata-se de uma banda com mais de 30 anos de estrada, possivelmente um dos nomes mais proeminentes e representativos do Power Metal mundial. O grupo estadunidense desenhou seu estilo por um viés próprio e de identidade singular, apesar do gênero ser constantemente remetido a nomes da Alemanha ou da Finlândia. Capitaneada pelo guitarrista e líder Thomas Youngblood, a banda, a despeito das mudanças de formação - especialmente a nevrálgica alteração de vocalista, ocorrida na saída do gigante e voz dos álbuns clássicos, Roy Khan, em 2011, para a entrada do promissor Tommy Karevik – permanece relevante e apresentando bons trabalhos na cena. Certamente, merecem mais do que respeito.

Nessa perspectiva, seu último álbum, “The Awakening”, lançado no recente 17 de março, vale todas as honras, porque a banda segue crivada na excelência e na contribuição estoica no terreno em que pisam, caminham e correm. Porém, sejamos francos: no trabalho em questão, o Kamelot entrega mais do mesmo, não oferece nenhuma grande novidade e não rompe com nenhuma expectativa. Reitero: é um bom trabalho, contudo, ainda assim, não traz nada de novo, não eleva nenhum grande feito estilístico ou sonoro da banda. Não digo que parece sem criatividade, mas, talvez, sem grandes inspirações. Jogou em terreno seguro e passou de fase mantendo resultado e cumprindo tabela. Pois é, apesar do título (na tradução: “O Despertar”), não parece uma banda muito desperta ou que inaugura uma nova era para o grupo.

As faixas que compõem o trabalho são bem produzidas e compostas, mas nada inovadoras. Trabalham no mesmo viés sinfônico, melódico e progressivo o qual os caras sabem fazer como ninguém para agradar aos apreciadores. Lembra uma extensão de feitos anteriores como “Ghost Opera” (2007) ou “Haven” (2015), apresentando composições que poderiam estar nesses discos sem nenhum prejuízo.

Ainda que o primeiro single lançado, o pretenso hino power metal “One More Flag in the Ground”, tenha sido recebido com sentimentos confusos pela base de fãs, o segundo e o terceiro singles – “Opus of the Night (Ghost Requiem)” e “Eventide” – serviram, para provavelmente, empolgarem mais os leais seguidores da instituição Kamelot. A postura operística e teatral foi extremamente bem recebida por causa de sua conexão direta com o citado “Ghost Opera”. As duas canções são capítulos da mesma história, tanto musical quanto lírica. E assim como esses singles, todo o álbum é um desfiladeiro emocional do começo ao fim, mais um palco para a característica teatralidade e comoção da banda, particularmente quando se trata das letras e da performance vocal do – já não mais novo vocalista da banda - Tommy Karevik. Finalmente, o cantor teve mais espaço e liberdade para mostrar o que ele pode realmente fazer por Youngblood e companhia. Na minha opinião, foi seu trabalho mais expressivo como vocalista, ainda que ele seja lembrado, por este que vos escreve, pelo o que fez no majestoso “Haven”.

A maioria das faixas – excluindo talvez as peças instrumentais que servem como introdução e encerramento (“Overture” e “Ephemera”) – são exercícios bem-sucedidos do “fazer bem feito, mas nada de novo da banda”, como é explícito em “Bloodmoon”, “Opus of the Night”e em “New Babylon”. Temos a pretensão cinematográfica em sons como “One More Flag in the Ground” e “The Great Divide”, assim como outras, pois o Kamelot sempre soube jogar com os climas emocionais e, suas músicas, quase como um padrão, geralmente captam isso. Temos baladas e trilhas mais introspectivas – óbvio! - como a balada de piano “Willow”e a facilmente esquecível trilha de inspiração celta “Midsummer’s Eve”. Em outras partes do álbum, há algumas dicas de elementos de metal moderno (especialmente sintetizadores) em faixas de destaque como a metal progressivo “The Looking Glass” ou “NightSky.

Além disso, um álbum do Kamelot não seria um álbum Kamelot sem algumas participações especiais! Desta vez, desfilaram em um trabalho da banda a violoncelista Tina Guo, a estrela em ascensão Melissa Bonny (da banda “Ad Infinitum”) e o violinista Florian Janoske, cujas contribuições adicionam profundidade, textura e nuances nas faixas em que são apresentados. As linhas dramáticas de violoncelo e violino sozinhas em "Midsummer's Eve" dão uma nova dimensão à trilha, enquanto o trabalho vocal de Melissa Bonny em "New Babylon" é extremamente destacável (como foi com as entidades Simone Simons e Alissa White-Gluz em trabalhos passados). A dinâmica entre ela, o coro - que torna o refrão dez vezes maior - e Tommy Karevik são a força motriz da faixa.

No geral, “The Awakening” tem todos os elementos que se fazem, sem dúvidas, o Kamelot parecer como Kamelot. Embora isso pareça uma crítica cínica e implícita, na verdade, é um brado a um dos maiores nomes do estilo o qual apresenta extrema qualidade produtiva e sonora em tudo que fazem. No entanto, “The Awakening” também pode servir como um sinal amarelo para o próprio bem da banda, já que sua fórmula para escrever músicas encontre-se bastante evidente, especialmente em torno dos refrões, instrumentações sinfônicas e lirismos melódicos e constantes – começando a passar do ponto da previsibilidade. Para uma banda que, como apontei ao início deste texto, “já não é mais guri”, questiono-me se apenas fazer mais do mesmo ainda serve, especialmente por ser uma banda de primeiro escalão do Power Metal mundial. A obra, mais uma vez, fecha com saldo positivo, mas cabe ao futuro indicar sua possível (ou não!) grandiosidade. Por ora, fecho o álbum, reservo-o na prateleira com carinho e merecimento, mas volto a escutar as obras e composições antigas da banda, as quais, para mim, parecem mais relevantes e presentes do que o que se apresenta agora.

Gregory Weiss Costa



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