sexta-feira, 30 de abril de 2021

ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL

 


O maior vocalista brasileiro de todos os tempos. Uma das maiores vozes do Heavy Metal mundial. Uma pessoa iluminada, que teve seus erros e acertos. É muito difícil definir ANDRE MATOS em pouca palavras. Mas Eliel Vieira e Luis Aizcorbe conseguiram em ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL, não apenas chegar nesta definição, como prestaram uma das mais belas homenagens que o saudoso vocalista recebeu após a sua trágica e inesperada morte. O livro, um trabalho de uma qualidade ímpar, lançado pela Editora Estática Torta, é um item obrigatório, não apenas para os fãs de Andre, mas para todo aquele que quer entender um pouco da história do Heavy Metal no Brasil. Uma leitura simples e fácil, recheada de fotos, links e curiosidades sobre a carreira da voz que marcou a vida de todo fã de metal no Brasil e no mundo.

O livro acompanha um pôster e um marcador de páginas que trazem a mesma foto da capa, que retrata de forma direta como era Andre Matos no palco: vibrante, emotivo e dono de uma entrega poucas vezes vista neste vasto e gigantesco mundo musical. E se a apresentação do livro já nos impressiona, o conteúdo não fica atrás pois retrata a vida do músico desde seu nascimento até o fatídico dia 08 de junho de 2019. Impossível não se emocionar com diversas passagens presentes no trabalho. E também, é preciso ressaltar, não se trata de uma biografia "chapa branca", pois mostra em diversos momentos que , apesar da genialidade, muitas vezes a personalidade de Andre era exposta de forma bastante incisiva. Ok, os gênios são assim, não é mesmo?

Com prefácio escrito por Tobias Sammet (Edguy, Avantasia), que dividiu o palco com Andre inúmeras vezes, o livro conta a história do vocalista desde sua infância passando por todos os momento que fizeram parte de sua carreira: primórdios do Viper, os dois álbuns gravados com a banda e sua saída, a formação do Angra, bem como todos os trabalhos lançados com o grupo culminando em sua conturbada saída do quinteto (juntamente com Luis Mariutti e Ricardo Confessori). Fala também sobre seu trabalho com Sascha Paeth no Virgo e demais participações especiais; a criação do Shaman e seu novo conceito, assim como os cds lançados. Também não poderia ficar de fora sua saída do grupo, o que gerou muitas especulações à época. E o livro, pelo menos para este que vos escreve, deixou bem claro um ponto muito, mas muito interessante com relação a saída de Andre, tanto do angra quanto do Shaman: a participação de uma figura bastante conhecida dentro de cenário do metal nacional. Obviamente que cada um poderá interpretar isso de uma forma diferente. Leiam e tirem suas próprias conclusões...

O livro aborda também tudo que envolveu a banda Andre Matos, que levou seu nome, mas que, segundo o próprio vocalista, era sim , uma banda, onde todos tinham voz. Há um capítulo para cada álbum, bem como para o Symfonia, a "mega" banda criada por Timmo Tolkki. O retorno do Viper também mereceu um olhar bem interessante, assim como a turnê comemorativa. Seguindo a ordem cronológica dos fato, temos a reunião do Shaman, o momento de sua morte e seu legado. 

Nos dois apêndices, temos as possibilitadas com relação a tão falada volta do Angra, que ganhou força principalmente depois da morte de Andre (?!) e "A Noite", um conto escrito e datilografado pelo próprio vocalista quanto este tinha apenas  anos de idade. Algo muito interessante e bastante especial, tendo em vista a idade na qual foi escrito, bem como é perceptível a capacidade criativa já naquele momento.

Talvez o único ponto que tenha ficado , se é que podemos dizer assim, faltando, foi a participação de Antônio Pirani, da Rock Brigade e empresário do Viper, Angra e que poderia dar sua versão dos fatos narrados no livro. Os próprios autores relatam que ele não quis participar, o que é um direito dele, apesar da insistência de ambos. Uma pena, já que Toninho foi um personagem fundamental na carreira do Andre...

ANDRE MATOS - O MAESTRO DO HEAVY METAL é um livro que vale cada centavo investido. Um trabalho de pesquisa, estudo e muita dedicação, conforme pode ser percebido já no primeiro contato que se tem com ele. Como escrito lá no começo, muitas fotos, matérias, links (através de QR codes) e informações que muitos ainda não tinham ou sabiam. Muito mais do que uma simples homenagem, o livro é um verdadeiro legado sobre a vida e a carreira do maior vocalista que esse país já viu e ouviu e que, dificilmente, verá surgir de novo. Parabéns aos autores e à ESTÉTICA TORTA pelo belíssimo trabalho.

Sergiomar Menezes





quinta-feira, 22 de abril de 2021

ENTREVISTA - THE TROOPS OF DOOM







Resgatar a sonoridade brutal e ríspida do death metal dos anos 80 com uma cara mais atual. Olhar para o passado sem esquecer do futuro. É assim que a THE TROOPS OF DOOM, banda formada por Jairo Guedz (ex- Sepultura, The Mist, Eminence) consegue passar sua musicalidade. Identidade, brutalidade e aquela pegada típica dos anos 80, misturadas à experiência dos músicos envolvidos (completam o time o vocalista/baixista Alex Kafer, o guitarrista Marcelo Vasco e o baterista Alex Oliveira), fazem de THE RISE OF HERESY um trabalho do mais alto nível! E não podia ser diferente, não é mesmo? Logo abaixo, Jairo expõe sobre a formação da banda, atual momento e projeta o futuro. 


Por: William Ribas

Fotos: Divulgação/ASE Press


Rebel Rock: A impressão que tive ao ouvir o Troops Of Doom foi a de que se tratava de um “dream team” que se dissolveu na década de 80 e que agora voltou às atividades. Como se deu a formação da banda?

Jairo Guedz: Na verdade, Alex Kafer e eu somos amigos desde os anos 80 e tentamos montar algum tipo de projeto juntos antes. O projeto inicial do The Troops Of Doom começou em 2015/2016, com Alex Kafer no baixo, Marcelo Vasco e eu nas guitarras e Stian Shagrath (Dimmu Borgir, Chrome Division) nos vocais. Porém, desde o início das conversas, Stian deixou claro que não poderia pegar a estrada em razão de seus outros trabalhos, que já eram muito requisitados. Achei melhor não fazer isso, já que desde aquele ano minha ideia era montar uma banda de verdade, com grandes parceiros e que todos pudessem se dedicar exclusivamente ao grupo. A intenção de ser uma banda/projeto de estúdio nunca me agradou, pois preciso da estrada para ser feliz. No ano passado, logo no início da pandemia, Alex me procurou para a gente tirar o projeto da gaveta e montar a banda. A vontade de fazer isso foi instantânea para mim e as ideias foram caindo no meu colo naturalmente e rapidamente. Chamamos Marcelo novamente e apresentei Alexandre Oliveira para eles - foi amor à primeira vista!


Rebel Rock: Seguir um direcionamento nostálgico foi algo que vocês já tinham em mente desde o primeiro instante?

Jairo Guedz: Sim, era a premissa da banda. Montar uma que teria como base de sustentação o estilo do death/thrash metal dos anos 80. Seria como se eu estivesse ainda no Sepultura naquele exato momento, entre 1987/88. Depois de um show que o Enterro (banda do Alex) fez abertura para o The Mist, minha ex-banda, ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de 2019, e subi no palco dos caras antes da minha apresentação com o The Mist, exatamente para fazer uma jam com eles, na qual tocamos 'Bestial Devastation', de minha autoria com o Sepultura, percebi que os vocais do Alex se encaixavam exatamente, e de forma muito harmoniosa, naquele estilo do 'Bestial', 'Morbid', etc. Alex tem um timbre vocal muito parecido com o Max lá dos anos 80, e isso tudo nos deu mais certeza de que era esse tipo de música que queríamos fazer.


Rebel Rock: Toda banda seja novata ou veterana, quando lança um trabalho acaba sentindo o tal friozinho na barriga. Como está sendo para vocês acompanhar essa repercussão tão positiva logo de imediato?

Jairo Guedz: A gente ficou super nervoso, e não me lembro de ficar tão nervoso antes em toda minha carreira como músico. Porém, à medida que foram chegando notícias, críticas e comentários nas redes sociais, a coisa ficou séria (risos). Mas, em contrapartida, também nos trouxe uma leveza muito grande e uma certeza de que estamos no caminho certo. Claro que o feedback tem sido muito bom para todos e nos dá forças para continuar, mas isso nos traz muita responsabilidade também. E é disso que precisamos: vontade de fazer e responsabilidade para fazer direito!


Rebel Rock: Muitos apontam e classificam “The Rise of Heresy” como sendo um álbum de Death Metal, mas ouvindo as músicas é possível perceber e identificar uma grande variedade de vertentes — do Thrash ao Black Metal com fortes referências de nomes como Kreator, Possessed, Celtic Frost e claro, Sepultura. Como foi o processo de composição do EP?

Jairo Guedz: Foi um processo como outro qualquer, porém, com um formato inédito para nós. A banda nunca se encontrou. Até hoje, um ano e um mês depois de ter sido formada, não nos encontramos. Não bastasse a pandemia, o Alex e o Marcelo moram em outros estados, bem longe de Belo Horizonte, onde moramos eu e o Alexandre Oliveira. A ideia foi colocar tudo que a gente tinha de riff e ritmos, harmonias, letras num grupo de whatsapp que serviria apenas para compor música. Depois de acertados os detalhes, a gente escrevia as letras junto com o Alex e fazíamos a métrica, os encaixes... A música foi tomando forma e cada um gravou em casa num estúdio digital e enviamos todo esse material para o Marcelo Vasco, que mixou tudo em casa. Depois de terminado, enviamos para o Øystein G. Brun (Borknagar), na Noruega (Crosound Studio), e ele finalizou com uma mix e uma master dentro dos moldes que a gente pediu: anos 80!


Rebel Rock: Falemos sobre as faixas. “Whispering Dead Words” começa como uma introdução densa que remete bastante às atmosferas dos filmes de terror antigos. Essa sensação cresce até culminar em uma seleção de riffs rápidos e letais. Uma música realmente brutal, mas que também apresenta alguns dedilhados de violão. Quão complicado é para o artista se desvencilhar de fórmulas e estruturas que já foram tão exploradas?

Jairo Guedz: Essa introdução do EP é uma orquestração feita sob medida para o The Troops Of Doom. Foi uma encomenda que fizemos ao Dave Deville, de Caxias do Sul/RS. Eu e Marcelo queríamos algo bem 'Hitchcockiano', suspense ao estilo dos filmes de sua época. Marcelo foi trazendo as primeiras ideias e eu coloquei alguns riffs ali... Alex e Alexandre deram palpites também, fizemos a métrica e Alex escreveu tudo nessa música – apesar de abrir o álbum, ela foi a última a ter um videoclipe nas redes. A gente não tem essa preocupação em sair fora ou fugir de um estilo tão explorado como o death/thrash metal dos anos 80. Acredito que por ser algo tão inerente aos anos 80, isso já significa que foi explorado até a 'última gota' e acabou evoluindo para outros estilos a partir dos anos 90 e 2000. No entanto, nossa finalidade nunca foi de criar algo novo, ou de trazer uma evolução daquele estilo para 2020, 20202... Não queremos descobrir o fogo, inventar a roda.  Nossa missão com o The Troops Of Doom é fazer exatamente o que foi feito naqueles anos e, principalmente, explorar mais o que poderia ter sido feito – no meus caso em particular, se eu estivesse no Sepultura após o Morbid Visions. É uma forma muito interessante de poder 'alterar' o passado sem mudar o futuro (risos).


Rebel Rock: Alguma ideia ou composição foi descartada justamente por não se enquadrar nessa lógica nostálgica. digamos que, por não possuir a fúria típica do death/black metal dos anos 80?

Jairo Guedz: Muita coisa pode sair de nossas cabeças e não estar 100% condizente com o nosso estilo, a nossa proposta. Isso acontece algumas vezes. Naturalmente, usamos alguma influência mais moderna (de forma não intencional) e logo que a gente escuta a gente sabe do que se trata, e substituímos o que for necessário. Mas como as minhas maiores influências, assim como as maiores do Alex e do Marcelo, principalmente, são pautadas nas mesmas bandas dos anos 80 que todos curtimos. Então, não é nenhum problema compor música na linha dos anos 80 como estamos fazendo agora. É natural!


Rebel Rock: As próximas; “The Between The Devil And Deep Blue Sea” e “The Confessional” são mais diretas, viscerais e sem muito rodeios. Sendo perfeitas para os shows, por entregarem aquela dinâmica e energia que pede por rodas violentas e “stage diving”. Na hora de compor vocês visualizavam essas faixas sendo tocadas ao vivo e a reação dos fãs durante as mesmas?

Jairo Guedz: Eu sempre visualizo isso quando estou compondo algo. Parece loucura, mas essa forma de compor visualizando lá na frente como vai soar ao vivo, num show, num festival, é de extrema importância. Claro que temos a licença poética de compor músicas que sustentem também um pouco do nosso ego interior, da nossa visão da música. Daí,  algumas músicas possuírem mais tempo de execução (ultrapassando limites do mercado de rádios, sem se preocupar tanto com o lado comercial daquilo) e outras sendo mais diretas e objetivas, pensando no show, na cadência e na energia que aquilo vai proporcionar.

 

Rebel Rock: A parte inédita do Ep se encerra com a faixa-título, que carrega em sua letra diversas referências aos dois primeiros trabalhos do Sepultura. As próximas duas faixas são justamente covers do supracitado, Sepultura: “Bestial Devastation” e “Troops of Doom”. A escolha destas composições foi natural ou era intenção fechar o trabalho com uma espécie de tributo à fase mais “inocente” do heavy metal brasileiro?

Jairo Guedz: Na verdade, nem chamamos de "cover" esses sons que regravamos do Sepultura, pelo fato de eu ser o autor dessas músicas (e coautor, juntamente com Max, Iggor e Paulo). Vejo apenas que estou regravando uma obra minha, em outro tempo ou formato. Desde o início, o The Troops Of Doom – o nome da banda já é uma homenagem e uma citação à minha obra mais conhecida junto ao Sepultura –, queríamos muito fazer isso. Citar o Sepultura da minha época como guitarrista, seja nas letras, na capa dos discos, nas parcerias, nas regravações, etc... Todos os nossos "easter-eggs" referentes ao Sepultura são uma homenagem àqueles tempos e, principalmente, um retorno às minhas raízes musicais. Além de regravar algumas músicas, pretendo tocar várias músicas de minha autoria com o Sepultura ao vivo, nos shows do The Troops Of Doom.



Rebel Rock: Há alguns meses saiu um novo single, a regravação da música “Morbid Visions”. A qualidade e respeito ao produto original é ímpar. São duas perguntas. Por que a escolha dessa música em específico? Como foi trabalhar numa música que é considerada um hino?

Jairo Guedz: A gente queria escolher alguma música que representasse o 'Morbid Visions' e não fosse a própria 'Troops of Doom'. Tínhamos algumas opções e acabamos por escolher a Morbid Visions para cumprir esse papel. Nossa ideia sempre foi de não alterar em nada essas músicas em relação aos originais. Queríamos apenas melhorar a sonoridade delas, trazer para o fã do Sepultura e do The Troops Of Doom a mesma energia e inocência daquela época, mas usando as ferramentas disponíveis hoje, com mais qualidade e mais peso. Claro, sem perder a atmosfera dos anos 80. Acho que conseguimos isso.


Rebel Rock: Pensando na cena mineira dos anos 80. Além do Sepultura, quais outras bandas ou músicas entrariam num “Garage Days” do Troops Of Doom?

Jairo Guedz: (risos) Boa, um 'Garage Days' seria uma excelente ideia! O único problema seria ter as licenças para isso – no caso do Sepultura eu tenho os direitos das músicas –, mas não é algo que eu descartaria não (risos). Acredito que todos da banda gostariam de regravar alguma música do Mutilator, do Sarcófago, do Witchhammer. Tem muita coisa boa daquela época!


Rebel Rock: “The Rise of Heresy” está saindo no mercado em diversos formatos físicos e também em várias plataformas de streaming. Vocês viveram a evolução e revolução da indústria musical — a transição do vinil para o CD, o surgimento do mp3 e com eles os downloads ilegais, assim como a comodidade oferecida pelos serviços digitais. Afinal, a tecnologia ajudou ou atrapalhou? Quais são as dificuldades que uma banda enfrenta para lançar seus álbuns atualmente?

Jairo Guedz: A tecnologia sempre vem para ajudar, mas sempre acaba atrapalhando por outro lado. Não é uma forma 100% positiva, algo que só traz o bem, melhorias, facilidades, etc. Infelizmente, o homem usa essa evolução tecnológica para o bem e para o mal também. O excesso de tecnologia faz perder o encanto de muitas coisas do passado, sem querer ser saudosista, mas isso representa um pensamento do The Troops Of Doom que vai nos acompanhar por muitos e muitos anos. Vamos querer sempre produzir o nosso material físico. Independentemente do quão moderno e tecnológico se torna o mercado da música "underground", sempre vamos lançar o nosso material fonográfico em vinil, fita k7, CD, etc. O mercado de música digital, streamings etc, veio nos ajudar muito por razões óbvias: distribuição e comercialização de nossas obras sem custo de transporte, de fabricação e estoque físico. Além disso, a praticidade e a velocidade que nossa música chegou a todos os mercados do planeta em algumas horas apenas, mas a necessidade do material físico é inerente ao mercado do metal e principalmente no death/thrash metal. Por isso, resolvemos nós mesmos comandar essas licenças mundiais de material físico da banda. Acredito que sempre haverá pessoas (fãs, amigos, músicos) que vão querer uma cópia física de um álbum de metal.


Rebel Rock: vocês têm a mentalidade voltada ao “old school”, mas o merchandising foi desenvolvido pensando tanto nos fãs mais “die hard” quanto nos mais modernos. assim sendo vocês oferecem toda uma variedade de produtos. do café ao revival do lp e k7, camisetas, etc. como a banda trabalha nos produtos que levam o seu nome?

Jairo Guedz: Essa responsabilidade recai muito sobre mim mesmo e sobre o Marcelo. E por razões óbvias: somos artistas gráficos, Marcelo Vasco muito mais que eu. Ele fez capas do Slayer, Soulfly, Testament, Machine Head, entre muitas outras. Por isso, temos uma preocupação e damos uma atenção muito grande aos nossos produtos de merchandising. Se não fosse tão caro fabricar isso no Brasil teríamos muito mais a oferecer aos nossos fãs e por preços mais acessíveis também. A ideia é espalhar "a palavra" dessa forma, entregando o melhor aos nossos fãs.



Rebel Rock: Ainda sobre o merchandising, hoje em dia tornou-se muito comum que as bandas vendam cervejas artesanais, cachaças, vinhos e outras variações de bebidas. O Troops Of Doom pensa em criar uma linha de tais produtos com seu nome, oferecendo um atrativo a mais aos fãs e quem sabe, conquistar outras categorias de consumidores?

Jairo Guedz: A gente já falou disso uma vez, quando queríamos muito o café com nosso nome. Na banda só temos o Marcelo e o Alexandre que bebem álcool, mas muito pouco. Marcelo é um estudioso e grande apreciador de vinhos, talvez a gente pense em lançar um vinho com nossa pegada. Algo que seja vintage, mas com um sabor de novo. Que traga uma experiência ímpar de revisitar o antigo sem ter sabor de coisa velha (risos). 


Rebel Rock: O clipe de “Whispering Dead Words” possui uma produção cinematográfica e junto a ela, um enredo impactante com diversas cenas fortes. Uma das que mais chama à atenção é o matricídio cometido por um padre e a tormenta que ele passa pós o ato. Gostaria que dissertassem um pouco sobre o clipe e a abordagem do mesmo?

Jairo Guedz: Eu escrevi o roteiro que conta, de forma resumida, a história de um padre com seu espírito em conflito por ter assassinado sua mãe extremamente autoritária e radicalmente religiosa. A história passa por ele enterrando o corpo já em decomposição no quintal de sua casa. o padre passa a ser atormentado pelo espírito obsessor da mãe, que sussurra palavras em seu ouvido durante dias, obrigando-o a correr os riscos de desenterrar seus restos mortais. Ao final do processo, a mãe morta faz com que o padre se arrependa de tudo que cometeu e se entregue ao seu destino, para não mais carregar culpa alguma. Foi um grande prazer trabalhar nesse processo contando com a ajuda do diretor (amigo e tatuador) Edu Nascimento (Vassouras/RJ) e da mãe dele, atriz que faz a mãe do padre; do amigo Wagner Moura (padre) e também toda a equipe que tornou possível essa produção – Sabrina, esposa do Edu Nascimento e maquiadora; os produtores e editores Gemakriok Filmes e Criatoriom Ideias/RJ.

 

Rebel Rock: Pensaram em adaptar todo esse enredo para um curta-metragem tendo sua música como trilha?

Jairo Guedz: Pensamos sim! Edu Nascimento tem ainda como projeto transformar esse clipe num curta e eu e o Marcelo nos colocamos à disposição dele para criar a trilha sonora, caso isso se realize.

 

Rebel Rock: A pandemia tornou inviáveis os shows e ao que tudo indica, o retorno dos mesmos, presencialmente e com grande fluxo de pessoas só do meio do ano em diante (sendo otimista) ou somente em 2022. Como está sendo para vocês ter um material excelente em mãos, ter procura dos fãs, mas ficarem de mãos atadas sem poder tocar ao vivo? Como adequar-se asse período tão distópico?

Jairo Guedz: Pois é, não é nada fácil isso, mas temos que nos reinventar, continuar a trabalhar todos os dias como se não houvesse pandemia. Pelo menos é o que estamos fazendo. Escrevendo nosso full álbum, com previsão para o início de 2022, e terminando um material que será lançado ainda no segundo semestre de 2021. Tudo isso, mais a criação de novos itens de merchandising, lives, entrevistas... Tudo serve para manter as bandas e o próprio mercado da música underground vivo. Por isso, a grande importância de meios de publicação como o Rebel Rock, entre inúmeros outros, manter a cena de música underground sempre em voga, à vista dos fãs e do público! Temos uma turnê já marcada para a Europa em novembro/dezembro de 2021, mas não sabemos ao certo se vai acontecer por causa dos prazos de vacinação e etc... Caso não seja possível em 2021, nossa agência passará para 2022.


Rebel Rock: Vocês estão trabalhando com uma data para o lançamento do full-lenght ou a indefinição por conta da pandemia e das vacinas acaba deixando tudo muito aberto para se colocar prazos?

Jairo Guedz: Estamos trabalhando com uma data provável sim. A ideia é lançar o full entre fevereiro e março de 2022. Mas, antes, no segundo semestre de 2021 a banda terá uma surpresa para os fãs.


Rebel Rock: Para finalizar, acredito que “The Rise of Heresy” tenha chegado até o Max e Iggor. Houve alguma espécie de “benção” dos irmãos Cavalera ao projeto?

Jairo Guedz: Claro! Eu fiz questão de pedir essa "benção" de todos eles (Paulo, Iggor e Max) ainda no início do processo de criação da banda. Depois, enviei o álbum pra todos. A "benção" foi dada e o feedback foi muito positivo.


Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista. O espaço final é seu.

Jairo Guedz: Gostaria de agradecer imensamente pela paciência e pedir desculpas pela demora em responder. Esse período está sendo muito corrido prá todos nós da banda. Gostaria de pedir a todos os leitores que sigam o The Troops Of Doom nas redes sociais da banda (instagram - @thetroopsofdoom) e se inscrevam no nosso canal do YouTube (youtube.com/thetroopsofdoom), pois teremos grande novidades. Obrigado a todos e nos vemos na estrada em breve. 




 

 

 


segunda-feira, 19 de abril de 2021

ENTREVISTA - SCARS

 



30 anos de luta em prol do underground. Uma vida levantando a bandeira do Thrash Metal. Escolha uma das alternativas para definir a carreira do SCARS, uma das melhores bandas nacionais do estilo! Tenho certeza que uma assertiva completa a outra. São tantas histórias que decidi trocar uma ideia com Alex Zeraib, guitarrista que está na banda desde 1993. Completam o time o carismático vocalista Régis F, o baixista Marcelo Mitché, o baterista João Gobo e o recém chegado Ricardo Lima, novo guitarrista, que substitui Thiago Oliveira. Aproveitando o lançamento do excelente PREDATORY (2020, lançado pela Brutal Records), leia o resultado da nossa conversa...



Entrevista: Sergiomar Menezes
Fotos: Rogério Del Vecchio

Rebel Rock - Primeiramente, gostaria de agradecer a disponibilidade para essa entrevista e, já dando início aos trabalhos (risos)... PREDATORY vem 12 anos após o último trabalho do Scars ( Devilgod Alliance de 2008). Como foi esse período para a banda?

Alex Zeraib - Obrigado mais uma vez pelo espaço e apoio. O período do último hiato do SCARS foi o de uma lembrança prazerosa e remota da banda que eu tive e que eu nunca contemplava seu retorno. Uma vez lançado o Devigod Alliance, fiz o que havia prometido a mim mesmo e aos músicos participantes do projeto, sendo o João Gobo (bateria) um deles: lançar o álbum por um selo local de peso, o que se deu graças ao interminável esforço e parceria do Silvio da Voice Music, não fazer turnê e nem shows do disco e por fim fechar as portas até uma próxima e muito improvável reunião futura. Em dezembro de 2017 eu decidi disponibilizar todo o material do SCARS online em todas plataformas disponíveis, a mérito de eternizar a banda e seus registros nesta era digital e acessível que vivemos. Uma coisa levou a outra e aqui estamos conversando sobre o novo SCARS e seu último lançamento, Predatory. Como a vida dá voltas, certo? A única certeza que temos do futuro é que ele é incerto e cheio de surpresas, algumas boas, outra ruins. Essa surpresa foi muito boa boa para mim e a todos envolvidos.

RR - O CD traz consigo uma produção primorosa e ao mesmo tempo, suja e pesada, evidenciando ainda mais essas características da banda. O quanto a produção de Wagner Meirinho ( Warrel Dane, Torture Squad) foi determinante para que o trabalho atingisse esse nível de qualidade  e excelência?

Alex - O Wagner tem um talento único e é um excelente produtor musical, especialmente de metal. Ele é muito metódico, seguro de si e aberto à participação da banda em todo o processo da gravação. Essa abertura possibilitou que chegássemos a um resultado muito próximo do que havíamos envisionado para o álbum, com idéias sendo geradas por diversas mentes brilhantes e dedicadas ao projeto. A parte cristalina e de precisão métrica se devem totalmente ao Wagner e sua equipe. A parte dos timbres e sonoridade do álbum é um crédito da banda, que não se deu por satisfeita até realmente chegar a um resultado que agradasse a todos os envolvidos. O Wagner foi muito receptivo e altruísta em sua figura de autoridade da produção e registro da obra, possibilitando a divisão de méritos e responsabilidades igualmente entre todos. Adoramos trabalhar com ele e sua equipe e queremos repetir a dose muito em breve.

RR - Obviamente que uma ótima produção não seria o suficiente para transformar Predatory em um grande álbum. Mas, ao escutarmos o CD percebemos uma raiva e agressividade presentes de forma natural, o que são também, características do Scars. Como se deu o trabalho de composição das faixas? E existe alguma ligação entre elas, do ponto de vista conceitual?

Alex - Predatory foi composto em mais ou menos dois anos no meu home estúdio, onde eu despejava idéias no PC, compartilhando todas com o Régis, que organizava as faixas individualmente para chegarmos a algo digno das composições do SCARS. Uma vez satisfeitos com a faixa e sua sequência, o Régis entrava com o tema para cada faixa, tal como seu título, assim dando à faixa alma e vida, não somente uma sequência de riffs e dinâmicas. As faixa não estão interligadas tematicamente entre si mas possuem referências de fontes comuns de inspiração. Eu participo na criação e composição das letras do SCARS desde o primeiro CD em 1994, mas é o Régis que estabelece a direção e essência das letras e temas de cada música. Sou um grande fã desse seu talento, ele é o melhor que conheço nisso - sem igual. E hoje mostramos que nossa parceria segue forte e conseguimos criar um álbum completamente online, a distância, porém devido ao objetivo comum que tínhamos, chagamos ao final juntos também e celebramos muito o resultado.

Alex Zeraib

RR - A faixa título abre o álbum com um rifferama totalmente thrash, enquanto o vocal nervoso, raivoso e agressivo de Régis mostra que ele é o único vocalista possível para a banda. Além disso, essa composição mostra como é a sonoridade do Scars. Ela foi escolhida de forma proposital para ser a abertura do CD?

Alex - "Ele é o único vocalista possível para a banda" - perfeito. Eu iria além, o Régis é o SCARS. Seu carisma, energia e talento são o que definem a banda e inspira a todos ao nosso redor desde sua fundação em 1991. Quando ele saiu da banda em 2007, ele levou parte da identidade do SCARS consigo. Assim, felizmente, trazendo tudo o que havia levado, e muito mais, de volta para a banda em seu registro de retorno Armageddon, que gravamos em setembro de 2018 (14 anos após seu último registro de estúdio com a banda). Alí ele mostrou que a criatura estava dormente, mas não deixando de evoluir. Com seu registro de vocal na faixa que abre o álbum, Régis confirmou que estava em sua melhor forma desde a fundação da banda e não somente fez sua parte com primor, como também " assustou"  a todos nós da banda. Ele realmente só soltou a voz e mostrou o que tinha preparado para o álbum no primeiro dia das gravações de voz - ficamos realmente impressionados com a potência e timbre que o vocal dele havia alcançado. Ele é um talento nato. Uma alma a serviço do metal. E sim, a faixa foi escolhida estrategicamente para abrir o álbum: rápida, técnica e com um refrão simples e direto.

RR - “Ancient Power” é um dos tantos destaques do álbum. Com uma pegada na linha “Blacklist” (Exodus) e “Inner Self” (Sepultura), ela tem tudo para se tornar um daqueles momentos onde o público vai interagir da forma mais “violenta” possível durante o show (risos). E, fiquei sabendo “por aí” que essa faixa por muito pouco não entrou no tracklist do álbum... Explique melhor essa história...

Alex - Esta foi uma das primeiras faixas a ser composta dentre as mais de vinte que fizemos para o álbum, de onde extraímos onze. E sim, ela foi a última a ser " aceita" no rol em questão, e ainda assim quase ficou de fora. Somos muito detalhistas (leia, chatos) e auto-críticos (leia, nunca satisfeitos) com a música que fazemos e mostramos para o mundo. Queremos entregar o nosso melhor, a nossa visão em seus menores, nunca menos importantes, detalhes. Queremos fazer o ouvinte voltar a faixa para revisitar alguns poucos segundos que só ocorrem uma vez em certo ponto. Não queremos reinventar a roda nem tentar criar um novo subgênero do metal - somos thrash-metal em sua essência, mas nos permitimos ir além de nosso território, contanto que julguemos o material nada menos que excelente. "Ancient Power" teve tempo para maturar, e quase não atingiu sua plenitude a tempo de entrar para o Predatory. Quando eu vi que ela ia ficar de fora, assumi a tarefa de repaginá-la para assim atingir um nível satisfatório unânime. Isso é uma certeza do SCARS, somente disponibilizamos material novo se cada um dos integrantes involvidos está totalmente satisfeito com o resultado. Vamos disponibilizar em breve as demos da pré-produção de Predatory e todos vão poder conferir como ela era antes e tirar suas próprias conclusões.

RR - As guitarras em Predatory, como em todo grande disco de thrash metal, são o grande destaque e mostraram um ótimo entrosamento entre Alex e Thiago. Quais as influências principais de ambos na hora de compor? Existe algo de fora do metal que agrega na hora de criar algum riff?

Alex - Essa é uma parte que me toca sensivelmente, obrigado (rsrs) e sim, na hora de compor, as idéias vêm de lugares muito inesperados. O Thiago possui uma gama muito maior de influências e as incorpora com maestria quando executando seus solos no álbum. Eu gravei somente um dueto de solos em Predatory, na faixa Sad Darkness of the Soul, inspirado na Orion, do Metallica. A bases foram todas compostas e gravadas por mim, assim que não houve participação do Thiago na composição e pré-produção do álbum. Não obstante, ele assumiu e cumpriu sua parte de compor e gravar todos os solos do álbum com toda sua competência, que já conhecíamos - e também foi muito além, trazendo elementos e passagens que nunca existiriam se não fosse por seu talento, dedicação e vasta experiência individual. Sua participação no álbum foi essencial para o sucesso e repercussão que ele vem obtendo desde seu lançamento em agosto de 2020. Ele assumiu a missão de fazer um belo e eterno registro, com muita autoridade e excelência em sua arte. Seremos eternamente gratos ao Thiago por isso tudo. Ele é um artista único, muito à frente dos tempos de hoje.


RR - Recentemente o guitarrista Thiago deixou a banda e em seu lugar entrou Ricardo Lima (Tosco, Chemical Desaster, entre outras), um músico experiente. Porque Thiago saiu e como se deu a escolha do Ricardo?

Alex - O Thiago é um músico/artista realmente atarefado, com diversas frentes acontecendo e sua carreira ao mesmo tempo. Apesar de todo seu esforço e dedicação, nós não conseguiríamos ter uma prioridade em sua agenda como esperamos de cada membo do SCARS. Cada membro é livre para ter seus projetos paralelos o quanto quiserem, que é o caso do Mitché e do Ricardo. Com isso, conversamos com o Thiago e decidimos juntos que era hora de encontrarmos um novo membro que se adequasse melhor ao perfil da banda. A escolha do Ricardo veio naturalmente. O Régis já me havia apresentado o Tosco e me pediu para prestar atenção nele tempos antes. Eu me identifiquei muito com seu estilo, não somete nos solos, mas principalmente na execução das bases, onde percebi que ele primava pela precisão e tinha uma mão direita firme e sólida, com nítida influência de thrash. Entramos em contato com ele e apresentamos uma proposta, que ele aceitou com vigor e se empenhou muito, desde esse primeiro contato, a fazer seu melhor para recolocar a posição do guitarrista solo de volta a banda. Sua dedicação surtiu resultados rápidos e em poucas semanas já estávamos ensaiando 9 faixas, que ele assumiu no peito e apresentou com muita autoridade. O Ricardo foi muito além do que esperávamos desde o primeiro dia. Hoje ele parece que sempre foi parte do SCARS, em tão pouco tempo. Todo o crédito e mérito são dele, estamos muito felizes em tê-lo conosco.

RR - Falando um pouco do passado, a banda completa agora em 2021, 30 anos de carreira. Como foi, lá o início da década de 90, a criação da banda e os primeiros anos de carreira?

Alex - O SCARS foi formado em 1991 pelo Régis, na Moóca, São Paulo. Eu entrei na banda em 93, poucos meses antes de gravar o primeiro CD. Quando cheguei, encontrei uma banda muito bem estruturada e já com uma certa experiência nos palcos, assim, com um certo número de fãs e possuindo uma certa popularidade. Após o lançamento do primeiro CD em janeiro de 1994, caimos na estrada e fizemos shows por todo o país pelos próximos 4 anos. Era uma época mais orgânica, menos virtual, então a banda era muito ativa nos palcos em uma cena brasileira muito rica. A banda teve algumas mudanças na formação durante tal período, mas, uma vez que já possuia uma personalidade muito forte e estabelida no thrash-metal, tais mudanças não a abalaram. O SCARS mostra hoje a mesma personalidade daquela época, e tentamos sempre honrar nossa história e passado.

RR - “The Nether Hell” (2005) é um álbum (EP) que se tornou clássico ao longo dos anos. Seja pela belo trabalho gráfico, seja pelo conceito das letras, seja pela qualidade da músicas. Como abanda vê, hoje em dia, a repercussão do trabalho e qual sua importância para a sedimentação da carreira do grupo?

Alex - O The Nether Hell teve toda sua temática tecida sobre as faixas depois que elas já estavam compostas e já estávamos em estúdio gravando-as. Eu havia lido "O Inferno de Dante" poucos anos antes, e me deliciei com toda a atmosfera e detalhe com o qual Dante Alighieri escreveu essa obra-prima. Fomos fiéis às passagens nas músicas que citam a obra e trouxemos uma arte gráfica rica, toda com as gravuras de Gustave Dorè. Esse "pequeno álbum" teve um impacto mundial totalmente inesperado por nós que repercute até hoje, possuindo uma legião muito fiel de ouvintes e divulgadores. Acho que esse ficou para história mesmo e nos orgulhamos muito disso. Esse registro foi muito importante para pocisionar o SCARS entre as grandes bandas do Brasil e seus grandes álbuns, porém com somente seis faixas - e assim mesmo fez mais barulho que muitos "full-lengths", até mesmo o Devilgod Alliance. Em comparação ao Predatory, ainda é muito cedo para dizer. Só o tempo e sua maturidade confirmarão isso.


RR - Já “Devilgod Alliance” trouxe uma banda reformulada, e também apresentou uma sonoridade mais ríspida que flertava, por vezes, com o death metal. O que esse trabalho representa para o Scars?

Alex - Esse é um ótimo trabalho, com muita qualidade na gravação e peso nas composições. E sim, há muita influência de outros estilos fora do thrash nele, porém breves e não predominantes. Metade desse álbum foi composto durante a turnê do The Nether Hell, a outra metade por mim após a desmembração da banda. O que fez mais falta nesse registro é o vocal e a arte de finalização de estúdio do Régis, que fizeram muita falta durante o processo de gravação e escolha dos temas e letras para o cd. Todas as letras do Devilgod são minhas e tiverem sua execução em estúdio por um grande amigo meu, o André Guilger, que recebeu tudo pronto e não teve muito tempo de criar grandes linhas de voz e arranjos, mas fez um excelente trabalho não obstante. Eu e o João Gobo temos uma afeição especial por ele, talvez por estarmos nele. O Marcelo Mitché adora esse álbum, talvez mais que eu, e insiste para que toquemos pelo menos duas faixas dele no setlist atual - o que será feito eventualmente. Eu tenho emoções controversas sobre ele: de realização e missão cumprida, mas ao mesmo tempo ele representa também uma época de término e interrupção na minha carreira musical.

RR - Sei que o momento atual está bastante complicado, até mesmo para previsões acerca do que possa acontecer, mas, quais são os planos da banda para o futuro? Um novo trabalho pode aparecer?

Alex - Apesar deste momento difícil e limitado que vivemos agora, estamos muito ativos. Lançamos o Predatory em agosto de 2020, em pleno isolamento. Desde então temos lançados um vídeo clipe para cada faixa do álbum, somando 07 até agora, e deixando três que também terão seus vídeo clipes. Tratamos e trabalhamos cada faixa como um disco inteiro. Fizemos três grandes "lives" até agora e participamos de diversos festivais online. Nossas plataformas digitais estão repletas com todo nosso material e elas têm uma visitação massiva e constante. Bom, isso e muito mais até agora. Sobre o futuro? Sim, podemos fazer planos, sem dúvida. E os executaremos de acordo que a realidade se apresente. Celebraremos os 30 anos da banda neste ano com diversos lançamentos digitais em todas as plataformas. Já estamos trabalhando em novo material e temos quatro faixas finalizadas, contando no processo com o Ricardo desde o começo dos riffs, o que representa uma adição rica e muito importante, pois ele é uma fonte inesgotável de riffs, um cara realmente prolixo e criativo. o Régis já está trabalhando na temática e títulos/letras, dando muito cedo uma boa essência para ele. Posso dizer, sem hesitar, que o próximo álbum existirá e será nosso melhor trabalho. Não o lançaremos logo após a reabertura do mundo pois ainda queremos levar o "Predatory on Tour" para a estrada, para o palco. Mas não tardaremos muito em dar sequência a nossa discografia. Temos ainda muito para oferecer e o melhor ainda está por vir.

RR - Gostaria mais uma vez de agradecer pela entrevista e deixar este espaço final aberto para a banda.

Alex - Muito obrigado pelo espaço e por seu suporte, Rebel Rock! Somos imensamente gratos por nossa parceria. A todos que acompanham o SCARS, muito obrigado por esses 30 anos, especialmente pelos últimos 02 anos, onde talvez fizemos muito mais do que nos anos anteriores - e tudo isso graças a vocês! Sem nossos fãs não há SCARS. Nós tocamos por e para eles! Amamos todos vocês, muito obrigado por tudo!

 


 

 

 

 

 

quarta-feira, 17 de março de 2021

HEVILAN - SYMPHONY OF GOOD AND EVIL (2021)

 


Antes de dissertar sobre o disco, um “pequeno”, mas justo e necessário elogio: meus mais sinceros parabéns a Reverbera Music Media pelo excelente press kit, não apenas pelo capricho, mas pela organização e zelo. Todos os arquivos vieram rigorosamente estruturados; devidamente nomeados e separados por pastas. O release, por si só merece uma resenha (elogiosa) por toda sua minúcia e detalhamento. Profissionalismo e parceria (não parasitismo) funcionam desse modo: A banda respeita sua própria arte, a assessoria dá o necessário suporte e os ditos veículos de imprensa, respeitam ambos, assim como exigem ser respeitados — de qualquer outra forma é folclore e “fac-símile”.


Eis que finalmente o paulista HEVILAN apresenta-nos o seu segundo álbum — uma odisseia musical carregada de fascinantes e poderosas passagens épicas; emocionantes e bem dispostas orquestrações e um cardápio composto por riffs musculares, solos e melodias elegantes, capazes de fazer qualquer bom amante de Heavy Metal salivar pelos tímpanos. O Seu título? “SYMPHONY OF GOOD AND EVIL” — um tutorial de bom gosto, vitalidade, primor e versatilidade. Arquitetado em estúdio por Biek Yohaitus (gravação e produção) e Lasse Lammert (mixagem e masterização), o disco vem trajado com uma magnífica ilustração do mestre Gustavo Sazes, cujos traços e cores enfatizam a dicotomia versada no conteúdo do mesmo; a eterna dualidade humana — bem versus mal.


Indo ao teor do disco (o que realmente importa), logo somos agraciados com uma avalanche de ótimos riffs na intrincada e potente “Dark Paradise”; perfeita como boas-vindas e com uma leitura que vai do Prog ao Thrash Metal. Ouso dizer que a mesma resgata ao paladar da memória o saudoso e disforme, Nevermore; destaque ao baterista debutante Rafael Dyszy, por conseguir imprimir peso, dinâmica e técnica sem se abstrair do bom senso e ao guitarrista Johnny Moraes por conseguir transmitir inteligência e feeling nas seis cordas sem tornar, não só a faixa em questão, mas no trabalho em sua totalidade, num tutorial maçante baseado em virtuoses. “Rebellion Of The Saints” e “Great Battle” mantém as características já citadas, muito embora se desenvolvam com maior apreço melódico, permitindo assim uma variação de ambientes que vão da velocidade a cadência com a mesma desenvoltura — Alex Pasquale abrilhanta ambas com seus dotes vocais acentuados e versáteis, tanto nas transições estruturais das mesmas quanto nos refrães. (A banda caprichou nestes).


A balada “Always In My Dreams” (bela e elegante) acrescenta novos e suaves contrates ao disco: serenidade com relevos planejados, solo memorável e vocais emotivos. Perfeita para agradar casais durante os shows. “Devil Within” se reserva a apresentar duas partes: “Evil Approaches” (que cria o clima) e “Hammer Of The Gods” (potente e classuda, o melhor refrão do disco na humilde opinião deste que vos escreve). “Waiting For The Right Time” é mais um momento de calmaria, não acrescenta muito, mas também não destoa e como já dito, cairá bem no setlist das apresentações ao vivo (que não são feitas apenas por punhos erguidos e brados heroicos, fãs do Whitesnake que o digam). A tetralogia “Symphony Of Good And Evil” encerra o disco gloriosamente; permeada por ambições sinfônicas, entonações épicas, corais vigorosos e um instrumental que, mesmo incrustado de nuances, não se furta ao Heavy Metal. Destaque para às duas primeiras partes: “Revelation” e “Dark Ages” (que muito memoram Christofer Johnsson e seu Therion) e também para o terceiro ato aqui, intitulado “Song of Rebellion” (simplesmente magnífico!).


“SYMPHONY OF GOOD AND EVIL” marca a ascensão do HEVILAN — uma obra completa; seja por sua temática, por seus arranjos ou pelo ecletismo que se alonga em seu conteúdo. Suas ambições não ultrapassam os limites entre criatividade e ostentação de firulas (o que é bom). O Hevilan soube usar todos os elementos e extravagâncias que geralmente naufragam álbuns do gênero a seu favor — num misto de sabedoria musical e ousadia calculada com precisão.

Fábio Miloch




quarta-feira, 3 de março de 2021

ENTREVISTA - KORPIKLAANI (Portuguese/English)

 


Na ativa desde 1993, a Korpiklaani já estabeleceu sua marca, como uma referência mundial quando o assunto é Folk Metal. A banda conta com grande número de fãs no Brasil e guarda algumas conexões com a nossa terra. A que mais se destaca é que a banda surgiu em nome Shaman, e mais tarde (de acordo com Jonne Järvelä), mudou para Korpiklaani para evitar confusão com a banda brasileira. As demais? Dá uma boa ouvida nos discos, vai ser audível o quanto o som da banda conversa com o Brasil.  O folclore e a forte conexão com elementos naturalmente vivos (nem sempre) estão muito presentes nas músicas da banda. E como a vida e movimento ronda os temas das canções é inevitável que em algum momento as letras caminhem entre florestas e festas a beira de uma fogueira, com muita bebida e danças. Mas, nem sempre só elementos vivos rondam as músicas, pois a morte é uma peça-chave para a vida, senão o mais enigmática e em alguns momentos precisa sim ser abordado. É o caso do disco mais recente, lançado no último dia 05 de fevereiro de 2021. Jylhä, vai sim abordar muita vida e folclore, mas também vai cantarolar sobre morte, tristezas, alegrias e angústias. E para nos falar sobre todas essas nuances do disco, Sami Perttula (acordeom) conversou com o Rebel Rocks e abriu o jogo. Além do Sami, a banda Finlandesa é formada por Jonne Järvelä (Vocal, violão, bandolim, Hurdy gurdy – ou viela de roda, Violafone e percussão), Cane (Guitarra e Backing Vocal), Jarkko Aaltonen (Baixo), Tuomas Rounakari (Violino) e Samuli Mikkonen (Bateria). Vem com a Rebel Rocks nessa conversa massa. Esperamos que gostem, tanto quanto nós curtimos!

Por Uillian Vargas

Para esquentarmos esse bate papo, conte um pouco sobre história da Korpiklaani. Desde os o início dos anos 2000 até o Jylhä (2021), qual foi a mudança mais significativa na música até então?

Sami - Eu diria que tudo se tornou mais global e que a digitalização na indústria da música se tornou mainstream. Por exemplo, teríamos adorado tocar músicas do Jylhä antes do lançamento do álbum, mas não poderíamos fazer isso porque os novos sons estariam imediatamente no youtube. Por causa da digitalização, nossas principais receitas vêm principalmente de shows - é bastante difícil ganhar a vida apenas com a venda de discos. A diferença é ainda maior quando se compara a indústria musical dos anos 80 com o que ela é hoje.  A indústria da música virou de cabeça para baixo de modo que os artistas servem e beneficiam principalmente gravadoras e corporações supranacionais, ao invés disso poderia ter sido muito diferente. Talvez se trate também de como Napster afetou o negócio da música nos anos 90. O resultado é que as pessoas não estão prontas para usar dinheiro para ouvir música e não entendem que terminar um álbum em estúdio não é grátis.  Também é interessante comparar o comportamento do consumidor na indústria da música com o que é em outras indústrias de entretenimento - por exemplo, a indústria de jogos:  É completamente correto estabelecer um preço de 60 euros para jogos de PS5 novinhos em folha e as pessoas estão dispostas a queimar essa grana para ter um jogo. Ao mesmo tempo, um álbum novinho em folha em formato de CD deve custar no máximo 20 euros. Não sei qual é a razão disso, mas isso me permite pensar que talvez a indústria musical nunca se tenha adaptado aos desafios de como o mundo mudou nos últimos 20 anos. Talvez venha do fato de que a principal ambição dos músicos de criar música e tocar em uma banda não seja geralmente o dinheiro. Não sei e não estou culpando diretamente nenhuma direção em particular, mas é uma coisa que todos que trabalham neste ramo devem estar cientes. De qualquer forma, é interessante ver como será esta indústria daqui 20 anos.

Os antigos processos de gravação influenciavam muito na forma com que a banda iria compor as músicas? Esse processo de composição mudou com o tempo?

Sami - Desde que estou na banda, o processo tem sido bem o mesmo: principalmente é Jonne - nosso Frontman - que grava demos em seu estúdio em casa e depois compartilha novas músicas com os outros. Então gravamos nossas próprias partes nessa demo e arranjamos a música se houver novas ideias para isso. Por alguma razão não somos uma banda que poderia simplesmente se reunir, tocar algumas ideias juntas e após esse tipo de sessão uma nova peça poderia estar pronta. É claro, é mais fácil para todos fazer demos em casa com softwares modernos de gravação.

A alma celta sempre esteve presente nas músicas da banda. Esse amor pelo folclore e pela natureza está relacionado com a terra natal da banda?

Sami - A música popular, o folclore e a natureza, ou o que quer que seja, é algo que estamos em interação naturalmente quando nascemos em um certo tipo de cultura. Acredito que a própria cultura de cada um é de alguma forma sempre querida.  Está em nós, não importa o que seja, por isso é meio difícil responder a essa pergunta. Digamos que é a maneira da banda estar em interação com a realidade de uma forma musical.

Quanto a Finlândia e suas lendas influenciam na criação dos trabalhos?

Sami - As influências líricas são enormes. Recebemos nossa letra de nosso poeta Tuomas Keskimäki, que escreve letras em finlandês antigo. Por outro lado, muitos de nossos temas em nossas letras são bastante universais e atemporais no final. Ainda assim, eu vejo o folclore como imaginário, cheio e rico em inspiração. 

 


Agora falando em trabalhos, temos o Jylhä (2021) sendo revelado ao mundo. Que asperezas o disco nos trará nos contos?

Sami - Eu não o chamaria de álbum conceitual, mas um tema forte do álbum são os mistérios do assassinato e de morte em nosso folclore. Por exemplo, "Niemi" conta uma história sobre os assassinatos do lago Bodom, que aconteceram na Finlândia nos anos 60.

E para os trabalhos lançados até o momento no Youtube, se percebe uma variedade rítmica muito interessante. Junto com esse apanhado de histórias, Jylhä também nos trará um apanhado de ritmos diferentes?

Sami - Estou feliz com a diversidade musical que está no álbum. Cada canção é como sua própria personalidade, mas ainda assim cada uma delas pertence à mesma família. Acho que a banda deu um grande passo musical e as turnês que fizemos para promover kulkija (2018) nos muito, como banda. Também por causa desta pandemia, tivemos tempo suficiente para trabalhar as músicas antes de entrar no estúdio. Nosso novo baterista - Samuli Mikkonen - também fez um grande esforço para Jylhä, trazendo muita energia fresca para nós.

E como a banda se preparou para lançar um disco em meio a um cenário pandêmico?

Sami - Principalmente a pandemia afetou nossas viagens. Temos muito tempo para fazer trabalho de promoção e, até agora, lançamos 5 vídeos musicais do álbum. A coisa mais desanimadora é que mesmo que o álbum seja lançado, não teremos a chance de tocá-lo ao vivo, nesse momento. Estamos ensaiando para que estejamos prontos para tocar todo o novo álbum quando for possível - por isso tentamos permanecer ativos não importa o que aconteça.

O isolamento que passamos em 2020 foi importante durante a criação e produção do Jylhä?

Sami - Sim, foi - finalmente tivemos muito tempo para terminar o álbum! Ainda assim, a inspiração e os temas do álbum não são sobre pandemia.

E caso esse cenário de isolamento dure além da expectativa da vacinação, há uma estratégia pensada para a divulgação do disco?

Sami - Apenas a liberação de nossa LP foi adiada por causa desta situação. Espero que de qualquer forma isso não esteja afetando a divulgação do álbum. As turnês estão atrasadas, mas não depende de nós.

Percebi que a capa do disco é do Jan "Örkki" Yrlund novamente. Ele já fez capas para muitos álbuns da banda, já tem “a mão”. Quanto ele contribuiu com a criação da capa de Jylhä?

Sami - Acho que Jonne geralmente tem uma visão sobre a perspectiva do álbum e ele entra em contato com Jan sobre obras de arte. A paleta de cores é bem projetada para se adequar ao conteúdo musical do álbum: o sangrento pôr-do-sol e as cores vermelhas apaixonadas se encaixam bem em nosso poderoso e rápido álbum. Há também pequenos detalhes na capa: o rosto do velho na capa é ilustrado para se parecer com o rosto de Yrjänä Ermala - o ator principal de nossos videoclipes.

As músicas produzidas até o momento dessa entrevista, tem em comum a morte em algum momento. Jylhä certamente vai nos contar muito sobre mortes, mas há também vida nas canções. Como acontece o processo criativo na hora de compor sobre esses momentos da história e do folclore?

Sami - Não costumamos planejar com antecedência como o novo álbum deve soar, mas acho que todos intuitivamente quiseram fazer um álbum rápido e mais impulsivo depois de acalmar o Kulkija (2018). Nosso letrista naturalmente reagiu a isso e esse tipo de colaboração alimentou facilmente a inspiração de todos. Ainda assim, não vejo isso como um álbum sombrio e triste. É mais provável que seja poderoso e cheio de vida. 

Agora sobre as plataformas de streaming, como a banda se posiciona sobre esse tema (Spotify, Tidal, Deezer, etc.)?

Sami - Há algum tempo atrás tivemos mais de 600 000 ouvintes mensais no Spotify e essa é uma maneira de avaliar o sucesso da banda. Coisas boas nesses tipos de plataformas de streaming é que é uma maneira fácil para os artistas promoverem a música e torná-la fácil para todos.

Vocês percebem a mudança sonora acontecendo com o passar do tempo? Estão atentos a esse detalhe?

Sami - Nós pensamos que estamos sim. Atualmente, muitos álbuns de metal são altamente editados e quantificados, de modo que estes soam com mais probabilidade de que haja máquinas tocando em vez de humanos. Queríamos tentar fazer um álbum de som mais orgânico depois do Noita (2015) e, por isso, gravamos kulkija (2018). Acho que esse estilo nos direcionou para que Jylhä fosse gravado da mesma maneira.  É também sobre quanto dinheiro a banda está pronta para gastar em estúdio. Além disso, hoje em dia a quantidade de diferentes bandas de metal é enorme. É realmente difícil encontrar algo realmente único.

Essa diversidade rítmica do Jylhä pode ser interpretada como um chamado para que fãs de outras vertentes possam prestar atenção no trabalho da banda?

Sami - Como eu disse, nós não achamos que "o próximo álbum deveria soar assim" etc. Tentamos fazer boa música e manter o jogo interessante para nós. Acho que a ideia de fazer música concebida para alguém ou para um determinado grupo não vale a pena, porque de qualquer forma sempre há pessoas que não gostam dela e depois há um grupo que gosta dela: Assim como seria se você apenas fizesse só a música que te inspira, então vamos nos ater a isso.

Bom, encaminhando para o final da conversa, gostaríamos de agradecer a oportunidade e desejar sucesso. Que Jylhä colha muitos frutos. Deixamos espaço para seu recado aos nossos leitores! Muito obrigado!

Sami - Obrigado, e espero vê-los em turnê!



INTERVIEW - KORPIKLAANI

 

Active since 1993, Korpiklaani has already established itself as a worldwide reference when it comes to Folk Metal. The band have a large number of fans in Brazil and keeps some connections with our land. The one that stands out the most is that the band started out under the name Shaman, and later (according to Jonne Järvelä), changed it to Korpiklaani to avoid confusion with the Brazilian band. The rest? Take a good listen to the albums, you will be able to hear how much the band's sound speaks to Brazil.  The folklore and the strong connection with naturally living elements (not always) are very present in the band's songs. And if the life and the movement are presents in the themes of the songs it is inevitable that at some point the lyrics will walk through forests and parties by side the of bonfire, with lots of drinking and dancing. But not always only living elements surround the songs, this because death is a quite a key to life, if not the most enigmatic, and in some moments, it has to show up. This is the case with their latest album, released last February 5th, 2021. Jylhä will indeed talk too much of life and folklore, but it will also hum about death, sorrows, joys, and anguish. And to tell us about all these nuances of the album, Sami Perttula (accordion) talked to Rebel Rocks and just open fire. Besides Sami, the Finnish band is formed by Jonne Järvelä (Vocals, Guitar, Mandolin, Hurdy gurdy, Violaphone and Percussion), Cane (Guitar and Backing Vocal), Jarkko Aaltonen (Bass), Tuomas Rounakari (Violin) and Samuli Mikkonen (Drums). Come along with Rebel Rocks on this chat. We hope you enjoy it as much as we did!

By Uillian Vargas

To warm up, tell us a little about Korpiklaani's history. From the early 2000s until Jylhä (2021), what was the most significant change in music industry until then?

Sami - would say that everything has become more global and digitalization in the music industry has become mainstream. For example, we would have loved to play songs from Jylhä-album before album releasing but we couldn’t do that because new songs would have been immediately on youtube. Because of digitalization our main incomes come mainly from gigs - It’s quite difficult to make living just by selling albums. Difference is even bigger when you compare the 80's music industry to what it is nowadays.  Music industry has turned upside down so that artists mainly serve and benefit record labels and supranational corporations instead of that it may have been the other way around back in days. Maybe it’s also about how Napster affected the music business in the 90's. The result is that people are not ready to use money to listen to music and don’t understand that to finish a studio level album is not free.  It’s also interesting to compare consumer behavior in the music industry to what it is in other entertainment industries - for example gaming industry:  It’s completely ok to set a price to 60€ for brand new ps5 games and people are ready to use that amount of money to get the game. At the same time, a brand-new album in CD-format should cost maximum 20€. I don’t know what’s the reason for that, but it let me think that maybe the music industry never adapted to challenges how the world has changed within the last 20 years. Maybe it comes from the fact that the main ambition for musicians to create music and play in a band is not usually money. I don’t know and I am not directly blaming any particular direction but it’s a thing that everyone who works in this business should be aware. Anyway, it’s interesting to see how this industry will be after 20 years. 

Did the old recording processes greatly influence how the band would compose the songs? Did this composition process change with time?

Sami - As long as I have been in the band the process has been quite the same: Mainly it’s Jonne -our front man- who records demos in his home studio and then shares new songs with the others. Then we record our own parts to that demo and arrange the song if there are new ideas for that. For some reason we are not a band who could just gather together, play some ideas together and after that kind of session a new piece could be ready. Of course, it’s easier for everyone to make demos in home with modern recording software’s.

The Nordic soul has always been present in the band's songs. Is this love for folklore and nature related to the band's homeland?

Sami - Folk music, folklore, and nature or whatever is something to what we are in interaction naturally when we are born in a certain kind of culture. I believe that everyone's own culture is somehow always dear.  It’s in us no matter what so it’s kind of difficult to answer that question. Let’s say it’s this band’s way to be in interaction with reality in a musical way.

How much do Finland and its legends influence the creation of the works? 

Lyrically Finnish influences are huge. We get our lyrics from our poet Tuomas Keskimäki who writes lyrics in old Finnish language. On the other hand, many of our subjects in our lyrics are quite universal and timeless in the end. Still, I see folklore as imaginary, full and rich in inspiration. 

Now speaking of works, we have Jylhä (2021) being revealed to the world. What roughness will the disc bring us in the tales?

Sami - I wouldn’t call it concept album but one strong theme in the album is murder mysteries and death in our folklore. For example, “Niemi” tells a story about lake bodom murders that happened in Finland in the 60's.

And for the three video clips released so far on YouTube, one thing we can notice it’s a very interesting rhythmic variety. Along with this collection of stories, Jylhä will also bring us a collection of different rhythms?

Sami - I am happy with the musical diversity that is in the album. Every song's like its own personality but still every one of them belong to the same family. I think the band has taken a huge step forward musically and tours we did to promote our kulkija (2018) album developed us a lot. Also because of this pandemic we got enough time to work with music before entering the studio. Our new drum player -Samuli Mikkonen- also made a huge effort for Jylhä by bringing a lot of fresh energy to us.

And how did the band prepare to release an album in this pandemic scenario?

Sami - Mainly pandemic has affected our tours. We got plenty of time to do promotion work and so far, we have released 5 music videos from the album. It's the most unsatisfying thing that even though the album is released we don’t have a chance to play it live. We have had rehearsals so that we are ready to play the whole new album through when it’s possible - so we have tried to stay active no matter what.

The isolation we went through in 2020 was important during the creation and production of Jylhä?

Sami - Yes, it was -we finally had plenty of time to finish the album! Still the inspiration and subjects in the album are not about pandemic.

And if this scenario of isolation goes beyond the expectation of vaccination, is there a strategy thought for the spread of the new disc?

Sami - Only the release of our LP got delayed because of this situation. I hope it’s not anyhow affecting the spread of the album. Tours are delayed but it’s not up to us. 

I noticed that the art cover of the record is by Jan "Örkki" Yrlund again. He has made a lot of art covers for many of the band's albums, he already has "the hand". How much did he contribute with the creation of Jylhä's cover?

Sami - I think Jonne usually has a vision about the album's outlook and he contacts Jan about artwork. The color palette is well designed to fit the album's musical content: bloody sunset and passionate red colors fit well to our powerful and fast album. There is also little detail on cover: the face of the old man on cover is illustrated to look like the face of Yrjänä Ermala - the main actor of our music videos.

The three songs produced at the point of this interview have death in common at some point. Jylhä will certainly tell us a lot about deaths, but there is also life in the songs. How does the creative process happen when composing about these moments of history and folklore?

Sami - We don’t usually plan ahead how the new album should sound like, but I think everyone intuitively wanted to make a fast and more impulsive album after calming Kulkija-album. Our lyricist naturally reacted to that and that kind of collaboration easily fed everyone’s inspiration. Still, I don’t see it as a gloomy and sad album. It’s more likely powerful and full of life. 

Now about the streaming platforms, how does the band position itself on this theme (Spotify, Tidal, Deezer, etc.)?

Sami - A while ago we got over 600 000 monthly listeners in Spotify and that’s one way to rate the band's success. Good things in those kinds of streaming platforms are that it's an easy way for artists to promote music and make it easy to get for everyone.

Can you see the sound change, inside the metal, happening as time goes by? Are you aware of this detail?

Sami - We think we are. Nowadays many metal albums are highly edited and quantized so that those are sounding more likely that there are machines playing instead of real humans. We wanted to try to do a more organic sounding album after Noita (2015) and so we recorded kulkija (2018). I think that style fits us so Jylhä is recorded in the same way.  It’s also about how much money the band is ready to spend for the studio. Also, nowadays the amount of different metal bands is huge. It’s really difficult to find something really unique.

Can this rhythmic diversity of Jylhä be interpreted as a call for fans from other angles to pay attention to the band's work?

Sami - Like I told you we don’t really think that “next album should sound like that” etc. We try to do good music and keep the game interesting to us. I think the idea to do music designed for someone or to a certain group is not worth it because there are anyway always people who don’t like it and then there is a group who like it: Just like it would be if you would just do the music that also inspires you so let’s stick to that.

Well, heading to the end of the conversation, we would like to thank the opportunity and wish you success. May Jylhä can take many fruits. We leave room for your message to our readers! Thanks very much!

Sami - Thanks and hope to see you on tour!