terça-feira, 11 de abril de 2023

TARJA - BEST OF A LIVING DREAM (2023)

 


TARJA - BEST OF: LIVING THE DREAM
Shinigami Records/ear Music/Sound City Records

Antes de resenhar a coletânea, peço licença, caro(a) leitor(a), mas precisamos falar um pouco sobre Tarja Turunen.

É inegável: Tarja Turunen postula – na contemporaneidade - com todas as honras e merecimentos o título de maior rainha do metal sinfônico deste planeta. Não se trata apenas dos seus excepcionais dotes vocais e líricos ou de seu alcance poderoso e de sua percepção musical aguçada. Não, essa finlandesa pavimentou uma estrada nesse estilo de se fazer metal tornando-se uma referência máxima e inspiração icônica a tantas outras seguidoras. Quem viveu o início dos anos 2000 lembrará da proliferação, quase que exacerbada, de bandas de metal sinfônico/melódico com vocais femininos e temáticas góticas advindas do modelo expresso por seu antigo grupo, o fenômeno Nightwish.

Aliás, é quase impossível pensar em Tarja e não lembrar do Nightwish. Afinal, ela esteve presente desde sua origem; viveu a ascensão e o apogeu do sucesso – inclusive comercial – da banda, tendo seu rosto estampado como uma das principais marcas do grupo. Gravou os cinco primeiros álbuns, arrebatou legiões de fãs e colocou o metal sinfônico finlandês no mapa e na rota dos gigantes do estilo. Sim, sabemos que a mente e o coração da banda sempre foi o genial tecladista e compositor Tuomas Holopainen, mas, sejamos francos: todos os holofotes dessa era dourada estiveram centralmente voltados para a bela vocalista.

Nunca se soube ao certo, porém, tal situação de destaque da vocalista é uma das especulações de motivos da sua demissão em 2005, momento em que o grupo finlandês a dispensou em carta aberta e assinada por todos os membros. Possivelmente, na minha vivência e opinião pessoal, tal fato foi um dos mais dramáticos na história do metal moderno, pois, entre tantos sentimentos confusos em relação à banda – especialmente, diante ao auge o qual viviam -, era impensável um Nightwish sem Tarja Turunen. Depois de sua saída, pensou-se - inclusive baseado em falas suas - que ela sequer voltaria a fazer heavy metal, pois, era conhecido que a moça era ávida estudiosa e apreciadora de óperas e cantos clássicos – gêneros os quais incorporou como uma de suas características na sonoridade da banda e como proposições de projetos paralelos, como o reconhecido Noche Escandinava.

Todavia, a vida e a carreira da finlandesa seguiu – e seguiu, talvez para muitos - surpreendentemente no próprio heavy metal. Paralelamente, o Nightwish também continuou – e continua – em sua estrada ímpar no estilo, tendo passado duas vocalistas após a saída de Tarja, as quais, evidentemente, sofreram comparações, rejeições e considerações devido ao legado da voz fundadora do grupo. Floor Jansen, a atual vocalista, aliás, é fã declarada de Tarja Turunen, sendo ela uma representante da leva de mulheres à frente de bandas de heavy metal na explosão do estilo do início dos anos 2000, conforme citado anteriormente.

Finalmente, então, é hora de falar do caminho solo de Tarja Turunen, o qual em 2007 foi oficialmente pontuado com o excelente álbum “My Winter Storm”. Então, se vamos começar uma resenha sobre os trabalhos da rainha do metal sinfônico, nada mais justo, após mais de quinze anos em que seu nome estampa seus próprios feitos, refletirmos sobre sua primeira coletânea “Best of Living a Dream” que coroa, finalmente, seu nome na cena.

Lançado aqui no Brasil recentemente pela Shinigami Records, temos nesta seleção uma bela representação da carreira da cantora, além de versões de extras e alternativas de músicas escolhidas a dedo em cada um de seus álbuns. Outrossim, para aqueles que já possuem todos seus trabalhos, há, no entanto, um belo presente direto do último single de Tarja, “Eye of the Storm”, uma música poderosa e emocional, que com certeza fará os fãs da musa agradecerem aos deuses – ou às deusas – a glória dela ter seguido no caminho da música pesada e alternativa.

Exatamente nessa perspectiva, podemos, ao longo deste “best of”, perceber como a cantora desenvolveu seu estilo próprio. Percebemos na pessoal “I Walk Alone” a presença de seu viés erudito e de instrumentos clássicos refinando a sua arte e gênero. Em “Die Alive”, entregue em uma versão alternativa, é oferecido pelos coros e instrumentais uma verdadeira experiência auditiva que somente uma rainha poderia oferecer aos seus súditos. “Enough”, vinda também do seu primeiro álbum solo, é atmosférica e contundente, elevando o poder de Tarja em sua versatilidade vocal.

Também foi trazida à seleção a sinfônica “Falling Awake”, uma ode ao que ela representa. “Untill My Last Breath”, do álbum “What Lies Beneath”, lembra sua fase no Nightwish, lá pela era do Wishmaster. Uma boa faixa para esta coletânea. Também do mencionado disco, é colocada a emocional “I Feel Immortal”, possivelmente, uma das melhores e mais representativas canções de Tarja. Entre a cadência mais lenta e os refrões operísticos, Tarja apresenta aqui porque é realmente “imortal” no estilo que faz.
“Victim of Ritual”, “500 Letters” e “Never Enough” são trazidas do teatral “Colours in The Dark”, músicas que expõem a faceta heavy metal e progressiva da cantora. Versatilidade é, na minha opinião pessoal, o que essa fase expressa. Já a presença de “Innocence” em uma nova edição, “Demons in You” - faixa que traz outra fã confessa da vocalista e uma das vozes mais poderosas do metal atual, Alissa Whites-Gluz, do Arch Enemy – impõe a atmosfera de luz e trevas do viés intencional do álbum em que foi extraída, “The Shadow Self”, assim como a heavy-opera “Diva”.

A coletânea é finalizada por mais três faixas vindas de seu último trabalho “full” em estúdio, “In The Raw”: a pesada “Dead Promises”; a indescritível “Tears In Rain”, música que utiliza inúmeras paletas e sonoridades, um obra-prima do heavy melódico progressivo; e, uma versão renovada de “You and I”, uma trilha mais lenta e emocional que explora vocais em menos intensidades, mas extremamente afinados da vocalista, e serve, por que não, como um “até logo” desta seleção de momentos de Tarja Turunen.

Ouvir “Best of Living a Dream” é, indubitavelmente, uma viagem pela história, voz e singularidade de Tarja Turunen. Nesse apanhado de alguns momentos de sua já expressiva caminhada solo, entendemos nitidamente porque ela é a “rainha do metal sinfônico”, pois somente ela pôde inventar e reinventar um gênero, afirmando e reafirmado sua identidade única e suprema. É estranho conceber, mas o que a Tarja fez pelo metal, paradoxalmente, o metal nem sempre fez por ela e, certamente, por isso, nesse embate, ela tornou-se a representatividade simbólica e máxima de todo um estilo. Deus – ou Deusa! – salve a rainha!

Gregory Weiss Costa






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