quarta-feira, 22 de outubro de 2025

POSSESSED - SEVEN CHURCHES 40 ANOS


 QUATRO DÉCADAS DE DEATH METAL

Por Gustavo Jardim

Lá estava eu, quase no fim da década de 90 folheando uma revista METAL e me deparo com a matéria e uma foto com os dizeres “o Possessed não esconde de ninguém sua vontade de roubar do Slayer o reinado do Thrash.“. Era uma fase de descobertas pra mim, muitas bandas me faziam mudar percepções e moldavam meu estilo musical e me faziam questionar as coisas ao meu redor. Eu já conhecia Slayer, Metallica, Sepultura, o Venom e algumas outras, e decidi que precisava ouvir a banda da matéria a qualquer modo. As bandas do chamado metal extremo que eu conhecia eram de audições rasteiras, sejam em raras lojas especializadas, locadoras e claro através de amigos, também raros.

Quando finalmente me surgiu a oportunidade de ouvir, através de um amigo que tinha várias coisas gravadas em fita e CDR, o impacto foi imediato. Quando “The Exorcist “ começou a rolar, junto com aquele choque arrepiante que eu já estava habituado ao conhecer o KISS e o MOTORHEAD, me deparei com aquela insanidade peculiar que me tomou de assalto ao ouvir o “Show no Mercy” e “Beneath the Remains” pela primeira vez! A agressividade era latente e ao mesmo tempo mais sombria no transcorrer dos riffs…  era tudo muito cru e denso. E o resto foi história, fiquei sabendo que os caras eram pioneiros e aperfeiçoaram o tal metal extremo. Vamos a ela…

Lá em meados de 1983, Mike Sus e Mike Torrao, baterista e guitarrista respectivamente, estavam tocando em uma banda estilo Judas Priest, e de certa forma estavam descontentes com aquilo, visto que já ouviam bandas como Exodus, Slayer, Venom, e faziam parte da cena Bay Area como um todo, o que fez com o que ambos buscassem outra forma de música. Encontram o baixista e vocalista Jeff Becerra e a partir daí moldam o que seria o Possessed, na sequência encontrando um segundo guitarrista chamado Brian Montana.

Com essa formação abrem alguns shows do Exodus entre outros, e partem para primeira demo, “Death Metal” em 1984. Na sequência, participam da coletânea “Metal Massacre VI” da Metal Blade com a faixa “Swing of the Axe” e no ano seguinte através já da Combat Records, na coletânea “Speed Kills” com a faixa “Pentagram”

O debut álbum só viria em 16 de outubro de 1985, e contaria com a adição de Larry Lalonde na segunda guitarra e produção de Randy Burns, via parceria Relativy Records/ Combat Records.

A bolacha abre com “The Exorcist”, com a lendária intro de teclado de Mike Oldfield, executada por Randy Burns, levando em seguida o ouvinte ao seu pior pesadelo ao entrar o instrumental com riffs insanos, a bateria alternando entre o Thrash Metal característico mas com elementos de blast beat e viradas marcantes, as melodias de guitarra pegajosas são destaque absoluto na faixa, o que a torna de imediato o primeiro clássico do Death Metal mundial propriamente dito. “Pentagram” em seguida é uma faixa mais cadenciada e podemos aqui verificar algumas paradinhas e melodias que seriam incorporadas pouco depois em bandas consagradas do death metal, Morbid Angel por exemplo, em suas diversas atmosferas. “Burning in Hell” traz velocidades absurdas em composição em termos de guitarras, intercala com partes mais alternadas enquanto “Evil Warriors” é de uma característica mais marcada, mais próximo do Venom por exemplo. Fechando o lado A temos a faixa título, outro exemplo de como a banda consegue estabelecer quebra de padrões do Thrash  tradicional e transcender a algo mais que seria amplamente explorado mais tarde. Lembrando que “Seven Churches” se refere às sete igrejas mencionadas no livro de Apocalipse.

Abrindo o chamado lado B, “Satan’s Curse” consegue prender o ouvinte em seus riffs marcantes e solos que se destacam em velocidades pontuais, destaque total para a dupla Lalonde/ Torrao aqui, uma das melhores. “Holy Hell” segue no mesmo padrão e apresenta contratempos bem interessantes em longas partes instrumentais, onde o objetivo é dilacerar seu pescoço.

Um dos pontos altos, “Twisted Minds” apresenta visceralidade e velocidade que sintetiza muito bem a sonoridade que a banda busca como objetivo, e podemos notar em seus riffs cortantes e suas partes mais marcadas a influência que acabou exercendo na banda de “Max Possessed” e Cia pouco mais tarde em “Morbid Visions“ por exemplo. “Fallen Angel” é um Black metal por excelência, que poderia estar em um disco do Bathory, com seu clima mais atmosférico e denso, bem como as partes mais velozes intrínsecas ao estilo. Mais uma participação de Randy Burns nas notas de teclado. Finalizando em grande estilo, o hino “Death Metal” traz de cara uma maravilhosa levada de bateria de Mike Sus, com seus bumbos duplos e viradas em Ron tontons culminando em riffs inspirados e paradinhas mortais, destaque também para o refrão vociferado a plenos pulmões.

É muito abrangente a discussão de quem inventou o Death Metal, ou quem usou o termo pela primeira vez, mas aqui claramente temos elementos como já mencionados que ultrapassaram barreiras em termos de arranjos, velocidade, linhas vocais, composições, enfim, é notável a influência em bandas que surgiriam mais tarde como o Pentagram do Chile, Mortem, Morbid Angel, Incantation, Sepultura, Cannibal Corpse, entre várias outras, assim como o Mantas surgiu na mesma época e depois renasceu como Death e igualmente foi de enorme importância (o debut “Scream Bloody Gore” de 1987 também produzido por Randy Burns).

É unanimidade que os garotos da Bay Area fizeram história, mesmo com tão pouca idade marcaram pra sempre em sua curta trajetória o cenário do metal extremo. Sem dúvidas que as composições permeadas de blasfêmia, os riffs apocalípticos de guitarra de Mike Torrao e Larry Lalonde e seus arranjos estabeleceram novos padrões, os vocais caóticos e “alcoolizados” de Jeff Becerra moldaram um estilo e a levada infernal de Mike Sus mostrou o caminho em suas subdivisões e velocidade.

Por ironia do destino, a banda acabaria em breve, com cada um indo pro seu canto, Larry Lalonde passaria por bandas como Primus e Jeff Becerra teria um destino duro pela frente, sofrendo um ataque cruel de um covarde que o deixou paralisado em um assalto, e só saiu vivo por uma falha do revólver. Anos mais tarde, o heróico frontman se juntaria em parceria com a banda Sadistic intent, outro expoente do metal da morte, para frutíferas tours, inclusive passando por Porto Alegre em 2013, em um show devastador (apesar de vergonhosos problemas de produção), e posterior lançamento de inéditas mais tarde.

Seven Churches é um marco, obrigatório em sua prateleira, de preferência em todos os formatos. Te convido a comemorar o aniversário de lançamento de quarenta anos ouvindo em formato analógico para que os chiados da agulha se confundam com o abrir de uma garrafa de cerveja gelada como o metal da morte deve ser, um culto, e não exibicionismo desnecessário como temos muitos exemplos por aí em termos de produção, infelizmente.



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