quinta-feira, 17 de novembro de 2022

INSANE DRIVER - SILICON FORTRESS - (2021)

 


INSANE DRIVER - SILICON FORTRESS (2021)
Independente - Nacional

Muitas bandas lançam seu primeiro álbum e na maioria das vezes, criam uma ótima expectativa com relação ao seu futuro. Infelizmente, algumas delas acabam por não confirmar tal situação. Mas, por outro lado, algumas bandas não só confirmas essa expectativa como a superam, mostrando que aquele início promissor não era uma mera casualidade. E esse é o caso da INSANE DRIVER. Se no álbum de estreia, que levava o nome da banda, o grupo mostrava talento e muita garra, em SILICON FORTRESS, seu segundo e mais recente trabalho, o quinteto nos entrega uma excelente mistura de heavy metal tradicional e metal moderno, agregando momentos mais alternativos, com passagens pelo metal core, além de incorporar de vez a figura do prog metal, ainda que esse aparece de forma mais sutil, não tão explícito.

Composta por Eder Franco (vocal), Dan Bigal (guitarra/backing vocal), Dave Martins (guitarra), Cesar Castro (baixo/backing vocal) e Wagner Neute (bateria e teclados), a INSANE DRIVER apresenta 11 faixas repletas de peso, melodia e qualidade técnica. Ainda que esse último quesito não seja algo preponderante em uma banda, cabe ressaltar que este fator é, para as composições do grupo, de grande valia, pois alia o feeling da composição à técnica na hora da estruturação dos arranjos. Produzido, mixado e masterizado por Danilo Pozzani, SILICON FORTRESS traz uma produção limpa, mas pesada e muito bem ajustada, deixando todos os instrumentos "separados", o que deixa ainda mais interessante a audição do trabalho.

"Back to 1994" abre o play com uma bela introdução e que nos prepara para a segunda faixa, a pesada e intensa "Faceless Demons". Com uma pegada bem atual, a música traz um ótimo trabalho de guitarras e com uma interpretação de Eder Franco digna de elogios, vez que sua voz possui um timbre único. Dan e Dave mostram um belo entrosamento enquanto a cozinha composta por Cesar e Wagner (baixo e bateria, respectivamente) se encarregam de fornecer o peso suficiente para o alto nível da faixa. Peso esse que parece ganhar mais intensidade em "Keep Away", onde os backing vocals merecem destaque. As mudanças de andamento favorecem a execução, trazendo essa dose extra de energia. Por sua vez, a faixa título mantém a pegada intensa, e traz passagens onde podemos notar que o prog metal incorporado pelo grupo se encaixou muito bem nas linhas apresentadas. Se torna até difícil rotular a sonoridade da banda, o que no meu entendimento, é muito bom, pois livra o quinteto de limites dentro de sua criatividade. "Age of Lies" começa bem "metalzona", mas ganha linhas melódicas que alternam entre momentos mais pesados, mostrando a versatilidade do grupo.

"Insane Driver" pesada e rápida apresenta traços de metal mais moderno, com uma pegada bem atual, sem se prender a nenhum tipo de amarra. Mais uma vez, destaque para as guitarras que trazem influências de vários estilos, criando uma atmosfera bastante pessoal. "Desperate Prayer" Carrega consigo uma aura mais sombria e densa, num clima mais pesado. Já "Ghosts" tem um clima de power ballad, com uma melodia bastante criativa e interessante, com destaque para o belo solo de guitarra, muito bem encaixado na execução da composição. "Imaginated Realities" traz um mix de metal tradicional e moderno, alternando linhas vocais mais fortes enquanto "Invisible Chains" cria uma variação entre peso e melodia, que representa muito bem a personalidade e identidade da banda. O encerramento vem com "Distant Hearts", essa sim uma balada com todos as características de uma composição do tipo.

SILICON FORTRESS é um excelente trabalho, mostrando que o INSANE DRIVER merece uma melhor colocação dentro do cenário da música pesada brasileira. Vocais potentes, guitarras pesadas e em sintonia e uma cozinha que estrutura bases cheias de peso e intensidade fazem do grupo não mais algo que se tem uma expectativa, mas sim, uma banda que confirma sua excelência dentro do estilo. Que sigam esse caminho nos presenteando com trabalhos de altíssimo nível!

Sergiomar Menezes




quarta-feira, 9 de novembro de 2022

TOXIC HOLOCAUST - 01/11/22 - Porto Alegre /RS

 


TOXIC HOLOCAUST
Abertura: C.F.C. e FINALLY DOOMSDAY
Local: Oculto - Porto Alegre/RS
Produção: Ablaze Productions

Texto e fotos: José Henrique Godoy

Terça-feira à noite após um final de semana de eleições, véspera de feriado, parece não ser uma data boa para um show de Thrash Metal, certo? Errado! Muito errado. O que tivemos no Oculto, em Porto Alegre, foi uma verdadeira celebração ao estilo, com os americanos do Toxic Holocaust, e no suporte de abertura as bandas gaúchas, Finally Doomsday e CxFxCx.

O início da noite se deu em ponto as 19:30, mas por conta do trânsito de final de tarde, tradicionalmente caótico, agravado ainda por “manifestações que não vem ao caso”, cheguei atrasado e perdi a apresentação da CxFxCx, podendo assistir apenas a última música, um excelente cover de “How Will I Laugh Tomorrow”, do Suicidal Tendencies. Peço desculpas a banda e a produção, por não ter conseguido assistir ao show, mas pelo que me foi comentado foi uma apresentação muito boa da veterana banda de Canoas.

Às 20;30Hrs, pontualmente sobe ao palco o Finally Doomsday! As figurinhas legendárias do metal gaúcho Sebastian Carsin (guitarra e vocais, grande produtor de algumas centenas de álbuns do metal RS) Marcio Jameson (Bateria e proprietário da loja APlace) acompanhados do baixista Paulo Hendler (Integrante também da banda de Death Metal Horror Chamber) sobem ao palco e detonam seu Death/Thrash cheio de riffs empolgantes em uma apresentação mais que energética.

A apresentação abre com “Rise Again”, faixa do (por enquanto) único trabalho da banda, um EP lançado em 2011. Faixa rápida e forte é seguida de “Guess What” e outra faixa do EP, “ Ravens Circle”. Após estas Sebastian agradece o público, que já dava amostras de algumas “rodas” e stage divings, mas ainda tímidos perto do que veríamos mais ao longo da noite.

O Entrosamento do trio é.excelente, e contagiou o público durante o show de pouco mais de 30 minutos. Finalizaram o set com “From Slave TO Obliteration”, cover clássico do Napalm Death, juntamente com a faixa título do já citado EP “Post Nuclear Armageddon" e uma nova composição: “Subhuman Conditions”. Uma irretocável apresentação do Finally Doomsday, e o que nos resta é esperar que venha logo mais shows e trabalhos da banda.




Com um atraso de uns 20 minutos, é chegada a hora da atração mais aguardada da noite: Toxic Holocaust. O líder e mentor Joel Grind (baixo e vocais), escoltado pelo guitarrista Rob Gray e pelo baterista Tyler Becker sobem ao palco e sem muito papo despejam “Bitch” do álbum “Conjure And Command” seguidas de “Silence”, “Gravelord” e “Acid Fuzz”. O som totalmente “Old School”, uma mescla de ThrashMetal , com pegada Punk, juntamente a temática das letras nos faz voltar até os anos 80, e o ambiente do show também.

Falando em ambiente, aqui cabe um parágrafo exclusivo para o público: QUE PÙBLICO! Apesar de não muito numeroso ( creio que em torno de umas 250 pessoas) a qualidade era o que contava. Desde as primeiras notas, o que se via pelo recinto do Oculto, eram dezenas de jaquetas cobertas de patches e tênis “cano alto” branco, engalfinhados em rodas punks e moshes praticamente sucessivos e intermináveis, e os presentes cantavam todas as letras de todas as músicas.  O que chama a atenção é que a maioria não eram os fãs old-thrashers da época de ouro do estilo, embora estes também estivessem presentes (este que vos escreve, incluso), mas sim uma molecada jovem que realmente entende do riscado! Se depender deles, o Thrash Metal será perpetuado, com a Graça de São Baloff e São Burton.

Voltando ao Toxic Holocaust, a banda fez também uma excelente apresentação, música após música sem intervalos, uma atras da outra. A discografia toda da banda foi visitada, com sons como “Primal Future”, “Hell On Earth”, “War Is Hell”, “Lord of The Wasteland”. O único, porém, creio que foi a duração do show, pouco mais de 50 minutos. A impressão que tive foi que passou rápido pois o show foi excelente, mas ao olhar o relógio, realmente foi menos de uma hora. Mesmo assim, a qualidade do espetáculo, não fez ninguém reclamar da duração do mesmo.






Mais uma grande noite de metal em Porto Alegre, novamente proporcionada pela excelente produção da Ablaze! Em direção de volta pra casa, fiquei com aquele sentimento de “tomara que não demore muito para o Toxic Holocaust voltar para a cidade”, bem como demais bandas do estilo. Porque público aqui temos, e é dos bons!

terça-feira, 8 de novembro de 2022

10º RS METAL - EXTERMINATE, DISTRAUGHT & NERVOSA

 


10º RS METAL
EXTERMINATE
DISTRAUGHT
NERVOSA
Bar Opinião, Porto Alegre/RS - 28/10
Produção: Pisca Produtora
Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Sergiomar Menezes e Uillian Vargas

Um dos mais importantes festivais que valorizam o metal gaúcho chegou a sua 10ª edição. E o incansável amigo Eduardo Machado, mais conhecido por Pisca, presenteou o público headbanger do RS com um evento grandioso, com bandas que se encontram num nível de excelência absurdo, sem dever absolutamente nada a muita banda gringa, a saber EXTERMINATE e DISTRAUGHT e, para completar, trouxe o primeiro show no Brasil da nova formação da NERVOSA. Três shows que mereciam um público maior. BEM MAIOR. Claro que quem se fez presente é aquele fã de heavy metal que além de curtir, apóia de verdade a cena do metal gaúcho. Obviamente que muitos não estiverem ali por suas razões, mas eu me refiro particularmente aquele "fã" que sempre reclama nas redes sociais: "Porto Alegre fora de novo?", "Cadê Porto Alegre nas datas da turnê? e por aí vai... Mas esse pessoal não sabe o que perdeu. Ou melhor, vai saber a partir de agora.

Infelizmente, por motivos pessoais, acabei chegando ao Opinião e a EXTERMINATE já havia começado seu show. Isso mostra o profissionalismo da banda e da produção, visto que o horário que estava determinado para o começo do evento foi cumprido à risca, ou seja, 22hs. Mas, o que falar sobre uma banda que conta com músicos experientes no quesito brutalidade extrema? Que conta o melhor baterista do metal extremo nacional? Uma verdadeira máquina de moer ossos! Adriano Martini (vocal/guitarra), Felipe Nienow (guitarra), Marcelo Feijó (baixo) e a máquina destruidora chamada Sandro Moreira (bateria) mostraram que o RS foi, é e sempre será um dos maiores expoentes da música extrema mundial. Com um set curto, de apenas 40 minutos, o quarteto passou seu recado apocalíptico de forma ríspida e agressiva. 

Durante a apresentação, algumas surpresas como "Observe the Martyr", do Mental Horror, a faixa que foi composta especialmente para o Armageddon Fest, a brutal "The Gate to Armageddon", o grupo trouxe ainda uma nova composição, "A Sadistic Day Await for Us", além de faixas do mais recente trabalho da banda, "Pray for a Lie", lançado em 2018: "Blind Faith" e a faixa título, sendo que o álbum "Burn Illusion" (2015) foi representado por "Doom" e "The Bells of Damnation". Uma aula de como o death metal deve ser. Parabéns a banda pela ótima apresentação!

Setlist - EXTERMINATE

"Observe the Martyr (Mental Horror)"
"Blind Faith"
"A Sadistic Day Await for Us"
"The Bells of Damnation"
"The Gate of Armageddon"
"Pray for a Lie"
"Doom"






Na sequência, após o intervalo programado, às 23hs, um dos maiores patrimônios do metal gaúcho sobe ao palco do Opinião para apresentar aos gaúchos, sua nova formação. André Meyer (vocal), Ricardo Silveira (guitarra), Everton Acosta (guitarra), Alan Holz (baixo) e Thiago Caurio (bateria) mostraram o porquê de a DISTRAUGHT ser uma das melhores bandas do Brasil! Impressiona o nível de profissionalismo do grupo, ainda mais sabendo que foram apenas dois ensaios antes da apresentação. André segue sendo um frontman que traz o público consigo durante o show, incitando o mosh e batendo cabeça a todo momento. Ricardo e Everton estão entre as melhores duplas de seis cordas do Thrash metal brasileiro. Alan, se mostrou entrosado com o estreante Thiago, que se diga de passagem, é uma máquina! E aqui cabe uma constatação: a banda sempre teve em line up excelentes bateristas e Thiago mantém essa escrita.

A banda também contou com um set reduzido, devido a organização e os horários, mas manteve intacta a qualidade em sua apresentação, seja na sonoridade, seja na escolha do repertório. Passando pelos mais recentes trabalhos do grupo, dando prioridade aos mais recente "Locked Forever" (2015), com a faixa título, além de "Brazilian Holocaust", "Blacktrade" e "The Last Trip" e "The Human Negligence is Repugnant" (2012), com a faixa título, a banda trouxe ainda duas faixas de "Unnatural Dislay of Art", com "Reflections of Clarity" e a fenomenal "Hellucinations". "Crucified Life" nova composição, mostrou sua força e deixou a todos os presentes na esperança de que o grupo lança mais faixas, vez que o próprio André disse ser difícil lançar um álbum completo, devido aos custos e procura do público pelo trabalho físico. Uma pena, mas perfeitamente compreensível. Mais um grande show dessa verdadeira instituição do metal brasileiro!

Setlist - DISTRAUGHT

"Brazilian Holocaust"
"Locked Forever"
"Blacktrade"
"Crucified Life"
"The Human Negligence is Repugnant"
"The Last Trip"
"Reflections of Clarity"
"hellucinations"






Após o intervalo para os devidos ajustes, era chegada a hora da principal atração da noite, que trazia pela primeira vez ao Brasil sua nova formação, divulgando "Perpetual Chaos". A NERVOSA mostrou aos gaúchos solidez, garra e muita, mas muita energia no palco. Diva Satânica (vocal), Prika Amaral (guitarra/vocais), Helena Khota (baixo) e Nanu Villalba (bateria), abriram seu set com a furiosa "Kings of Damnation", pesada, intensa e com a confirmação de que as novas integrantes acrescentaram e muito ao grupo comandado por Prika. A presença de palco de Diva já fica evidente na sequência com a violenta "Genocidal Command", onde o grupo mostrou uma coesão e entrosamento que só a estrada e parceria podem dar a alguma banda. 

"People of the Abyss" encerrou a sequência advinda do mais novo álbum e antecedeu "Death", presente no álbum de estréia do grupo "Victim of Yourself" (2014), o que foi uma grata surpresa. O mais recente trabalho voltou com força nas violentas "Time to Fight" e "Venomous", uma faixa que desperta uma vontade imensurável de quebrar alguma coisa... hehehe... Mas em seguida tivemos uma bela surpresa: "Masked Betrayer" e "Time to Death", presentes na primeira demo da banda vieram para resgatar duas ótimas composições dos primórdios da carreira do, à época, trio. E pra dar aquele descanso pra Diva, Prika assumiu os vocais em "Urânio em Nós".

Outro momento que marcou bastante o público presente, foi a faixa "Into Moshpit" que causou, com o perdão do trocadilho, um moshpit insano no Opinião. Uma coisa que é importante ser citada que embora Fernanda Lyra imprimisse um vocal rasgado e cheio de personalidade, Diva conseguiu, ao seu modo, colocar sua identidade nos vocais das faixas antigas, fazendo com que as próprias ganhassem ainda mais força e intensidade. A baixista Helena, também merece destaque, tendo em vista sua performance e interatividade com o público. Prika, como sempre, comanda a banda com maestria, mostrando-se uma excelente guitarrista, batendo cabeça durante todo o show e trocando muita energia com a galera. Já a baterista Nanu... Dona de um carisma impressionante, Nanu toca fácil, com peso e pegada bem característicos, e por vezes, tocava em pé, lembrando os grandes bateristas dos anos 80, criando um clima de troca de vibração com o público.

O encerramento veio com três faixas "Perpetual Chaos": "Rebel Soul", que ao vivo ganhou mais peso e contou com forte participação da platéia, seguida de "Guided by Evil", uma das melhores faixas da carreira do quarteto, enquanto o "grand finale" veio com "Under the Ruins", que deixou o Opinião ansioso por uma volta das quatro belas guerreiras do Thrash Metal!

Setlist - NERVOSA

"Kings of Domination"
Genocidal Command"
"People of the Abyss"
"Death!"
"Time to Fight"
"Venomous"
"Masked Betrayer"
"Time of death"
"Kill the Silence"
"Perpetual Chaos"
"Blood Eagle"
"Urânio em Nós"
"Into Moshpit"
"Rebel Soul"
"Guided by Evil"
"Under Ruins"





Fica aqui meu agradecimento às bandas que proporcionaram um grande evento, valorizando ainda mais o metal gaúcho, ao Pisca, pela parceria e cordialidade, ao meu brother de longa data Uillian Vargas que cedeu gentilmente algumas fotos para essa cobertura, aos velhos e novos amigos que reencontrei no Opinião depois de um longo período. O Metal está em nossas veias. 


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

UGANGA - LIBRE! (2022)

 


UGANGA - LIBRE! (2022)
Xaninho Discos - Nacional

Existem bandas que, por mais que você tente rotular, é muito, mas muito difícil de encontrar algum lugar onde tal grupo possa ser encaixado. Para muitos isso pode soar prejudicial, uma vez que existem pessoas que buscam conhecer bandas de acordo com uma sonoridade pré-estabelecida. No entanto, para outros (dentro dos quais eu me encontro), essa característica tão pessoal de cada banda faz com que ela se torna diferente, única e porque não dizer, especial. Não ter limites para expor sua arte é algo que deve ser louvado. E se essa identidade vem com qualidade, garra e uma vontade de se fazer ouvir muito acima da média, a banda se torna ainda mais especial. E esse é o caso do UGANGA, grupo mineiro que chega ao seu sétimo trabalho de estúdio, o furioso LIBRE!, primeiro trabalho com a parceria da Xaninho Discos. Thrash Metal, Punk/HC, Rap e até mesmo Dub fazem parte da salada musical apresentada pelo grupo que, em pouco menos de 30 minutos, passa seu recado com maestria.

Manu Joker (vocal), Christian Franco (guitarra), Umberto "Growler" Buldrini (guitarra e voz), Raphael "Ras" Franco (baixo e voz) e Marco Henriques (bateria) apresentam aqui 7 faixas onde todas as influências citadas anteriormente. Com uma bela capa criada por Artur Fontenelle, o EP mostra uma banda coesa e cheia de energia. Prestes a completar 30 anos (o grupo foi formado em 1993), suas composições abrangem variações que nos mostram o quanto uma banda pode soar diferente e única em sua sonoridade. Velocidade, peso, agressividade, pegada visceral e letras conscientes formam um trabalho que não foge às características do quinteto desde seu primeiro trabalho, "Atitude Lotus", lançado em 1993.

"Terra dos Ventos" abre o play e logo de cara, percebemos a veia Thrash/Hardcore do grupo, ainda que as guitarras flertem mais com o estilo que consagrou bandas como Metallica, Exodus e Forbidden. Além disso, a faixa traz a participação especial de Yasmin Amaral, da banda Eskröta. Um refrão forte e carregado de peso é o destaque da composição. O HC/NY é o guia de "Mal Vinda Morte dos Teus Sonhos", um momento bastante intenso do EP. Manu, que em outros tempos empunhou as baquetas do Sarcófago, possui um timbre propício à sonoridade executada pela banda, ainda que muitas vezes seu lado mais metal acabe se sobressaindo, criando uma atmosfera totalmente crossover. Já "Alguidar" seria uma faixa bem fora de contexto, não fosse ela uma composição do UGANGA. Um Dub, com vocal rapeado e com pouco mais de um minuto, acaba servindo de preparação para "Retrovisor", uma pedrada HC, onde a banda eleva o nível de velocidade e agressividade de suas linhas de composição. As guitarras de Christian e Umberto encaixam de forma precisa, algo fundamental quando falamos em Hardcore.

A faixa título, por sua vez, possui uma atmosfera bem singular, pois começa de uma forma bastante simples, me lembrando um pouco o que o Charlie Brown Jr poderia ter feito se fosse uma banda de metal (vejam bem, não estou comparando as duas bandas). A intensidade do refrão é forte, com um peso dosado da maneira correta. "ISO 666" é puro Punk/HC e, acredito, será um dos momentos mais violentos nos shows do grupo, o que não é nenhuma novidade. O EP se encerra com "Depois do Dub", que como o nome entrega, traz o estilo com uma levada tipicamente UGANGA. 

LIBRE! é um trabalho que tem a cara do UGANGA: pesado, intenso, veloz e agressivo. Sem se prender a rótulos ou a modismos, o grupo segue firme em sua incansável batalha de executar sua música livre de paradigmas ou imposições. Ou seja, LIVRE.

Sergiomar Menezes




quarta-feira, 19 de outubro de 2022

AUTOPSY - MORBIDITY TRIUMPHANT (2022)

 


Autopsy – “Morbidity Triumphant” (2022)
Peaceville Records

A representação mais essencial e fidedigna do que convencionou-se chamar de Death Metal é encontrado em toda sua inefável magnitude em "Morbidity Triumphant", mais novo trabalho dos americanos do Autopsy.

Remanescentes de um cenário povoado por panteões do estilo (não é exagero creditá-los como um dos precursores da vertente mais selvagem e visceral da coisa), esses digníssimos senhores trazem nesse mais recente álbum alguns momentos de puro deleite para apreciadores daquele Death Metal mais orgânico e direto, onde a brutalidade em todos os aspectos é a verdadeira força vital. 

"Morbidity Triumphant" já chama a atenção pelo aspecto visual, ostentando uma belíssima e - ao mesmo tempo -, grotesca obra do grande artista Wes Benscoter em sua capa. Realmente, se essa não for a capa mais impactante do ano, certamente está entre as cinco mais. E a representação de todo esse cenário estarrecedor vem acompanhada de uma trilha sonora mais que perfeita. 

O ambiente é banhado em sangue e demais fluídos orgânicos já com o início acachapante de "Stab the Brain". Composição rápida e direta, forjada no mais absoluto peso abissal, apresentando aquela tão característica estrutura utilizada pela banda, intercalando dinamismo com alguns pontuais trechos cadenciados em seu decorrer. Sem sombra de dúvida, é o primeiro destaque do disco.

O ritmo é mantido de forma coesa, como toda banda que possui forte identidade arraigada à sua arte. Poucos segundos de audição e já sabemos do que se trata, o que é um quadro raro, haja vista a avalanche de bandas que preenchem esse contexto musical atualmente. Não adianta inventar moda, como dizia meu saudoso avô. Os mestres serão sempre insuperáveis!

O peso e a densidade das composições certamente estão entre os mais eficientes da trajetória da banda. Os riffs dissecantes de Danny Coralles e Eric Cutler (guitarras) estão mais diretos do que nunca, soando altos, potentes e “na cara”. A produção é excelente, mas faz questão de deixar tudo bem simples, objetivo, mantendo a atmosfera o mais sepulcral possível, preservando assim as características do velho Autopsy transportadas para os tempos atuais.

A cozinha é outro ponto a ser salientado, mesmo porque o mestre de cerimônia, o arauto da desgraça, Chris Reifert (vocal e bateria), parece regurgitar as entranhas a cada verso proferido enquanto surra sua bateria como se sua vida dependesse daquilo (bem, e de fato depende mesmo). Suas linhas de voz estão literalmente assustadoras como nunca se viu. No baixo, temos Greg Wilkinson (Death Grave, Static Abyss, Leather Glove) estreando de maneira bastante competente, marcando as músicas em acordes de baixo maciços, gordos, perfazendo o substrato correto para o bom desenvolvimento das composições.

Já me estendi demais (é o que acontece quando discorremos sobre bandas do coração) e peço perdão por isso. A tarefa pra enumerar destaques é sofrida, afinal o álbum todo se completa com primazia, mas “The Voracious One” (com sua pegada quase Stoner), a mórbida “Flesh Strewn Temple” e sua estrutura arrastada aos melhores moldes das formações mais sórdidas do Doom e “Knife Slice, Axe Chop” (uma das mais aviltantes do disco. Uma paulada direto no epicentro do crânio!) são as que mais me chamaram a atenção num primeiro momento.  

Por fim, “Morbidity Triumphant” é tudo aquilo que esperávamos e até um pouco mais: a consolidação do legado de uma das bandas mais influentes do estilo de todos os tempos. Como o próprio título bem especifica: é o triunfo da morbidez. Simples assim.        

Ricardo Leite Costa