quarta-feira, 20 de agosto de 2025

URDZA - A WAR WITH MYSELF (2024)

 


URDZA
A WAR WITH MYSELF
Independente - Nacional

Os paulistas do Urdza já tinham me deixado uma ótima impressão quando os assisti ao vivo, na abertura do show do Saxon aqui em Porto Alegre, em maio de 2025. E esse impressão aumentou ao ouvir o seu trabalho de estreia, “A War With Myself”, lançado ainda no ano de 2024, e que tive a oportunidade de apreciar apenas agora.

Produzido por Thiago Bianchi, o Urdza entrega em “A War With Myself” o que qualquer fã de Judas Priest, Iron Maiden, Megadeth, e outros grandes nomes gostaria de ouvir em um Cd/Lp. De cara, chama a atenção a força e energia da faixa título, que abre o trabalho, com riffs pesados e rápidos do guitarrista Hugo Prado, e o ótimo vocal do seu irmão, Heitor Prado. A temática das letras nos remetem ao jogo “Magic: The Gathering”, e se encaixa de forma muito coesa ao que o Urdza entrega na parte instrumental, com melodias pesadíssimas e fortes.

“Wrath Of God” tem a velocidade como marca registrada, comandada pelo baterista Danilo Abreu, que é escoltado pelo baixista Cid Costa, formando uma cozinha muito coesa. “Living In Fear” é mais cadenciada e tem um belíssimo solo de Hugo Prado. “Rising From The Fire” é o maior destaque deste trabalho, onde o Urdza entrega uma faixa nos moldes que a banda do patrão Steve Harris costuma fazer nos seus melhores dias. Uma faixa sensacional.

“Dark Ritual” encerra os trabalhos neste álbum, de forma pesada intrincada e empolgante. Se você é daqueles que gostam de originalidade e invencionices no Metal, “A War With Myself” não é para você. Agora se você é fã do Heavy Metal tradicional e pesado, como tem que ser, não deixa de ouvir este ótimo álbum de estreia do Urdza. Com certeza, vamos ouvir falar muito da banda no futuro.

José Henrique Godoy








VICIOUS RUMORS - THE DEVIL'S ASYLUM (2025)

 


VICIOUS RUMORS 
THE DEVIL'S ASYLUM 
SteamHammer/SPV - Importado

O Vicious Rumors é uma veterana banda americana, formada em 1979, em São Francisco, Califórnia. A banda ficou conhecida no meio da década de 1980, por seu som intrincado, riffs e solos de guitarras elaboradíssimos e vocais potentes. Um aspecto que sempre caracterizou o grupo, foi ocorrer um sem-número de trocas de formação, passando excelentes músicos nas suas fileiras, como o guitarrista Vinnie Moore e o ótimo vocalistas Carl Albert (infelizmente falecido num acidente de carro em 1995), como alguns exemplos.

A discografia do Vicious Rumours é vasta, e temos verdadeiras pérolas contidas nela, como “Digital Dictator” (1988), “Vicious Rumours” (1990) e “Welcome to The Ball” (1991), dentre outros trabalhos. ”The Devil´s Asylum” é o décimo terceiro lançamento da banda e contém o som característico do quinteto, que é o Heavy Metal tradicional e pesadíssimo, as vezes flertando com o Thrash/Power Metal. Contando com os membros originais Geoff Thorpe (guitarras) e Larry Howe (bateria), o baixista de longa data Robin Utbult, e os novatos Chalice (vocais) e Denver Cooper (guitarra), o álbum tem onze faixas distribuídas em quarenta e seis minutos.

Já na abertura com “Bloodbath”, temos uma faixa rápida, com riffs furiosos e “priestianos”, e a principal influência do novo vocalista Chalice é escancarada logo nos primeiros segundos: Rob Halford, que o abençoe. Outros destaques: “Dogs Of War”, mais cadenciada, com solos dobrados e com vocal poderoso, enquanto “Crack The Sky In Half” se ergue vigorosa numa grande faixa dentro do estilo que se convencionou chamar de “U.S. Metal”. Grande refrão que faz você querer cantar junto!

Na faixa “Abusement Park”, Chalice tem uma de suas melhores performances, desta vez encarnando um subtipo do mestre Alice Cooper, para nos narrar os terrores do “Parque do Abuso”. “Wrong Side Of Love” tem um “quê” do Hard Rock californiano, quase um “Sleaze Metal”, enquanto o Thrash Metal apresenta suas armas em “In Blood We Trust”. “Better Than Me” é pesada e cadenciada, com cara de hino Heavy Metal, e o álbum fecha com a faixa título, “The Devil´s Asylum”, em alta velocidade e com grandes riffs mais uma vez.

Um trabalho consistente e muito bom do Vicious Rumors, que vai manter o status de banda “cult”. Novos fãs vão aparecer ao ouvirem este novo CD e os antigos vão ficar satisfeitos.

José Henrique Godoy




PARADISE LOST - ASCENSION (2025)

 


PARADISE LOST
ASCENSION 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Três décadas após redefinirem o lado sombrio do metal, o Paradise Lost continua provando por que seu nome é sinônimo de melancolia majestosa. Formados em 1988, os britânicos nunca aceitaram permanecer estáticos: do doom-death inicial ao metal clássico e melódico de "Draconian Times" (1995), passando por flertes eletrônicos e experimentações ousadas, moldaram um legado que não apenas sobreviveu, mas influenciou gerações inteiras — sempre envolto em uma aura de escuridão que parece eterna.

Agora, em 2025, o quinteto Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh (guitarra e teclado), Aaron Aedy (guitarra), Steve Edmondson (baixo) e Jeff Singer (bateria) entrega seu 17º álbum de estúdio, “Ascension”, um trabalho que reafirma sua posição como referência absoluta no metal sombrio. Produzido pelo próprio Greg Mackintosh, o disco reúne dez faixas que transitam entre a escuridão arrastada do doom, riffs pesados de metal tradicional e melodias que só poderiam ter a assinatura do Paradise Lost — belas e cortantes.

A abertura com “Serpent on the Cross” já anuncia a diversidade do álbum: riffs densos que se transformam em pura fúria — e que performance de Nick Holmes aqui, hein? “Tyrant’s Serenade” mostra a força de uma banda que domina a arte de fazer do simples algo grandioso, com uma linha instrumental que remete ao Type O Negative. Inclusive, a forma de Holmes cantar funciona como uma espécie de tributo discreto a Peter Steele e à própria história do Paradise Lost. Se fecharmos os olhos e prestarmos atenção, encontramos resquícios do álbum Icon, numa música de tirar o fôlego e mergulhar nas sombras.

Enquanto isso, “Salvation” surge como mais uma miserável dose do que é o Paradise Lost em essência — densidade e melodia entrelaçados, reflexo direto de sua importância e de sua versatilidade única, como um hino à dor transformada em música.

Em “Silence Like the Grave”, o álbum abraça um ar melancólico em seus primeiros momentos para, surpreendentemente, nos conduzir a algo entre One Second e The Plague Within — um lado “acessível” inserido dentro do peso lamacento dos riffs, como se a escuridão abrisse um breve fecho de luz. Já “Lay a Wreath Upon the World” soa como uma prece em forma de música, crescendo até um clímax de dor e beleza — uma calmaria disfarçada antes da tempestade que se esconde logo atrás do horizonte.

Um detalhe curioso é que Ascension mantém sua força independentemente da forma como é ouvido. Do fim para o começo, em ordem invertida ou até mesmo no modo aleatório, cada faixa sustenta o mesmo impacto. Essa homogeneidade não torna o álbum previsível, mas sim coeso — como se cada música fosse um fragmento igualmente indispensável para sustentar o todo, pedaços de uma mesma noite sem fim.

Faixas como “Dilivium”, “Savage Days” e “Sirens” ampliam ainda mais essa noção, cada uma trazendo nuances distintas, mas sempre conectadas ao fio condutor da melancolia grandiosa da banda. Já “Deceivers” desponta como um dos pontos altos do álbum, somando tensão e dramaticidade — flertando tanto com o doom quanto com o gótico, com riffs pesados e marcantes que ecoam como lamentos distantes.

Nas letras, Holmes mergulha em reflexões existenciais: a eterna luta humana por ascender a um lugar melhor, os fantasmas da morte, os abismos mentais que nos assombram diariamente. O resultado é sombrio, mas paradoxalmente belo — a prova de que, para o Paradise Lost, a miséria ainda é a fonte mais fértil de inspiração.

O encerramento do tracklist regular vem com “The Precipice”, guiado por piano, que fecha o álbum de forma solene, quase litúrgica, como uma despedida inevitável — uma lentidão pesada e carregada de sentimento, como um último adeus diante do desconhecido.

Em “Ascension”, o grupo não apenas honra sua coroa como pioneiro do gótico e do doom, mas mostra que ainda há fogo em sua existência. Amargo e doce, pesado e contemplativo, o disco é a reafirmação de que o Paradise Lost só sabe ser ele mesmo: inconfundível e melancólico como a própria escuridão que o acompanha.

William Ribas




HUMANAL - “DELIRIUM” (2025)

 



HUMANAL 
DELIRIUM
Independente - Nacional

A banda curitibana Humanal chega ao seu primeiro álbum, “Delirium”, com uma confiança renovada após marcar presença entre os finalistas do concurso New Blood e abrir para os russos do Slaughter To Prevail. Lançado em 13 de agosto de 2025, Delirium é um trabalho de peso, densidade e reflexão, que posiciona a banda como um dos nomes emergentes do metal brasileiro.

"Delirium" apresenta dez faixas, todas conectadas por uma mesma essência: traduzir em música as contradições da vida moderna. Temas como saúde mental, vício, vaidade, opressão, alienação digital e colapso ambiental são tratados de forma direta, sem suavizações, mas sempre com um olhar filosófico e existencial.

Musicalmente, Delirium transita entre groove, progressivo, metal alternativo e death metal melódico, equilibrando agressividade e complexidade de maneira ímpar. A estrutura é dinâmica, cheia de quebras de andamento e atmosferas densas, mas também oferece melodias marcantes, tudo sem perder impacto e força. O resultado é um álbum extremamente versátil, no qual momentos de brutalidade se alternam com passagens mais calmas, e os vocais agressivos de Tati encontram contraponto em linhas limpas e emocionais.

Há ecos de nomes modernos do metal — como Jinjer e Gojira — e nomes da "velha guarda" — como Sepultura e Death —, mas apenas como inspiração estética, absorvendo influências para construir sua própria identidade.

Um ponto crucial é como o instrumental pesado se alinha às letras sombrias, fazendo da música não apenas entretenimento, mas uma experiência que mexe com quem ouve desde o primeiro instante. A abertura com "Echoes of Ether", seguida da instigante "Abyss", já estabelece esse casamento entre peso sonoro e densidade lírica, dando ao álbum um caráter visceral e perturbador.

Entre os destaques, "Xawara", inspirada no livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa, surge como manifesto. "Burnout" traduz em som o esgotamento da vida moderna, com arranjos sufocantes, quase uma catarse. "Animal Social" é carregada de groove e tem uma levada que facilmente leva o ouvinte a bater cabeça e gritar o refrão. Já "Spiritless" traz consigo um ar angustiante, inquieto e denso.

Um dos momentos mais impactantes vem com "Opressor", cantada em português, que carrega um peso ainda maior pela clareza da mensagem. Nela, a banda pisa fundo na brutalidade, liberando um caos controlado pela intensidade instrumental e pelos berros viscerais de Tati.

Mais do que um simples lançamento, “Delirium” representa a trilha sonora intensa e consciente de seu tempo. O fechamento com "The Art of Losing" é apoteótico: começa com suspense e levada limpa, cresce passo a passo até que o peso toma conta, evidenciando a genialidade dos músicos.

Humanal prova que é uma banda que veio para deixar sua marca — O álbum é uma obra-prima, uma experiência única e impactante para os ouvintes.

Ouça!!!

William Ribas




MORS PRINCIPIUM EST – “DARKNESS INVISIBLE” (2025)

 


MORS PRINCIPIUM EST
DARKNESS INVISIBLE
Reigning Phoenix Music - Importado

Fundado em 1999, na Finlândia, o Mors Principium Est retorna em 2025 com Darkness Invisible, seu nono trabalho de estúdio. Desde 2021, a banda mantém a mesma formação: Ville Viljanen (vocal), Jori Haukio (guitarra), Jarkko Kokko (guitarra), Teemu Heinola (baixo) e Marko Tommila (bateria). Juntos, gravaram “Liberate the Unborn Inhumanity” (2022) e agora, com o segundo álbum de estúdio desse line-up, mostram-se ainda mais coesos, afiando identidade e sintonia.

Confesso que nunca havia escutado sobre a banda até agora — e “Darkness Invisible” foi uma grata surpresa, mesmo que essa descoberta tenha demorado 26 anos desde a sua fundação. Há um frescor aqui que é raro: a sensação é de estar conhecendo uma banda nova, que acaba de lançar seu primeiro trabalho, mas com a experiência e maturidade de quem já percorreu uma longa estrada. A energia que a banda transmite é a de iniciantes famintos, e isso é ótimo — tanto para quem descobre, quanto para eles, que ainda demonstram esse tesão diante do eterno ciclo composição, gravação e turnê. Após a primeira audição, fui direto ao Spotify e resolvi explorar alguns outros trabalhos: “Inhumanity” (2003), “The Unborn” (2005), “Dawn of the 5th Era” (2014) e, obviamente, o antecessor “Liberate the Unborn Inhumanity”. A escolha foi quase instintiva, guiada pelas capas — como fazia nos anos 90.

Musicalmente, "Darkness Invisible" preserva o DNA característico do MPE: riffs cortantes, harmonias melancólicas e precisão rítmica impecável. O álbum tem uma certa dose de caos. O instrumental é agressivo e os momentos mais melódicos ficam mais focados nos solos ou em uma ou outra passagem, apenas para trazer uma atmosfera épica. Tudo isso reforça o peso emocional das faixas.

O início com “Of Death”, com seu jeito quase Black Metal à la Dimmu Borgir e Cradle Of Filth, cai como uma luva, com uma breve introdução sombria, riffs pesados misturados com uma bateria. Na sequência, vêm “Venator” e “Monuments”. Ambas mantêm um lado Black/Death Metal melódico — deixando claro que a obscuridade e intensidade serão as regras do álbum.

“Tenebrae Latebra” é um breve descanso. Uma passagem tranquila, com vocais femininos apenas ambientando a faixa — a óbvia calmaria antes da tempestade.

As letras de “Darkness Invisible” mergulham fundo na escuridão — e não apenas como recurso estético. Medo existencial, tormento interior, isolamento psicológico e a lenta desintegração da identidade permeiam o álbum, transformando-o em uma jornada filosófica e devastadora. É uma obra que provoca catarse. “
Summoning The Dark” e “The Rivers of Avernus” são exemplos — fazem os fones de ouvido “explodirem” e deixam o ouvinte desnorteado.

“In Sleep There is Peace” entrega uma performance destruidora de Ville Viljanen, alternando guturais brutais e “grunidos” sombrios, sempre de maneira visceral. A bela melodia de “An Aria Of The Damned” acalma, ao mesmo tempo em que traz uma certa ponta de angústia e ansiedade para o que pode estar por vir. Na sua sequência, temos “All Life Is Evil” — carregada, a banda diminui a velocidade e apenas transborda um ar melancólico, com seu pé no Doom Metal, ampliando uma experiência surreal para o fã.

O final com “Makso Mitä Makso” traz novamente a agressividade — o mesmo tom caótico do início do álbum. Gritos, blast beats, riffs sendo despejados sem dó nem piedade, fechando o trabalho de maneira impiedosa. “Darkness Invisible” é mais que um álbum — é uma declaração, uma experiência e um lembrete de que, mesmo nas sombras mais profundas, ainda existe beleza, mesmo que ela venha acompanhada de uma sinfonia deliciosamente caótica.

Bem, fim de resenha e vou ali dar sequência na riquíssima discografia (o lado bom da existência do streaming) do Mors Principium Est.

William Ribas




AMORPHIS - “BORDERLAND” (2025)

 


AMORPHIS 
BORDERLAND
Reigning Phoenix Music - Importado

O Amorphis desafia a lógica da indústria musical, ignorando a acomodação e mantendo viva a inquietude criativa ao longo de décadas. Trinta e cinco anos depois de surgir na cena finlandesa com um death/doom bruto, sendo um espelho daquela época — o sexteto chega ao seu 15º álbum de estúdio, “Borderland”, como veteranos e incansáveis exploradores de novos territórios. Com uma trajetória marcada por experimentação e inovação, a banda segue expandindo seus limites musicais.

O novo trabalho combina frescor e equilíbrio entre a melancolia tradicional e um tempero moderno que amplia horizontes. As melodias permanecem profundas e carregadas de emoção, mas aqui ganham um tratamento mais direto e, por vezes, irresistivelmente cativante. Não é um álbum agressivo — muitas vezes nem pesado. Um passo adiante do que foi proposto em “Halo” (2022). Existe, sim, um lado denso no instrumental, mas Borderland é feito para quem deseja fugir das regras.

A abertura com “The Circle” comprova que a liberdade criativa segue intacta: leve, mas hipnotizante; dançante, mas obscura — um início que anuncia que, nesta estrada sombria, haverá também beleza abstrata. “Bones” é prova disso, figurando como um destaque imediato com melodias orientais que sobem mais um degrau em relação às tentativas anteriores da banda. Já “Dancing Shadow” surpreende ao flertar com atmosferas repletas de ganchos — o contraste entre voz limpa e gutural alinhado ao instrumental pulsante são capazes de incendiar qualquer pista de dança para headbangers.

“Fog to Fog” carrega uma forte carga emotiva desde as primeiras notas de teclado, passeando entre guitarras melódicas e uma vibração livre. “The Strange” é como o final de um longo inverno: frio, denso, mas com a luz surgindo. Essa luz se revela por completo em “Tempest”, um capítulo suave, quase cinematográfico, marcado por uma interpretação impecável de Tomi Joutsen.

O single “Light and Shadow” demonstra o quão criativo foi o processo de composição do álbum, equilibrando peso e melodia, com um caráter ao mesmo tempo introspectivo e acessível. “The Lantern” surge mais densa, com guitarras pesadas e andamento arrastado — talvez o momento mais “quieto” do disco. A faixa-título se ergue como o núcleo emocional, unindo guitarras e teclados envolventes, além de uma letra que reflete o embate entre a sabedoria ancestral e os dilemas da vida moderna — um tema que permeia por todo o tracklist.

A reta final do álbum é onde a escuridão volta a tomar conta. “Despair” fecha como um sopro gélido no ouvido — progressiva , cativante e lenta, deixando no ar um peso que persiste muito depois da última nota. Como se a beleza se misturasse com o desconforto, criando um encerramento que mais parece um presságio.

Borderland” é um álbum de contrastes: sedutor e sombrio, melódico e pesado, e acima de batidas dançantes. É o Amorphis olhando para frente, mas com um pé no lado escuro de sua própria história. Um disco brilhante, mas mesmo que sob a luz de um novo amanhecer, as sombras do passado permanecem.

William Ribas




sexta-feira, 15 de agosto de 2025

REBEL ROCK RESEARCH - MERCYFUL FATE


Poucas bandas no heavy metal são tão essenciais e ao mesmo tempo tão envoltas em mistério quanto o Mercyful Fate. Formada em 1981, na Dinamarca, em meio ao furacão da New Wave of British Heavy Metal, a banda logo chamou atenção com sua sonoridade única: guitarras afiadas, estruturas longas e intrincadas, e acima de tudo, a voz hipnótica e teatral de King Diamond, que alternava entre falsetes agudos de arrepiar e graves que pareciam invocações do além. O quinteto clássico (King Diamond (vocais), Hank Shermann (guitarra), Michael Denner (guitarra), Timi Hansen (baixo) e Kim Ruzz (bateria)) deu ao mundo dois discos que se tornariam verdadeiros pilares do black metal primitivo: "Melissa" (1983) e "Don’t Break the Oath" (1984). Esses trabalhos foram tão influentes que até hoje são citados entre os maiores álbuns de metal extremo já feitos. Após divergências internas, a banda se separou em 1985. Mas como toda lenda, o Fate ressurgiu em 1992, mais maduro, lançando uma sequência de álbuns que mostraram uma nova face, até entrar novamente em hiato depois de 9 (1999).

Minha conexão pessoal com a banda começou de forma indireta, através do Metallica, quando ouvi o "Mercyful Fate Medley" no Garage Inc. (1998), do Metallica. Ali senti a força da música, mas foi mergulhando na discografia original que me tornei devoto ao ocultismo e à teatralidade sombria do Mercyful Fate \m/. Todos os discos têm sua importância, e ainda que os três primeiros estejam em um altar intocável, a jornada completa é um mergulho profundo na essência do heavy metal. Dito isso, vamos nos deleitar com a discografia da banda, que apresento aqui do meu “menos preferido” até o supra-sumo.

Fernando Aguiar

8º - RETURN OF THE VAMPIRE (1992)


Mais que um álbum, Return of the Vampire é um documento histórico. Trata-se de demos gravadas antes mesmo do primeiro disco oficial, lançadas como compilação. "A Corpse Without Soul" já carrega a energia obscura que seria marca registrada. "On a Night of Full Moon" tem uma atmosfera quase ritualística, enquanto a faixa-título "Return of the Vampire" resume a identidade embrionária da banda. Não há polimento, mas há autenticidade pura. É como abrir o diário secreto de um mago e encontrar os primeiros feitiços. Para qualquer fã, é um tesouro que mostra como o Mercyful Fate já tinha sua essência formada antes mesmo de mudar a história com "Melissa".



7º - 9 (1999)


O último álbum da banda é uma despedida poderosa (até o momento). 9 mostra um Mercyful Fate fiel ao que sempre foi: sombrio, pesado e intenso. A produção é crua, direta, sem polimentos desnecessários, o que dá ao disco uma energia agressiva, quase como se quisessem lembrar ao mundo que não havia envelhecimento criativo. "Last Rites" abre de maneira explosiva, reafirmando que o King Diamond ainda dominava o palco e o estúdio com sua teatralidade. "Burn in Hell" carrega riffs cortantes, daqueles que grudam na mente e mostram o DNA da banda. "House on the Hill" talvez seja a mais marcante, pela força melódica que contrasta com o peso. O álbum inteiro soa como um fechamento em círculo: é como se o Mercyful Fate dissesse ao mundo que começou sombrio e assim permaneceria até o fim. É um ”último” capítulo, sem concessões, que deixa o legado intacto.



6º - DEAD AGAIN (1998)


Lançado no ano anterior, Dead Again é um álbum longo e ousado. São músicas que ultrapassam dez minutos, construídas como rituais musicais que alternam passagens de pura agressividade com atmosferas densas. A faixa-título "Dead Again" é um épico absoluto: riffs que crescem como tempestade, vocais que alternam entre o demoníaco e o melancólico, e uma estrutura que mais parece um rito satânico. "The Night" se destaca pela aura obscura, como se fosse a trilha sonora de um pesadelo interminável. Já "Scream" é a pancada direta, lembrando que a banda também sabia ser simples e devastadora quando queria. "Crossroads" equilibra peso e melodia de forma quase ritualística. A produção é propositalmente crua, o que reforça o clima macabro. Para quem busca acessibilidade, esse disco pode soar desafiador. Mas para quem entra na imersão, é uma viagem que mostra a coragem da banda de não se repetir, mesmo depois de tantos anos.



5º - INTO THE UNKNOW (1996)


Este é o disco mais acessível do Mercyful Fate, mas não menos sombrio. Lançado em 1996, Into the Unknown soa cristalino, com uma produção impecável, riffs claros e uma pegada mais direta. Isso o torna uma boa porta de entrada, mas não trai as raízes. A abertura com "Lucifer" já mostra que a aura satânica continua ali. "The Uninvited Guest" é um destaque absoluto, sombria e cativante. "Holy Water" traz riffs que grudam na mente e uma interpretação de King que equilibra teatralidade com força. A faixa-título "Into the Unknown" é um mergulho no clima místico que sempre acompanhou a banda, e "Fifteen Men (and a Bottle of Rum)" mostra a ousadia em experimentar temáticas diferentes sem perder a identidade. Esse álbum foi bem recebido comercialmente, alcançando inclusive paradas europeias, algo incomum para a banda. É a prova de que, mesmo mais acessível, o Mercyful Fate sempre manteve sua essência.



4º - TIME (1994)


Com Time, lançado em 1994, a banda mergulhou em atmosferas mais elaboradas. É um álbum que mistura agressividade com momentos contemplativos, quase ritualísticos, provando que o Mercyful Fate podia soar versátil sem perder identidade. "Nightmare Be Thy Name" é um verdadeiro hino, um dos maiores da fase 90, carregado de riffs que soam como trovões. "Witches’ Dance" é teatral e vibrante, uma celebração da essência da banda. "Angel of Light" traz uma melodia envolvente que equilibra peso e emoção. "The Mad Arab" (dividida em duas partes) mergulha em mitologias do Oriente Médio, criando uma ambientação exótica e única. E há ainda "The Afterlife", que para mim é uma das faixas mais poderosas do disco: melancólica, direta, com riffs incendiários e King Diamond no seu modo mais agressivo. Ela mostra que, mesmo dentro de um álbum cheio de atmosferas místicas, a banda ainda podia soar como um ataque frontal, lembrando ao mundo sua raiz mais crua. Time é cheio de detalhes sutis, que só aparecem após várias audições. É um daqueles trabalhos que crescem com o tempo e revelam novas camadas a cada retorno. Para mim, é um tesouro da discografia, injustamente subestimado por alguns, mas absolutamente brilhante.



3º - IN THE SHADOWS (1993)


E chegamos ao pódio com o retorno triunfal após quase uma década. In the Shadows marcou o renascimento da banda, provando que ainda tinham muito a dizer. A abertura com "Egypt" é grandiosa e épica, preparando o terreno para um álbum memorável. "The Bell Witch" é um dos maiores clássicos da segunda fase, com riffs marcantes e refrão poderoso. "Is That You, Melissa?" conecta presente e passado, trazendo de volta a magia do debut em uma continuação emocionante. Um dos detalhes interessantes deste play está em "Return of the Vampire", com Lars Ulrich (Metallica) na bateria. Essa participação sela a reverência de um discípulo à sua influência maior. A produção é moderna, mas sem esterilidade, tudo soa nítido, mas ainda sombrio. É um disco que mostra vitalidade e respeito ao passado, ao mesmo tempo em que atualiza a sonoridade para os anos 90.



2º - DON'T BREAK THE OATH (1984)


O segundo álbum do Mercyful Fate é pura consagração. Se "Melissa" já havia colocado a banda no mapa, Don’t Break the Oath os elevou a um patamar quase místico dentro do heavy metal. Lançado em 1984, em meio ao crescimento do thrash e ao surgimento de bandas mais extremas, o Fate entregou um trabalho que foi além de tudo o que se fazia na época. Era mais sombrio, mais ousado, mais complexo, e ainda assim acessível para quem quisesse mergulhar em sua obscuridade. "A Dangerous Meeting" abre o disco de forma explosiva, com riffs que soam como trovões e uma progressão que anuncia logo de cara que este não seria apenas mais um álbum de metal. "Desecration of Souls" aprofunda o lado macabro, trazendo linhas vocais quase demoníacas de King Diamond, que aqui atinge um dos auges de sua teatralidade. "Night of the Unborn" mantém esse clima de horror, criando uma narrativa sonora que parece vir de um ritual ocultista.
Mas o ápice ritualístico vem com "The Oath". Essa faixa é praticamente uma missa negra em forma de música. Com atmosferas sombrias, vocais teatrais e riffs que parecem invocações, é um dos pontos mais altos da carreira da banda e do metal como um todo. Já "Gypsy" mostra a versatilidade do grupo, com uma levada que mescla peso e groove, mantendo a intensidade. E, claro, "Come to the Sabbath". Aqui não há espaço para discussões: é um hino absoluto do heavy metal e ponto. Reverenciada até hoje como uma das melhores músicas já escritas dentro do gênero, ela condensa tudo o que é o Mercyful Fate: riffs cortantes, letras ocultistas, teatralidade e uma atmosfera que arrepia do início ao fim.
Esse disco é pura imortalidade. Sua influência ecoou em bandas como Slayer, Bathory e Emperor, além de todo o black metal que viria depois. O mais impressionante é que, mesmo quatro décadas depois, ele ainda soa moderno e relevante. Para mim, Don’t Break the Oath é daqueles álbuns que não envelhecem, porque são mais que música: são uma declaração de princípios e principalmente, formador de caráter, daqueles que moldam não só a cena, mas a alma de quem o ouve.



1º - MELISSA (1983)



E chegamos ao altar máximo. Melissa não é apenas "O" debut do Mercyful Fate, é um marco incontornável na história do heavy metal. Lançado em 1983, em pleno boom da NWOBHM, o disco foi um divisor de águas: trouxe uma sonoridade ousada, complexa e absolutamente sombria, que abriria as portas para todo o metal extremo que estava por vir. "Evil" abre o álbum com violência e energia, um clássico imediato que mostra desde o primeiro riff que a banda não estava ali para brincar. "Curse of the Pharaohs" é épica, carregada de riffs que ecoam como mantras, com uma aura quase ritualística. "Into the Coven" mergulha fundo no ocultismo, explorando temas que ninguém ousava tocar na época e criando uma atmosfera de arrepio.
Mas é em "Satan’s Fall" que o Mercyful Fate entrega sua obra-prima progressiva. Com mais de 11 minutos, a faixa alterna climas, intensidades e riffs de forma genial, mostrando a ousadia e a habilidade da banda em compor músicas longas sem perder impacto. É um verdadeiro épico, daqueles que você termina de ouvir sem perceber o tempo passar. E então vem a faixa-título, "Melissa'. Dedicada à famosa caveira que King Diamond usava nos palcos, ela é carregada de melancolia, teatralidade e emoção. É um encerramento quase espiritual, que transforma a audição do álbum em uma experiência única, como se o ouvinte tivesse participado de um ritual.
Esse disco moldou o futuro do thrash, do death e do black metal. Bandas como Metallica, Slayer e Exodus beberam diretamente dessa fonte, assim como todo o movimento do black metal norueguês. É referência obrigatória, não apenas pela música, mas pela ousadia e pela forma como expandiu os limites do gênero. Para mim, Melissa é mais do que um álbum, é uma das maiores obras da história do heavy metal. Ouvi-lo é como participar de um ritual sagrado, algo que vai além da música. É entrar em contato com uma energia que mistura o oculto, a paixão e a genialidade criativa. Um verdadeiro altar sonoro, onde todo fã de metal deveria se ajoelhar pelo menos uma vez na vida.



CONCLUSÃO

A discografia do Mercyful Fate é um verdadeiro mergulho no oculto e no poder do heavy metal. Todos os álbuns têm valor, todos são celebrações de um legado eterno. Mas é impossível negar que Melissa e Don’t Break the Oath estão em um altar intocável, influenciando gerações e definindo um gênero. Eu descobri o Mercyful Fate pelo Metallica, mas foi a própria banda que me conquistou e me fez um fã tão devoto.
Porque, no fim, o Mercyful Fate não é apenas uma banda. É um culto. E quem entra nesse culto, como eu entrei, nunca mais sai.








KRISIUN - BLACK FORCE DOMAIN 30 ANOS

 


BLACK FORCE DOMAIN - OS 30 ANOS DE UM MARCO DO DEATH METAL!

        
Numa longínqua época, lá em 1995, exatamente 30 anos atrás, o maior expoente do metal extremo de toda a América Latina, o Krisiun, lançava finalmente seu álbum debut, o full-lenght, Black Force Domain, somente 5 anos após lançar sua primeira demo, deixando o interior de Ijuí, passando por Porto Alegre e aterrissando em São Paulo, a terra das oportunidades do metal brasileiro, oportunidade essa que veio na pessoa de Eric de Haas, do selo Dynamo Records.

No lançamento anterior, o "Unmerciful Order", os gaúchos já detinham o título de banda mais rápida e extrema do Brasil, mas foi com o debut que a banda elevou extremismo e velocidade a décima quinta potência! Todo produzido no Brasil, o nível de gravação em relação ao anterior já era nitidamente superior, mas, numa época que as gravações eram reais, eram tocadas de verdade, o álbum soa orgânico e com peso e sujeira precisos ao que o estilo necessitava: brutal, coeso, pesado e rápido, muito rápido, aliado a letras totalmente extremas, tratando de assuntos apocalípticos, anticristãos, blasfêmia e escuridão numa escala cavalar, esse era o Krisiun se apresentando pro mundo! 

Definitivamente, resenhas muito elogiáveis na época em zines e revistas gringos como os conceituados Tales of the Macabre da Alemanha e S.O.D. Magazine dos Estados Unidos, rasgando elogios ao Black Force Domain, chamaram a atenção dos gringos para ouvir essa bomba atômica em formato de música. A faixa que dá nome ao álbum abre o trabalho com uma chamada de guitarra de Moyses Kolesne numa palhetada além da velocidade da luz, seguida pelo mestre absoluto das marretadas Max Kolesne numa entrada da bateria logo descambando pra marca registrada do Krisiun pra sempre: o blast beat, ou como eles mesmo chamavam no Sul, a britadeira! Essa música se transformou num hino e está presente até hoje nos shows do grupo, com um solo no meio da música e um solo sensacional encerrando a faixa num estilo o qual Moyses influenciaria dezenas e dezenas de bandas mundo afora. 

"Messiah of the Doble Cross" segue na mesma linha, sem descanso ou pausas, rifferama absurda despejada em forma de selvageria, e o vocal de Alex Camargo pra lá de extremo, atravessando bases e tempos como uma espada de guerra. O solo, é provável que tenha sido feito com um esmeril! A energia e a fúria colocada em "Hunters of Souls" e "Blind Possession" são impressionantes, técnica e velocidade aliadas a letras blasfemas e apocalípticas mantendo o nível da agressividade no máximo. Outro clássico atemporal, "Evil Mastermind" é apresentada em forma de brutalidade, coroando Max como um dos maiores bateristas da história, mostrando bumbos muito velozes pra época. Definitivamente, os irmãos Kolesne são um dos responsáveis pelo surgimento do rótulo Brutal Death Metal na cena mundial, até porque, pilhas de bandas consagradas do death metal como Carcass, Entombed, Gorefest entre outros começaram a lançar álbuns mais melódicos e lentos, e justamente o Krisiun veio na contra mão, sem fazer concessões, sem fazer prisioneiros, sem se importar com moda ou tendência. 

Em "Infamous Glory", Moyses deixa claro, gravando os teclados que dão um tom macabro e soturno, que logo entrará pro hall dos maiores guitarristas do estilo, numa vinheta inspirada num mix de velocidade e de feeling. A sequência enfurecida segue sem dar descanso com "Rejected to Perish Below", "Meanest Evil" e "Obssession by Evil Force", mostrando que os três conquistadores do Armagedom, daqui pra frente, seriam sempre lembrados como a banda mais extrema do mundo, e amplamente admirados e elogiados pelos maiores nomes do estilo e seus ídolos e influências como integrantes de Morbid Angel, Napalm Death, Dimmu Borgir entre outros. "Sacrifice of the Unborn", termina por consagrar nosso tão extremo Black Force Domain, como um dos álbuns mais comemorados da história do death metal, e certamente uma influência pra nomes famosos do estilo voltarem a compor de forma mais rápida e agressiva. 

Black Force Domain, com sua capa bruta e direta, unindo gostos de todos estilos extremos, abriu as portas pro Krisiun conseguir uma gravadora gringa e iniciar turnês mais longas e profissionais, turnês essas que são marcas registradas da banda até hoje, e firma o nome dos Kolesne como um dos maiores do mundo de todos os tempos. Três décadas dessa sarrafada na cabeça, definitivamente não é pra qualquer um!

Márcio Jameson





quinta-feira, 14 de agosto de 2025

REBEL ROCK RESEARCH - SKID ROW

 


Formado em 1986, em Nova Jersey, pelo guitarrista Dave "Snake" Sabo e o baixista Rachel Bolan, o Skid Row rapidamente se consolidou e se transformou em uma das bandas mais icônicas do hard rock e heavy metal no final dos anos 80 e no início dos anos 90. Completando a formação clássica estavam Scotti Hill (guitarrista), Rob Affuso (baterista) e o carismático Sebastian Bach (vocalista que entrou no lugar de Matt Fallon em 1987). O quinteto ganhou o público com um estilo que misturava riffs pesados, refrãos memoráveis e uma atitude rebelde, despojada e porque não dizer, clássica. Sob a produção de Michael Wagener, seus dois primeiros álbuns "Skid Row" (1989) e "Slave to the Grind' (1991), alcançaram a marca de milhões de cópias vendidas, apresentando clássicos como “Youth Gone Wild”, “18 and Life”, “I Remember You” e “Monkey Business”. O auge de seu sucesso foi evidenciado pelo fato de "Slave to the Grind" ter estreado na primeira posição da Billboard 200, um feito incomum para um álbum de uma banda pesada. Em 1995, o mais sombrio e agressivo "Subhuman Race" revelou uma banda em transformação, mas também lidando com tensões internas que resultaram na saída de Bach e, logo após, de Affuso. Nas décadas seguintes, o Skid Row continuou com novas formações e vocalistas, como Johnny Solinger (falecido em 2021), ZP Theart, Tony Harnell e, mais recentemente, Erik Grönwall, explorando diferentes sonoridades em álbuns como "Thickskin" (2003), "Revolutions per Minute" (2006) e o ótimo retorno às suas raízes com "The Gang’s All Here" (2022). Com uma história marcada por altos e baixos, mudanças na formação e reinvenções, o Skid Row permanece relevante como um dos grupos mais respeitados do hard rock, equilibrando a nostalgia de sua era clássica com a energia de sua evolução contínua. E aqui no REBEL ROCK RESEARCH, chegou a hora de analisarmos sua discografia, do pior ao melhor. Confira!

Sergiomar Menezes

6º - REVOLUTIONS PER MINUTE (2006)


Lançado em outubro de 2006, "Revolutions per Minute" é o quinto álbum do Skid Row e representa uma mudança significativa na trajetória do grupo, sendo o único álbum gravado com o baterista Dave Gara e o último em que Johnny Solinger, infelizmente, já falecido, ficou encarregado dos vocais. Com produção de Michael Wagener, que também foi responsável pela engenharia e mixagem, e masterização de Eric Conn, o álbum conta com a formação de Solinger nos vocais, Dave "Snake" Sabo e Scotti Hill nas guitarras, Rachel Bolan no baixo e backing vocals, além de Gara na bateria. Em termos musicais, o trabalho oferece um hard rock mais "moderno" e pesado, com boas faixas, riffs interessantes e refrãos poderosos em faixas como “Disease”, “Another Dick in the System” e “Shut Up Baby, I Love You”, além de incluir um cover (a versão de “Strength”, do The Alarm) e músicas que exploram e flertam com elementos da country music, como “When God Can't Wait” e “You Lie”, que acaba se destacando pois se transforma numa faixa mais intensa e veloz. Embora existam bons momentos, o álbum se afasta do glamour  e pagada característicos dos anos 80, mas ouvindo hoje em dia, percebe-se que o trabalho preserva a essência da banda, apresentando uma sonoridade mais densa e sombria, tendo sido relançado em 2025 com uma edição remasterizada, que visa intensificar ainda mais sua força e vitalidade. O mais fraco da discografia, mas nem tão ruim assim, como dizem por aí...



5º - SUBHUMAN RACE (1995)


É provável que me atirem pedras aqui, mas "Subhuman Race" último álbum do grupo com Sebastian Bach nos vocais representa o último ato da era de dourada do grupo, que termina de uma maneira não tão dourada assim... Produzido por Bob Rock, o disco nasceu em um ambiente de tensões internas e um panorama musical em mutação, onde as bandas ditas "alternativas" ditavam as tendências do mercado. Muitos dizem que o grupo inseriu traços de grunge, groove e thrash metal ao hard rock intenso que consagrou o quinteto. No entanto, apesar da boas músicas presentes, Sebastian Bach (vocais), Dave “The Snake” Sabo e Scotti Hill (guitarras), Rachel Bolan (baixo) e Rob Affuso (bateria), apenas conseguiram proporcionar um som agressivo, sombrio e, ao mesmo tempo, melodioso, o que na verdade se mostrou bastante confuso. Se as guitarras pesadas de "Slave to the Grind", ainda de se mantinham ditando o ritmo, por outro lado, a sensação que ficava era que a banda queria acompanhar o mercado e deixou de lado sua faceta mais hard. Além disso, os problemas internos com Sebastian eram cada vez mais intensos e praticamente insuportáveis, o que culminou num trabalho um tanto quanto perdido em sua essência. Ainda assim, o disco traz alguns destaques como “My Enemy”, “Breakin’ Down” (de longe, a melhor faixa do trabalho) e “Into Another”, evidenciando o lado mais melancólico e introspectivo da banda, que contrasta com a brutalidade de “Beat Yourself Blind” e a própria “Subhuman Race”. Outro ponto que acaba pesando em desfavor do álbum é a produção, que não ajudou muito. Dessa forma, a atmosfera densa que permeou as gravações, e todos os problemas já relatados fazem dele, o quinto lugar desse ranking, mesmo que muitos fãs apreciem a ousadia e densidade, sendo visto por muitos como uma obra injustamente menosprezada. Mas que não soa como o Skid Row dos dois primeiros álbuns, ah... isso não soa não...




4º - THICKSKIN (2003)


"Thickskin", lançado em 2023, simbolizou um novo começo para o Skid Row, após quase dez anos sem lançar nada de relevante. O trabalho marcou a entrada do vocalista Johnny Solinger e do baterista Phil Varone, que assumiram os lugares de Sebastian Bach e Rob Affuso, respectivamente. Produzido pela própria banda, o álbum incorpora um som mais atual (para aquele período) e dinâmico, combinando hard rock com influências do mais pesadas e até elementos de rock alternativo, refletindo a estética dos anos 2000. Com a formação de Solinger (vocais), Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill (guitarras), Rachel Bolan (baixo) e Varone (bateria), o grupo explora desde faixas intensas e pesadas, como “Ghost”, “New Generation” e “Mouth of Voodoo”, até momentos mais melódicos e acessíveis, como “See You Around” e “Lamb”, além de reinterpretar o clássico “I Remember You” numa versão mais simples e acústica, chamada “I Remember You Two”, que na opinião deste que vos escreve, apesar de não ter ficado ruim, não deveria ter sido gravada, afinal, a versão original é uma das baladas mais lindas do Hard Rock de todos os tempo. Apesar de muito criticado, principalmente pela parcela de fãs que ainda preferiam a era de Bach (onde eu me incluo), "Thickskin" mostra uma banda pronta para evoluir seu estilo e se reconectar com um público mais jovem diferente do final da década de 80 e início dos anos 90, investindo em riffs mais modernos, refrãos diretos e uma produção clara, que manteve a essência do hard rock diferenciado do quinteto, mas com uma sonoridade mais adequada ao momento que o mercado musical apresentava. 



                                           3º - THE GANG'S ALL HERE (2022)


Lançado em 2022, "The Gang's All Here" tinha tudo pra dar certo. Afinal, tínhamos o retorno do Skid Row às suas origens, trazendo em sua formação um dos melhores vocalistas da nova geração, o fantástico Erik Grönwall (ex-H.E.A.T.). E deu muito certo! Aliás, me arrisco a dizer que o trabalho seria a sequência lógica de "Slave to the Grind", tamanha a similaridade das composições, peso nas guitarras e vocais cheios de fúria e energia. Erik entro no lugar de ZP Theart (nesse espaço de tempo, outros vocalistas acabaram passando pela bando, incluindo Tony Harnell do TNT), e mostrou serviço, dando às faixas interpretações cheias de carisma e potência. Produzido por Nick Raskulinecz, o álbum recupera a vitalidade e o caráter dos primeiros álbuns da banda, apresentando um som que combina o hard rock energético e intenso da era clássica com uma produção bastante atual e limpa, obviamente, sem perder o peso. Grönwall (vocal), Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill (guitarras), Rachel Bolan (baixo) e Rob Hammersmith (bateria), nos trazem faixas repletas de refrãos cativantes, riffs marcantes e uma atitude forte, incluindo a intensa faixa-título “The Gang’s All Here”, a animada “Tear It Down” e a poderosa “Resurrected”. O álbum também apresenta momentos mais melódicos e grandiosos, como “October’s Song”, que evoca as baladas épicas de tempos passados, além de faixas como “Time Bomb” e “World’s on Fire”, que reforçam a pegada heavy, mantendo a unidade do álbum. A obra foi recebida com entusiasmo tanto pela crítica quanto pelos fãs, recebendo muitos elogios por conseguir capturar a essência do Skid Row dos anos 80 e 90, mas com a energia revitalizada de um vocalista em sua melhor forma, solidificando-se como um dos lançamentos mais notáveis da banda nos últimos anos. A turnê desse trabalho rendeu o ao vivo "Live in London", que daqui a alguns anos, será lembrado como um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. Uma pena que pouco tempo depois, Erik deixou a banda...



2º - SLAVE TO THE GRIND (1991)


O segundo lugar deste ranking é sempre uma dúvida que me persegue. Por vezes, tenho ele próprio nessa posição, por outras, o álbum de estreia do grupo, num revezamento quase que diário entre eles. No entanto, HOJE, tive que escolher e acabou que "Slave to the Grind" o trabalho que estabeleceu o Skid Row como uma das bandas mais pesadas e respeitáveis do hard rock e metal no começo dos anos 90, foi o escolhido. O disco, além de representar um progresso em comparação ao álbum de estreia, tendo em vista a maior complexidade nas composições e na agressividade sonora, mostrou uma banda pronta para o estrelato. Com produção de Michael Wagener, o álbum apresenta uma sonoridade crua, pesada e sem concessões, com riffs contundentes de Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill, a base sólida de Rachel Bolan no baixo e Rob Affuso na bateria, e, claro, a performance vocal explosiva de Sebastian Bach, que estava no auge. A faixa-título, “Slave to the Grind”, inicia com riffs pesados e intensos, carregados de adrenalina, enquanto “Monkey Business” oferece um groove e um refrão poderoso, tornando-se um verdadeiro hino para a banda. Baladas impactantes como “Quicksand Jesus” e “In a Darkened Room” revelam um aspecto mais melódico e dramático, contrastando com a brutalidade de músicas como “The Threat” e “Get the Fuck Out”, essa abusando das levadas quase que maliciosas de Bach. “Wasted Time” encerra o álbum com uma carga emocional forte, sendo uma das músicas mais pedidas pelos fãs do grupo. Com letras que exploram temas de rebelião, alienação e crítica social, e uma produção que equilibra peso e melodia, "Slave to the Grind" não só estreou no primeiro lugar da Billboard 200 — algo incomum para um álbum tão pesado — como também é visto, ainda hoje, como o auge criativo e técnico do Skid Row. No entanto...



1º - SKID ROW (1989)


... "Skid Row", foi o álbum apresentou ao mundo a formação clássica da banda: Sebastian Bach (vocais), Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill (guitarras), Rachel Bolan (baixo) e Rob Affuso (bateria), e rapidamente se tornou um dos álbuns mais marcantes do hard rock do final dos anos 80. Produzido por Michael Wagener, o disco combina riffs energéticos, refrãos grudentos e uma atitude carregada de irreverência, com uma produção polida que favoreceu seu apelo nas rádios e na MTV. Não que o trabalho seja comercial (mas afinal, o que é "comercial"?), mas a capacidade de todas as faixas presentes aqui tocarem na radio (quando as radios tocavam música boa) é impressionante. Entre as faixas mais icônicas estão os hinos “Youth Gone Wild” e “Piece of Me”, que emolduram o espírito rebelde da época; a poderosa “Big Guns”, que abre o álbum com impacto; e “18 and Life”, balada dramática sobre crime e arrependimento, que se tornou um enorme sucesso e permanece como um dos maiores clássicos da banda. “I Remember You”, por sua vez, é uma das baladas mais lindas do hard rock, com melodia cativante e interpretação vocal intensa de Bach. Canções como “Sweet Little Sister” e “Can’t Stand the Heartache” mantêm a energia em alta, reforçando a consistência do disco. Com letras que mesclam rebeldia, sexo, drogas e histórias sombrias, e uma sonoridade que equilibra peso e melodia, "Skid Row" não só colocou a banda no mapa mundial como ajudou a definir o hard rock do final da década de 80, vendendo milhões de cópias e preparando o terreno para o sucesso ainda maior que viria com "Slave to the Grind". É... Pode ser que amanhã, eu prefira o "Slave..."








PRIMAL FEAR - DOMINATION (2025)

 



PRIMAL FEAR
DOMINATION
Reigning Phoenix Music - Importado

O Primal Fear chega ao seu 15º álbum de estúdio com a confiança e a força de quem já viveu todas as fases de uma longa carreira e ainda encontra motivos para soar renovado. “Domination” não é um retorno ao passado, mas a continuação natural da jornada iniciada em “Code Red” (2023) — agora com mais clareza, foco e inspiração. Encontrando o equilíbrio entre agressividade e melodia.

Depois de enfrentar problemas de saúde que quase lhe custaram a vida, Mat Sinner voltou não apenas aos palcos, mas também ao comando criativo da banda. Essa superação se traduz em um disco que não vive no piloto automático. Aqui, o heavy metal é construído faixa a faixa: ora pulsante e veloz, quase beirando o speed metal; ora mais melódico e acessível, com flertes certeiros com o hard rock. Essa variedade é o que mantém "Domination" eficiente — cortando qualquer excesso e entregando um material com alma.

Quando a música pede peso, ele está lá. Quando pede melodia, o refrão cresce e conquista. É a maturidade de uma banda que, prestes a completar três décadas de estrada, sabe exatamente como jogar o jogo. O início com a dobradinha “The Hunter” e “Destroyer” deixa explícito: acelerar quando é hora de atacar, desacelerar quando a emoção pede espaço, equilibrar riffs certeiros com refrãos que grudam na memória. O som é orgânico, é vivo.

Ralf Scheepers entrega uma performance controlada e expressiva, guardando os agudos para quando eles realmente fazem diferença e explorando um vocal mais limpo, mas sem esquecer do habitual rasgado cheio de energia e personalidade.“I Am Primal Fear” é um hino pronto para incendiar, é heavy metal com riffs certeiros da dupla Magnus Karlsson e Thalìa Bellazecca. Os dois dividem riffs e solos com precisão e feeling, criando diálogos de guitarra que sustentam tanto o peso quanto a melodia.

Na bateria, André Hilgers mantém uma pegada firme, direta e implacável, sustentando a dinâmica do álbum com segurança e impacto — “Far Away” é um bom exemplo do trabalho exemplar do baterista no álbum, que mostra muita versatilidade e precisão.

“Tears of Fire” e “Heroes and Gods” são contagiantes. A primeira é mais alegre, tem um instrumental mais pulsante, seria um single perfeito para tocar numa programação normal de rádio. Já a segunda é mais direta, mas com um refrão que gruda instantaneamente. Depois de tanta energia é preciso descansar — A instrumental “Hallucinations” serve quase como uma introdução de luxo para a belíssima “Eden”, que conta com a participação de Melissa Bonny. Belas melodias, uma linha acústica que traz uma grandiosidade, enriquecendo o disco.

“Scream” “The Dead Don't Die” e “Crossfire” e “March Boy March” representam um ataque frontal e pesado, daqueles que podem aniquilar pescoços. Carregam peso, mas mantêm uma textura crua e mais ampla, sem se perder em regras. Inclusive algo que chama bastante na audição é a importância que o grupo deu para que as músicas tenham refrãos de fácil assimilação — É como se eles já pensassem nos seus fãs curtindo e cantando tudo nos shows. Inclusive se alguém me falasse que “Donination” foi gravado com todos tocando juntos na sala e já pensando em tocar o álbum na íntegra na turnê, eu acreditaria fielmente.

Produzido por Sinner e mixado por Jacob Hansen, o álbum soa absolutamente orgânico — com clareza suficiente para destacar cada detalhe, um trabalho que valoriza tanto o caos metálico quanto a nitidez das melodias, permitindo que cada faixa soe completa e convincente. O encerramento com “A Tune I Won’t Forget” revela o lado mais emotivo da banda, piano e voz. Fechando o álbum com sensibilidade ímpar.

Domination” é sobre viver o presente com autoridade, usando a experiência e a maturidade para criar algo que soe clássico e atual ao mesmo tempo. É a prova de que o Primal Fear ainda tem habilidade de equilibrar peso, melodia e atitude.

William Ribas