EXODUS
"BONDED BY BLOOD - 40TH ANNIVERSARY"
Abertura: THROW ME TO THE WOLVES
CARIOCA CLUB
09/20/2025
SÃO PAULO/SP
"BONDED BY BLOOD - 40TH ANNIVERSARY"
Abertura: THROW ME TO THE WOLVES
CARIOCA CLUB
09/20/2025
SÃO PAULO/SP
Texto e fotos: William Ribas
Muitas vezes escrevi em resenhas de shows a expressão “A Night to Remember”. E, de fato, há momentos em que estar diante de bandas que marcaram a nossa adolescência faz tudo se tornar inesquecível. Na fria noite de quinta-feira, 9 de outubro de 2025, o Carioca Club encarnou um pouco da essência do excelente filme Rock Star — aquele toque de "dreams come true" que faz o impossível parecer real.
Um show do Exodus, seja comemorando o aniversário de um álbum, seja apenas “passando” pelo Brasil, já é motivo suficiente para deixar qualquer fã sorrindo de orelha a orelha. Mas o anúncio de que Bonded by Blood seria executado na íntegra transformou tudo em um verdadeiro dever cívico para todos. Ainda mais com Rob Dukes de volta aos vocais — um velho chapa de todos, que, inclusive, detonou na regravação do álbum em 2008.
Resultado: casa lotada — ou melhor dizendo, abarrotada.
Bares cheios, metal rolando nos alto-falantes — o lado de fora já transbordava magia. Pouco antes das 19h50, era hora de entrar e prestigiar a banda de abertura. Confesso que, na minha mente, o Throw Me to the Wolves tinha uma tarefa árdua pela frente. Mas bastaram cinco segundos da banda no palco para que eles já tivessem o campo completamente dominado.
Diogo Nunes (vocal), Gui Calegari (guitarra), Fabrício Fernandes (guitarra), Fábio Fulini (baixo) e Maycon Avelino (bateria) desfilaram um death metal melódico com algumas pitadas de metalcore por pouco mais de 30 minutos. O quinteto possui uma massa sonora impressionante — a abertura com “Chaos” (não existe palavra mais apropriada para esta noite, diga-se de passagem) já mostrou a que vieram.
O primeiro impacto é ver Maycon destruindo o kit de bateria com precisão e fúria — o cara simplesmente não tem dó. O segundo é perceber como, ao vivo, o equilíbrio entre a brutalidade do death metal e as passagens melódicas é fascinante. A sequência com “Tartarus”, “Days of Retribution” e “Fragments” prendeu o público, que, mesmo diante de uma nova descoberta (acredito que para a maioria presente), batia cabeça e aplaudia com entusiasmo a cada final de música, mostrando total apoio.
Diogo é um vocalista inquieto, um frontman completo — berra, domina o palco e sabe como trazer os fãs para perto. O encerramento com “An Hour of Wolves” e “Gaia” deixou um saldo mais que positivo, consolidando o nome do Throw Me to the Wolves como uma das grandes revelações do metal nacional.
Hora dos roadies, dos backdrops sendo trocados e da ansiedade tomando conta — afinal, estávamos prestes a ter mais uma lição de violência. Quando o pano com os gêmeos ao fundo se ergueu, foi inevitável não voltar no tempo. E, junto disso, o pensamento em um grande amigo que não pôde estar no show — e nossa eterna discussão: “Bonded by Blood ou Let There Be Blood?” Qual é o melhor? Fico sempre com a segunda opção (risos).
Para amplificar ainda mais a nostalgia, a intro veio com os discursos de Paul Baloff — o eterno grito de guerra contra os falsos: “Death to posers!” Toda a incitação ao thrash metal e ao caos ecoava como um chamado ancestral. Uma tempestade de riffs chegou com a agressividade da faixa-título, e acredito que o refrão deve ter sido escutado a quilômetros de distância.
O Exodus vinha desfalcado — o baixista Jack Gibson teve que retornar aos Estados Unidos por problemas familiares. E, como deve ser, família em primeiro lugar. As primeiras cinco músicas do set foram tocadas por Steve Brogden, cuja presença de palco combinou perfeitamente com a linha de frente da banda. Aliás, Lee Altus, Gary Holt e Dukes são verdadeiros maníacos no palco. Não há um único segundo em que o trio não provoque os fãs a abrirem rodas. “Exodus”, “And Then There Were None”, “A Lesson in Violence” e “Metal Command” foram tocadas com uma agressividade pura.
Tom Hunting, a cada ano que passa, fica mais velho — e mais absurdo também. Carismático e brutal. A turnê se chama 40 Years of Blood, mas nem por isso outros momentos seriam ignorados. “Iconoclasm” chegou como uma grata surpresa — e, junto dela, um dos momentos mais incríveis da noite.
Na falta de Gibson, o Exodus resolveu chamar, além de Steve, o baixista Gerson Polo — integrante do cover oficial da banda no Brasil, o Funeral Blood — e o cara detonou!
A clássica “Blacklist” manteve o ambiente hostil: rodas, pessoas passando por cima, braços erguidos — inclusive, a música trouxe um momento descontraído, enquanto Gary tomava sua cerveja (sem álcool), Dukes mantinha as palhetadas e Steve surgia para conduzir as notas no braço da guitarra. Depois de subir algumas décadas, veio novamente o lado jurássico: “Fabulous Disaster” (que surpresa maravilhosa, hein!). O lado mais melódico e calmo dos dedilhados iniciais de Holt em “No Love”, em certa parte, trouxe alguns minutos de “paz” — obviamente, não durou muito. “Deliver Us to Evil” mostrou que Dukes e Lee não queriam ver a adrenalina baixar; muito pelo contrário — a cada pedido de rodas, mais próximos do inferno nos encontrávamos.
A energia estava tão alta que foi preciso chamar seguranças à frente do palco para evitar problemas. A noite era de clássicos, certo? Então “Piranha” veio com mais surpresas: o vocalista Fábio Seterval, também do Funeral Blood, dividiu os vocais com Rob Dukes. Nos aproximávamos do final com “Brain Dead”, “Impaler” (essa levantou até defunto) e a “valsa tóxica”.
Quem já presenciou os americanos outras vezes sabe que “The Toxic Waltz” traz consigo leves brincadeiras — como “Raining Blood” (Slayer) e “Motorbreath” (Metallica). Ela é perfeita para ser o pontapé do momento que todos ali ansiavam: “Strike of the Beast”.
E então, o caos se instaurou de vez. O refrão ecoava como uma sentença:
“Time to run or fight
Off the strike of the beast
If you fail you'll be
The hellish demon's feast”
A catarse final de uma noite que beirou a insanidade. O Exodus entregou o que todos esperavam: velocidade, brutalidade e uma conexão quase tribal com seus fãs.
Ao fim, o cansaço e as dores pelo corpo mostravam o que todos sabíamos: havíamos testemunhado mais do que um show. Foi um ritual. Uma celebração ao thrash metal, a Paul Baloff, Zetro Souza e a todo o legado do Exodus — em seu estado mais puro.
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