METALLICA - 72 SEASONS (2023)
Blackened Records
Blackened Records
Cada fã de música pesada tem a sua própria imagem do Metallica. Para muitos a banda se vendeu ou acabou há anos. No meu caso, eu sempre acharei que Lars, James, Kirk e Robert, de certa forma são rebeldes, não importando a fase, o Metallica faz tudo ao seu modo, com a inquietude da adolescência ainda correndo no sangue. Não precisavam da aprovação antes e seguem essa regra, aliás, o único mandamento dessa instituição.
Antes de pensarmos em “72 Seasons”, precisamos voltar no tempo e entrar no ano de 2003, no polêmico “St. Anger”. O álbum mostrava Hetfield despejando sua ira, tentando “se limpar” de uma vida de abusos, e principalmente, buscar uma paz interna. Duas décadas depois voltamos à mesma situação. O vocalista novamente mostra sua imagem sem disfarces, cheio de vulnerabilidade, cantando e contando sobre sua fragilidade e problemática, literalmente uma psicanálise musical mostrando que o disco é o espelho do seu tempo.
O título do álbum veio de um livro sobre infância e a premissa de que os primeiros 18 anos de vida (72 temporadas) do ser humano moldarão o comportamento e personalidade. Algumas das coisas você conseguirá esquecer, mas outras estarão ali para sempre.
Quase que por inteiro, “72 Seasons”é sombrio, denso e intenso em todos os sentidos (não, ele não é thrash metal). O instrumental e o lírico são “namorados” caminhando de mãos dadas no vale da escuridão, se despindo do passado e amarras que os perseguiam, tendo na trilha sonora uma banda que usa velocidade (quando necessário), melodia (quando existir necessidade), peso (para alavancar as composições) e dinâmicas.
Os quatro singles (faixa título, “If Darkness had a Son”, “Screaming Suicide” e “Lux Aeterna”) serviram bem de cartão de boas-vindas deixando claro que diversidade balanceada é o novo Metallica (respeitando seu passado), mas se apresentando para as novas gerações. Aliás, vejo os discos pós Black Album como modernos e despreocupados. Tipo — são artistas criando sem as correntes impostas pelos fãs.
Contraventores de sua própria música, se reinventando como no caso de “Sleepwalk My Life Away”, “You Must Burn!” e “Crown of Barbed Wire”, onde temos uma banda injetando Stoner Metal/Sludge Metal em seu leque de gêneros tocados. Aliás, Tony Iommi, Ozzy Osbourne e companhia são as principais influências desse álbum.
Por diversas vezes nos 77 minutos do disco podemos ouvir um Black Sabbath aqui e ali, os movimentos arrastados deixam tudo pesado e viajante. Algo que chama atenção é a sinergia entre os integrantes, onde todos participaram do processo de criação das músicas, seja individualmente, seja coletivamente.
“Too Far Gone?” tem um trecho que te transporta para 1983, mais exclusivamente para “No Remorse”, 2 segundos que te fazem sorrir de orelha a orelha numa música que é um dos destaques. Falando em destaque, por todas as resenhas “Inamorata” foi elogiada, e após escutá-la, elogios e adjetivos são poucos para essa obra.
A faixa de encerramento nada mais é do que um Metallica usando com maestria a sua própria discografia. Pegando referências, clichês e frases dos seus últimos 30 anos e indo mais além. “Inamorata” é o que faz “72 Seasons ” ser pulsante e brilhante.
Riffs e mais riffs, Hetfield e Hammett estavam inspirados. Solos melódicos, fritados, e um wah-wah pegando fogo. Rob e Lars trabalharam juntos literalmente foram chefs em uma cozinha que nunca segue o livro do mandamento do heavy metal.Muito do que ouvimos vem de salas de ensaio em meio às turnês e ideias em casa, mostrando que o momento na banda é de união total.
Se por um lado a banda estava afiada, por outro foi longe demais, e explico. O Metallica basicamente entra no problema Iron Maiden, falta um produtor com saco roxo que corte os excessos, as malditas repetições que te levam a lugar algum no meio do nada. Se tivesse alguém podando e sem as descartáveis “Shadows Follow” e “Room of Mirrors ”, a audição seria agradabilíssima.
Mas, é o Metallica, e nunca teremos deles o que se espera ouvir. Teremos o que eles quiserem. Se vai agradar ou não, problema de quem for julgar.
Então, bem vinda à era M72.
William Ribas
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