sexta-feira, 28 de março de 2025

THE DARKNESS - DREAMS ON TOAST (2025)

 


THE DARKNESS
DREAMS ON TOAST
Canary Dwarf/ Cooking Vinyl - Importado

Quando falamos em THE DARKNESS, é quase impossível não lembrar da música e videoclipe de "I Believe in a Thing Called Love", e seus exageros tanto visuais (um tanto quanto bregas), quanto vocais por parte de seu vocalista Justin Hawkins. Muitos até hoje, insistem em colocar a banda em uma bandeja de ironia e não a levam a sério. No entanto, o grupo é muito mais do que isso. óbvio que os exageros vocais de Justin persistem, mas ao mesmo tempo, a guitarra calcada em Thin Lizzy executada por seu irmão e compositor Dan Hankins, que executa seus riffs e linhas de guitarra que exalam o espírito do Hard Rock. DREAMS ON TOAST, o oitavo álbum de estúdio do grupo, vem para corroborar isso, com músicas festivas e que, se não vão mudar o mundo, garantem bons minutos de diversão.

Os já citados irmãos Hawkins, ao lado de Frank Poullain (baixo e backing vocal) e Rufus Tyger Taylor (bateria e backing vocal) apresentam 10 faixas num trabalho que conta com uma boa produção, que ficou por conta de Dan Hawkins, e traz uma capa "inspirada" no álbum "Bugatti & Musker" do duo The Dukes (créditos ao amigo Felipe Izzard). Músicas descompromissadas, guitarras com uma pegada AC/DC, Rolling Stones e o já citado Thin Lizzy, cozinha entrosada e aquela vocal característico de Justin, nos garantem momentos de boa música e, nuca é demais lembrar, provando que o Rock n' Roll não precisa ser militante e chato como alguns insistem em ser.

"Rock and Roll Party Cowboy" abre o álbum com aquele clima de festa, como o próprio nome entrega. Guitarras em profusão, num clima rocker totalmente The Darkness. Os vocais de Justin começam sussurrados, mas se elevam com o desenvolvido da composição. Os backing vocals, outra marca registrada da banda, seguem ativos, enquanto Dan despeja seus riffs e solos. "I Hate Myself", é aquela faixa cheia de adrenalina, rápida e contagiante. Bateria simples e diretamente e uma veia totalmente AC/DC. Os agudos surgem aqui de forma comedida, mas completamente identificáveis. A country music surge em "Hot on My Tail", num momento descontraído e de bom gosto, mostrando que as fontes de influências do grupo não se restringem a um determinado estilo. Os riffs "acedecianos" ressurgem em "Mortal Dread", com um belo refrão, cortesia de Dan, que além de ótimo guitarrista, já deu inúmeras provas de ser um excelente compositor. "Don't Need Sunshine" é uma semi-balada que pouco acrescenta ao trabalho, ainda que possua uma bela melodia. 

Aquele clima de "cabaré americano" surge em "The Longest Kiss", um momento que mostra a versatilidade dos caras, além de explicitar que não estão nem aí pra definição de som e estilo onde se enquadrar. O negócio do The Darkness é fazer música! E a guitarra de Dan comprova isso no decorrer da faixa. Baixo e bateria conduzem "The Battle of Gadget Land", num ótimo momento rock n' roll do álbum. Já aquele clima country n' roll volta a surgir em "Cold Hearted Woman", contratando com a adrenalida de "Walking Through Fire". O encerramento vem com "Weekend in Rome", uma "música" que, acredito eu, é uma brincadeira/piada/homenagem dos músicos à capitam italiana.

Existem discos que entram pra história. Existem discos que passam despercebidos. Mas existem discos que servem para nos divertir e fazer com que, por alguns minutos, esqueçamos dos problemas e nos liguem ao universo musical. Com a mais absoluta certeza, DREAMS ON TOAST não está na primeira, nem na segunda opção. No entanto, como praticamente, todo álbum do THE DARKNESS, ele está entre aqueles que nos garante bons momentos de diversão. Enjoy it!

Sergiomar Menezes




LACUNA COIL - SLEEPLESS EMPIRE (2025)

 


LACUNA COIL
SLEEPLESS EMPIRE
Century Media - Importado

Três anos após a ideia pouco perspicaz de regravar o excelente "Comalies", lançado em 2002 com o título de "Comalies XX", os italianos do LACUNA COIL se redimem de forma considerável com SLEEPLESS EMPIRE, décimo álbum do grupo capitaneado pela bela Cristina Scabbia e por Andrea Ferro. Consagrada pela sua sonoridade gothic metal, a banda tem muito mais a oferecer, pois traz consigo elementos do metal mais moderno e alternativo, apresentando um som original, o que para muitos acaba sendo um fato negativo, enquanto para tantos outros, se torna um atrativo a mais. Marcado pelos duetos vocais de Cristina e, com suas guitarras distorcidas, baixos potentes, o álbum se destaca também pela parte instrumental, trazendo elementos eletrônicos.

Os já citados Cristina Scabia e Andrea Ferro, juntamente com Marco Coti Zelati (baixo/guitarra e teclados), Daniele Salomone (guitarra) e Richard Meiz (bateria) conseguiram manter sua sonoridade que vem estabelecida desde "Dark Adrenaline" (2012). A partir deste álbum, a banda assume um som mais cru e direto em comparação aos clássicos "Comalies" (2002) e "Karmacode" (2006). Por outro lado, Cristina, cada vez mais maravilhosa, alcança tons mais agudos na voz e, como prova da busca por um som mais "pesado", temos uma maior presença vocal de Andrea, que, aliás, nos últimos álbuns começou a usar mais vocais guturais. Dessa forma, temos um álbum mais pesado, em que a intensidade praticamente não diminui, com músicas cheias densas, sombrias e que moldam a atmosfera intensa do trabalho.

"The Siege" abre o álbum e é uma uma música pesada, que nos apresenta um clima denso e de desespero, na qual se destacam os duetos vocais de Andrea, que recorre aos guturais, e Cristina, que, como já mencionado, atinge tons mais agudos de sua voz. O baixista Marco também se destaca, com uma base sólida, acompanhado de Richard Meiz na bateria. "Oxygen" dá continuidade, começando com sons eletrônicos, guitarras e baixos crus que lembram o metal mais moderno, tendo os vocais guturais de Andrea e a voz "suave e forte" de Cristina ao fundo. Momentos mais melódicos de guitarra, vocais de Andrea e um momento mais relaxado caracterizado pelos vocais de Cristina fizeram com que ela fosse escolhida como faixa de divulgação. "Scarecrow" , outra música que começa com sons eletrônicos e a voz de Andrea, embora nesta música, Cristina ganhe maior destaque, transmitindo angústia e desespero. Uma pegada mais moderna, onde o baixo e as atmosferas geradas pelas guitarras se destacam novamente. Já "Gravity", começa de forma original, com corais em italiano, seguidos de uma fórmula semelhante à das músicas anteriores: vocais potentes de Andrea, atmosferas sombrias e modernas e um refrão contagiante, no qual a voz de Cristina assume o comando. "I Wish You Were Dead", é uma faixa mais suave que as anteriores, que começa com o refrão cantado por Cristina, com bases eletrônicas ao fundo.

Com participação especial de Randy Blythe (Lamb of God), a faixa "Hosting the Shadow", começa com uma melodia interpretada pela voz de Cristina e mais bases eletrônicas, com uma melodia que vem acompanhada pelas guitarras. A música depois se torna mais agressiva, provando que a proposta do grupo é inovar a cada composição. "In Nomine Patris" começa com teclados seguida por sons modernos de guitarra que mais uma vez criam uma atmosfera sombria. Cristina assume os vocais principais, alternando com os guturais de Andrea. A faixa título, por sua vez, possui um clima pesado, mas não empolga, ainda que carrega doses generosas de peso e densidade. De outra forma, "Sleep Paralysis" tem forte presença de elementos eletrônicos e um ritmo lento, trazendo alguns toques orientais, o que a torna uma música interessante e original. Destaque para a performance de Cristina. Contando com a participação de Ash Costello (New Years Day) e não acrescenta muito, enquanto o final com a intensa "Never Dawn", traz agressividade e por isso, Andrea acaba se destacando mais.

SLEEPLESS EMPIRE é um álbum que, do começo ao fim, mantém sua agressividade, tensão e densidade sombria. O LACUNA COIL sempre se caracterizou pela interação vocal entre Cristina e Andrea, e aqui encontramos uma maior participação do vocalista que investiu de vez nos vocais guturais. Embora seja um bom álbum, o trabalho dificilmente irá angariar novos fãs, mas com certeza, manterá a base atual firme e forte, pois traz consigo tudo aquilo que os admiradores de Cristina e cia apreciam nos trabalhos do grupo.

Sergiomar Menezes




quinta-feira, 27 de março de 2025

ARCH ENEMY - BLOOD DYNASTY (2025)

 


ARCH ENEMY
BLOOD DYNASTY
Vahall Music/Century Media - Nacional

No início dos anos 2000, o Arch Enemy abalou estruturas ao colocar Angela Gossow no lugar de Johan Liiva. Os três primeiros álbuns com a alemã nos vocais estabeleceram uma base sólida e um pilar extremamente forte para os anos – ou décadas – seguintes. Não que os sucessores de “Wages of Sin” (2001), “Anthems of Rebellion” (2003) e “Doomsday Machine” (2005) estejam abaixo desse nível, muito pelo contrário, mas o sucesso e o nome da banda já estavam fincados no heavy metal.

Desde que assumiu os vocais em 2014, Alissa White-Gluz se consolidou como uma das vocalistas mais marcantes do metal moderno, trazendo não apenas sua potência nos guturais, mas também um equilíbrio com vocais limpos estrategicamente inseridos. Em Blood Dynasty, sua performance demonstra um amadurecimento ainda maior, transitando entre agressividade e melodia com naturalidade.

O quarto trabalho de estúdio com Alissa no comando segue uma linha evolutiva, mostrando a vocalista cada vez mais à vontade e impondo suas habilidades de forma mais expressiva, o que abre novas possibilidades para o som do Arch Enemy crescer e explorar novas direções. Um fator adicional também pode ter feito diferença nas novas composições: o disco marca a estreia do guitarrista Joey Concepcion, que adiciona uma nova camada à potente dinâmica instrumental liderada por Michael Amott.

"Dream Stealer" segue a velha cartilha: uma rápida introdução e uma “bicuda” na orelha com um urro infernal. A faixa entrega uma fusão poderosa entre death e thrash metal, repleta de variações rítmicas e camadas vocais, funcionando como um excelente cartão de visitas para o que está por vir. "Illuminate the Path" chega de maneira mais “contida”, diminuindo a velocidade, mas sem perder o peso. É, possivelmente, aquela faixa que fará o público pular nos shows – o refrão, parcialmente cantado com voz limpa, é cativante e irresistível.

Uma das minhas favoritas é "March of the Miscreants", que me fez viajar no tempo. Esta é a faixa que mais remete ao velho Arch Enemy, com uma forte presença do “metal da morte”, guturais raivosos e riffs que comandam o bate-cabeça. "A Million Suns" se desenvolve sobre uma base instrumental mais solta, leve e até “alegre” – um exemplo perfeito do melhor que o death metal melódico pode oferecer.

"Don't Look Down" mantém o clima pesado característico da banda, mas encaixa elementos novos aqui e ali, mantendo a evolução constante do som do Arch Enemy. A música lembra um pouco "Handshake with Hell", do álbum “Deceivers” (2022). Já a faixa que mais me despertou curiosidade pelo título foi "Vivre Libre". O que esperar? Peso e agressividade ou uma balada? Pois bem, a terceira opção foi a escolhida. Lenta, climática, com instrumental pesado apenas no refrão e carregada de sentimento, a música segue um caminho totalmente diferente de "Reason to Believe". Aqui, Alissa canta quase 100% com a voz limpa, utilizando apenas algumas incursões de drive e gritos.

"Blood Dynasty" volta a decolar com "The Pendulum", onde a cozinha formada por Sharlee D'Angelo (baixo) e Daniel Erlandsson (bateria) brilha, destacando-se pelo groove e pela precisão. Vale ressaltar que eles não são músicos que tentam impressionar com malabarismos técnicos, mas sim jogadores de equipe, sempre certeiros no que fazem. Outro ponto digno de nota é como o álbum transita por incursões do death metal tradicional e melódico, mesclando-se ao thrash habitual da banda, mas sem deixar de lado pitadas da New Wave of British Heavy Metal. Seja nos riffs cavalgados ou nos solos repletos de feeling, de alguma maneira sempre há um pouco de Judas Priest, Iron Maiden e seus contemporâneos.

O encerramento fica por conta de "Liars & Thieves", que amarra o disco de forma impactante, coroando a jornada construída ao longo das 10 faixas anteriores.

Seria repetitivo afirmar que “Blood Dynasty” é o melhor álbum do Arch Enemy com Alissa White-Gluz nos vocais. A cada novo lançamento, essa impressão se repete, pois a banda sempre entrega algo novo e surpreendente sem se prender ao passado. Mas, sendo sincero, o que nunca muda é a mente criativa e a palhetada digna de aplausos de Michael Amott.

O Arch Enemy mais uma vez se firma entre os gigantes do metal mundial.

Sim! De novo, de novo e de novo...

William Ribas




GRAVE DIGGER - BONE COLLECTOR (2025)

 


GRAVE DIGGER
BONE COLLECTOR
RPM/ROAR - Importado

A instituição do metal alemão chamada GRAVE DIGGER parece ser incansável. Completando 45 anos de carreira (se desconsiderarmos o hiato entre os anos de 1987 - 1991), o grupo chega ao seu 22º trabalho de estúdio e mostra que ainda tem o Heavy Metal correndo nas veias. Obviamente que não podemos (e nem devemos) esperar mudanças na sonoridade da banda, no seu estilo de composição ou seja lá o que for. A verdade é que BONE COLLECTOR é um álbum repleto de peso, pegada e envolta naquela atmosfera típica do quarteto: heavy metal com momentos mais épicos e sem nenhum tipo de acomodação ou incorporação de elementos estranhos à sua personalidade.

Chris Boltendahl (vocal), Tobias Kersting (guitarra), Jens Becker (baixo) e Markus Kniep (teclados, bateria), chegam mais uma vez revigorados, apresentando músicas fortes e de acordo com aquilo que sempre permeou a carreira da banda: guitarras intensas, baixo e bateria por vezes simples, por vezes mais estruturados, e os vocais mais do que característicos de Boltendahl, uma verdadeira marca registrada da banda. No entanto, temos mais uma modificação no line up, com a entrada de Tobias "Tobi" Kersting no lugar de Axel Ritt, que ficou 14 anos na banda. Mas isso não interferiu, acredito até, que injetou uma dose extra de vitalidade ao grupo, que parece ter renovado suas forças e nos apresenta um trabalho melhor e mais encorpado do que o já muito bom "Symbol of Eternity" de 2022.

A faixa título abre o álbum em grande estilo. Rápida, com riffs que beberam (e que também criaram) do metal germânico, a composição traz aquela pegada característica do Grave Digger, qual seja, ríspida, ao mesmo tempo imponente e bastante pesada. Um início bem escolhido, pois logo na sequência, "The Rich The Poor The Dying", traz a guitarra do estreante "Tobi" em perfeita carga de peso e intensidade. Outro momento bem rápido e calcado naquilo que o grupo faz como poucos: músicas diretas e mortais! "Kingdom of Skulls", por sua vez, começa com um clima soturno, dando destaque para a dupla Jens Becker/Markus Kniep (baixo e bateria, respectivamente), despejando peso ao longo dos quase 4min da composição. Já "The Devils Serenade" tem uma levada Hard/Heavy, que todo disco do Grave Digger possui. Os riffs mortais e típicos voltam com tudo em "Killing is my Pleasure", outro momento em que "Tobi" se destaca.

"Mirror of Hate" é uma faixa que, se antes falamos sobre o Hard/Heavy do grupo, aqui os contornos ganham maiores linhas, pois apesar dos momentos mais introspectivos da composição, o peso das guitarras e o andamento mais marcado acabam dando a direção. "Riders of Doom" é puro metal oitentista, ainda que adaptado ao momento atual. Peso e cadência, como o Judas Priest ensinou ao mundo a maneira certa de se fazer. Por outro lado, "Made of Madness" é um momento mais suave, melódico e até mesmo "bonito" dentro do trabalho... quer dizer, apenas em seu início! A porradaria come solta, com os vocais de Boltendahl, alternando alguns momentos mais "limpos", sendo um dos destaques do álbum! "Graveyard Kings" é outro momento Hard/Heavy, enquanto "Forever Evil & Buried Alive" resgata o peso e velocidade de forma bem eficaz. O encerramento vem com "Whispers of the Damned", uma espécie de balada, se é que podemos chamá-la assim...

BONE COLLECTOR não está entre os melhores álbuns do GRAVE DIGGER. No entanto, é digno de figuras entre aqueles que mantém viva a chama do metal germânico nos dias de hoje. Sendo fiel às suas raízes, o grupo mostra que continua relevante num cenário que parece ter esquecido de como o heavy metal deve soar. Com certeza, eles não esqueceram!

Sergiomar Menezes




quarta-feira, 26 de março de 2025

WARFIELD - WITH THE OLD BREED (2025)

 


WARFIELD
WITH THE OLD BREED
Napalm Records - Importado

Estava ansioso pelo novo álbum do trio alemão Warfield. O grupo, formado pelos irmãos Johannes Clemens (vocal, baixo) e Matthias Clemens (guitarra), junto com o baterista Dominik Marx, lançou em 2018 o maravilhoso Wrecking Command, trabalho que os levou a dividir palcos com nomes como Tankard, Evil Invaders e Exodus.

Agora, após longos sete anos, eles retornam com “With The Old Breed”, um álbum que apresenta um retrato cru e emocional de guerras sociais, históricas e internas, expressando críticas afiadas às realidades da vida. O disco é ríspido, uma sequência de golpes impiedosos do mais puro thrash germânico, prestando homenagem aos gigantes Kreator, Destruction e, principalmente, Sodom.

A abertura já chega como um voleio na fuça: “Melting Mass”. Os riffs iniciais trazem uma leve lembrança de Metal Militia, do Metallica, e não há forma melhor de iniciar um álbum de thrash metal do que com riffs brutais e um belo grito rasgado - "Abra os olhos e seja banhado por falsidade".

A sequência é ainda mais cruel com os nossos pescoços. “Appetitive Aggression”, “Soul Conqueror” e “Tie the Rope” formam uma trinca avassaladora que não deixa pedra sobre pedra. A velocidade impera, as batidas são violentas, os graves pulsantes – não há espaço para descanso.

"Como a guerra é um jogo de azar entre a vida e a morte, vivo no limite
A adrenalina da batalha me leva a uma viagem, meu vício diário
O prazer insano de matar dorme dentro de mim, sou um perigo encarnado para minha tropa
Minha sede interna por guerra vem à luz do dia, mas eu não dou a mínima."

O trecho acima pertence à poderosa “Fragmentado", uma faixa que me faz fechar os olhos e imaginar que essas palavras poderiam muito bem ter saído da mente de Jeff Hanneman, Tom Araya e companhia - puro Slayer, meus amigos. O Warfield não brinca em serviço e está determinado a recuperar o tempo "sumido". “Inhibition Atrophy” e “Dogs For Defense” formam uma dupla implacável, cheia de agressividade e aniquilação gratuita. Já “Gasp” marca o momento de desaceleração. A música é mais arrastada, trazendo um ar denso — um leve respiro instrumental para uma letra insana:

"A perdição sobe – névoa crescente
Parede rastejante – praga fluindo
Máscaras esqueléticas contam a história
O vento entrega a lei química

Gritos de 'gás' – a fumaça preenche a trincheira
Arrastando-se para dentro da presa ofegante
A guerra psicológica fode as mentes
Asfixiados, afogados em um mar verde."

O ponto alto do disco está nos riffs. Não há um único deslize ao longo das faixas, e a vontade de banguear é constante. “With The Old Breed” é um álbum feito de fã para fã, e fica nítido o sangue e o suor derramados nessas 11 faixas. O encerramento é apoteótico: a faixa-título retorna com o caos, repleta de bumbo duplo e uma velocidade descomunal, mas com quebras de tempo bem encaixadas, tornando-a perfeita para os palcos. O ponto final do tracklist vem com um cover de “F# (Wake Up)”, do Nuclear Assault.

Em “With The Old Breed”, o Warfield não deixa nada pela metade. Homenageia seus ídolos com maestria, ao mesmo tempo em que acende um alerta para a nova geração que está surgindo no velho continente.

Ouça e ganhe um bom e pesado torcicolo.
Thrash til' Death!

William Ribas




BRAINSTORM - PLAGUE OF RATS (2025)

 


BRAINSTORM
PLAGUE OF RATS
Reigning Phoenix Music - Importado

O Brainstorm é uma banda do Sul da Alemanha, com 35 anos de estrada, e que contabiliza na sua discografia, quatorze álbuns de estúdio. É uma das bandas mais tradicionais do Power/Heavy Metal germânico, e desde o seu início, se mantém fiel ao estilo, muito por conta da sua estável formação.

Em “Plague Of Rats”, a sonoridade retorna ao que o Brainstorm fez de melhor nos anos noventa: Power Metal com tons épicos. Após a tradicional “Intro”, “Beyond The Enemy Lines”, vem rápida e galopante, abrindo os trabalhos para o deleite de qualquer fã do estilo e dos alemães. “Garuda (The Eater Of Snakes)” é mais cadenciada, com belos riffs e refrão à la Accept.

“False Memories” retoma a velocidade, com destaque para a bateria de Dieter Bernert, rápida e precisa, enquanto o vocal Andy B. Franck demonstra grande poder de interpretação. Aliás a entonação de Andy é um destaque durante todo o álbum, como de costume. “The Shepherd Girl” retorna a cadência, envolta em melodias indianas. Esta inclusive ganhou um belo vídeo promocional.

“Your Soul That Lingers in Me” apresenta um interessante dueto vocal de Andy B. Franck com a vocalista do Leave´s Eyes/Angel Nation, Elina Siirala. ”Masquerade Conspiracy” é puro metal tradicional, rápida e com ótimos riffs, “From Hell” segue veloz e apresenta outro dueto, desta vez com Alex Krull, também do Leave´s Eyes e Atrocity. Apesar de enriquecer a composição com seu vocal mais sujo, “From Hell” me parece uma faixa mais fraca e comum, com relação as demais do álbum. “Dark Night” é mais marcada e cadenciada também, com ótimas melodias. ”Crawling” e “Celebrate Youth” (esta com excelente letra) mantém o nível, enquanto “Curtains Falls” que finaliza a audição, tem trabalho irrepreensível dos guitarristas Torsten Ihlenfeld e Milan Loncaric, tanto nos solos como riffs e o tradicional refrão “cante junto” faz esta faixa ficar na sua cabeça.

Plague Of Rats“ é um trabalho que agradará totalmente os fãs do Brainstorm e de Power Metal em geral, e ao mesmo tempo dá sequência de forma digna e em alto nível à carreira desta já longeva banda.

José Henrique Godoy




LORDI - LIMITED DEADITION (2025)

 


LORDI
LIMITED DEADITION
Reigning Phoenix Music - Internacional 


O Lordi sempre soube transformar o horror em um espetáculo visual e sonoro, e com “Limited Deadition”, seu 19º álbum de estúdio, a banda finlandesa foi muito além. O disco homenageia o universo dos brinquedos dos anos 1980, mesclando sua sonoridade pesada e teatral com referência dessa época, mantendo a essência do grupo, ao mesmo tempo que aposta em uma abordagem conceitual bem específica - Essa nostalgia se traduz tanto na sonoridade quanto nas interlúdios que pontuam o álbum, simulando vinhetas e comerciais de TV.

Com um total de 16 faixas, o ouvinte tem uma experiência imersiva que lembra a programação televisiva dos anos 80. Porém, temos “o bem e o mal”, pois, te traz uma experiência única, ao mesmo tempo, que tantas “quebras” (5 interlúdios) tire o fator de impacto na audição. O disco começa com "SCG XIX The Hexecutioners", uma introdução macabra que prepara o terreno para "Legends Are Made of Clichés", uma faixa vibrante que combina elementos clássicos do hard rock oitentista com riffs bem construídos e teclados atmosféricos - aliás, o Lordi tem uma única proposta, brincar com os clichês do terror e do próprio heavy metal.

"Syntax Terror", tem sintetizadores futuristas e uma pegada mais agressiva nos vocais, algo novo no castelo assombrado Lordi. Em "Skelephant in the Room", a banda explora uma sonoridade mais voltada ao AOR, com um solo de guitarra que poderia facilmente ser trilha sonora de algum desenho ou filme. "Killharmonic Orchestra" leva a banda mais próxima do heavy metal tradicional, com riffs afiados, bastante punch e um baixo pulsante.

Em todo trabalho dos finlandeses temos uma balada emocional, e, em “Limited Deadition”, "Collectable" tem esse papel. A música carrega em si um lado bem teatral, algo que nos faz pensar em quanto Alice Cooper é uma influência para Mr. Lordi — o piano inicial melancólico e um refrão grandioso são de tirar lágrimas.A parte final do álbum inclui "Retropolis", que traz guitarras pesadas e vocais expressivos, além da faixa-título, que equilibra peso e melodias grudentas, parte desde sempre da magia do grupo. O encerramento se dá com "You Might Be Deceased" e o seu rock ‘n’ roll mais sujo e direito, com backing vocals reforçando o caráter teatral do disco.

Lordi constriu um álbum que não apenas soa como uma homenagem aos anos 80, mas que também transporta o ouvinte para tal época. O uso de sintetizadores, riffs característicos e a produção cuidadosamente nostálgica dão vida à proposta da banda - “Limited Deadition” entrega faixas memoráveis e reforça a identidade divertida e criatividade do grupo.

William Ribas



terça-feira, 25 de março de 2025

MARKO HIETALA - ROSES FROM THE DEEP (2025)

 



MARKO HIETALA
ROSES FROM THE DEEP
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Se há uma palavra que define “Roses from the Deep”, essa palavra é versatilidade. O finlandês Marko Hietala, mundialmente conhecido por sua passagem pelo Nightwish, entrega um trabalho diversificado, repleto de momentos únicos, emoções intensas e uma rica variedade de sentimentos. É um álbum que surpreenderá aqueles dispostos a sair da zona de conforto e não olhar o livro somente pela capa.

Desde a primeira audição, fica claro que este é um disco guiado pelas guitarras. Para onde quer que se olhe, riffs. Alguns pesados, outros mais lentos e carregados, mas sempre conduzidos por refrãos marcantes. A sensação é como se o Black Sabbath caminhasse pelo vale das sombras ao lado do Avantasia - um encontro de mundos distintos, costurado por melodias cativantes, peso instrumental e orquestrações grandiosas.

Naturalmente, as comparações com sua antiga banda são inevitáveis, e muitos fãs procurarão ecos do Nightwish. No entanto, a única conexão direta com o grupo se dá na participação especial de Tarja Turunen em "Left on Mars", onde ambos entregam um dueto memorável.

O álbum começa de forma cinematográfica com “Frankenstein’s Wife”, uma faixa épica, cheia de camadas, que soa como uma verdadeira trilha sonora metálica. A imprevisibilidade é o grande trunfo, pois nunca sabemos qual será o próximo passo.

“The Dragon Must Die” transita por diversos estilos, começando com uma pegada folk metal, passando pelo heavy metal tradicional e culminando em um encerramento despojado no melhor estilo hard rock oitentista. A jornada continua com “The Devil You Know”, que remete a décadas passadas com seus fraseados de guitarra, teclados marcantes e linhas vocais que homenageiam o lendário Ian Gillan e o Deep Purple.

O ditado “menos é mais” se aplica perfeitamente a “Rebel of the North”. Simples e certeira, é um clássico rock ‘n’ roll pronto para tocar no rádio - o tipo de música que você poderia mostrar para sua mãe e ouvir: “Essa é do meu tempo, filho!”. “Impatient Zero” traz um tom mais sombrio e introspectivo. Hietala canta sobre depressão e a sensação de ser incompreendido em determinados momentos da vida, tornando essa faixa uma das mais pessoais do álbum.

E quando falamos sobre versatilidade, não estávamos exagerando. “Tammikuu”, cantada em finlandês, é pura diversão. Com uma levada dançante e um instrumental vibrante, a faixa surpreende ao explorar caminhos pouco convencionais, sem jamais perder a identidade do álbum.

O disco se encerra com a faixa-título, “Roses from the Deep”, uma canção carregada de emoção e melancolia. É o fechamento perfeito para um álbum que traduz, de forma intensa e sincera, as nuances da vida—um dos trabalhos mais expressivos e multifacetados da carreira de Marko Hietala.

Hietala ressurgiu e com ele trouxe o álbum mais surpreendente que escutei até agora em 2025.

William Ribas




RAVEN - CAN'T TAKE AWAY THE FIRE (EP) - 2025

 


RAVEN
CAN'T TAKE AWAY THE FIRE
Silver Lining Music - Importado

Cinquenta anos de carreira não é para qualquer um, e obviamente o trio inglês Raven não é qualquer banda. Formado em 1974, desde o lançamento do seu primeiro álbum em 1981, o clássico “Rock Until We Drop”, a banda dos irmãos Gallagher (não aqueles que querem ser o The Beatles) vem marcando o mundo do Heavy Metal, com álbuns clássicos que influenciaram e influenciam até hoje várias novas bandas.

E nada melhor que comemorar cinco décadas de existência com um novo lançamento, e aqui temos “Can´t Take Away The Fire”, com 5 faixas novas e faixas ao vivo, gravadas em diferentes épocas. Entre as novas, a faixa de abertura “Black and Blue” é puro Raven tradicional, onde o “headbanging” é mandatório, velocidade, peso e melodia nas doses certas. “Power Hungry” segue a mesma linha, uma “ode “ ao metal oitentista numa velocidade alucinante.

A faixa título é a terceira, mais cadenciada, num ritmo quase “AC/DC”, com riff e refrão marcantes, enquanto o batera Mike Heller mostra toda a sua habilidade em viradas e quebradas empolgantes. Em “Gimme a Lie” a velocidade volta com tudo, sem deixar de lado a melodia. Por outro lado a última faixa inédita de estúdio é arrastada, pesada e “Sabbathica”.

As faixas ao vivo são gravações de três décadas diferentes: ”The Power” em 2022, “Architects Of Fear” em 1991, E “Don´t Need Your Money” em 1984. Elas reafirmam que o grupo atravessou as décadas sem se abalar, não dando a mínima para os modismos e estilos “passageiros” , como Nu Metal e Grunge. O Raven é a prova viva que o Heavy Metal não é apenas um estilo musical, e sim um estilo de vida, independente da idade.

José Henrique Godoy



BOB MOULD - HERE WE GO CRAZY (2025)

 


BOB MOULD
HERE WE GO CRAZY
Granary Music/BMG Records

Hüsker Dü e Sugar. Se você desconhece esses dois trios seminais para a história do punk e do rock alternativo (que eu prefiro chamar apenas de rock), muito provavelmente você desconheça BOB MOULD. E isso se deve ao fato de que Mould era a mente criativa, e porque não dizer, brilhante por trás dessas duas bandas. Enquanto a primeira surgiu ni final da década de 70 e trouxe ao mundo obras definitivas do estilo, culminando no ótimo "Candy Apple Gray" (1986) e no excelente e perfeito "Warehouse: Songs and Stories" (1987), a segunda surgiu logo depois da separação e de uma pequena carreira solo do artista, onde também deixou dois excelentes álbuns "Cooper Blue" (1992) e "File Under: Easy Listening" (1994). E se por um acaso, você não é um cara radical e aprecia a boa música, pode ter certeza que HERE WE GO CRAZY vai agradá-lo em cheio. 

Próximo de completar 65 anos, o velho Bob Mould segue incansável fazendo música e nunca deixando de lado sua raízes e influências. Muito mais um influenciador do que influenciado, o guitarrista/vocalista deixa claro que seu estilo nunca mudou e não é agora que irá mudar. Trazendo consigo aquela atmosfera típica de meados dos anos 80 e início doa anos 90, o álbum é um apanhado de composições inteligentes, distintas e cheias de emoção. Não era de se esperar algo de diferente, afinal Mould pode ensinar muita gente quando o assunto é música, não é mesmo? "Here We Go Crazy" não chega a alcançar o mesmo toque emocional de um "Copper Blue" ou mesmo de "Warehouse", mas a pergunta é: isso é necessário? O fato de ainda termos um senhor nessa idade, compondo, tocando e gravando já não deveria nos deixar satisfeitos? A resposta é sim. Todavia, também é necessário afirmar aqui que o álbum se sustenta pela sua qualidade e emoção, mostrando que o músico ainda tem (e sempre terá) relevância no cenário.

Guitarras por vezes sujas, afinações mais baixas, mudanças de andamento e aquela voz quase anasalada de Mould são o norte deste trabalho, assim, como todos dos quais participou. Composições como a faixa título, que abre o álbum com um clima quase intimista, mas com a personalidade do vocalista/guitarrista intacta, comprovam o jeito "Mould de fazer música" com uma melodia "noise" digna de nota. "Neanderthal" tem aquela veia Hüsker Dü, intensa e cheia de guitarras, que se encaixam nos vocais como uma luva. Ótimo momento e um dos mais inspirados do álbum. "Breathing Room", uma música que traz um pouco de referência dos seus contemporâneos do Sonic Youth, (e que também serviu de inspiração para bandas como o Nirvana) antecede "Hard to Get", dona de uma pegada simples e eficiente, enquanto seu refrão fica por algumas horas na sua cabeça ao término de sua execução. "When Your Heart is Broken" poderia tranquilamente integrara a trilha sonora de "Singles" (1992 e que saiu por aqui como "Vida de Solteiro"), pois tem identificação com aquele período e cena.

Temos uma mistura perfeita entre Hüsker Dü e Sugar em "Fur Mink Augurs", um rockão clássico, cheio de energia e com aquela cara de adolescência que parece não ter ficado pra trás. Já em "Lost or Stolen", temos uma composição introspectiva, acústica, com uma interpretação correta de Mould e linhas de violão bem interessantes. "Sharp Little Pieces" traz a sujeira das guitarras de volta, mas com uma atmosfera mas densa, buscando um pouco de reflexão sobre relacionamentos que acabam sem razão aparente. Algo bastante peculiar ao lirismo sempre abordado pelo artista, buscando respostas e apontando caminhos. Ao contrário, "You Need to Shine" joga a energia lá pra cima, com uma pegada típica enquanto "Thread So Thin", seria aquilo que chamaríamos de balada. Pra fechar este belo trabalho, "Your Side", outro momento acústico, novamente introspectiva, intimista e que nos deixa com a sensação que o velho músico ainda tem muito a dizer, principalmente pela energia dispensada à composição em sua segunda metade.

BOB MOULD não precisa provar nada à ninguém. E acredito que, a essa altura do campeonato, ninguém queira algo assim. No entanto, o artista mostra que ainda tem muita lenha pra queimar, nos entregando belas composições que não lhe deixam fugir do seu passado/presente/futuro. HERE WE GO CRAZY é um álbum para apreciadores da boa música e que sabem reconhecer p talento quando estão diante de um. Longa vida à BOB MOULD!

Sergiomar Menezes




BONFIRE - HIGHER GROUND (2025)

 


BONFIRE
HIGHER GROUND
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Não há como negar que o BONFIRE é uma das lendas da metal alemão. E o grupo está de volta após um hiato de cinco anos, trazendo um novo vocalista, que na opinião deste que vos escreve, se encaixou muito bem na proposta atual da banda, qual seja, voltar a fazer aquele Hard/Heavy bem característico. HIGHER GROUND chega para tentar devolver à extensa discografia da banda, um trabalho que soe masi próximo daquilo que trouxe muitos fãs ao grupo: melodias e peso dosados de maneira correta. A Shinigami Records em parceria com a Frontiers Music srl, lança por aqui o álbum que contém dez faixas que mostram muita classe, sem deixar de lado o peso nas composições exacerbando a veia mais metal dos alemães.

O novo vocalista Dyan Mair juntamente com o líder e fundador Hans Ziller (guitarra), Frank Pané (guitarra), Ronnie Parks (baixo) e Fabio Alessandrini (bateria) nos entregam um álbum com riffs cativantes, melodias envolventes, trazendo assim, uma combinação perfeita de solos eficientes e vocais técnicos e memoráveis. Isso resta evidente evidente nas dez faixas que compõem o trabalho, além da faixa bônus, uma regravação de "Rock n' Roll Survivor", presente originalmente em "Fistful of Fire" de 2020. Longe de ser um novo clássico, ou de se equiparar aos primeiros e melhores álbuns do grupo, "Higher Ground" explora de maneira correta o passado do quinteto, com uma sonoridade moderna, mas baseada naquele estilo que fez o Bonfire famoso: o Heavy metal combinado com o Hard Rock. No caso em questão, puxando mais para o primeiro.

"Nostradamus", é uma intro que abre o álbum, nos preparando para "I Will Rise", com riffs hard/heavy e bateria/baixo pesados. Dosando velocidade, peso e melodia, a banda inicia bem o trabalho, com uma performance bem ajustada de Dyan, cuja voz libera o grupo a explorar mais possibilidades. As guitarras Hans Ziller e Frank Pane se encaixam de forma perfeita, assim como na mid-tempo faixa título. As guitarras se destacam, mas os corais ficaram muito bem arranjados, criando um ótimo momento do trabalho. O refrão, melódico e intenso é um momento à parte. "I Died Tonight" é uma viagem ao passado mais melódico do grupo, enquanto "Lost All Controll", é pesada, veloz e um dos grandes destaques do álbum, com ótimos riffs, solos inspirados e vocais que navegam pela melodia e agressividade (dentro da proposta musical do Bonfire) com facilidade. A versatilidade vem à tona com "When Love Comes Down", com belas passagens acústicas, resultando numa bela balada.

Mais riffs Hard/Heavy surgem em "Fallin'", com uma pegada meio Deep Purple (não sei se fui só eu, mas tem um quê de "Smokin' on the Water no riff inicial...), que é uma das influências do quinteto. No entanto, "Come Hell or High Water" é intensa e pesada, cadenciada e voltada totalmente para o lado mais Heavy metal do grupo, com a utilização de "talk box". A precisão cirúrgica alemã surge através da cozinha composta pelo baixista Ronnie Parks e pelo baterista Fabio Alessandrini em "Jealousy". Um entrosamento milimétrico e uma pegada visceral mostram a técnica, classe e vibração da dupla. O final regular do álbum vem com "Spinni' in the Black", um Hard bem estruturado. Como já citado anteriormente, temos como bônus na versão nacional, uma versão de "Rock n' Roll Survivor", que pouco difere de sua versão original, tendo o acréscimo de talk box.

HIGHER GROUND não tem a força necessária para se juntar aos principais trabalhos do grupo, mas pode sim ser o início para novos fãs que não conhecem a carreira do BONFIRE. Ainda que não esteja à altura dos clássicos, o álbum é um ótimo exemplo de uma banda que procura soar consistente e verdadeira mesmo depois de 40 anos de carreira. Se você ainda não conhece, dê uma chance e curta esse novo trabalho!

Sergiomar Menezes




WARBRINGER - WRATH AND RUIN (2025)

 


WARBRINGER
WRATH AND RUIN
Napalm Records - Importado

Na década de 2000, tivemos um forte revival do Thrash Metal, com muitas bandas novas resgatando o estilo que teve seu surgimento e dias de glória na década de oitenta. Uma destas bandas é o Warbringer, originária do Sul da California, marcou seu território com seus dois primeiros álbuns, “War Without End” (2008) e “Waking Into Nightmares” (2009). E agora em 2025, chega até nós o sétimo álbum do quinteto, batizado de “Wrath And Ruin”.

O que chama a atenção no Warbringer, é a facilidade que eles tem de mesclar as sonoridades do Thrash europeu, especialmente o alemão e o Thrash praticado na América. Ao escutar a faixa “Strike From The Sky”, nos deparamos com um quase tributo ao gigantes Destruction, enquanto “A Better World” tem riffs que lembram o seminal Exodus. O vocalista John Kevill é um destaque a parte, com vocal com alto teor de agressividade, fazendo a alegria dos fãs de Mille Petrozza.

Outras faixas que merecem destaque: ”The Jackhammer” ultraveloz, mas com um “Mosh Part” no meio que faz esta ser uma das minhas preferidas. “Neuromancer” é mais cadenciada e cheia de groove, e que me fez recordar como era bom o Sepultura na fase “Arise”. E a faixa que fecha o trabalho, “The Last Of My Kind”, uma verdadeira intimação ao “bate-cabeça”.

Como uma banda da terceira ou quarta geração do Thrash Metal, o ponto que conta muito a favor do Warbringer, é que eles tem a plena consciência de que o que há de melhor no estilo já foi feito, e não há como ser superado, e seguindo esta linha, o grupo não tenta reinventar nenhuma fórmula, apenas segue a cartilha para um bom álbum de Thrash Metal. Um dos destaques do estilo neste começo de 2025, sem dúvida.

José Henrique Godoy




MARÇO MALDITO - BEWITCHED, DESASTER, SACRAMENTUM, OSSUARY - 20/03/2025 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 


MARÇO MALDITO

BEWITCHED
DESASTER
SACRAMENTUM
OSSUARY

20/03/2025
BAR OPINIÃO
PORTO ALEGRE/RS

PRODUÇÃO: ABLAZE PRODUCTIONS

Texto: Gustavo Jardim
Fotos: José Henrique Godoy

Duas coisas no mês de Março deixavam os headbangers gaúchos entusiasmados e ansiosos: o fim do escaldante verão no Sul e o Março Maldito fest, evento que prometia uma celebração de altíssimo nível contando com as bandas Ossuary (URU/ BRA), Sacramentum (SUE), Desaster (ALE) e Bewitched (SUE ) no bar Opinião.

Pontualmente as 18h30, a veterana banda Ossuary nos traz seu grandioso death metal nos moldes da velha escola. "Rising Kingdom“ do clássico “Silence Means Gold“ abre o set de maneira mais direta possível, seguido de mais duas canções do seu EP de 1998, “We Await The Secret Conspiracy“, “Visions Through Darkness” e a poderosa “Celebrating the Cure“. A seguir uma homenagem á memória do guerreiro Rafael Lavandovski (Exterminate, Reborn in Flames). Sebastian Carsin empunha sua velha guitarra e o saúda, executando músicas inéditas da banda, maneira mais verdadeira possível de homenagem a um deathbanger. ”I Never Walk Alone”, “Ascending to Kether”, “Killed by Pride” são os destaques de uma apresentação emblemática, densa, caótica como os velhos moldes de Mortem, Morbid Angel, Incantation e Sarcófago nos brindam desde meados dos anos 80. A qualidade do som impecável e as execuções precisas de Diego Pereira (bateria), Luis Alves (baixo), Maurício Nespeca (vocal e guitarra) capitaneados por Sebastian Carsin (guitarra), nosso “Scott Burns” gaúcho, fizeram um dos melhores shows da noite…



Pouco mais de quinze minutos depois, o Sacramentum sobe ao palco pra nos trazer seu Black Metal melódico noventista. “Burning Lust” abre os trabalhos, seguida de canções do seu maior clássico “Far Away from the Sun“ (1996). ”Fog’s Kiss”, “Far Away…”,  “When Night Surrounds Me” e um dos pontos altos da apresentação, “Blood Shall be Spilled”! Destaque para a performance carismática e insana do vocalista e compositor Nisse Karlen, com seus gestos hipnóticos no palco e riffs precisos de Anders Brolycke. “To the Sound of Storms” e “Awaken Chaos” do “The Coming of Chaos” (remixado em 2024 e produzido por Andy LaRocque, registra-se) fecham um set empolgante mas que, na minha opinião, deveria ter uma melhor produção de palco, o som pareceu meio embolado e baixo em alguns momentos, tirando um pouco o brilho do seu ritual.



Eram próximo das 20h30, quando adentram ao palco os demônios headbangers das terras germânicas para nos brindar com cerveja e sangue o melhor show da noite, na minha opinião. Desaster. Sem muita firula, “Satan Soldiers Syndicate” entra com pé na porta de maneira perfeita, seguida da clássica”Devil’s Sword”, dos velhos tempos de “A Touch of Medieval Darkness “, ganhando o público logo de cara. “Learn to Love the Void” com seus riffs empolgantes e remetendo ao metal tradicional é a próxima, mantendo o alto nível e, na sequência,  “Sacrilege“ representa com sabedoria o EP “ Stormbringer”.

Os veteranos Sataniac (vocal), Infernal (guitarra), Odin (baixo) e Hont (bateria, substituindo com maestria o ex-batera Tormentor ) demonstram um carisma e simpatia impressionante, interagindo a cada minuto com o público e mantendo um clima familiar dentre os presentes, cada vez mais empolgados. E eis que anunciam uma inédita e poderosa “Towards Oblivion”, seguida de “Damnation and Bestias”. A sequência emocionante das clássicas e épicas “Teutonic Steel” e “Necropolis Kartago” fazem velhos ThrashBlackers se emocionarem, entoando seus refrãos a plenos pulmões, e “Hellbangers” volta a evocar o frenesi com sua levada rápida e mortal dentre o público ( Sataniac remeteu a uma mescla de Bruce Dickinson incorporado com o demônio da Tasmânia em seu set... heeheheheh)

O grand finale acontece com a canção que maior representa o Black Thrash Metal mundial, “Metalized Blood” , contando com a participação do grande guerreiro Márcio Jameson ( mentor da seminal Aplace Artigos de Rock e figura extremamente presente no underground brasileiro desde a muito tempo e nosso colega na Rebel Rock) vociferando ao lado dos mestres e junto com um público já ensandecido que abriam imensas rodas de pogo e batizavam seus patches com suor e cerveja! Magnífica performance encerrando com chave de ouro o grande ponto da noite.



Em um rápido intervalinho, era o momento de conferir e adquirir um merchandising das bandas, interagir com os maníacos presentes e molhar as palavras, claro que não poderiam faltar fotos e trocas de impressões com o pessoal do Desaster que, mega receptivos, esperavam junto a nós na plateia. Enquanto isso, os caras do Bewitched se preparavam para fechar a noite.

Rapidamente, Vargher (vocal/ guitarra), Wrathyr (baixo), Hellfire (guitarra) e Znoid (bateria ) com seus corpse paints estilo anos 80, já estavam prontos a vociferar o seu Heavy/Speed/Black metal. O Bewitched, formado na Suécia na metade dos anos 90 ,já manda ver em duas matadoras canções do “Pentagram Prayer” (1997), ”Blood on the Altar” e “Night of the Sinner”. Na sequência “Holy Whore”, “Hellcut” e ”Deathspell” do excelente “Diabolical Desecration“ ( 1996) praticamente emendadas e com certo som embolado (mais uma vez poderiam ter dado uma atenção no som, principalmente baixo e guitarra) começam a abrir as primeiras rodas de mosh e absorver o competente set recheado de velocidade e riffs cortantes

“Sabbath of Sin” é anunciada e recebida com empolgação, sendo um dos um dos destaques da apresentação, seguida de “Triumph of Evil”, e em sequência após a intro, “Fucked by Fire” remete aos tempos de “ Spiritual Warfare” de 2006.



A empolgação do público cresce com as certeiras “Worship the Fire”, “Hellcut Attack”, e “Hellblood”, seguidas de “Cremations of the Cross” fechando mais uma visita ao “Pentagram Prayer”. Se ainda restava algum pescoço ao público, com suas camisetas encharcadas de Venom, Cruel Force, Bathory, Motorhead entre outras lendas representadas, receberam o golpe fatal em “At the Gates of Hell” e “Hard as Steel”, fechando com maestria uma apresentação enérgica de Speed Metal único que a banda proporcionou. Volto a dizer, mereciam uma melhor produção no palco, digna de uma performance matadora.

Uma grande noite de festa e Metal verdadeiro, celebração e devoção ao antigo culto. Saldo positivo 666%!

segunda-feira, 24 de março de 2025

THERION - VOVIN (1998/2024) - RELANÇAMENTO

 


THERION
VOVIN
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Um trabalho do THERION ou um álbum solo do seu líder e fundador Christofer Johnsson? Independente da maneira que se enxergar, a verdade é VOVIN é um dos pilares do metal sinfônico, grandioso, épico e clássico. Ainda que Christopher tenha contratado músicos para a gravação do álbum, podemos dizer sim, que estamos diante de um trabalho do Therion, pois a mente brilhante por trás de todas as composições continua intacta. Lançado em 1998, o CD é um dos álbuns mais icônicos da banda sueca, consolidando o grupo como referência no já supracitado metal sinfônico. Uma obra, que se destaca pelo equilíbrio entre o peso do metal e a sofisticação da música erudita, que tem seu relançamento no Brasil pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast.

O já citado Christopher Johnsson chamos vários músicos para gravarem este trabalho, dentre os quais podemos citar o experiente Waldemar Soryctha (guitarras, Grip Inc), Tommy Eriksson (guitarras), Jan Kazda (baixo) e Wolf Simon (bateria) como banda principal de apoio, no entanto outros músicos também se fizeram presentes como Ralf Scheepers (vocal em "The Wild Hunt") e Sarah Jezebel Devah (vocais soprano e vocais adicionais). A produção, mixagem e masterização ficaram por conta de do próprio Christopher em parceria com Siegfried Bemm, responsável também por algumas guitarras adicionais. O resultado? O álbum é uma entrega à orquestração sinfônica e vocais operísticos, criando uma sonoridade grandiosa e praticamente cinematográfica. Os riffs de guitarra ainda são marcantes, mas agora dividem espaço com arranjos orquestrais bem elaborados, ancorados por um coral poderoso.

Um trabalho homogêneo e grandioso, mas que mesmo nivelado por cima, acaba tendo alguns destaques. Entre eles podemos citar "The Rise of Sodom and Gomorrah", mm dos maiores clássicos do Therion! Essa faixa abre o álbum com um arranjo épico e um refrão imponente, impulsionado pelos corais e pelo peso das guitarras, bem como "Wine of Aluqah", uma composição que mescla velocidade e dramaticidade, com melodias orientais e um trabalho excepcional dos vocais. Podemos citar ainda "Clavicula Nox", a faixa mais longa e atmosférica do álbum, destacando-se pelo tom místico e pelos belíssimos arranjos orquestrais e "Raven of Dispersion" que encerra o trabalho num clima melancólico e sofisticado, quase ritualístico.

VOVIN é frequentemente citado como um dos melhores trabalhos do THERION e um dos álbuns mais importantes do estilo. Uma obra-prima do metal sinfônico, equilibrando com maestria peso e melodia, agressividade e sofisticação. Com um trabalho orquestral magnífico e composições envolventes, é um disco essencial tanto para fãs do gênero quanto para aqueles que desejam conhecer o lado mais sinfônico do metal.

Sergiomar Menezes