quarta-feira, 20 de agosto de 2025

AMORPHIS - “BORDERLAND” (2025)

 


AMORPHIS 
BORDERLAND
Reigning Phoenix Music - Importado

O Amorphis desafia a lógica da indústria musical, ignorando a acomodação e mantendo viva a inquietude criativa ao longo de décadas. Trinta e cinco anos depois de surgir na cena finlandesa com um death/doom bruto, sendo um espelho daquela época — o sexteto chega ao seu 15º álbum de estúdio, “Borderland”, como veteranos e incansáveis exploradores de novos territórios. Com uma trajetória marcada por experimentação e inovação, a banda segue expandindo seus limites musicais.

O novo trabalho combina frescor e equilíbrio entre a melancolia tradicional e um tempero moderno que amplia horizontes. As melodias permanecem profundas e carregadas de emoção, mas aqui ganham um tratamento mais direto e, por vezes, irresistivelmente cativante. Não é um álbum agressivo — muitas vezes nem pesado. Um passo adiante do que foi proposto em “Halo” (2022). Existe, sim, um lado denso no instrumental, mas Borderland é feito para quem deseja fugir das regras.

A abertura com “The Circle” comprova que a liberdade criativa segue intacta: leve, mas hipnotizante; dançante, mas obscura — um início que anuncia que, nesta estrada sombria, haverá também beleza abstrata. “Bones” é prova disso, figurando como um destaque imediato com melodias orientais que sobem mais um degrau em relação às tentativas anteriores da banda. Já “Dancing Shadow” surpreende ao flertar com atmosferas repletas de ganchos — o contraste entre voz limpa e gutural alinhado ao instrumental pulsante são capazes de incendiar qualquer pista de dança para headbangers.

“Fog to Fog” carrega uma forte carga emotiva desde as primeiras notas de teclado, passeando entre guitarras melódicas e uma vibração livre. “The Strange” é como o final de um longo inverno: frio, denso, mas com a luz surgindo. Essa luz se revela por completo em “Tempest”, um capítulo suave, quase cinematográfico, marcado por uma interpretação impecável de Tomi Joutsen.

O single “Light and Shadow” demonstra o quão criativo foi o processo de composição do álbum, equilibrando peso e melodia, com um caráter ao mesmo tempo introspectivo e acessível. “The Lantern” surge mais densa, com guitarras pesadas e andamento arrastado — talvez o momento mais “quieto” do disco. A faixa-título se ergue como o núcleo emocional, unindo guitarras e teclados envolventes, além de uma letra que reflete o embate entre a sabedoria ancestral e os dilemas da vida moderna — um tema que permeia por todo o tracklist.

A reta final do álbum é onde a escuridão volta a tomar conta. “Despair” fecha como um sopro gélido no ouvido — progressiva , cativante e lenta, deixando no ar um peso que persiste muito depois da última nota. Como se a beleza se misturasse com o desconforto, criando um encerramento que mais parece um presságio.

Borderland” é um álbum de contrastes: sedutor e sombrio, melódico e pesado, e acima de batidas dançantes. É o Amorphis olhando para frente, mas com um pé no lado escuro de sua própria história. Um disco brilhante, mas mesmo que sob a luz de um novo amanhecer, as sombras do passado permanecem.

William Ribas




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