“O Uriah Heep faz o que sempre fez”
O Rebel Rock teve a honrosa oportunidade de conversar com o tecladista da lendária banda britânica Uriah Heep, Phil Lanzon, via internet. Neste papo, Phil conversou conosco sobre o lançamento do novo álbum da banda “Chaos & Colour” – lançado recentemente do dia 27 de janeiro – sobre as dificuldades durante o período do COVID-19 e sobre como a banda com 50 anos de estrada ainda mantêm-se vigorosa, moderna e clássica em uma indústria musical repleta de mudanças.
Entrevista conduzida por Gregory Weiss Costa
Rebel Rock: Phil, o último trabalho do Uriah Heep “Chaos & Colours” apresenta um som poderoso, moderno, sem perder a sonoridade clássica. Um trabalho incrível para uma banda com 50 anos de estrada que segue atual e vigorosa. Qual o segredo de vocês?
Phil Lanzon: Somos apaixonados por fazer música, apaixonados por fazer nosso trabalho, por criar, por tocar para as pessoas. Não há um segredo. Se você tem saúde, tem interesse em fazer e amor pela música, você sempre seguirá em frente.
Rebel Rock: O que mudou na sua opinião do álbum anterior “Living a Dream” para o “Chaos & Colours” na sonoridade da banda?
Phil Lanzon: Algumas coisas podem ter mudado, mas eu não considero mudanças. Para mim seguimos soando com a mesma energia. Talvez alguns pontos podem ter mudado, mas, para mim, ambos são bons álbuns.
Rebel Rock: A primeira faixa do álbum “Save me tonight” é uma composição poderosa. A bateria de Russel dá um ritmo que a deixa soar como heavy metal. Como a banda ainda se define em possíveis gêneros?
Phil Lanzon: É um álbum de metal, de hard e de prog – como gostamos de ser.
Rebel Rock: Como foi o processo criativo e de composição deste novo álbum? Como você procederam para fazê-lo?
Phil Lanzon: Bem, este álbum teve um processo de composição diferente por causa do COVID-19. Obviamente, nós estávamos isolados uns dos outros, então, em nossas casas, separados, começamos a escrever as músicas para esse álbum. Então, fomos criando e compondo remotamente, e foi assim que compomos este álbum. E até que foi bom, porque demos mais atenção às músicas, trabalhamos todos mais juntos nisso. Quando a pandemia acabou e nos reunimos em estúdio começamos a pensar em quais músicas iríamos trabalhar; quais músicas entrariam no álbum, quais não entrariam. Após isso, começamos a trabalhar na produção final do produto.
Rebel Rock: Falando nisso, como o Uriah Heep enfrentou a pandemia do COVID-19?
Phil Lanzon: Foram tempos difíceis. Nós tínhamos agenda e planos para época e a pandemia cancelou tudo. Cancelaram grandes festivais na Europa, Finlândia e Escandinávia e, em uma semana após isso, toda a banda e membros da equipe foram contaminados pelo COVID. Perdemos grandes shows na Finlândia, estávamos todos de cama. Depois ficamos bem, mas ainda assim foi um grande choque. Ainda que todos nós estivéssemos bem depois de curados, ainda assim estávamos com muito medo.
Rebel Rock: Falando um pouco de mudanças, como você percebe a indústria musical nos dias atuais? Como você percebe as mudanças nessa indústria e o que o Uriah Heep faz diante disso para estar ainda estar relevante no meio disso?
Phil Lanzon: É uma pergunta interessante. Vamos dizer que o Uriah Heep está sentado no meio de uma rua muito agitada. No meio dele, os carros e veículos passam de um lado e para o outro. Ainda assim, o Uriah Heep segue sentado ali, fazendo a música que o Uriah Heep gosta de fazer. Não importa o trânsito das mudanças a nossa volta, o Uriah Heep faz o que sempre fez. Também, porque isso faz nos sentir tão bem.
Rebel Rock: E você acha que isso é um caminho fácil ou difícil, permanecer como uma pedra em meio de tantas mudanças?
Phil Lanzon: Eu acho que fazer isso não impede de você estar sempre atento com seus ouvidos e querer também criar algo novo. Você precisa separar as coisas e ir pegar o que você precisa. E você pega essas influências e cria o que o você quer, o que você sabe.
Rebel Rock: Falando de passado: em 86 você substitui Ken Hensley – que criou grandes clássicos da banda – e desde então você comanda as teclas da banda. Porém, na época, você teve alguma dificuldade? Como foi esse período de transição?
Phil Lanzon: Na época eu tocava com o The Sweet, já estava com eles por alguns anos – e tive bons momentos com eles – mas houve um momento em que a banda começou a se fragmentar e não sabíamos o que iria ser do futuro. Neste mesmo momento, eu fui convidado pelo Uriah Heep e, simplesmente aconteceu. Desta forma: apenas entrei na banda sem pensar muito em mudanças ou dificuldades. Foi sorte!
Rebel Rock: Você é de uma época em que os teclados, Hammond órgãos e moogies eram mais presentes no rock and roll e no heavy metal. Você, assim como nomes como John Lord, Keith Emerson e Rick Wakeman, é um mestre nesta arte. No entanto, na atualidade, parece que os teclados nessa sonoridade estão desaparecendo das composições modernas, nas bandas atuais. O que você acha disso?
Phil Lanzon: Precisamos entender, a princípio, que o rock and roll é essencialmente guitarra, baixo e bateria. Então, todos os outros sons são complementares. O rock and roll não pode ser guiado por teclados, porque não tem a mesma força que a guitarra. Então os teclados surgem para adicionar cor na música – porque a guitarra não tem cor, ou talvez não o suficiente para os ouvidos perceberem! Eu penso nos teclados como cores... é difícil explicar... honestamente, é uma boa pergunta, mas como tecladista eu sei qual é meu trabalho e eu curto meu trabalho. Eu acho que o que eu faço é tão importante e igual ao resto da banda.
Rebel Rock: O que ainda te inspira na música? O que você tem ouvido atualmente?
Phil Lanzon: Tudo! Eu escuto de tudo. Eu não tenho favoritos, eu escuto um pouco de tudo e vou juntando tudo em minha mente. Eu gosto muito de ouvir orquestras – é a minha principal fonte – e isso reflete nos meus álbuns solos. Mas eu não sei se tenho uma lista de bandas, às vezes algumas me empolgam, mas não como era nos anos 70. Nessa época as bandas me inspiravam a criar mais, era uma época mais interessante, e eu não encontro mais tantas bandas interessantes hoje. Dessa forma, eu faço o meu próprio modo de procurar e se interessar por música.
Rebel Rock: O Uriah Heep tem seu nome marcado na história do rock. Seu legado é giante. Vocês tem ideia do quão importante vocês são nisso?
Phil Lanzon: Sim... porque não esquecemos que 5 décadas de música e estamos na ativa por todo esse tempo. Temos muitas bandas que são nossas fãs e somos muito orgulhosos disso e adoramos tocar para as pessoas. Esperamos voltar logo para o Brasil.
Rebel Rock: Falando nisso, o que você acha dos fãs brasileiros e de tocar no Brasil?
Phil Lanzon: A melhor coisa nos fãs brasileiros são que eles vão aos shows e não param de agitar! E eles sempre retornam aos shows da mesma maneira. Eu lembro da primeira vez que fomos à São Paulo e ao Rio, em 1998, e foi realmente incrível. Lembro que tomei caipirinha pela primeira vez. Foi realmente uma ótima passagem por esse país.
Rebel Rock: Sobre o futuro: quais os próximos planos do Uriah Heep? Quais são os seus próximos planos?
Phil Lanzon: Temos alguns festivais marcados em maio, na Escandinávia. Devemos entrar em tour no verão para promover o álbum. Quanto aos meus trabalhos solos não estou pensando neles ainda, embora tenha coisas preparadas e esteja procurando por um produtor. Ainda não estão acabadas, então, talvez, meus trabalhos solos aconteçam para o próximo ano.
Rebel Rock: Após dois anos de pandemia como tem sido esse retorno aos palcos, aos festivais?
Phil Lanzon: Tem sido muito emocionante. O primeiro que fizemos pós a pandemia foi na Escandinávia e foi um pouco estranho; as pessoas ainda estavam amedrontadas e de máscaras. Mas agora estamos mais tranquilos para o futuro.
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