quarta-feira, 22 de outubro de 2025

MOONSPELL - OPUS DIABOLICUM (2025)


MOONSPELL
OPUS DIABOLICUM
Napalm Records - Importado

Quando o peso do metal encontra a pompa da música clássica, o resultado pode ser grandioso — mas quando essa fusão vem das mãos do Moonspell, ela se torna algo quase litúrgico. “Opus Diabolicum”, o primeiro concerto sinfônico da banda portuguesa, realizado em 26 de outubro de 2024, no MEO Arena, em Lisboa, é mais do que um simples registro ao vivo: é uma celebração da identidade sombria e profundamente lusitana que o grupo construiu ao longo de mais de três décadas.

Acompanhados pela Lisbon Sinfonietta Orchestra, sob a regência do maestro Vasco Pearce de Azevedo, Fernando Ribeiro e companhia entregam uma performance monumental que revisita boa parte da fase moderna da banda, com especial destaque para o álbum “1755”, transformado aqui em uma verdadeira ópera do apocalipse.

O prelúdio “Tungstênio” abre o espetáculo como uma invocação, com apenas a orquestra preparando o terreno para “Em Nome do Medo”, cuja intensidade cresce em ondas, guiada pela dramaticidade da voz de Fernando e pela força combinada entre orquestra e coral, que amplifica o sentimento de fatalismo — um trio de abertura denso e envolvente. Em seguida, “1755” surge com imponência, e em “In Tremor Dei” o ar bombástico já demonstra que a sinergia entre todos os envolvidos estava afiadíssima naquela noite. O público dá um show à parte, cantando o refrão com uma energia absurda.

“Desastre” conduz a plateia ao coração do conceito: o colapso físico e espiritual da Lisboa pós-tragédia, emoldurado por arranjos que soam tão grandiosos quanto trágicos. O casamento entre o peso do instrumental do Moonspell e as linhas hipnóticas da orquestra confere ao concerto um ar cinematográfico e quase teatral. Aliás, é fascinante notar como todas as músicas ganham uma aura épica fora do comum, ampliando ainda mais a dimensão emocional do trabalho.

A sequência com “Ruínas”, “Breathe (Until We Are No More)” e “Extinct” reforça o caráter da linha tênue entre o passado e o presente — criando um contraste fascinante entre destruição e renascimento. O material, carregado também por “Proliferation” e “Finisterra”, expande essa atmosfera com refinamento e densidade, enquanto o público se deixa envolver pelo ritual sonoro que a banda ergue a cada nota despejada.

Na reta final, clássicos absolutos como “Everything Invaded”, “Scorpion Flower” e “Vampiria” ganham nova dimensão com o acompanhamento orquestral — e quando chegam “Alma Mater” e “Fullmoon Madness”, o MEO Arena se transforma em um verdadeiro templo. São músicas que transcendem o tempo, agora envoltas por uma grandiosidade quase sacra — uma gravação definitiva, encerrando o espetáculo com um impacto emocional que só o Moonspell é capaz de provocar.

E é nesse ponto que “Opus Diabolicum” revela sua verdadeira essência: não é apenas a fusão entre a música pesada e a música clássica, mas a continuidade natural de uma jornada que começou em “Wolfheart” e agora atingiu a imortalidade artística — a mesma melancolia obscura, a mesma chama romântica que o Moonspell sempre carregou consigo — uma combinação rara de escuridão e sensibilidade, como se o gótico e o fado se encontrassem sob o luar de uma Lisboa eterna. Tudo é vivido, sentido e interpretado de maneira devastadora, transformando a audição em uma experiência ímpar.

A prova de que o Moonspell transcendeu, tornando arte em estado puro — som, dor, beleza e tragédia fundidos em harmonia perfeita.

William Ribas





 

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