ABLAZE METAL FEST
Pavilhões da FENAC - Novo Hamburgo/RS
Dias 25 e 26 de março de 2023
Produção: Ablaze Productions
Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Sergiomar Menezes - 25/03 (exceto Evilcult e Hammurabi - Jessica Kuhne)
*Infelizmente, por problemas técnicos, não pudemos fotografar no domingo.
Antes de mais nada precisamos ser sinceros: quantas produtoras independentes tem coragem pra se expôr e organizar um festival com bandas do underground em dois dias? e quando isso acontece pela segunda vez? Difícil lembrar de alguma, não é mesmo? No entanto, a ABLAZE decidiu mais uma vez, montar seu fest e em dois dias, com uma bela estrutura de som, luz e palco. Com uma equipe focada em sempre entregar o palco no horário para a banda seguinte e atenta a todos pormenores que permeiam esse tipo de evento, um dos pavilhões da FENAC em Novo Hamburgo/RS, sediou nos dias 25 e 26 de março, o ABLAZE METAL FEST II, que trouxe nada mais, nada menos que 17 bandas dos mais variados estilos. Uma pena que mesmo com toda a estrutura montada, com vários stands de merchandise, além de uma cerveja bem gelada, o público tenha deixado a desejar. E estamos falando de um fim de semana, em um horário tranquilo e um local de fácil acesso. Só que aqueles que não foram, perderam shows muito bons, onde as bandas deram sangue para mostrar seus trabalhos. Sem mais delongas, vamos aos shows.
SÁBADO - 25/03
A primeira banda a se apresentar foi a SANGRIA, exatamente às 15h, conforme anunciado. Cheguei em cima da hora, pois acabei esquecendo que nos finais de semana tem horário diferenciado e nisso, acabei perdendo o início do show da banda de Bento Gonçalves/RS. Com um visual gore e uma sonoridade focada no splatter, ainda que o death metal se faça valer em determinados momentos, o grupo passou seu recado de forma consistente. Com uma boa movimentação de palco e uma brutalidade sonora bem interessante, a banda foi uma ótima abertura para o evento.
Em seguida, com o intervalo de 20 minutos sendo respeitado (o que ocorreu de forma uniforme durante o sábado), era chegada a hora da DIOKANE. Uma banda impossível de rotular, mas que tem sua influências calcadas no Punk/HC, no grindcore, no thrash metal e em tudo mais que o grupo sentir necessidade. Difícil de imaginar? Pode até ser, mas quando a banda começa a tocar, fica muito fácil de entender sua proposta: destruir tudo! Capitaneados pelo vocalista Homero Pivotto Jr., o grupo explorou seu tempo de um jeito bem peculiar, sendo que em determinado momento, até "covers" da Gloria Groove e Racionais MC's apareceram! De forma bastante pesada, diga-se de passagem. Homero, desceu do palco e foi pro meio da galera, ainda que a quantidade de pessoas presentes não pudesse ser chamada assim. Mas isso em nada atrapalhou a apresentação do quarteto que teve como destaques "Certeza?", "Just Start", "Under the Influence" e "Days of Summer". Bandaça!
Na sequência, outro bom nome do Death/Black Metal gaúcho: AMADUSCIAS. A veterana banda, agora com nova formação, trouxe ao palco do ABLAZE METAL FEST II, muita brutalidade, agressividade e peso. Com um som de guitarra bastante rípsido, a banda revisitou sua carreira, não deixando de apresentar também, novas composições. Na hora da apresentação do grupo, o público deu uma pequena melhorada, mas ainda assim ficando abaixo do esperado. O quarteto mostrou muita energia e presenteou o público com um show denso, pesado e violento. Parabéns ao grupo pela excelente apresentação!
Era chegada a vez da MAFIA, banda uruguaia que pratica um hard/heavy/southern bem peculiar. O quinteto fez uma apresentação segura, mas ao mesmo tempo intensa e desafiadora, visto que as bandas que os antecederam eram bem mais voltadas ao lado extremo do metal. Sem se importar com isso, o guitarrista Marcelo Soria interagiu bastante com o público, falando sobre a alegria em estar ali e também sobre o tempo em que morou no RS e fez muitos amigos. Eu, sinceramente, não conhecia o grupo e fui atrás de suas músicas, pois achei a sonoridade do quinteto muito interessante. E aqui fica a dica: vale muito a pena conhecer a MAFIA!
Após o pequeno intervalo (os famosos 20 minutos), era chegada a vez de um dos grandes shows do festival: a banda VAZIO. Que banda pra ser ver ao vivo, meus amigos. Que banda! Praticando um black metal que traz influências do clássico (old school) e também das bandas atuais, o grupo fez uma excelente apresentação, carregada de intensidade e energia. Presença de palco, sonoridade obscura e agressiva, e uma dose excessiva de "ódio", fizeram da curta apresentação do grupo, um dos melhores momentos do Fest. E abro um parêntese aqui. Muitas bandas de black metal se mostram realmente no ao vivo, sendo que muitas vezes, em estúdio o som fica reto, rígido, ainda que dotado de violência e brutalidade. Mas ao vivo... Que soco na boca do estômago! É um verdadeiro "cala a boca" para aqueles que ainda falam que black metal é só barulho... SHOW MATADOR!
E por falar em show matador... Depois da VAZIO, a missão de manter os shows em alto nível havia se tornado ainda mais desafiadora. Mas a banda que veio na sequência, é simplesmente, uma das melhores bandas do metal gaúcho pra se ver ao vivo: SYMPHONY DRACONIS! E não estou exagerando, pois quem já teve a oportunidade de assistir o quinteto, sabe do que estou falando. Com uma proposta visual bem interessante, o grupo sobe ao palco de forma destruidora. Com seu black metal sem nenhum tipo de concessão, a banda mostrou toda sua classe e qualidade nas execuções de suas composições, com destaque para uma nova faixa, a excelente "StormWalk", lançada como single há pouco tempo. Em certo momento, o vocalista Marcelo deu seu recado, lembrando que enquanto alguns tentam enfraquecer o metal com suas picuinhas e falácias, as bandas e o público se unem ainda mais. Parabéns pela postura e pelo excelente show!
Era chegada a hora da principal atração da noite: THE TROOPS OF DOOM, que pisava em solo gaúcho pela primeira vez. Mas antes de subir ao palco, enquanto aguardávamos a chegada do quarteto, no som rolava simplesmente "God of Thunder", da maior banda de todos os tempos. E pra quem não sabe, uma das preferidas do guitarrista Jairo Guedz. Sem muito papo, o grupo sobe ao palco e detona seu death metal old school com muita garra e energia. Falar da performance do carismático Jairo é chover no molhado, mas Marcelo Vasco (guitarra), Alex Kafer (vocal/baixo) e Alexandre Oliveira (bateria) não ficam atrás, formando hoje, uma das melhores bandas do estilo no Brasil. A intensidade do grupo era tanta que em certo momento, foi preciso parar o show pois o baterista Alexandre acabou por derrubar uma parte do seu kit, momento que foi apresentado por Jairo para falar um pouco com o público, falando sobre sua satisfação em estar ali. No repertório, "Dethroned Messiah", "A Queda", "The Rise of Heresy" mostraram sua força e potência ao vivo. Só que o público queria ouvir as tosqueiras tocadas de forma precisa, com uma ótima produção e um nível de excelência maior. E assim, "The Antichrist", "Necromancer", "Morbid Visions" e o hino "Troops of Doom" fizeram com que o circle pit se formasse. Um show para marcar e afirmar de vez o nome do grupo dentro do cenário.
A dura tarefa de tocar depois da “Tropa” foi do EVILCULT, banda gaúcha já com nome muito firme a nível nacional com lançamento de álbuns no mundo inteiro, engana-se quem acha que foi tarefa difícil, a banda detonou seu speed thrash black metal (existe esse estilo?) com uma apresentação muito coesa e energética, o público agitou muito já que essa sonoridade old school propicia rodas de mosh e o headbanging. O vocalista Lucas capitaneou o desfile da banda por todo o material já lançado e a banda termina o show sendo muito aplaudido pelo grande público que ainda se mantinha no local.
Pra fechar a noite de sábado o HAMMURABI toma de assalto o palco com uma apresentação impecável. Os mineiros mesclaram bem músicas de seus dois álbuns "The Extinction Root" e "L.A.W." a sonoridade original da banda é algo a ser elogiado aqui na alternância de partes rápidas, partes lentas e muitas partes repletas de groove em momentos de destaque pro trampo do competente e talentoso baterista Yuri Alexander. Fecham as cortinas também com aprovação do público nesse primeiro dia de shows, hora de tomar a “saideira” porque amanhã tem muito mais.
DOMINGO 26/03
No domingo, a exemplo do dia anterior, o evento começou pontualmente ás 14h num cronograma de horário impecável, que seguiria até o show do Ratos de Porão, mas disso falaremos em seguida, agora era a hora do CARCINOSI dar o pontapé inicial do festival, e que pontapé! Tiago “Burnes” Vargas anuncia "Deceived" e o que se vê é o mais fiel death metal sendo tocado com maestria. Essa música, presente no álbum "Resumption", o qual norteou a apresentação da banda, foi aceita e celebrada muito bem, por um público ainda um tanto reduzido mas muito participativo. Todo mundo curtindo e agitando a performance dos gaúchos numa apresentação impressionante. Fecham o set com "Hyperdimension", composição que teve seus primórdios lá no distante ano de 1997, mostrando o quanto o estilo deles se mantém atual.
A sequência nos brinda com a força do interior gaúcho, a banda CHURRIL nos presenteia uma apresentação divertida própria do estilo gore com temas como "Pau Mofado", "Exu Tranca Cú" e "Tropecei no Cadáver de Deus" que por sí só já deixam claro a simpática temática da banda. O som hora calcado num death metal tradicional, hora com passagens mais hardcore fez com que todo o público presente agitasse muito sob o comando da vocalista Luana que teve sua performance sempre ao lado de um vaso sanitário colocado bem no meio do palco saindo fumaça e uma mãozinha apodrecida lá de dentro. Saíram ovacionados do palco.
Agora era a hora do MORTTICIA mostrar seu heavy metal e deixar claro a veia eclética do festival que abordou vários estilos. Uma performance ótima do vocalista Lucas num estilo onde a banda primou a execução técnica de suas músicas de forma muito competente principalmente nos trampos de guitarra.
A próxima atração, o BOCA BRABA traz seu crossover pra botar fogo no público presente! No melhor estilo Suicidal Tendencies e DRI a banda mostrou atitude e agressividade em cima do palco, muita gente agitando no mosh pit mais feroz até ali do segundo dia do festival. Deixaram o palco também muito festejados.
Os veteranos do DISTRAUGHT dão sequência ao show numa performance como sempre avassaladora. A competência da banda ao vivo é impressionante em temas como "Hellucinations", "Locked Forever" ou "Justice Done by Betrayers" sempre presente nos shows da banda. Tiveram o set mesclando toda sua longa carreira, com uma apresentação ótima do vocalista André Meyer sempre agradecendo a resposta do público nos intervalos. Saem de cena com a aprovação unânime do público presente.
A famosa pausa dos 20 minutos de intervalo sempre precisa entre as bandas nos dá um susto na volta pro show do IT’S ALL RED, o palco todo reestruturado no equipamento e onipotente no centro, uma bateria de 2 bumbos e 200 peças enorme que foi usada pelo baterista Renato Siqueira. Não sei como colocaram tudo no palco em tão pouco tempo, mas serviu pra uma apresentação linda e impecável da banda de Porto Alegre, que tocou músicas de todos os álbuns numa mescla de estilos muito particular indo do progressivo, rock, ao death metal com muita competência e muita energia dos músicos. Show realmente muito impressionante.
A próxima troca também foi deveras impressionante, pois “toneladas” de equipamento deram lugar a somente um amplificador e uma minúscula bateria de 3 peças, pro início do show do TEST. É impressionante a versatilidade do vocalista e guitarrista João Kombi e do baterista Barata. Os paulistas tocam desde grandes festivais até shows na rua, calçadas ou dentro de sua já lendária Kombi usada em turnês. A mescla de influências é tamanha aqui que fica impossível rotular a banda numa apresentação que mostra muito improviso de passagens que vão de jazz ao mais violento grindcore. Muita gente colada no palco pra conferir essa dupla que mostrou talvez o show mais diferente e particular até aqui. Devem ter tocado umas 80 músicas...
Palco liberado com pontualidade britânica, pois era chegada a hora do RATOS DE PORÃO ocupar seu lugar de headliner desse segundo Ablaze Metal fest. Rato gigante no backdrop atrás da bateria, e tudo perfeitamente montado pro início do show que estava programado pras 21:20 hs, totalidade do público amontoado em frente ao palco, mas… pela primeira vez tivemos um atraso de cerca de 50 minutos. Apesar de tudo montado, todos estavam esperando o baixista Juninho, que já corria a informação se atrasou devido a apresentação junto ao Matanza Ritual num horário muito próximo lá na capital gaúcha. E fica o questionamento: profissionalismo ou falta de respeito para com o público? Afinal, a banda principal do baixista é o Ratos.
A galera começa a ficar inquieta, gritar Ratos! Ratos! e então, eis que surgem os quatro senhores detentores do título do crossover brasileiro e finalmente adentram ao palco. Explosão nuclear é o que se segue numa performance como sempre rápida, suja e agressiva do que são os Ratos em cima de um palco. Na primeira parada, Gordo não deixa de zoar o amigo Juninho tirando onda do atraso pela apresentação do baixista com o Matanza Ritual, acarretando o atraso no show e o chamando de Juninho London, mas o massacre segue rápido com toda a longa carreira sendo visitada num set recheado de clássicos como "Amazônia Nunca Mais", "Farsa Nacionalista", "Sofrer', 'Crucificados Pelo Sistema', "Descanse em Paz" e todas as outras 20 músicas todas sempre obrigatoriamente presente num show da banda. Boka descendo o braço, Jão com maestria esmerilhando sua guitarra, a energia e o clima notava-se ótimo entre a banda. Gordo agradecendo aos presentes e sempre deixando claro o discurso do Ratos de Porão em relação aos temas políticos e sociais do nosso querido e sofrido Brasil. Show se encaminhando pro final, a banda sai do palco pra uma pausa programada, casualmente Gordo e Jão ficam na minha frente discutindo o que seria o bis, qual músicas tocariam, mas um dos roadies do Ratos entra palco adentro lá pelo outro lado com o estojo gigante de guitarra na mão, mesmo Jão gritando pra ele sair, que a banda iria voltar ainda pro bis, ele não ouviu, e como tudo indicava o fim do show, a equipe de sonorização adentra ao palco também, as luzes são acesas, e, ao que parece ser um grande problema de comunicação, temos o fim prematuro dessa que vinha sendo uma apresentação matadora da banda, que fecha o domingo, deixando um bis pra trás, pra quem sabe ser pago na próxima vinda a terras gaúchas.
De qualquer forma tanto o show dos Ratos como o Festival inteiro da Ablaze foi simplesmente sensacional! Dois dias de 17 bandas presentes da cena brasileira e uma uruguaia numa estrutura elogiável e aconchegante não é pra qualquer produtora. Ficamos desde já na espera do terceiro ABLAZE METAL FEST, um festival que já se firmou como o maior do Rio Grande do Sul.